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terça-feira, 29 de abril de 2014

Uma nova descoberta!

Na nossa terra as descobertas não têm fim. Há tempos o XicoAlmeida disse-me que, quando era miúdo, havia o que presume ser uma anta, em Cabreira. Os mais antigos lembram-se também da anta ou dólmen que se situa no meio de um campo baldio, e é por isso que vimos aqui trazer-lhes fotografias desta descoberta pedindo, se lhe interessa, que opine de modo a complementar esta entrada.
Mas digam-me lá se não é isso mesmo que parece?


Se os Srs. Arqueólogos e aprendizes, isto é a empresa que fez a monografia que intitularam “Forninhos a terra dos nossos avós”, só porque encontraram num campo agrícola, à superfície, cacos de cerâmica (estivemos no local e não são assim tantos, a maioria são cacos de os chamados seixos!) colocam “…a hipótese de estarmos em presença de uma pequena villa romana, ou, pelo menos de um casal com alguma dimensão.” também então nós podemos quase dizer que este penedo, avaliando o “estilo” é uma anta:



Junto da “anta”  encontram-se também outros abrigos e paisagem dignos de olhar:






Escusado será dizer que tal passou ao lado dos Srs. arqueólogos e historiador que supostamente investigaram sobre a terra dos nossos avós- Forninhos!

Fotos: aluap e XicoAlmeida.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Somos Livres

Um povo que cerra fileiras...



Singularidades do 25 de Abril, numa aldeia do interior de Portugal, chamada Forninhos.
A mesma pacatez como se o tempo fosse igual ao de quarenta anos atras. O sino a tocar, as batatas a "semear" e o ar de desdem por termos conseguido dois cravos vermelhos que ostentamos.
Um dia indiferente para quem viu morrer filhos e netos na nefasta guerra, os mesmos que viram partir na clandestinidade, tantos e tantos...
Doi imenso o ignorar este dia, dia que trouxe tanta coisa e respeito mundial, que lavou a ignominia do fascismo ao ser um exemplo mundial que a vizinha Espanha aperfilhou, um povo de bem.
Pior o ar circunspecto das comemoracoes no parlamento, mea culpa pela ignorancia daqueles que tudo fizeram para terem assento numa cadeira, os tentarem calar na vergonha de nem o presidente ostentar um cravo encarnado.
Mas no outro canal televisivo, do Carmo ao Maria Pia, na manha de hoje, aqueles milhares que cantavam o Grandola da boca do Zeca Afonso, exultantes, transpiravam esperanca e certeza de que somos livres de voar.
Abril sempre!!! 

terça-feira, 15 de abril de 2014

Feliz Páscoa!


Pois é...
Quem é que se terá lembrado de ligar os coelhos aos ovos? 
O ovo é um símbolo bastante antigo, anterior ao cristianismo, que representa a fertilidade e o renascimento da vida. Muitos séculos antes do nascimento de Cristo, a troca de ovos no Equinócio da Primavera era um costume que celebrava o fim do Inverno e o início da Primavera, uma estação marcada pelo florescimento da natureza. Para obterem uma boa colheita os agricultores enterravam então ovos nas terras de cultivo.
Quando a Páscoa cristã começou a ser celebrada, a cultura pagã de festejo da Primavera foi integrada na Semana Santa. Os cristãos passaram a ver no ovo um símbolo da ressurreição de Cristo e passaram nesta data festiva a pintar um ovo oco de galinha de cores alegres, sendo que os pais costumavam esconder ovos nos jardins para que as crianças os encontrassem na época da Páscoa, daí a lenda que conta que uma mulher pobre coloriu alguns ovos e escondeu-os num ninho para dá-los a seus filhos como presente de Páscoa. Quando as crianças descobriram o ninho, um grande coelho passou a correr e espalhou-se então a história de que o coelho é que trouxe os ovos...mas não estou a dizer que foi um coelho de Forninhos :-) Atenção!
Feliz Páscoa! Divirtam-se com alegria com os amigos e família, provem os gostos saborosos desta época e apreciem a natureza que desponta com força e cor da Primavera.

domingo, 13 de abril de 2014

Alfaiates e Costureiras

Hoje nem se percebe como era uma festa, vestir roupa nova no Domingo de Ramos e Domingo de Páscoa, mas era assim: nas grandes Festas, de quando em vez, íamos ter um vestido novo, uma blusa nova, umas calças novas…
Há 60/50 anos o processo começava, primeiro, com a ida ao comércio. Nas vendas que havia nas aldeias (estabelecimentos comerciais), os pais escolhiam a peça (rolos grandes) de tecido e fazenda e o comerciante então media o tecido com o seu metro de madeira, com aqueles números grandes e com traços centímetros, e procedia ao corte do comprimento necessário. Depois então é que se ia à costureira ou alfaiate tirar as medidas: peito, cintura, anca, altura do braço e da perna, punho, etc… Havia sempre duas provas, para que tudo ficasse bem e no dia da Festa era uma festa.
Hoje, vai tudo às lojas de roupas feitas, mas eu ainda recordo algumas idas à costureira. Na altura, confesso, até preferia roupa já pronta e nem tinha noção da grande diversidade de tecidos que havia à escolha:
- crepe
- merino de algodão
- organza
- popeline
- flanela
- sarja
- chita
- cotim
- cetim
- fazenda de lã
- fazenda fina
- fazenda riscada
- tirilene
- tafetá
- seda
- nylon
- linho
- Etc... etc...
Estes e outros tecidos eram depois costurados pelas costureiras, modistas e alfaiates que havia nas aldeias. 
Costureiras em Forninhos disseram-me que houve várias: tia Olímpia, tia Prazeres Matela, tia Augusta Pirolas e por último a tia Cândida e minha tia Lurdes. Alfaiates houve dois ou três: o Zé, filho da tia Olímpia, tio Carlos Guerra e tio Eduardo Craveiro. 
As cores usadas no vestuário é que eram, em geral, muito escuras: preto, azul-escuro, cinzento-escuro, acho que só as crianças e raparigas é que vestiam cores mais claras e floridas. 
Não é fácil encontrar fotos do antanho, mas tentei encontrar uma imagem que se aproxime dessa realidade. Agradeço ao Sr. Virgílio esta relíquia:


Como em Forninhos o comércio era/é escasso, um dia chegam os alfaiates da vizinha aldeia de Dornelas que já traziam os tecidos e tiravam as medidas e já não era preciso ir só à venda do Sr. José Bernardo/Sra. Emília comprar o tecido e fazenda, mas durante muitos anos continuou tudo como dantes: escolher o tecido para a roupa da festa, tirar as medidas, provas...e só anos mais tarde é que algum comércio começa a ter roupa já pronta a usar nas festas e andar a cote: casacos e camisolas de malha, puloveres, camisas, batas e aventais, roupa interior e até calças. Vestidos é que não. Isso ainda não há.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

O Cuco e a Poupa

"Se entre Março e Abril o cuco não voltar, ou ele está morto ou o mundo vai acabar". É, portanto, por esta altura do ano que ele vem e se ouve na nossa aldeia o tradicional desafio ao cuco:
- cuco, cuco ramalheiro, quantos anos estou solteiro?
- cucu, cucu, cucu...responde no seu cantarolar. E cada canto corresponde a um prolongar desesperado de mais um ano sem casar...

O cuco
É malandro e preguiçoso, ocupa o ninho dos outros deixando os ovos como se fosse em sua casa e que lhe criem os filhos que ele tem mais que fazer, apanhar sol e cantar como antes os seus pais fizeram e como os seus filhotes no ano seguinte farão, mas as pessoas gostam dele por estar associado à Primavera. Vem de longe, do norte de África, todos os anos, fazer com que as pessoas passem a notícia da sua chegada: "já ouvi o cuco e  já me espolinhei no chão...".
E a primeira vez do ano para quem o ouve cantar, é uma alegria enorme, o Inverno já se fora...! 

Poupa
Haverá ave mais linda e, ao mesmo tempo, mal cheirosa que a poupa? 
As pessoas ficam rendidas à sua beleza única e ela altiva sabe que o ninho das suas crias está mais bem guardado que qualquer outro pelo mau cheiro que este transmite, afinal a sua e dos seus, defesa natural.
Orgulhosa, abre em esplendor a sua crista soberba e canta "pou...pou...pou" como que apelando à poupança e é curioso que as pessoas percebem a mensagem já que quando se ouve a poupa dizem "lá vem a poupa a avisar que poupem, poupem, poupem...".
Vem até Forninhos quase pela altura do cuco, mas mais estival, quase antevendo o cheiro das searas...
No tempo em que o calor começa a apertar com os agricultores na labuta diária dos campos, só encontro paralelo em tanta cor e graciosidade com os gaios tagarelas, arribados para os lados de Valongo e Carregais, nas sombras dos arvoredos.
Que estas belezas ainda reais, nunca se esqueçam das nossas aldeias rurais, afinal são parte delas.

terça-feira, 8 de abril de 2014

O Bolo de Azeite

Quando penso ou falo sobre alguma coisa típica da minha terra e que tende a acabar, infelizmente, é a feitura e qualidade dos bolos de azeite. Mas já dizia o povo forninhense: "Haja saúde e coza o forno...e o pão que seja nosso!"


Porque é um tema do meu especial agrado, volto a falar do bolo de eleição que se faz na época da Páscoa em Forninhos, pois quem conhece bem as tradições da nossa terra, sabe que Páscoa não é Páscoa sem o bolo de azeite. Dá despesa, pois leva bastante azeite e por cada quilo de farinha leva, no mínimo, 1 dúzia de ovos; muitas voltas e também porque é demorada a sua elaboração, nestes tempos de correrias, já não os há em todas as casas, dominando assim os bolos das Padarias. Por isso há bolos e bolos!
A receita é: fermento e farinha de trigo do Padeiro, ovos caseiros, sal, azeite e aguardente de Forninhos... e muito trabalho, como vão ver. Sei que noutras terras põem açúcar sobre o "ovo batido", mas o "folar" de Forninhos não é doce. É feito com a doçura de quem sabe fazer e sente o prazer de realizar tal tarefa de forma tradicional.
Feitura do bolo de azeite:
Diluído em água morna é feito o fermento com 1 dúzia de ovos na maceira. Amassa-se bem e depois de finto é então amassada a farinha com o azeite previamente aquecido com o sal, os ovos batidos e um pouco de aguardente. Amassa-se tudo muito bem, à mão, até a massa formar bolhas e as mãos saírem limpas. Depois disso e aconchegada fica então a massa a levedar lentamente, o que exaspera os mais apressados, ou seja, o forneiro! Mas vale a pena esperar para ver como cresceu bem; são tendidos em forma de bola e ficam a fintar uns minutitos mais no tabuleiro. Só depois começa o ritual de enfornar. Nesta tarefa, além do forneiro, são precisas pelos menos 3 ou 4 pessoas: uma para pôr o papel - este costume é moderno - dantes não se punha o papel na pá, mas farinha; outra para tender o bolo, curvo ou redondo com poupa, e colocá-lo sobre o papel; outra pessoa para passar o ovo batido sobre o bolo para ficar brilhante e uma outra para tirar a fotografia - costume também moderno - mas antigamente como não havia luz e coziam-se mais à noite os bolos, era necessária uma pessoa para pegar no candeeiro de petróleo para alumiar junto à boca do forno. 
A tarefa de enfornar é feita por quem tem ciência no método de arrumar, dentro do forno, de forma a que se rentabilize o espaço, mas sem encostar nos que já lá estão. E, para quem tanto tempo levou a levedar, mal entram no forno, começam logo a corar e é ver o olhar enlevado de quem os observa: estão com bom aspecto; estão bem cozidos; e estão prontos os bolos que alimentam agora a vossa imaginação gustativa.






Posto isto, resta-me dizer ainda que o forno tem de ser aquecido por quem sabe, pois não há termómetro para medir a temperatura, com lenha mais de urgueiras, já que a de pinho não é boa. Já agora, para se achar a temperatura ideal, atira-se um pouco de farinha para dentro do forno, se queimar lentamente, está bom para enfornar, se queimar rapidamente, tem de se deixar arrefecer um pouco. Também não está desactualizado o costume de fazer cruzes na massa. Com a rapadoira fazem-se cruzes na massa e diz-se a seguinte oração: "São Vicente te acrescente, São João te faça bom pão, e que Deus acrescente o pão no forno e as coisas pelo mundo todo". 
Os utensílios usados nos fornos são o rodoiro, rodo e pá e o vassouro de giesta verde enfiada no rodoiro.

domingo, 6 de abril de 2014

Recordar o Dia de Ramos

Hoje, já quase nem se percebe como era o Domingo de Ramos, um dos dias mais bonitos da aldeia, nos anos 50 e 60.
Naqueles anos seria assim: um pequeno grupo de pessoas - sem ramos - ficava no interior da Igreja, cantando evocativos versos em latim, com as portas encerradas, ficando o resto do povo no exterior, segurando religiosamente os seus ramos e cantando o refrão dos mesmos, sendo que quando terminavam os cânticos, o homem que do lado exterior segurava a cruz, com ela batia três vezes na porta da Igreja e estas se abriam - "As Portas de Jerusalém" - entrando então as pessoas com os ramos de loureiro, oliveira e alecrim, enfeitados com laranjas e maçãs.


"Meninos hebreus estendiam seus mantos no chão
e clamavam cantando: Hossana ao filho de David
bendito o que vem em nome do Senhor".

Os rapazes procuravam que os seus ramos e dos familiares, fossem os mais bonitos, procurando escolher atempadamente a melhor guia de loureiro ou pernada de oliveira, talvez o único dia do ano em que o lavrador olhava para a oliveira sem pensar nas azeitonas que ela dá...alguns com as suas pernadas vergadas faziam lindos arcos que revestiam com alecrim e enfeitavam com flores e laranjas. Os das mulheres, mais  maneirinhos e até mais belos por carregarem a beleza dos jardins, suportadas pelo alecrim, não faltando as tradicionais camélias. Mas isso era o antes. Com o decorrer dos anos, esta bonita cerimónia foi trazida para a rua, junto ao Cruzeiro dos Centenários ou da Fonte da Lameira, com outros cânticos e certamente menos gente, mas o mesmo fervor e alegria que o ar livre permite. De hoje a oito dias a população na rua voltará a acalmar a entrada triunfal de Jesus.
Depois de benzidos, serão guardados religiosamente, até que no dia de Santa Cruz irão enfeitar as cruzes de pau que protegerão as colheitas, ou arder na fogueira da cozinha para afastar a trovoada, invocando em reza Santa Bárbara (Protectora contra raios, tempestades, trovões e morte trágica).

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O arbusto das flores da Páscoa: as "aleluias"


No primeiro Domingo a seguir à primeira lua cheia, depois do equinócio da Primavera, chega a celebração da Páscoa e a deste ano é já daqui a pouco mais de 2 semanas. Então sempre que se aproxima esse período um pequeno arbusto conhecido popularmente em Forninhos por "aleluias", rapidamente fica coberto de pequenas flores brancas que os primeiros calores fazem desabrochar e com igual celeridade secam.


As flores das "aleluias" são designadas em outros locais por "pascoinhas". Em concreto anunciam o tempo pascal, por isso como presságio deixo uma espécime que encontrei num jardim público da Amadora.
Gosto muito das "aleluias", espero que gostem também :-)

terça-feira, 1 de abril de 2014

Quem criou a lenda da moura e os borregos?

Há uma frase num conhecido filme americano, The Man Who Shot Valance, O Homem que Matou Liberty Valance (título em Portugal) que serve bem os propósitos do nosso 'post' de hoje. É proferida no final do filme e, em tradução livre, quer dizer mais ou menos isto: "Quando a lenda é mais interessante que a realidade, publique-se a lenda" (When the legend becomes fact, print the legend).
Foi isto que sucedeu exactamente com a história da moura e os borregos - narrada na fantástica obra «Forninhos, a terra dos nossos avós». Mas de onde veio esta história, que ninguém ouviu contar pela voz dos mais velhos?

Chamam a este local 'Barroqueira'
Aqui vai então a transcrição da lenda da moura e dos borregos, pág. 194:
"Na povoação de Forninhos, no lugar da Barroqueira, ainda podemos ver uma gruta que dizem ter sido talhada pelos mouros. Esta gruta, ainda que bem dissimulada pelo arvoredo e silvado, é bem conhecida dos pastores que ainda conduzem os seus rebanhos à pastagem e que por lá se extraviam.
Reza a lenda que, a cada cem anos, no dia de S. Pedro, pela calada da noite, uma moura encantada sai do seu refúgio e faz uma oferenda aos seus antepassados, imolando alguns borreguinhos.
Outros dizem que a bela moura sai muitas vezes e vai arruinando a vida dos pastores que têm sempre as cabeças dos animais bem contadinhas.
Como é sabida e conhecida a valentia beirã, um certo pastor da aldeia, farto de sentir na pele os excessos da moura e de ver as crias desaparecerem, decidiu enfrentá-la.
Estando habituado pelo ofício a passar as noites ao relento, acomodou-se à entrada da gruta e esperou que ela saísse. A bela dama não tardou a aparecer envolta em ouro e tecidos brilhantes, como convém a qualquer princesa.
Aturdido e com um olhar embevecido, o pastor ainda demorou a reagir, mas passado o torpor inicial, ergueu-se e não hesitou em apontar a sua caçadeira à bela dama.
- Que queres tu, minha ladra?!
Como se estivesse à espera, sem mostrar medo, com voz meiga e um sorriso, a moura respondeu-lhe:
- Tu já sabes o que eu quero.
O pastor, determinado e sem papas na língua, exclamou:
- Vai de retro, malvada! Se voltares a tocar num borreguinho, cravejo-te de chumbos!
Certa da coragem do pastor, a moura retraiu-se na sua gruta e ainda não voltou a ser vista.
Resta-nos saber se de fato ela só sai a cada cem anos e se estamos quase no centenário. Cabe agora aos mais novos, na data festiva, vigiar a dita gruta.".

Apenas por curiosidade, a referida data festiva é a que a igreja católica celebra dia 29 de Junho ou é a 29 do corrente, dia de S. Pedro de Verona, orago da extinta capela de S. Pedro?

Foto: David.