Em 1977, com o patrocínio da OLIVA foi editada uma coleção de 16 postais com a temática de trajes portugueses femininos, das regiões portuguesas, insulares e ultramarinas. As ilustrações são de Laura Costa, de quem temos falado. Esta artista caracterizava com frequência o tipicismo dos trajes portugueses que os utilizou em muitos dos seus desenhos e foi com saia de lã com riscas escuras, avental do mesmo tecido, blusa branca, colete de rabichos de pano azul, lenço de chita garrida, capucha de burel, mitenes de lã, meias brancas e chinelas, que retratou a região da Beira Alta.
Gosto da caracterização, só que eu não me lembro de em Forninhos haver este traje de mulher ou um traje próprio. Já escrevi alguma coisa sobre o nosso trajar e dizia então que as roupas interiores eram de linho, cada família cultivando o seu linhar e a roupa de fora, era de burel, batido no pisão. As mulheres para além da capucha de burel para se livrarem do frio e das saias pelo tornozelo, usavam avental com duas algibeiras, uma de cada lado, lenço preto na cabeça ou um "caichené" todo enramado, também usavam ao domingo mantilha e xaile de merino; nos pés, umas chinelas ou tamancas.
Na minha infância, algumas velhas ainda usavam essas saias compridas, xaile e lenço atado no pescoço ou atrás da cabeça ou ainda no alto da cabeça (tipo orelhas de lebre), mas não me lembro de vê-las com mitenes e admirar-me-ia que as suas avós os usassem. Mas para Laura Costa ter este conhecimento não seria indiferente a convivência com Fernando de Castro Pires de Lima, médico, professor, escritor e etnógrafo português, de que foi ilustradora de vários livros infantis adaptados de histórias populares por este.
Os coletes com rabicho ou corpetes e meias brancas eram peças que apenas eu via no Entrudo ou em momentos "folclóricos".
As mulheres de Forninhos pouca roupa possuíam do que a que andava no corpo e a de ir à missa. O vestuário era praticamente reduzido a duas mudas: a de trazer a cote e a das festas, dos casamentos e dos enterros - incluindo o da própria, porque para a mortalha era sempre guardada a roupa melhor que tinha.
Mulher viúva vestia roupas pretas por todo o resto da sua vida.