A produção de vinho é em Forninhos uma arte secular, se não mesmo milenar. Querem saber porquê?
Temos desde épocas muito remotas alguns exemplos de lagaretas/lagares talhados em rochas graníticas, que se destinavam provavelmente à pisa da uva pelo pé do homem. Estes lagares constituídos por piso pouco profundo (pia rectangular) e pio (orifício ou bica que deixa escorrer o mosto) devem ter sido o modelo base.
E, já há mais de meia dúzia de séculos, a produção do vinho nas nossas terras era referida a par de outras produções, isto escreveu o principal informador das Inquirições de D. Afonso III (1258) no seu relatório.
F. Dominici disse darem de jugada uma taleiga de trigo e três de centeio os homens de Fornos, de Dornelas, Casais de Moreira, Mosteiro e Fim de Moreira e Queiriz que eram aldeias de Penaverde. E quem tivesse vinhas e colhesse delas cinco moios devia dar um puçal; se não tivesse cinco moios nada pagaria.
Et homo qui haberet vineam et colligeret de ea quinque modios debeat dare I pugal et si non haberet quinque modios nihil debate dare.
Mas Forninhos é, ou, não é, terra de produção de vinho, de boa pinga? Não haverá agora ninguém dos da "velha guarda" que não recorde aquela cantiga da nossa terra:
No concelho é a primeira
Na produção de bom vinho
É uma terra hospitaleira
Tem de tudo um bocadinho
Em qualquer aldeia da nossa região, a vindima era uma das tarefas que com mais prazer se fazia, diria mesmo que o dia da vindima era um dia de festa em cada casa. Mas desde o cultivo à ingestão do próprio vinho, muito trabalho há que fazer e os que me estão a ler melhor do que eu sabem como se faz toda a faina do vinho. Plantar videiras; tratar delas; podar com sabedoria (são poucos que a sabem fazer mesmo a sério); atar; descavar, a cava, que era feita no dia 25 de Abril, porque no S. Marcos os bois não trabalhavam e escolhia-se este dia para cava das vinhas; enxofrar/sulfatar com a enxofradeira, lembro-me falarem do míldio como uma verdadeira praga; espoldrar; curar. Depois parece que até à vindima não se "toca" mais na videira a não ser, se calhar, para tirar alguma folhagem para facilitar o trabalho aos vindimadores.
A uva dantes era colhida para os cestos/canastros e daí para a dorna e para o lagar, mas num passado recente podia ser pisada só na dorna, com os pés descalços e bem lavados (digo eu).
Em todo o caso, o vinho depois disso ferve e limpa tudo.
De seguida era metido nos pipos e nas pipas e assim ficava nestas vasilhas por
umas semanas. Mas regra sagrada:no dia de S. Martinho, vai à adega, fura o
pipinho e prova o teu vinho.
O que sobra é o canganho, que vai servir para fazer no alambique a aguardente bagaceira. Esta tarefa cada vez se faz menos, mas ainda se vai fazendo.
E não podia terminar este artigo sem me referir à ASAE, uma polícia que tanto tem destruído e continua a destruir o que sempre foi feito com sabedoria - fazer boa aguardente, por exemplo.
Lembrete:
Vai acontecer em Forninhos, no dia 12 de Agosto de 2012, a "Rota do Azeite e do Vinho Dão" inserida na actividade denominada "Caminhadas na Natureza".