Em todos estes rios, a água era aproveitada, mediante represas (açudes ou levadas), para regar, tanto de verão como de inverno.
Anda na tradição que este rio (ou ribeira) tem ali junto aos moínhos (do Bombo) um grande açude e neste uma "recolhenta" (termo que não achei no dicionário) a que chamam "Poço do Carro". Contavam-me que um lavrador se deixou afogar no pego, para onde os bois, junguidos ao carro, se precipitaram, levados pela sede e picados da mosca, desaparecendo tudo no turbilhão das águas.
Desde os meus mais tenros anos, que a caminho da Santa Eufémia ouvia contar a história do afogamento dos bois com o carro, que tem a sua origem na fronteira da Matança, freguesia vizinha de Forninhos.
No entanto, o Sr. Pe. Luís Lemos evocando a imagem que se venera na capela de Santa Eufémia, no lugar da Fonte Fria, freguesia da Matança, concelho de Fornos de Algodres, transcreve no seu Livro "Penaverde - Sua Vila e Termo" que "...o Bombo, arquiavô do actual moleiro, correu em auxílio do naúfrago, de nada valendo os seus abnegados esforços. Apesar de bom nadador, sumiu-se também no mistério das águas. Que acontecera? Tendo-se metido na gruta, encontrou pé seco, mas perdeu a saída. Ali esperou horas sem fim aguardando a morte, sepultado como estava já em vida. Recorreu então à Milagrosa Santa Eufémia e viu, muito tempo depois, um raio de sol iluminar a profundeza das águas, podendo assim vencer a sepultura."
Como muitos de vós sabereis existem documentadas várias santas Eufémias, sendo que a mais conhecida é a de Braga ou Ourense. Segundo a lenda, esta santa Eufémia foi uma das nove gémeas santas (Basília, Eufémia, Germana, Genebra, Liberata, também conhecida como Vilgeforte, Marciana, Marinha, Quitéria e Vitória), mas com isto já me ia a esquecer dos rios.
Enquanto houvesse água no açude, também os moínhos não descansavam, nem eles nem o ti Bombo. Com o burro ajoujado transportava as sacas de centeio, milho e algum trigo . Depois, grão a grão...as mós faziam o resto.
De volta transportava as taleigas com farinha para as mães de Forninhos, cujos filhos haveria de ajudar a sustentar com os saborosos pães de centeio e de milho saídos, a escaldar, dos fornos comunitários.
E a roda só parava nos meses quentes e secos de verão, quando o açude esgotava a força que alimentava os velhos moínhos do Bombo. Mas tal como a roda do moínho, também a roda da vida, quando caíssem as primeiras chuvas invernosas, haveria de ditar o início de um novo clico: da semente, ao fruto...à mesa.
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mós do tempo |