Seguidores

sexta-feira, 23 de março de 2012

As Matracas

No tempo quaresmal d´outro tempo, os padres impunham muitas restrições e obrigações e todos cumpriam. Não se cantava senão na Igreja, não se tocava qualquer instrumento, realejo, concertina, pandeireita e outros, não havia baile, tapavam-se as cruzes...era um tempo de grande recolhimento, interioridade e religiosidade.
Na tarde de Quinta-Feira Santa já ninguém ía trabalhar para o campo e na Sexta-Feira Santa tapavam-se todas as imagens com panos roxos e as janelas com panos pretos e os sinos não tocavam. Em lugar do toque dos sinos, para chamar os Cristãos para as cerimónias religiosas recorria-se às matracas, uma tábua, onde estavam suspensas umas argolas de ferro que faziam um barulho próprio - trac-trac. As matracas eram tocadas por um adulto, seguido às vezes pelos garotos, ao longo das ruas de Forninhos, para convidar as pessoas a irem à Igreja. Isto repetia-se até ao toque do sino a anunciar a ALELUIA e se proclamar "Jesus Ressuscitou Alegrai-vos".

Nota:
A fotografia das matracas tirei-a da net porque as da paróquia de Santa Marinha de Forninhos ninguém mais as viu, nem se sabe se ainda existem. Na nossa terra muita coisa já desapareceu, até os valores culturais! e tal não era necessário.

20 comentários:

  1. Olá Paula , como vemos temos muitas tradições em comum .Também em Idanha-a-Nova se usam as matracas , desde que haja braços fortes para as tocar ,pois parece que são pesadas ...
    BJ
    Quina

    ResponderEliminar
  2. Pois Quina, por aqui calam-se os sinos da aldeia, mas já nem existem as matracas (e se existem ninguém mais as viu e ouviu) para substituir o toque dos mesmos. O toque da matraca era uma tradição católica levada a sério pelo nosso povo, mas noutras épocas.

    BJ
    Paula

    ResponderEliminar
  3. Oi Paula
    Meu pai contava-nos histórias das matracas, mas não restou nenhuma por aqui...e muita gente não sabe sequer que elas existiram...pena, não é mesmo?
    bjs
    Tina (MEU CANTINHO NA ROÇA)

    ResponderEliminar
  4. Realmente é uma pena Tina, e neste caso a pena é dupla, quando além de muita gente não saber que existiram, as que se lembram da sua existência nem sequer sabem se ainda as temos. Mas há pessoas que sabem, só que preferem ser coniventes e esconder as coisas do povo.
    Podem até dizer que as matracas não deixaram saudades, mas lá que era uma coisa vivida e sentida, disso não tenho dúvidas. Como a cerimónia do lava-pés na Quinta-Feira Santa, de que ainda hoje se recordam cenas. Pena é que não tivesse continuidade esta cerimónia.

    BJ
    Paula

    ResponderEliminar
  5. Paula,

    Gosto muito de vir aqui e aprender cada dia mais sobre as histórias de Forninhos.

    Não vivi essas coisas, mas meu ex-esposo conta que o pai dele não deixava ligar rádio, varrer casa e nem pentear os cabelos na Sexta-feira Santa. Pode ser até um exagero, mas era respeitoso.
    Infelizmente, nos dias de hoje, isso não acontece muito, a não ser nos lares muito católicos.

    Quanto a matraca, eu conheci numa semana santa que passei no interior de Minas Gerais. Foi a Semana Santa mais bem vivida e inesquecível de minha vida.

    E já estamos no 5º Domingo da Quaresma. Não demora chega a Páscoa do Senhor.
    Obrigada pelo carinho de sempre, e desculpe-me pela ausência. Estou trabalhando em dois empregos e estudando a noite.

    Beijos

    ResponderEliminar
  6. Antigamente a época da quaresma era muito rigorosa, tenho uma pequena lembrança da lavagem dos pés, mas não me lembro, e nem sabia que andavam com as matracas pelas ruas para chamar as pessoas a irem à igreja, obrigada Paula por nos dares a conhecer um pouco mais da história da nossa terra.

    ResponderEliminar
  7. Lucinha e M.Jorge, obrigada pelas palavras.
    Eu também vou aprendendo com o “blog” alguma coisa e, desta vez, ao escrever este “post” fiquei a saber que na nossa terra antigamente a matraca substituía o toque dos sinos; que se cobriam as cruzes e todas as imagens e janelas com panos pretos e roxos e que este acto foi proibido por Roma, mas o uso da matraca, nunca foi proibido.
    A época da Páscoa é, quanto a mim, a que mais tradições tem, no entanto, não sei se devido ao despovoamento ou ao desinteresse dos Párocos já pouco ou nada existe das tradições que os nossos antigos nos legaram. Até com a Vigília Pascal, pasme-se!, acabaram, que é a celebração mais importante do calendário litúrgico! Só não acabam é com o “tirar do folar”…e aí é que está o busílis..este acto tem a finalidade de levar a fé aos lares católicos ou tem o propósito de recolher um envelope com euros dentro?

    ResponderEliminar
  8. Tambem eu me lembro destes factos, e das "matracas" creio que as de Vila Cha, deveram ter tido o mesmo sumisso que as de Forninhos!
    Voces neste blogue fazem um trabalho excelente, a divulgar as nossas tradicoes da provincia da Beira, parabens!

    Um abraco dalgodrense de amizade.

    ResponderEliminar
  9. Alguns dos que me lêem nem sabiam da existência das matracas, porque não têm idade para se lembrar, mas muita gente ainda se lembra. Agora com mais vontade podíamos defender melhor as nossas tradições, assim, faz-se o que se pode amigo Cardoso. Mas palavras dessas motivam-me a continuar.Obrigadinha.
    Já aqui mostrei a carreta fúnebre, agora trago as matracas e, entretanto, vou continuar a falar do que havia, do órgão e todos os outros bens culturais e religiosos que escondem nas “catacumbas” da casa paroquial (desactivada) e dos que foram parar sabe-se lá onde!
    Falando em valores culturais e da fé, em Dez/2011 (creio que no dia 16.12.2011) rememorei a peregrinação por Portugal da Nossa Senhora de Fátima no ano de 1951 e os maravilhosos azulejos azul e branco. No ano passado comemorou-se em muitos lugares o 60.º aniversário, mas a nossa paróquia NUNCA se lembrou de assinalar tal acontecimento. Segundo me foi dito o Sr. Pe. Paulo fê-lo ontem, aquando da inauguração e bênção de uma churrasqueira!
    Infelizmente cada vez mais há gente sem consciência e sem vergonha, pois como diz o provérbio “donde a vergonha sai, nunca mais lá entra.”.

    ResponderEliminar
  10. Eu sou do tempo das matracas. As nossas eram diferentes das que estão na foto , era uma tábua como esta mas não tinham ferro nenhum apenas umas argolas redondas por ali abaixo e uma abertura no cimo onde metiam a mão para poderem manobrar as argolas trac trac.Realmente só eram usadas em Sexta Feira Santa. Porque como já disseram os sinos não tocavam nesse dia o povo guardava luto. Ate era engraçado o sacristão andar de rua em rua a chocalhar as matracas e as pessoas saírem de casa a perguntar a que horas eram as cerimonias. Em Quinta Feira Santa celebrava-se a Santa Missa e o Sr. Padre lavava os pés a doze homens era com nosso Senhor fez aos apóstolos naquela noite, sinal de humildade. Aqui nos U.S.A. na igreja onde sou paroquiana também se fazem as cerimonias todas como em Portugal visto o Padre ser Portugues.
    M. D.

    ResponderEliminar
  11. Curitiba é uma cidade grande e na sexta-feira da Paixão as orações percorrem a cidade, o silêncio é grande e o feriado ocorre com bastante seriedade, pelo menos no meu Bairro. Sábado de Aleluia é festa, e Domingo de Páscoa confraternização. Um abraço, Yayá.

    ResponderEliminar
  12. Obrigada D. Maria Natália Dutra. Sim, Sr.!
    Já li devagar 2 ou 3 vezes tão bom comentário, porque estas coisas para mim têm um sabor especial. «…o Sr. Padre lavava os pés a doze homens…, sinal de humildade.». Seria bom voltarmos a ser um povo de gente humilde, mas eu tenho comigo a esperança, que ao ressuscitar as nossas tradições, reviver as memórias, usos e costumes dos nossos antepassados, que foram gente tão humilde, as gentes de agora tomem consciência (os que a têm) de que a vaidade nunca levou um povo a lado algum!

    Agradeço o esclarecimento sobre as nossas matracas, é bom sabermos como eram. De tantos que aqui entram, nenhum deles se disponibilizou a nos esclarecer! Eu bem sei o que queriam…mas eu continuarei a honrar a história da minha terra e a engrandecer sempre memória dos que jazem no eterno descanso.

    ResponderEliminar
  13. Assim era na nossa terra Yayá e é isso que procuro também com este “post”, que a nossa Paróquia volte a ter todas as celebrações, principalmente, o Sábado de Aleluia (que no ano passado deixaram acabar). Mas como nestas e noutras coisas não há o apoio devido...nada melhora!

    Um abraço para si,
    Paula

    ResponderEliminar
  14. Aqui nas cidades do interior, as ditas históricas, ainda é comum o uso de matracas nas procissões, mas não se tocam mais durante os dias de silêncio, como era costume antigamente na semana santa. Talvez eu vá conferir de perto esses rituais numa cidade distante há 300 km de onde moro. Aqui já não se tem mais as matracas.

    ResponderEliminar
  15. Obrigada Anabela pela visita.
    Por aqui, apesar da crise e subida do preço dos combustíveis, ainda há muitas pessoas que passam a semana Santa ou só os dias de guarda e Páscoa na nossa aldeia, por isso acho triste não haver vontade de manter as nossas tradições religiosas e outras!
    Lembro-me bem e eu não sou assim tão velha que no tempo Santo os donos das tabernas/ou/vendas fechavam ou simplesmente encostavam as portas quando as procissões passavam, em sinal de respeito, hoje é o que se vê…
    E falava eu ontem com uma Senhora e dizia-me ela que devia fazer uma entrada sobre “os perdidos e achados” da nossa Paróquia, sobre o órgão e não só…os primeiros quadros da via sacra; há anos atrás tivemos outros (os segundos) e agora onde estão os segundos e os primeiros?
    Em Forninhos é normal as coisas desaparecerem e ninguém se preocupar em saber onde foram parar. Parece que existe medo de falar das nossas coisas e de criticar o que de mal se faz! Respondi.

    ResponderEliminar
  16. Parece mentira, mas nunca de tal coisa ouvi falar, talvez por ser da grande cidade, mas mesmo na minha terra não tenho conhecimento destes costumes, para mim matracas são uma arma usada nas artes marciais, é mais uma coisa para aprender, mas Paula com isto fica cada vez mais visivel a quebra das tradições e até nos usos e costumes da igreja, nem mesmo esta resiste à evolução dos tempos, é pena, mas também é um sinal de que as pessoas estão mais atentas, pena mesmo é a tradição que se vai perdendo.

    ResponderEliminar
  17. Olá João,
    Eu tinha conhecimento do uso na minha terra das matracas, só que neste post não tive a sorte de conseguir publicar uma foto com as nossas, o que é pena, mas mesmo sem foto entendi que podia ser feito na mesma, para todos os que gostam de aprender e conhecer melhor as nossas tradições e história. E é como dizes, é pena as tradições, que são ainda o que nos resta, se perderem, mas como compreenderás, neste caso das tradições religiosas, não depende só dos paroquianos, mas principalmente do Pároco.
    Também é bom lembrar de novo que o S. Pedro (que escondiam atrás da porta da Sacristia) foi levado para o Seminário de Fornos de Algodres pelo Pároco da altura, e os Serafinzinhos desapareceram no ano em que a Capela foi restaurada (1959), dizem que pelo Sr. Pe. Virgílio, sendo também verdade que outros bens da nossa Igreja desapareceram precisamente sempre que houve obras ou simples pintura da Igreja!

    Um abraço amigo

    ResponderEliminar
  18. Obrigada Madrinhas por nos dar a conhecer como eram as matracas da nossa terra.
    Este Domingo é o Domingo de Ramos, eu gostava muito deste dia quando era garota, a minha mãe fazia-me uns ramos muito bonitos e cheirosos, com uma ou duas laranjas espetadas no ramo, ou com uns rebuçados pendurados, tenho muitas saudades desse tempo.

    ResponderEliminar
  19. Bom dia.
    Como alguns já disseram, não conhecer as ditas matracas, pois cá está mais um, acho que nunca ouvi falar dessas matracas que tanto se divulga. Mas tambem nem todos podemos saber dessas tradições tão antigas.
    Como dizia o Seguro, "matracas" só as das artes marciais, ou então as que o Povo tem por dito quando as pessoas falam muito " FECHA ESSAS MATRACAS".
    Mas é sempre bom saber que nesta época de quaresma se usava este utencilio para chamar os Cristaos até á Igreja.
    Um bom Domingo de ramos para todos.
    Muitas Laranjas e rebuçados. e um bom ramo de loureiro ou Oliveira.

    ResponderEliminar
  20. Eu Também gostava muito da Procissão de Ramos, da preparação do meu ramo, enfeitado com laranjas e tangerinas, rebuçados, alecrim e loureiro, às vezes com camélias, outras vezes lírios ou lilases ou alguma campaínha encontrada no campo, que depois seria benzido. O Domingo de Ramos era um dos mais bonitos da aldeia.
    Entretanto, volto ao 1.º parágrafo do comentário do serip413 para dizer-te que na realidade só os mais “antigos” sabem e lembram das matracas, do acordo do estrume e outras coisas nossas, e se não fosse este blogue nem eu conhecia sequer 50% do que aqui partilhei ao longo destes quase dois anos e meio.
    Fui perdendo alguns “Contribuidores” deste blogue, o que me leva a pensar que nunca consideraram o novo blog importante para eles nem para a Freguesia de Forninhos, mas também não me tenho preocupado muito com isso e o melhor que há a fazer é continuar sempre a servir Forninhos e não servir-nos de Forninhos, isso sim, distingue uma pessoa de tantas outras.

    Abr/Paula

    ResponderEliminar

Não guardes só para ti a tua opinião. Partilha-a com todos.