Às festas em honra da Senhora dos Verdes, vinha gente de todas as povoações das redondezas: Penaverde, Prado, Valagotes, Fonte Fria, Matança, Matela, Moradia, Vila Cova do Covelo, Campina, Sezures, Vacaria, Boco, Quinta da Ponte, Colherinhas e Dornelas. Esta festa, bem como outras, são férteis em histórias e, por vezes, terminavam em porrada. Foi o que sucedeu numa destas festas nos anos 40. Recordemos essa célebre festa que ficou na História e que por pouco não redundou em tragédia.
Nesse dia 15 de Agosto, formou-se um grande barulho entre os de Forninhos e os da Matela, as provocações e agressões físicas surgiam de parte-a-parte ao ponto de muita gente abandonar a festa. Uma parte dessa gente veio para Forninhos e quedou-se em frente à taberna do Sr. José Bernardo aguardando notícias do resultado desse conflito. O Sr. José Cardoso, autor do Livro Memórias do Meu Querido Torrão Natal "Quinta da Ponte", foi um dos que presenciou tal episódio "A primeira notícia chegou através do Xabregas de Forninhos, que apareceu em frente à taberna do Sr. José Bernardo com o cabelo a escorrer sangue, devido a uma cacetada que lhe tinham dado na cabeça." "Por vezes, nestas zaragatas, vinham-se a incluir indivíduos que nada tinham a ver com o conflito original, mas porque interferiam a favor duma das partes...sujeitavam-se às consequências, o que possivelmente foi o caso do Xabregas e do Joaquim Móca".
Agressões físicas deste género sucediam em diversas festas e até em algumas feiras e nos dias seguintes, o assunto dominava as conversas nas ruas e tabernas e sobre esse dia 15 de Agosto que deu muito que falar chegaram até nós uns versos dedicados pelo Manuel Luzío da Moradia:
Foi no dia 15 de Agosto
Em volta da Capela
Formou-se um grande barulho
entre os de Forninhos e os da Matela
Para onde vais Joaquim Moca
com o teu sachinho na mão?
Vou para a Senhora dos Verdes
Vou ver quem tem razão.
Além dos dias de festa de Nossa Senhora dos Verdes, aos Domingos, Forninhos também era uma povoação muito frequentada. A gente da Quinta da Ponte, Moradia, Matela e Valagotes frequentemente assistiam à missa dominical e alguns aproveitavam para fazer compras na casa comercial do Sr. José Bernardo, que além de taberneiro, vendia um pouco de quase tudo. Forninhos era uma terra de gente alegre e de muita mocidade e assim, por vezes, formavam o seu bailarico aos Domingos. Houve uns anos em que o padre não permitia que fizessem esses bailes em qualquer dia ou lugar da freguesia. A maior parte da população obedeceu às regras do padre por diversos anos, mas alguma mocidade, a menos conformada, frequentava bailes em terras distantes, de maneira que o padre não viesse a saber. Esta época foi prejudicial para a mocidade desta terra, principalmente para algumas raparigas porque com estas regras, talvez tenham perdido oportunidades de casamento ou de melhores casamentos.
Nesta época em que não era permitido os bailes em festas religiosas, por determinação religiosa, num dia de festa em honra da Senhora dos Verdes a mocidade resolveu formar o tradicional bailarico, mas quando o baile já estava animado, foram surpreendidos com a presença da Guarda Republicana que rapidamente ordenou o fim do baile, proibindo que tocassem ou dançassem na área da periferia da Capela. Só que a mocidade desta terra (e das redondezas) não se deu por vencida e foram continuar o baile no meio de uma mata a uma distância considerável da Capela.
Fonte: Histórias do Passado de Forninhos, parcialmente já registada por José da Costa Cardoso, no seu Livro Memórias do Meu Querido Torrão Natal "Quinta da Ponte". A nossa história merece sempre destaque e se alguém a registou devemos dá-la a conhecer e dela ter orgulho. Não concordam?
Muito bem-haja Sr. José Cardoso por me ter endereçado/oferecido o Livro sobre a memória da sua querida terra natal e por autorizar a publicação do todo ou partes no "blog dos forninhenses".
Nota final:
Decerto este blog não tem só leitores estrangeiros ou mais novos que eu, tem também leitores que viveram nesta época e presenciaram episódios do passado, por isso, convido-vos a deixarem aqui, pelo menos, um comentário com esse contributo. Não dói nada.