Continuação...
A equipa B-2, do Serviço Cívico Estudantil, que chegou a Forninhos em Agosto de 1975, concentrou esforços também nas localidades da Cortiçada e Matança; era composta por dois rapazes e duas raparigas; as suas terras de origem eram bastante diversificadas: enquanto dois vinham de regiões próximas (Mangualde e Viseu), o outro rapaz vinha de Gaia e outra rapariga era açoriana da Ilha de São Miguel.
Quando a missão ia adiantada e terminada a permanência na Cortiçada e em Forninhos, ao chegarem à Matança escrevem para a Sede, em Lisboa:
"Estamos deveras decepcionados com a falta de apoio geral".
Em termos mais explícitos, perguntam a Lisboa:
"Numa localidade onde não conhecemos ninguém e sem dinheiro...a população já de si fica desconfiada ao ver um grupo que de repente lhe aparece, e que fará se esse grupo lhe vai comprar coisas, pedindo que lhes fiem...".
Apesar do trabalho de recolha em Forninhos ter sido muito bem sucedido, onde contaram com o apoio de jovens locais: "recolhemos trinta e tal instrumentos", tal trouxe-lhes preocupações com o transporte, pois queixam-se da dificuldade em organizar o envio dos "instrumentos agrícolas antigos" recolhidos em Forninhos e dos obstáculos ultrapassados para os conseguirem expedir por via-férrea, assim como as penúrias financeiras. Mas persistem na missão, enfrentando os problemas logísticos:
"Encontramo-nos desde ontem na última das localidades - Matança -, onde encontrámos alojamento na residência paroquial e na escola. O próprio transporte teve de ser de táxi, pois não tinhamos transportes públicos"〔carta da Equipa B-2, escrita na Matança em 3 de Setembro, dirigida aos serviços centrais〕
Depreende-se que haviam resolvido o problema do alojamento: uns na escola, as raparigas protegidas pela proximidade da instância eclesiástica local.
Da carta citada ainda dão conta do estado de andamento das recolhas de literatura oral gravadas em cassetes. Em finais de Agosto tinham enviado para Lisboa três, havendo outra prestes a estar terminada. Anunciam para os próximos dias a remessa de registos biográficos e de inquéritos à saúde devidamente preenchidos.
Para além dos dados sobre as logísticas do grupo, testemunham o modo e o cariz dos contactos estabelecidos com as populações:
"Este trabalho de recolha dos vários aspectos da cultura popular é importante, mas difícil de explicar às pessoas".
Por isso um dos jovens -que estava muito à frente do seu tempo- tenta forjar argumentos para convencê-las:
"Calcule que depois desaparecem estes instrumentos e depois(...) os que virão depois não conhecem, e o nosso trabalho é esse, aglomerar o maior número de instrumentos antigos para depois os dar a conhecer às pessoas no futuro".
〔Entrevista com B-2, bobine 1〕
Em 2 de Setembro, o responsável pela equipa, o Acácio, assina a carta de porte relativa à expedição por via férrea de um total de 68 quilos, repartidos por "6 volumes com alfaias agrícolas, 1 com canga e ripanço juntos, 1 arado com 1 serra e 1 mangual juntos, 1 sachola". Outros objectos seriam ainda recolhidos.
Apesar destes contratempos, os dois rapazes e duas raparigas levaram a termo a tarefa de que tinham sido incumbidos.
Bem-Hajam.
Do Livro "A Missão" - Capítulo 6 - Pelo interior adentro, de Jorge Freitas Branco e Luísa Tiago de Oliveira.