Quando penso ou falo sobre alguma coisa típica da minha terra e que tende a acabar, infelizmente, é a feitura e qualidade dos bolos de azeite. Mas já dizia o povo forninhense: "Haja saúde e coza o forno...e o pão que seja nosso!"
Porque é um tema do meu especial agrado, volto a falar do bolo de eleição que se faz na época da Páscoa em Forninhos, pois quem conhece bem as tradições da nossa terra, sabe que Páscoa não é Páscoa sem o bolo de azeite. Dá despesa, pois leva bastante azeite e por cada quilo de farinha leva, no mínimo, 1 dúzia de ovos; muitas voltas e também porque é demorada a sua elaboração, nestes tempos de correrias, já não os há em todas as casas, dominando assim os bolos das Padarias. Por isso há bolos e bolos!
A receita é: fermento e farinha de trigo do Padeiro, ovos caseiros, sal, azeite e aguardente de Forninhos... e muito trabalho, como vão ver. Sei que noutras terras põem açúcar sobre o "ovo batido", mas o "folar" de Forninhos não é doce. É feito com a doçura de quem sabe fazer e sente o prazer de realizar tal tarefa de forma tradicional.
Feitura do bolo de azeite:
Diluído em água morna é feito o fermento com 1 dúzia de ovos na maceira. Amassa-se bem e depois de finto é então amassada a farinha com o azeite previamente aquecido com o sal, os ovos batidos e um pouco de aguardente. Amassa-se tudo muito bem, à mão, até a massa formar bolhas e as mãos saírem limpas. Depois disso e aconchegada fica então a massa a levedar lentamente, o que exaspera os mais apressados, ou seja, o forneiro! Mas vale a pena esperar para ver como cresceu bem; são tendidos em forma de bola e ficam a fintar uns minutitos mais no tabuleiro. Só depois começa o ritual de enfornar. Nesta tarefa, além do forneiro, são precisas pelos menos 3 ou 4 pessoas: uma para pôr o papel - este costume é moderno - dantes não se punha o papel na pá, mas farinha; outra para tender o bolo, curvo ou redondo com poupa, e colocá-lo sobre o papel; outra pessoa para passar o ovo batido sobre o bolo para ficar brilhante e uma outra para tirar a fotografia - costume também moderno - mas antigamente como não havia luz e coziam-se mais à noite os bolos, era necessária uma pessoa para pegar no candeeiro de petróleo para alumiar junto à boca do forno.
A tarefa de enfornar é feita por quem tem ciência no método de arrumar, dentro do forno, de forma a que se rentabilize o espaço, mas sem encostar nos que já lá estão. E, para quem tanto tempo levou a levedar, mal entram no forno, começam logo a corar e é ver o olhar enlevado de quem os observa: estão com bom aspecto; estão bem cozidos; e estão prontos os bolos que alimentam agora a vossa imaginação gustativa.
Posto isto, resta-me dizer ainda que o forno tem de ser aquecido por quem sabe, pois não há termómetro para medir a temperatura, com lenha mais de urgueiras, já que a de pinho não é boa. Já agora, para se achar a temperatura ideal, atira-se um pouco de farinha para dentro do forno, se queimar lentamente, está bom para enfornar, se queimar rapidamente, tem de se deixar arrefecer um pouco. Também não está desactualizado o costume de fazer cruzes na massa. Com a rapadoira fazem-se cruzes na massa e diz-se a seguinte oração: "São Vicente te acrescente, São João te faça bom pão, e que Deus acrescente o pão no forno e as coisas pelo mundo todo".
Os utensílios usados nos fornos são o rodoiro, rodo e pá e o vassouro de giesta verde enfiada no rodoiro.