Sei que o tema morte é triste, mas como estamos na época em que o culto dos mortos é recordado por estes dias através de romagens às campas dos nossos ente queridos, por isto será esta a altura certa para falar dos rituais que havia na terra dos forninhenses, que ainda não desapareceram totalmente, apenas alguns condicionalismos da vida actual levaram a alterações, mas ainda assim acho que continua a ser diferente das grandes cidades.
Enquanto os parentes, vizinhos e alguns amigos rompiam num coro de choros, a pessoa que morria era lavada e vestida com a mortalha, isto é, a roupa escolhida pela própria para ver a Deus. Escolhera também o calçado. A mortalha era guardada e apenas uma ou duas pessoas sabiam onde se encontrava. Entretanto, alguém ia buscar a urna, sucedânea do caixão que antigamente mandavam fazer ao meu bisavó António Coelho, o carpinteiro que fazia os caixões.
Depois então era colocado o corpo no caixão e era velado por 24 horas em casa: por onde passam a "deitar-lhe água benta", a rezar-lhe pela alma e a confortar a família. A sala da casa era "transformada", os armários, quadros, espelho, rádio e televisão (se havia), tudo era coberto com uns panos pretos que traziam da igreja. No espaço do meio ficava o caixão. Aos seus pés era colocada uma caldeirinha de cobre com um raminho de oliveira e água-benta. Aqueles que queriam prestar a última homenagem faziam-no espargindo água benta com o ramo sobre o corpo, faziam-no e ainda fazem, tanto à chegada como à partida. Por isso se dizia e diz que "vou deitar água benta". Na cabeceira, a parede era revestida com um pano preto bordado a dourado e no meio ficava um crucifixo e uma mesa transformada em altar. Sobre ela uma toalha branca e 4 candeeiros de azeite com 3 torcidas de algodão e um prato com uma tesoura para cortar o pavio.
A posição das mãos do morto também não eram ao acaso, essas ficavam sobrepostas sobre o peito.
A posição das mãos do morto também não eram ao acaso, essas ficavam sobrepostas sobre o peito.
Entrementes, a freguesia é notificada pelo toque de sinais. No fim do sinal 2 badaladas repenicadas no sino maior dizem que foi mulher; 3, que foi homem. Havia também o toque dos anjos (quando uma criança morre) que era uma entrada grande como a convidar para a missa de Domingo.
Dá-se parte ao Sr. Padre e combina-se com ele a hora do funeral; e os avisadores da Irmandade, se o defunto fôr Irmão, avisam o povo, com uma campainha, da hora do funeral.
Dá-se parte ao Sr. Padre e combina-se com ele a hora do funeral; e os avisadores da Irmandade, se o defunto fôr Irmão, avisam o povo, com uma campainha, da hora do funeral.
E, de noite, muitas pessoas rezam com os familiares o terço e vários pai-nossos pelo defunto e pelas almas do purgatório. Mas quem ficava (e fica) toda a noite precisa de se alimentar. Assim, numa bandeja havia sempre bolachas para os acompanhantes da família comerem e bebia-se aguardente.
Não raro porém, passados os primeiros momentos em que se deitou água benta e rezou junto ao cadáver, o ajuntamento com ditos, estórias, anedotas, descamba em "arraial". Por vezes até a família ri. "Coitado de quem morre" costuma-se dizer.
Funerais
Na hora do funeral, os sinos fazem a chamada, e todos acorrem acompanhar aquele irmão ou irmã à última morada. Hoje, os que vão ao funeral reúnem-se na casa mortuária, mas dantes reuniam-se e esperavam o Sr. Padre e a Irmandade à porta do falecido, seguindo depois a pé a procissão para a igreja. Ao passar junto de qualquer Cruzeiro, seja ou não de Alminhas, o acompanhamento pára e reza um responso. No fim da missa vai-se de novo, em procissão, até ao cemitério, até à sepultura. Chegava o momento da despedida, onde tínhamos um momento muito marcante: muito choro e gritos da parte dos familiares mais próximos. Lembro-me de algumas mulheres viúvas a gritar muito alto, não só a sua dor, como a enaltecer as qualidades do marido que tinha partido.
A seguir, deixado o cemitério, como sempre e em toda a parte "mortos à cova, vivos à mesa".
Duração do Luto
As viúvas - guardavam luto por toda a vida ou por tempo indeterminado. Vestiam-se todas de preto e no 1.º ano nem as meias podiam tirar por muito calor que estivesse e o lenço era atado por baixo do queixo, significativo de tristeza. Aos homens bastava o fumo preto no casaco e a fita preta no braço.
Os filhos, pelos pais - dois anos, começando depois de um ano a aliviar.
Os irmãos - um ano.
Os netos, pelos avós - meio ano.
Os sobrinhos - quatro meses.
Os afilhados - um mês.
Sobre os rituais da morte quero ainda destacar o seguinte: na missa do mês a família distribuía um pão por cada casa (ainda hoje é habitual, só que agora é distribuído mais aquando da missa do 7.º dia). Além das missas pela sua alma, havia também o "Cantar às Alminhas" na quaresma, que é mais uma expressão do culto e devoção aos mortos, costume a que noutro "post" fizemos já referência.
Funerais
Na hora do funeral, os sinos fazem a chamada, e todos acorrem acompanhar aquele irmão ou irmã à última morada. Hoje, os que vão ao funeral reúnem-se na casa mortuária, mas dantes reuniam-se e esperavam o Sr. Padre e a Irmandade à porta do falecido, seguindo depois a pé a procissão para a igreja. Ao passar junto de qualquer Cruzeiro, seja ou não de Alminhas, o acompanhamento pára e reza um responso. No fim da missa vai-se de novo, em procissão, até ao cemitério, até à sepultura. Chegava o momento da despedida, onde tínhamos um momento muito marcante: muito choro e gritos da parte dos familiares mais próximos. Lembro-me de algumas mulheres viúvas a gritar muito alto, não só a sua dor, como a enaltecer as qualidades do marido que tinha partido.
A seguir, deixado o cemitério, como sempre e em toda a parte "mortos à cova, vivos à mesa".
Duração do Luto
As viúvas - guardavam luto por toda a vida ou por tempo indeterminado. Vestiam-se todas de preto e no 1.º ano nem as meias podiam tirar por muito calor que estivesse e o lenço era atado por baixo do queixo, significativo de tristeza. Aos homens bastava o fumo preto no casaco e a fita preta no braço.
Os filhos, pelos pais - dois anos, começando depois de um ano a aliviar.
Os irmãos - um ano.
Os netos, pelos avós - meio ano.
Os sobrinhos - quatro meses.
Os afilhados - um mês.
Sobre os rituais da morte quero ainda destacar o seguinte: na missa do mês a família distribuía um pão por cada casa (ainda hoje é habitual, só que agora é distribuído mais aquando da missa do 7.º dia). Além das missas pela sua alma, havia também o "Cantar às Alminhas" na quaresma, que é mais uma expressão do culto e devoção aos mortos, costume a que noutro "post" fizemos já referência.