O aforismo "As pessoas não morrem, quando nos lembramos delas" diz-nos que, quando nos lembramos das pessoas, estas não morrem. É baseando-me no sentido deste aforismo que presto aqui homenagem ao grande carpinteiro António Coelho de Albuquerque, meu bisavô paterno.
Nasceu na Matela, freguesia das Antas, a 14 de Maio de 1874.
Terá aprendido cedo a arte de carpinteiro, profissão que tinha quando com 33 anos de idade pediu passaporte com destino ao Rio de Janeiro - Brasil.
Sinal de que a profissão de carpinteiro não dava para sustentar a família (digo eu).
Aos 31 de Outubro de 1907, na Secretaria do Governo Civil de Vizeu "disse que desejando ausentar-se para o Rio de Janeiro por Lisboa pretendia se lhe lavrasse o termo da sua identidade de pessoa".
Ofereceu como testemunhas abonatórias Pedro Bernardino d'Almeida, negociante de Castendo e José Cabral Pinto, comerciante de Vizeu,
os quais declararam que reconhecem perfeitamente o impetrante e d'isso tomam inteira responsabilidade".
O Ex.mº Governador Civil, vendo que o impetrante apresentou todos os documentos legaes e que ofereceu testemunhas abonatorias que merecem todo o credito, ordenou que o passaporte fosse concedido.
Era obrigatório haver alguém que "abonasse" a viagem (uma espécie de fiadores).
Os sinais do impetrante são os seguintes: Altura, um metro e 57 centimetros. Rosto regular. Cabelos castanhos. Olhos castanhos. Nariz regular. Boca ???. Côr natural.
Signaes prticulares 2 cicatrizes uma na testa (??) e outra pequena na sua face esquerda(??).
Fonte: Arquivo Distrital de Viseu.
Do que consegui perceber, qualquer pessoa que pretendesse viajar para fora tinha que requerer passaporte na Secretaria do Governo Civil. No documento constava o lugar de destino da viagem, a identificação do requerente, o estado civil, a idade, a profissão, a residência e várias características particulares como a altura, a cor dos olhos, do cabelo, nariz, barba e sinais particulares (muitos destes sinais eram cicatrizes e vestígios de bexigas).
No início do século XX, em cada semana ou mês, eram mais umas casas fechadas no povo. A toda a hora se ouvia: "Abalaram para o Brasil. Já abalaram. Foram todos". Havia um sentimento de perda, de vazio...
Mas é possível que António Coelho, meu bisavô paterno, não tivesse emigrado...
A minha família diz que depois de casado viveu em Forninhos, onde trabalhou sempre como carpinteiro. Também trabalhou na agricultura, como era habitual naquele tempo, cultivando alguns pedaços de terra que herdou ou foi comprando.
Também atendendo ao ano do nascimento dos filhos acho que não abalou para o Brasil.
Família:
Era casado com Emília de Andrade e tiveram 6 filhos:
- José, nasceu em Forninhos a 15 de Novembro de 1903.
Netos: António, Aida, Arminda, Emilia, Agostinho
- Maria, nasceu em Forninhos a 22 de Março de 1907
Netos: Júlia, Margarida, António, Samuel, Natalia
- Arminda, nasceu em Forninhos a 26 de Dezembro de 1909
Netos: Darcilia, Antonio, Álvaro
- Armando, nasceu em Forninhos a 20 de Março de 1913
Netos: João, Augusta
- Álvaro
Netos: José, Rosa, Celeste, Antonio, Juvelina
- Abel
Netos: Odete, José, Conceição, Arminda, Manuel (Nel), Simão, Samuel
http://onovoblogdosforninhenses.blogspot.com/2018/10/origens-da-familia-coelho-de-forninhos.html
O pedido do registo criminal é de 9 de Outubro de 1907.
A Comarca de Fornos d' Algodres atesta que dos boletins arquivados no registo criminal desta Comarca, nada consta contra António Coelho d' Albuquerque, casado, filho de José Coelho d' Albuquerque e de Carolina d' Andrade, natural do lugar da Matela, freguesia das Antas, concelho de Penalva do Castelo, d'esta comarca e morador no lugar e freguesia de Forninhos, concelho d' Aguiar da Beira. Todos os documentos eram acompanhados do registo criminal passado pela Comarca e pelo registo de batismo do impetrante.
No seu registo de Baptismo, de 4 de Junho de 1874, ainda constam as seguintes informações:
- Era neto paterno de Maria de Albuquerque e avô incógnito e materno de António Ferreira e Isabel d' Andrade.
- Foram padrinhos José Ferreira e sua mulher Guilhermina da Costa.
Faleceu no dia 01 de Novembro de 1955. Tinha 81 anos de idade. Está sepultado no cemitério de Forninhos.
Nasceu no mesmo dia o seu bisneto Zé 'pincho' que Deus já levou para junto dele.
Quem ainda o conheceu diz que quando estava doente foi visitado pelo pároco da aldeia, o Senhor Padre Valdimiro; e tendo manifestado a vontade de viver mais um ano o Senhor Padre respondeu-lhe: -"Deus faz-lhe a vontade porque pede pouco" e assim aconteceu.
Na sua época foi um carpinteiro de mão-cheia, muito competo, tinha habilidade para tudo, desde uma simples gamela e uma colher de pau, um baú para guardar a roupa, uma arca para armazenar os cereais à masseira de amassar o pão e à salgadeira onde se salagava e guardavam as carnes de porco enterradas em sal para todo o ano: assoalhava e forrava casas, assim como fazia as portas e janelas, armações para o telhado, carros para carga puxados por bovinos, assim como arados e outros utensílios para a agricultura; desde fazer camas, berços e caixões para meter os falecidos, às simples cruzes de madeira para sinalização das sepulturas, sabia e fazia tudo com muita classe.
Deixou como seguidores da sua arte o filho José Carau e neto António Carau, filho de José Carau, que tal como o seu progenitor davam saída a tudo de carpintaria. Depois da morte destes ninguém mais aprendeu esta arte.
* Carau é alcunha.