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sábado, 30 de dezembro de 2017

Novo ano de esperança para todos



Uma por entre tantas  árvores da nossa terra.
Especial por a ter visto moribunda pela seca deste ano na entrada  dos pinheirais.
Hoje passei por lá e por entre o frio e umas réstias de sol, estava carregada de pardais cantarolas e fugidios.
Pensei: " ..mais um ano já o temos..." e registei, sem os apanhar.
Certo e tal como eu, a gente olha e lembra quem por ela passou, pessoas velhas carregadas de dignidade, acoitadas no inverno e no fresco do verão.
No fundo o ciclo da vida, expresso na mãe natureza e que aqui desejamos a todos que sejam prenhes no maior dos frutos: felicidade.
Feliz Ano Novo!

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

O Cêpo de Natal do meu avô


Na casa dos meus avós maternos, o meu avô Antoninho todos os anos na véspera de Natal fazia um cêpo na sua lareira. Não ficava a arder até ao Dia de Reis, mas deveria ficar incandescente durante a noite...e ele, explicava pacientemente e de modo ternurento que tal era um costume antigo para aquecer o Menino que nascera no frio.
Este ano lembrei-me do cêpo que o meu avô zelava com tanto carinho e trouxe o calor das brasas e a luz e cores do lume para que a beleza das tradições e conhecimentos dos antigos seja preservada e nos sirva para nos tornarmos melhores pessoas.
E, como no ano anterior e no outro antes desse...Desejo-vos um BOM NATAL!!!

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Postal de Natal

"Até ao noitecer era um dia igual aos outros, vinha a gente enregelada da apanha da azeitona durante o dia e pela frente havia que ordenhar as vacas, acomodar o porco e só depois de tudo isto, começar a preparar a ceia - especial pois claro - era o dia antes do Natal e havia que cumprir com a tradição: couves, batatas e bacalhau, mas este para quem o tinha...!".

Contado de viva voz  de quem ainda era criança ao tempo 
(por volta dos anos quarenta)


Quem me fez tal narrativa, que agradeço, tem ainda a memória da escassez do bacalhau no pós guerra e do tempo da candonga em que houve por parentesco e amizade ir à estação de Fornos buscar as peixotas de bacalhau e o mais que podia compor uma boa consoada. Tinha um bom cargo no depósito de fardamento da Boa Hora em Lisboa e que não esquecia os seus, correndo os riscos inerentes. 
Louvo esse senhor cujo nome fica comigo.
Mas havia quem bem se aviasse no racionamento da guerra, não fossem eles orientados em parte pela igreja, especialmente um padre de má memória para a terra, através de senhas, de manhã para os pobres e da parte da tarde para os ricos e seus familiares...comer, fechar os olhos e calar!
Voltando à ceia...
"A gente tinha guardado um pouco de leite de ovelha (que valia dinheiro, mas dias não eram dias) e fazíamos as fritas e arroz doce e claro, as filhoses de pão e depois quem quisesse ia pela meia noite à missa do galo. Das coisas mais bonitas o cantar ao Menino".
E à minha pergunta: os sinos tocavam? 
"Pouco, um bocadito, pois os padres viviam ao lado e não queriam ser incomodados...".
Dia a seguir, o Natal!
Borrego temperado de véspera, tudo o que a matança do porco havia dado, frutos secos do que a terra dava e se partilhavam por quem não tinha, tal como o que quase parece um conto real que me fizeram chegar por no dia anterior lhe faltar a pequenez da abundância. 
"Na noite de consoada fui ver como estava aquela senhora idosa cujo nome já te disse. Estava em volta à fogueira com uma panela de ferro a ferver batatas e couves, mas bacalhau, nem vê-lo. Arranjei três rações de bacalhau e consoei com ela, trazendo na volta uma malga de figos secos, foi um belo Natal".
Assim o espero para todos vós!  

domingo, 10 de dezembro de 2017

O barrete

A figura do Pai Natal levou-me há meia hora atrás, neste domingo de vento muito frio a uma pesquisa no Google para as palavras "gorro/carapuço/barrete".
E eis que dou comigo a lembrar o barrete, uma peça de vestuário muito utilizada em Forninhos pelos homens de antigamente: tio Mosca, tio Alberto Janela, tio Francisco Ferreiro, tio Luís Pego, tio Figueiró, tio Joaquim Moca, etc...



Feito de pano grosso, geralmente de cor preta (não estou a falar do dos campinos ou dos do Pai Natal), possuía uma virola que circundava toda a abertura e terminava numa borla.
Enterrado até às orelhas e muitas vezes enfiando-as dentro dele, o barrete tanto caía sobre o ombro, como poderia pura e simplesmente estar colocado para trás. Era ao gosto de cada um.
Agora o que eu não sabia!
Tinha um forro solto e no fundo "do saco" aglomeravam-se as mais diversas utilidades que a cada homem diziam respeito...era uma "algibeira" onde se juntava uma ou outra parca moeda para remediar algum imprevisto, a onça do tabaco, o caderno das mortalhas para o enrolar,  por vezes o próprio lenço de assoar e sei lá mais o quê...!
Cabia "tudo" no barrete bem guardado e sempre à mão, para além de preservar o frio!
Falando em "algibeira", não posso deixar de me referir também ao avental e lenço da cabeça que as mulheres de Forninhos usavam; o avental também servia de mala e porta-moedas: possuía duas algibeiras, uma de cada lado e que serviam para meter o lenço de assoar, o dinheiro para os gastos, os rebuçados...
O avental e o lenço de cote usados no dia-a-dia, também serviam de cesto para apanhar cachos e outra fruta, tal como vaiginhas e feijões, etc...
Esta forma prática e sem complicações de se viver, penso que acabou por terminar talvez no início dos anos 90.

sábado, 2 de dezembro de 2017

Cantar o Natal

O Advento é o tempo de  "gestação", em que se prepara a vinda de Jesus, por isso, se diz nesse tempo na Igreja: "Maranatha!" Vem, Senhor Jesus! E, tendo em conta que o Natal é celebrado sempre no dia 25 de Dezembro, começa exactamente quatro domingos antes do Natal. 
É no início deste tempo que tradicionalmente se montam os presépios e as árvores de natal e porque não escolher e preparar também os cânticos próprios para a missa natalina, inspirados nos textos bíblicos que falam da vinda do Salvador? 

Forninhos - 8/1/2017 -7.ª edição do "Cantar ao Menino"


Podia escolher o "Gloria in Excelsis Deo", mas começo com uma que é antiga e sempre nova, "Cristãos, Alegria!"

Cristãos, alegria que nasceu Jesus;
A Virgem Maria no-lo deu a luz.
Jesus! Jesus! Saudemos Jesus.
Jesus! Jesus! Saudemos Jesus.

1. Que meiga alegria/Nos traz este dia/De Jesus Natal!
Não há neste mundo/Prazer tão jocundo/que lhe seja igual.

2. Os Anjos nos ares/em ledos cantares/Anunciam paz!
Oh, que dom divino!/E um Deus Menino/É quem no-la traz.

3. De todo o rebanho/O mais lindo anho/Lhe leva o pastor
A mais rica prenda/Que Jesus pretenda/É o nosso amor!

4. Lá nos altos Céus/Honra e glória a Deus/Que nos deu Jesus!
Paz na terra à alma/Que serena e calma/Vive unida à cruz!

Para ouvir é só clicar no link: https://www.youtube.com/watch?v=GWZwlIOycY0

sábado, 25 de novembro de 2017

Os serradores

Forninhos, já o dissemos, é rodeado de pinhais, predominando o pinheiro bravo. Não admira, portanto, que tenha havido pelas nossas bandas serradores de madeiras. Não era um prolongamento do Pinhal de Leiria, mas serradores de região de Leiria que se dedicavam à comercialização de madeira estiveram ligados a Forninhos e aos forninhenses e alguns deixaram descendentes: tio Zé Teodósio e irmão Diamantino e cunhado Silvestre; tio Joaquim "Buchas".

painel de azulejos que representa os serradores braçais

A imagem acima encontrei-a algures e mostra-nos um trabalho que envolvia um tremendo esforço. 
Depois de abatida a árvore com o machado, esta era cortada com a serra de punhos em toros nas medidas exigidas pela futura aplicação que teriam. Para o efeito, transportavam até à floresta os seus pontais para fazer a burra (uma espécie de cavalete), o fio e a tinta para marcar os cortes, os machados e a sua grande serra, não esquecendo a saca das ferramentas e lá no local de corte/abate de árvores iniciava-se então a serragem com um serrador em pé em cima e o outro no solo. À custa de grande esforço físico, repito, os dois serradores faziam uso da grande serra braçal, puxando-a para cima e para baixo.
Dali saíam barrotes, caibros, cumieiras, falheiras, falheira é a primeira tábua que se separa de um toro ou tronco, quando se serra longitudinalmente em várias tábuas, e que é sempre falha "arredondada" na face externa, ripas, etc...
Posso estar a abrir as tábuas do meu caixão era a sina do Serrador.
Serravam e transportavam a madeira até à Estação do Caminho de Ferro mais próxima. Muita madeira proveniente de Forninhos foi despachada na Estação de Fornos de Algodres. Hoje só os nossos velhotes se lembram disto, apesar desta profissão artesanal ter resistido até à segunda década do século vinte.
Mais tarde ainda vinham os "homens dos burros", que aproveitavam raízes e toda a lenha sobrante, pois dantes tudo era aproveitado, nada ficava no mato como hoje se vê e depois os incêndios acontecem.

sábado, 18 de novembro de 2017

Míscaros, tortulhos e outros cogumelos: V evento!


A Mãe-Terra está triste. Não chove (pelo calor até parece que se está no Verão), mas não deixa de ser a altura dos apreciados míscaros e outros cogumelos, por isso,  vai realizar-se já no próximo fim de semana, dias 25 e 26 de Novembro, a quinta edição do Certame Gastronómico do Míscaro no Município de Aguiar da Beira. Não sei quantos anos são necessários para que se considere tradição, mas esta será sem dúvida uma das boas a manter!
Toda a informação pode ser encontrada aqui:
http://www.cm-aguiardabeira.pt/index.php?option=com_k2&view=item&id=369:v-certame-gastron%C3%B3mico-do-m%C3%ADscaro&Itemid=177
"Seja bem-vindo quem vier por bem" é um dizer antigo, não é?
Pois bem...venham então até Aguiar da Beira no próximo fim de semana apanhar (ou só provar) míscaros, tortulhos e outros cogumelos e aprender um pouco mais sobre o tema.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

SANTO PADRE VALDEMIRO

Dizem, quem dele se recorda, um homem alto e bem aparentado. Dócil, puro e recto e que partilhava o pouco que tinha, mesmo no fim da vida.
Um Padre Santo!


Afinal quem foi este homem,  nascido em Ribeiradio, concelho de Oliveira de Frades, última freguesia de Viseu e de seu nome Valdemiro Pereira Coelho?
Ordenado padre em 15 de Agosto de 1944, nomeado prefeito do seminário de Viseu, por ali andou cerca de 2 anos, sendo que depois foi nomeado pároco de Forninhos.
Sei que era sobrinho de um cônego (cargo que antecedia o ser bispo) e lhe daria naquele tempo importância.
Apareceu de bicicleta de roda alta numa terra de nenhures e com a qual ia aviar receitas para quem estava doente. Mais tarde teve uma mota para dar alerta aos médicos por estradas lamacentas e no dia que se seguia e depois da missa dita, ia visitar os doentes.
Por Forninhos que o não esquece, partidos quase vão seis anos, ajudou no restaurar da igreja e de mota foi para os lados de Arganil arranjar telha para o novo telhado da igreja, trazida pelo tio Zé Teodósio.
Passados cerca de 12 nos, abalou de Forninhos e foi para Oliveira do Conde, seguindo-se a Bodiosa aonde celebrou as suas bodas de 50 anos de um caminho duro e bonito da causa que abraçou.
Sei que de Forninhos, apenas faltou quem de todo não podia, na festa mais que meritória, tal como das paróquias vizinhas.
Morreu pobre por querer os pobres menos pobres,  não foi professor em Carregal do Sal, por haver casais sem emprego e declinou os convites.
A sua casa tinha o nome da igualdade e se cobrava, já velhinho uma missa, o resto ia para o monte, como ele dizia: dividam!  O dom da partilha.
Sempre dele ouvi falar, mas nunca o vi, porventura não o procurei por receios de quando nasci pois, fui baptizado por ele (como amizade à família) já corria a madrugada e no outro dia iria a enterrar e sugeriu que partisse com o nome dos meus avós...Francisco e António...
Quem diria que hoje ainda escrevo acerca dele, com carinho e reconhecimento, Santo Padre Valdemiro!

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A juventude

Para recordar mais um magusto dos tempos de outrora, deixamos aqui uma fotografia tirada à Juventude no Carvalho da Cruz em Novembro de 1955, que nos chegou pela mão da Sra. Maria José Saraiva (primeira rapariga à nossa direita, da fila da frente). 
Juventude era o nome dado ao grupo de Acção Católica, mais conhecido por JAC, composto pelas jovens mulheres de Forninhos que pelo início dos anos 50 pertenciam a este movimento.
A Juventude faz parte do passado, mas olhar para o passado ajuda-nos a compreender o presente


Magusto (Novembro 1955)


Fila da frente, da direita para a esquerda: Maria José Saraiva, a pequenita é da Matela (Natália) e a Gracindinha (irmã do Sr. Pe. Valdemiro);
No meio, da esquerda para a direita: Sabina, Augusta Joana, Ana do Adriano, Mariana Carreira, Palmira Guerra, Clementina e Augusta Moreira (Cavaca);
Em pé, da direita para a esquerda: Teresa Saraiva, Céu da Ludovina, Ana Matela, Filomena Carreira, Glória Moreira (do Forra) e Feliciana Guerra.

Caros leitores, 
Este Blog comemora hoje o seu oitavo aniversário, aproveito a ocasião para manifestar o profundo reconhecimento a todos os que nos têm ajudado a manter vivo este projecto, em especial aos nossos amigos bloguistas pelas boas palavras e às gentes de Forninhos pelas fotografias e visitas.
Para todos vai um abraço de sincera amizade.
Paula Albuquerque
Francisco Almeida 

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Medidas medievais


Esta pedra com uma cavidade, está numa casa de pedra construída em forma de juntouros que representa as primeiras casas que deram origem ao povoado de Forninhos. Nesta casa viveu a tia Cleta, mãe da tia Isaura.
Os autores da monografia de Forninhos (página 44), referem que esta pedra rectangular provavelmente terá vindo do Lugar de S. Pedro, onde outrora existiu uma comunidade medieval; mede 127 x 44 cm e o encavo: 81 x 6 cm; é definida como sendo uma "Vara/Medida Padrão de Forninhos" e que devido ao encavo insere-se nas unidades de medida linear. 
Todos sabemos que medidas de pedra serão provavelmente medievais, embora seja difícil identificá-las no tempo ou no local de origem, uma vez que tiveram larga utilização ao longo de séculos. 
E não quero ser do contra, mas as dimensões de comprimento (se bem a mediram) não são de uma vara! 
Segundo o "Dicionário de História de Portugal" a vara correspondia a cerca de 1,10 cm e a medida (da vara) seria em geral invariável. Pode ser meia-vara? Mas a meia-vara tinha de medir 0,55 cm.
Pode tratar-se de outra medida medieval? É capaz.
O côvado, também é uma medida de comprimento usada por diversas civilizações antigas. Media 0,66 cm, mas podia apresentar ligeiras variações locais. Era baseado no cumprimento do antebraço, da ponta do dedo médio até o cotovelo.
Com erros ou sem erros, justificações plausíveis ou não, estes foram os números que chegaram aos nossos dias. Não é preciso inventar nada!
Portanto, creio que esta gravação (se bem a mediram, repito) aproxima-se mais do côvado do que da vara ou até da meia-vara. Côvados há-os de todos os tamanhos e podem variar mais de 20 cm entre si.
Existia também outra medida: a braça, mas esta medida, segundo alguns autores, teria cerca de 184 cm, outros, defendem que seria o dobro da vara, ou seja, mediria 220 cm. A braça tinha também um sbmúltiplo: a meia-braça.
Talvez os leitores do blog saibam mais sobre este assunto e possam dar mais achegas, porque - tirando as medidas da pedra - a descrição que os autores da monografia de Forninhos fazem sobre as medidas-padrão lineares é o que consta na «net» ou seja: as gravações das medidas-padrão aparecem geralmente em locais/edifícios: igrejas, portas de amuralhamentos urbanos medievais ou castelos. Por elas se aferiam as medidas que traziam os comerciantes e feirantes de panos, fitas e linhas. A maior parte destas medidas desenvolveram-se no reinado de D. Dinis...
Esta pedra que está na parede duma casa rural, terá vindo de onde? 
Não creio que terá vindo da igreja de S. Pedro, pois o pequeno templo desmoronou-se mais tarde e só depois é que os de Forninhos trouxeram para a povoação as melhores pedras. O Pe. Luís Lemos no Livro de Penaverde refere que "os de Forninhos, aplicaram a boa pedra da capela na construção do cemitério e reparação da igreja". Ora, é sabido, que isto foi nos anos 40 e 50 do Séc. 20.
Acredito mais que esta pedra pode ter vindo da  Igreja de Forninhos, do templo anterior a 1797, pois já aqui publicamos um documento que sugere que a actual igreja foi construída de raíz. Em vez de na horizontal estaria na vertical e era aqui que o povo ia tirar as medidas; ou, então, terá vindo de alguma muralha do nosso Castelo. 

Medidas medievais de comprimento
O sistema de medidas de comprimento utilizado em Portugal na Idade Média baseava-se no palmo, que correspondia a 22 cm. 
Com referência ao palmo, existiam dois múltiplos principais:
O côvado, por vezes conhecido como alna, correspondia a três palmos;
A vara, que correspondia a cinco palmos.
Cada uma destas medidas tinha um submúltiplo com metade do seu tamanho:
O meio côvado e a meia vara.
A medida da braça não era baseada no palmo. Como acima disse, segundo alguns autores teria cerca de 184 cm. Outros, defendem que mediria 220 cm (o dobro da vara).
A braça tinha também um submúltiplo: a meia braça.

http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2182.pdf

Já agora não deixe de visualizar o post: "Pesos e Medidas" AQUI Obrigada.

sábado, 28 de outubro de 2017

Recordando os nossos...

Aproxima-se o mês de Novembro, um mês muito espiritual que pela tradição cristã é o tempo em que trazemos à memória os nossos antepassados e ente-queridos que a morte já levou. As pessoas podem andar o resto do ano sem ir ao cemitério, mas nesta altura vão várias vezes até onde repousam aqueles que nos foram próximos. Por estes dias há um pensamento e reflexão mais próximo da realidade da morte. 
Então nunca será demais lembrar com a saudade que lhe é merecida, os (entre tantos) que deixaram a sua marca na História Colectiva de Forninhos, por terem dado o seu melhor e por terem feito maior a nossa terra. São património da nossa aldeia e aqui nunca serão esquecidos.

Olímpia da Conceição Vaz e Antoninho Bernardo
Antoninho Bernardo, conhecido por Toninho do Aníbal (Aníbal Bernardo, era o seu pai) foi Regedor de Forninhos. Ao tempo, o regedor era a autoridade policial da freguesia, era quem dirigia as queixas de roubos, desacatos e  que devia, se fosse caso disso, chamar a GNR do concelho (ou a mais próxima), intervinha em assuntos de partilhas, competia-lhe repor a ordem e harmonia junto da população da freguesia, carimbar e rubricar os passaportes de fim-de-semana dos soldados, etc...
A sua esposa, Olímpia, foi costureira em Forninhos; sabia ler e escrever, por isso, lia e escrevia cartas às pessoas que não sabiam ler. Tinha também talento na arte da representação: era ensaiadora de teatros e contradanças. Faleceu nos anos 80 e eu ainda a conheci, era muito amiga da tia Felisbela.
Agradeço a foto à sua neta Maria José Bernardo.

Alberto Pina e Maria da Anunciação

Conheci, o tio Alberto (Figueiró) e a tia Anunciação e entrei algumas vezes na sua casa, no sítio do Lugar. Eram lavradores, tal como a maioria dos moradores de Forninhos.
O ti Alberto chegou a ir a Tete (Moçambique) conhecer como os filhos viviam o que o deixou muito feliz e confuso com a tez do povo local, pois da aldeia eram todos brancos e ver aquele mundo de terras por cultivar também lhe fez confusão pois na sua região todos os arretos eram aproveitados para cultivar fosse o que fosse. Isto nos dá conta a sua neta Mimi Teixeira do blog: http://mimiteixeira.blogspot.pt/
Lembro-me bem de o ver no lameiro dos Moncões de joelhos, com a seitoura, a ceifar erva fresca para os coelhos.
A tia Anunciação era uma mulher bem simpática que se sentava na soleira da sua porta, onde uma roseira enfeitava a entrada de rosas vermelhas. Contava à pequenada a historieta da Nau Catrineta, um poema de um anónimo, referindo-se a viagens longas para o Brasil ou para o Oriente.
Certamente muitos já não se recordam, mas começava assim: "Lá vem a Nau Catrineta, que tem muito que contar. Ouvide, agora, senhores, Uma história de pasmar...".

Passava mais de ano e dia
que iam na volta do mar.
Já não tinham que comer,
nem tão pouco que manjar.

Já mataram o seu galo,
que tinham para cantar.
Já mataram o seu cão,
que tinham para ladrar.

etc. etc.

Zé Cavaca e Maria Coelha (meus avós paternos)
Da minha avó tenho imensas recordações e do meu avô apesar de não o ter conhecido, faleceu no dia 20 de Novembro de 1973, tenho dele boas memórias pelas palavras que o meu pai me foi contando. O meu avô era um amante da natureza e dos animais.
Eram lavradores fartos à custa de muito trabalho. Um dia a minha avó viu-se impedida de trabalhar porque deslocou uma perna numa nora de tirar água do poço, na Cerca. Contava que foi transportada numa padiola. Aproveitei muito bem a companhia dela, aprendi com ela orações, advinhas, cantigas populares, contos e histórias de vida...
Sempre de luto carregado (nunca o aliviou), ela que sempre teve castanhas -  tiveram um souto num terreno denominado Moradia - no 1.º de Maio oferecia-me sempre uma castanha pilada que eu rilhava como se fosse um rebuçado e assim já podia ouvir o burro ou passar por ele e ficava "vacinada" para todo o ano.
Foi a minha parteira e pelas suas mãos experientes, de muito saber, passaram muitas crianças nascidas em Forninhos ao longo de várias décadas.
A foto foi-me oferecida pela minha madrinha, Natália Cavaca.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Poesia Outonal em prosa

Foi com pesar que tomei agora conhecimento da morte do Pedro Luís Lópes Pérez (PL.LP) do Blog "poesia y vivencias" depois de lutar anos contra um cancro. Os conhecidos também deixam um vazio neste nosso mundo de mortais. 
Paz à sua alma.


"Atrás dos primeiros menos-calores do estio findo vieram, nos acasos das tardes, certos coloridos mais brandos do céu amplo, certos retoques de brisa fria que anunciavam o outono.
Não era ainda o desverde da folhagem, ou o desprenderem-se das folhas, nem aquela vaga angústia que acompanha a nossa sensação da morte externa, porque o há-de ser também a nossa. Era como um cansaço do esforço existente, um vago sono sobrevindo aos últimos gestos de agir. Ah, são tardes de uma tão magoada indiferença que, antes que comece nas coisas, começa em nós o outono.
Cada outono que vem é mais o perto do último outono que teremos, e o mesmo é verdade do verão ou do estio; mas o outono lembra, por o que é, o acabamento de tudo, e no verão ou no estio é fácil, de olhar, que o esqueçamos. Não é ainda o outono, não está ainda no ar o amarelo das folhas caídas ou a tristeza húmida do tempo que vai ser inverno mais tarde. Mas há um resquício de tristeza antecipada, uma mágoa vestida para a viagem, no sentimento em que somos vagamente atentos à difusão colorida das coisas, ao outro tom de vento, ao sossego mais velho que se alastra, se a noite cai, pela presença inevitável do universo.
Sim, passaremos todos, passaremos tudo. Nada ficará do que usou sentimentos e luvas, do que falou da morte e da política local. Como é a mesma luz que ilumina as faces dos santos e as polainas dos transeuntes, assim será a mesma falta de luz que deixará no escuro o nada que ficar de uns terem sido santos e outros usadores de polainas".

Do "O Livro do Desassossego" de Bernardo Soares/Fernando Pessoa.
Foto: XicoAlmeida.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

A MARMELADA, À MODA DA MINHA MÃE

Não lhe posso chamar "velha" pois só tem oitenta e sete anitos de vida, mas por vezes fica arreliada comigo aquando lhe pergunto coisas antigas sobre a vida, diz quase sempre que "isso foi há tanto tempo que nem me alembro...".  Claro que lembra e com alguma meladice da minha parte, vai soltando o rosário... 


Desta vez, veio o propósito da marmelada. Sempre tal fez de maneira soberba!
Tão bem que recordo em garoto quando vinha da escola, levantar a pontas de papel que cheirava a aguardente e ir ratando as tigelas encostadas na varanda por decima de uma tábua, como esperando a benção divina...e ela vinha envolta no pecado da gula, mas acima de tudo na magia das suas mãos.
Hoje e embora renitente, perguntei pelos marmelos e se tinha feito marmelada, pois gostaria de aqui trazer pela sua voz, os modos antigos...
" Fiz, sim senhor, ou pensas tu que já não me astrevo?!"
Tentei um pouco de calma, pois que é determinada sei eu e nada melhor que escutar e calado, o respeitinho que me ensinou, é muito bonito...
"Cada um de vós, tem aqui uma tigela para levardes quando quiserdes, pode não estar tão boa como antigamente, mas acho que ainda não envergonha a vossa mãe".
Sinto tal como um autoelogio e fico feliz pela sua valentia...Raio de mulher!
E por tal, mais afoito lhe pergunto o "segredo".
"Olha filho, sabes que as pernas já não dão tanto como gostaria, mas um casal amigo, foi aos Carregais apanhar um bom alguidar de marmelos no domingo passado e o deixaram aqui no páteo. Não eram grandes pois faltou a chuva, mas cheiravam tão bem...
Depois de bem lavadinhos, cozi-os inteiros e tirei-os do tacho com uma escumadeira e com uma faca desmanchei-os, percebes, tirei-lhes a casca?".
Ouvia cada frase caladinho com medo que me desligasse o telefone, pois calado sabia que prestava atenção e isso a deixava contente e lá continuou:
" Depois os cortei ao bocados e passei pelo, como se diz, o passe-vite, essa coisa moderna que antes a gente esmigalhava com um garfo, mas é mais rápido. Às depois ponho num tacho de alumínio o açúcar, para três quilos da massa dos marmelos, metade ou um pouco mais de açúcar e isso é que fica caro e por cada quilo de açúcar, meio quartilho de água.
Ainda me ouves? estás tão calado que se calhar ferraste no sono, pois nada dizes e nem sequer te falei no mais importante: o ponto de estrada..estás a ouvir?".
Claro, mãe, já estou no ponto, penso eu para comigo sem saber o que seria e eis que ela me diz:
"O ponto de estrada é o principal, nota, tens de pôr ao lume num tacho o açúcar e ao derreter ficar junto e está no tal ponto!
Depois botas a massa, estás a ouvir? para dentro, bem batida e volta ao lume e quando começar a levantar borboletas, está pronto! Tiras para as malgas ou tigelas, deixas arrefecer e depois com papel molhado em aguardente, tapas para não criar bolor!".
Beijinho mãe!

sábado, 14 de outubro de 2017

Do lume ao fogão de gás

Acho que todos sabemos que o fogo foi das primeiras descobertas/invenções tecnológicas da Humanidade. E das mais úteis. Mas não quero falar da origem do fogo, para tal, como se sabe, há muitos sítios na net que podem ler, quero somente falar mais um pouco do Forninhos sem eletricidade, nem gás...nem fósforos em todas as casas. Eram caros: 3 tostões uma simples caixa de fósforos. Na década de 50/60 do século passado, para acenderem o lume iam à casa da vizinha e traziam umas brasas.



Já não sou desse tempo, para escrever sobre este assunto, tive de falar com familiares sobre a utilidade da lareira no seu tempo, fiz umas perguntas, e cada um falou-me das suas lembranças: a comida era toda preparada ao lume. Fosse inverno ou verão, o lume estava aceso quase todo o dia, se não mesmo o dia todo. Era o "fogão" da altura e a panela de ferro de três pernas em ferro fundido era a rainha da cozinha nos anos 50. Havia-as de vários tamanhos. Ao lado delas, o tacho, a sertã, a grelha, a caldeira, tudo arrumado ao lume, em cima das trempes, ou pendurados num entrelaçado de ferro. As tenazes e o abanador também estavam por ali.
Mas são os serões em família em torno do lume, os moxos baixinhos que se usavam (bancos de madeira)a lembrança mais viva. Ou então panela dos feijões ao lume e as trempes com a sertã em cima a fritar um ovo e umas batatas às rodelas em azeite ou mesmo o tacho a fritar as filhós em épocas de festa; o fumeiro e caniço por cima das cabeças, lá em cima a secar as castanhas, quando as havia, são recordados também. A morcela colocada no testo da panela de ferro é uma imagem muito presente, assim como a chouriça, a farinheira e os couros em vinha d´alhos grelhados na grelha ou o assador nas trempes que se ia sacudindo, até as castanhas ficarem no ponto e de seguida o pano a abafá-las. 
O calor confortante do borralho, o cheiro da panela do "vivo" e o quanto era bonito de ver a avó a fiar o linho e a irmã ou uma tia a fazer uma camisola de lã ou até um trabalho de renda; o púcaro com vinho quente com açúcar ou o panêlo do café e o pão torrado nas brasas; a caldeira dos torresmos a ferver que um dos mais velhos e com mais habilidade ia mexendo: tudo foi recordado.
Depois, um dia, apareceu na aldeia o primeiro fogão a gás e pronto, começou aí o princípio do fim do lume e da lareira para fazer a comida. Com a utilização do gás no preparo dos alimentos começava uma nova era para as mulheres de então, mulheres-heroínas, diga-se.
Aos poucos e poucos as panelas de ferro foram sendo substituídos por utensílios mais modernos e sendo inutilizáveis na cozinha, é-lhes imediatamente dada nova função...assumem o papel de "vasos"ostentando belas espécies de plantas e flores decorando varandas, balcões e pátios, ou como objecto decorativo no interior das casas.

domingo, 8 de outubro de 2017

Mala de Porão

Forninhos é uma terra aonde ao longo dos tempos deu muitos filhos para a emigração americana. Na família, tenho referências dessa emigração, alguns por lá foram ficando, mas não esquecem, felizmente, as suas raízes. Tia, primos direitos e segundos de vez em quando vão a Forninhos e de terceira ou quarta geração visitam-nos através do Blog - d'os Forninhenses.
Então, queria aqui deixar uma bela história, daquelas em que todos nos sentimos em alguns detalhes, pertencer, mesmo os que  migraram para estudar ou para trabalhar (como eu).
Lê-se num instante. Vai gostar.



Esta mala de porão foi uma das três que José dos Santos Albuquerque, conhecido por tio Zé Rito, trouxe em 1930/1931 dos Estados Unidos da América, onde esteve 10 anos como emigrante.
Deve ter representado a alegria feliz do seu tão desejado regresso a Forninhos, após uma ausência tremenda de 10 anos, nos USA.Uma autêntica epopeia: partira pobre como Job e voltava à sua terra rico ou endinheirado, para a mentalidade daquela época e duma região e aldeia dominadas pela pobreza.
E,nesta mala, trouxe centenas de lápis com borracha, canetas, cadernos e outros objectos escolares que distribuiu pelos alunos das escolas, de Forninhos e Matela sobretudo. E foi o conteúdo desta mala que fez pensar o seu neto, Ilídio Marques, ter sido o seu avô, provavelmente, empregado de algum colégio americano.
Mas esta mala para o Ilídio representa o contrário, representa o adeus a Forninhos, o fim desgraçado da feliz infância na aldeia, onde a sua alma de menino ficou sempre...
Na realidade, esta mala representa e significa a separação e fim cruel da felicidade de criança, na vivência simples da sua aldeia e o desterro amargurado e cruel no Seminário de  Fornos, nos seis anos tão tristes que lá passou. Esta mala de porão, sua fiel companheira, lembrou-lhe sempre a despedida chorosa e triste da sua casa, da sua querida aldeia, dos seus amigos, dos seus saudosos pais e avós, do menino tão amado que foi.
E como é triste às vezes o caminho do destino: 
"...foi o meu avô Rito, que no dia 10 de Outubro de 1953, às 6 da manhã, com os olhos marejados de lágrimas, a carregou e levou num carro de mão, desde a nossa casa da Lameira até à Fonte do Lugar, onde apanhei a carreira dos Araújos para o seminário de Fornos.
O meu avô tinha-a trazido dos USA cheio de vaidade e orgulho para a sua terra, com muitos presentes e coisas que só na América havia; vinte e tal anos depois, carregava-a cheio de tristeza, como arca do meu enxoval, para a carreira que me levaria para longe dele, de tudo e de todos. Pela minha dor e saudade, imagino a do meu avô Rito... 
No entanto, esta mala é também um verdadeiro relicário e o único objecto visível a abrir ainda mais a porta da lembrança do seu avô Rito e da saudade da sua terra, da sua casa..."ao meu Largo da Lameira, por onde ainda hoje vagueio tantas vezes...com muito amor".
Numa aldeia rural com tantos movimentos demográficos ao longo do Século XX, criam-se laços especiais e especial vontade de, quando estamos juntos, recordarmos os nossos, a infância na nossa terra. Não admira pois que a nossa mentalidade manifeste sempre, alguma saudade.

Bem-Haja Ilídio Marques por mais esta partilha.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

DATAS COMEMORATIVAS

Comemora-se hoje, 5 de Outubro, 107 anos da Implantação da República. Como gosto muito de história lembrei-me que neste ano da graça de 2017 e para o ano, 2018, acontecem na nossa terra, datas mais ou menos redondas, que para a história de Forninhos muito significado têm.


São os 220 anos da Igreja Matriz (actual igreja), cuja licença que se passou para benzer, foi a 2 de Dezembro de 1797.
E, como o 2 de Dezembro de 2017 calha a um Sábado e na véspera é feriado nacional (dia da Independência) ficaria contente se os dirigentes da Igreja de Forninhos celebrassem esta data.
E os 160 anos sobre os limites da nossa freguesia. Foi a 4 de Maio de 1858 que a Câmara de Aguiar da Beira decidiu, através das antigas demarcações da paróquia de Santa Marinha de Forninhos, estabelecer os limites desta freguesia.
Ficaria ainda mais contente se Câmara e Junta se lembrassem de assinalar este facto importante para a Freguesia de Forninhos.
4 de Maio de 2018 também calha a uma Sexta-Feira e dia 3 de Maio (véspera) é o dia de Santa Cruz, uma data que os forninhenses ainda preservam em respeito à sua própria memória e à dos seus antepassados. 
O que nos foi legado pelos nossos egrégios avós acho que merece!
Em 2019, 19 de Julho - na véspera é dia de Santa Marinha - completam-se 60 anos de luz eléctrica. Ainda falta, mas fica já esta anotação que é para se lembrarem de assinalar também esta data. Que não digam que ninguém avisou ou que avisaram em cima da hora ou pior ainda...

terça-feira, 3 de outubro de 2017

O Correio nos tempos

"Ainda sou do tempo em que em Forninhos a entrega da correspondência não se fazia de porta em porta, mas sim à porta do Sr. José Bernardo, em que os mensageiros provenientes de Fornos de Algodres, tio António correio e mulher, tia Eduarda correia e também mais tarde, proveniente de Dornelas através da tia Augusta brasileira e seu irmão António brasileiro, entregavam a mala fechada ao Sr. José Bernardo, que a abria com chave própria à frente de todos os presentes, lendo em voz alta e entregando as missivas a quem de direito". Margarida Albuquerque 21/12/2012.
Num tempo em que as mulheres não tinham profissão, excepto as professoras primárias, Forninhos teve, pelo menos, duas mulheres carteiras e tal é digno de registo e quiçá estudo. Não me perguntem se elas ganhavam ou se ganhavam muito ou pouco. Não faço ideia e, creio, que nunca ninguém lhes tenha perguntado, mas estavam a merecer esta homenagem recordatória.


Os tempos mudaram e a entrega transparente, do correio desses anos longínquos passou há história. Hoje em Forninhos a carta é posta, na calada da noite, na caixa do correio dos destinatários. E, por medo do cão que guarda a casa nem todos recebem a carta. Com isto não quero dizer que a missiva não chegue a quem de direito, porque chega. Assim, também o n/ Blog recebeu no sábado passado "a carta", uma carta aberta, sem data, dirigida aos eleitores da Freguesia de Forninhos, assinada pelos seus governantes, a tecer críticas, a explicarem provas de seriedade e a apelarem ao voto "para continuarem a trabalhar pela nossa terra". Manobras de diversão, como se a realidade não fosse, infelizmente trágica.


Por ser dia de reflexão, não houve logo resposta nossa, mas as eleições já lá vão, os eleitores de Forninhos reiteraram o seu apoio à actual Junta de Freguesia nos próximos quatro anos e  chegou a hora dos nossos esclarecimentos. 
I
Os autores dos comentários (nós) não estamos a ser ouvidos no processo. Na verdade, por email, fui contactada, em Novembro de 2016, pela Polícia Judiciária da Guarda para tratar de um assunto relacionado com a Freguesia de Forninhos. Curiosa "como é normal" entrei logo em contacto com a Sra. Inspectora (não foi um Sr. Inspector) para saber do que se tratava. Tratava-se, obviamente, da venda de um baldio escriturado por usucapião (artigo 2898) e parafraseando o(s) auto(res) da carta "coincidência ou não" chegaram ao "blog dos forninhenses" ao post "Uma mão lava a outra" da autoria do XicoAlmeida.
Em Novembro de 2016 a Sra. Inspectora pensava que eu morava em Forninhos e queria falar-me pessoalmente. Não estando eu a residir em Forninhos, foi-me pedido o contacto de pelo menos uma pessoa residente. O que fiz e indiquei o Henrique Lopes, porque outros que contactei recusaram-se, por medo de represálias ou para evitarem chatices, não sei. Eu o que sei é que não tenho nada a esconder, apenas colaborei com a justiça, portanto, é falso o exposto no 2.º parágrafo "da carta".
Quanto ao "primeiro esclarecimento" penso igual. Se a Junta está a ser investigada é porque houve uma queixa e se há dúvidas, certo é que passado quase um ano ainda as há!
II
Entretanto, porque a Sra. Inspectora está de atestado, o processo de inquérito passou para um colega seu, que é o Inspector referido na dita "carta".
O Sr. Inspector da PJ contacta-me também, já este ano, mas só porque a colega menciona a folhas tantas que falou telefonicamente comigo e então quis saber o que eu sabia sobre o artigo 2898, pois a Sra. Presidente da Junta de Forninhos disse-lhe que não sabe que terreno é, não foi vendido durante o seu mandato - isto porque o Sr.Inspector não o encontra mencionado em acta alguma.
artigo 2898 é o mencionado no post: UMA MÃO LAVA A OUTRA (para ver/ler clique no azul).
Os autores da carta aberta ao afirmarem "...perante o que viu, referiu claro que tínhamos cumprido a lei" mentem descaradamente ao povo. Até porque quando o Sr. Inspector esteve nas instalações da Junta, ainda não tinha falado com o Sr. Ricardo Guerra sobre a venda do baldio, sobre o montante da venda e as contas deixadas no final do seu mandato.
O Sr. Ricardo Guerra enquanto presidente da Assembleia de Freguesia pode ter pedido parecer à Anafre, pode ter recebido € 57.000 referentes a 14.000 m2 ou mais, mas enquanto Presidente de Junta ainda tem de provar como vendeu 5.873 m2 e por quanto. 
III
O "segundo esclarecimento" da "carta" não esclarece nada. Sabem porquê?
Se é verdade que os terrenos foram registados como propriedade da Junta pelo Presidente de Junta que esteve no mandato entre 2006-2009, tendo entre as testemunhas o meu pai, Samuel de Albuquerque, Sr. Virgílio Bernardo e o meu tio falecido Antonio dos Santos Andrade, conhecido por António Carau, também é verdade que todos testemunharam a favor da freguesia, dizendo somente a verdade, que os terrenos eram baldios da Junta "há séculos", já o mesmo não se pode dizer das testemunhas da família Nogueira, cujo nome não me compete a mim mencionar, que prestaram falsas declarações e hão-de responder por isso. 
E, se é verdade que pediram à Anafre parecer sobre a venda dos baldios e a mesma lhes enviou um parecer jurídico positivo, tal é só depois do post "Uma mão lava a outra" e depois da Assembleia de 28 de Dezembro de 2014. O Sr. Inspector sabe disto, através de documentos datados. Chegou a dizer-me que a Presidente de Junta podia agradecer-me o post. 
Verdade, eu não preciso inventar nada.
Mais, a Anafre dá parecer positivo para venda da parcela de terreno tendo em conta o registo da propriedade, mas também porque a Junta lhes diz que a comunidade não retira dos baldios qualquer benefício, ou seja, o povo não recolhe resina nem lenha (pinheiros secos e pinhas), dos baldios não apanham míscaros, no Natal o cepo nunca é feito com lenha dos baldios, etc...aliás, ao Sr. Inspector até lhe passaram a informação que os pinheiros pouco valor tinham, porque eram pinheiros queimados.
Adiante...
IV
Não podia terminar este post sem falar das "expressões" e da família Nogueira, que tanto têm valorizado a nossa terra, apoiando causas sociais e festas religiosas, entre várias obras...Será que isto lhes dá o direito de transgredirem as leis?
Será que não temos o direito de perguntar se as ofertas são mesmo ofertas?
Será que no século XXI quando a esmola é demais o santo já pode confiar?
Será que vender baldios entre 2009 e 2016 e deixar que se diga que foram comprados à Junta em 1980 não é "falcatrua" ou "trafulhice?
Será que não devem ser penalizados, os que mentem, quem escriturou e os que deixaram escriturar?
Ah!
Mas a Sra. Presidente disse ao Sr. Inspector que não sabia que os compradores iam fazer as escrituras por usucapião. 
Disse que:
- Se o fizeram, foi porque foram mal aconselhados. 
- Se os compradores vêm ter com ela (com a Junta presumo) podiam ter feito tudo legalmente (afinal tinham cumprido a lei).
Imaginem (só imaginem) se não fossem amigos da família Nogueira o que seria dito mais...
Permitam-me ainda que relembre o que escrevi a seguir à expressão "ficaram com o rabo preso":
"(...) Como dizer NÃO, não podemos vender, nós que até criticamos a venda de pinheiros".
Mas, claro, isto não convinha relembrar ao povo. Mas, lembram-se, que o Sr. Ricardo Guerra criticou muito, numa rede social, em 2009, o corte e venda de pinheiros?
Lembram-se, claro, que se lembram.
Esta carta, caros forninhenses espalhados por todo o mundo, teve como objectivo de "vos adormecer no canto da sereia". Ontem, foram os pinheiros dos terrenos baldios, hoje é a terra dos baldios, amanhã serão as águas dos poços que possam existir nas terras de cada um de vós.
Esta desconfiança paira já no ar...já se investiga a falta de água no verão passado em Forninhos.

-/-
O Sr. Inspector terá conhecimento da "carta" e deste post, sim, porque tenho permissão do mesmo, para publicar o que entender depois das eleições autárquicas a 1 de Outubro, em que o Partido Socialista foi o grande vencedor a nível nacional e o Movimento Independente "Unidos pela Nossa Terra" ganhou Aguiar da Beira. Joaquim Bonifácio foi o grande vencedor. Parabéns à sua equipa. Mãos à obra.
Quem verdadeiramente perdeu foi a freguesia de Forninhos, cada vez mais isolada na conjuntura concelhia.