Depois do centeio, do linho e do vinho, é hoje a vez do milho.
A sementeira do milho acontece na Primavera e a partir daí há sempre que fazer até ao fim do Verão: sachar, abelgar, regar e regar... etc...
Quando era pequena, quase toda a gente em Forninhos cultivava milho houvesse água para regar ou não. Lembro-me que nas margens do Rio Dão, Ribeira e Salto, havia muito milho. Não era basicamente para a alimentação humana, mas sim para a alimentação dos animais. Mas sei que num tempo mais antigo cozeu-se por lá muito pão de milho.
A 1.ª sacha. Por mais cuidada que a terra esteja, crescem sempre ao mesmo tempo que o milho, as ervas daninhas e a 1.ª sacha serve para arrancar essas ervas.
Para este trabalho iam ranchos de pessoas com os sachos ao ombro, que durante horas sachavam o milho ainda pequeno (com duas, três folhas).
Mas a primeira tarefa da sacha do milho era arralar, um trabalho mais ou menos leve, pois o mais difícil era arrancar o pé de milho certo ou a caneira certa, depois era pegar no sacho e juntar-se ao rancho.
Mas ainda vinha a 2.ª sacha, esta mais aligeirada, chamavam aterrar o milho.
E o milho vai crescendo até ao dia em que, como todas as coisas, precisa de água. Então, lá se ia "avelgar" (fazer regos na terra) e de seguida a 1.ª rega (assentar o milho).
Como se regava naquele tempo?
Com o motor de rega, mas antes a rega era feita através dum engenho ainda muito usado no Séc. XX, o Picanço. Este modo de regar, como facilmente perceberão, tinha de ser realizada por mais que uma pessoa.
Tirada manualmente do poço, por uma pessoa, a água era despejada balde a balde no rego previamente feito. Conduzida pelo pé, por outra pessoa, com o sacho a guiar o líquido através dos talhadoiros, era assim que se matava a sede ao milho até este ganhar espiga e as suas "barbas" ficarem secas.
Depois lá vinha mais uma tarefa para toda a família: cortar a cruta do milho ou "as bandeiras" e espalhá-las para secarem; quando secas eram enfaixadas e guardadas para no Inverno alimentar os animais. Mas lembro-me que as vacas tanto comiam as crutas em verde, como em seco.
Está a chegar o fim do Verão, os milhos estão maduros e só esperam as escanadas (não dizemos desfolhadas ou descamisadas).
Geralmente a escanada era feita por um grande número de pessoas à tardinha ou à noite.
À volta dum grande monte de milho cortado rente, retirava-se a espiga para um balde ou cesto e quando cheios despejavam-se nos canastros ou sacas de serapilheira, entre cantorias, milho-rei, abraços, risos, ceiote e bailarico ao som dum realejo...
Quantas vezes o milho-rei, essa espiga de cor diferente, ia escondida no bolso dos rapazes para poderem distribuir abraços a todos os trabalhadores. Esta era uma oportunidade única para se aproximarem fisicamente das raparigas.
E eis que chega a malha do milho.
Soltos dos carolos, noutro tempo através do mangual, os grãos de milho ficam a secar nas lages/eiras comunitárias, aproveitando o sol descorado de fim de estação.
Dia após dia, estende-se o milho pela manhã com a ajuda do rodo ou até com o ancinho virado ao contrário e junta-se à tardinha com a ajuda das vassouras de giesta, para evitar a orvalhada noturna que se começa a fazer sentir.
A última varredela já é para o ensacar e guardar nas arcas de madeira para consumo ou vender. Em 1917, o correspondente de A Folha de Trancoso indicou que a nossa freguesia exportava milho!!
Mas do milho, até as crutas secas e os trambolhos (canas do milho) se vendiam! Tudo era aproveitado, até as folhas fininhas da maçaroca do milho e a moinha serviam para encher almofadas e os carolos serviam para acender o lume e fazer brasas!!
Das barbas do milho ainda faziam chá para tratar problemas do sistema renal e urinário.