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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Truz Truz! Que entre 2020

Noite de Natal. A tradição do Cêpo na Lameira

Mais uma vez, não resisto a partilhar convosco o Cêpo de Natal, que é de tradição arder também na passagem d' ano. Parabéns à malta que o fez.

BOA PASSAGEM D' ANO!

Um Bom 2020, repleto de saúde, alegria, paz e amor! Que seja um Ano Bom Para Todos desde o princípio...

sábado, 21 de dezembro de 2019

Imagem de Natal

Chegamos ao Natal.
Cumpre-nos deixar aqui expressos os votos de✫¸.•°”˜˜”°•.✫ ❤(⁀FESTAS FELIZES⁀)❤✫¸.•°”˜˜”°

presépio da capela de N.S.dos Verdes

Naquele tempo, Maria, esposa de José, deu à luz um Menino que quis ser como nós, tinha trinta e três anos quando morreu numa cruz para nos redimir depois de andar a espalhar a Palavra da Paz, do Amor. 
São Francisco de Assis deixou-nos a tradição do presépio, mas alguém nos deixou esta belíssima pintura setecentista do tecto da nossa capela, emoldurada por um caixotão de talha dourada decorado com elementos florais.

***2009 - Bom Natal -2019 ***

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Pinheiro manso - Uma raridade em Forninhos

Ainda me lembro de nos idos anos 70, haver um imponente pinheiro manso em Forninhos,  no lugar da Portela; coisa rara na zona, pois pouco eram vistos cá para o interior. Um pinheiro frondoso e diferente, bonito, que recordo "de passagem" apanhar pinhas e comer aqueles frutinhos saborosos, hoje tão caros que até dói  a alma só de pensar no preço! 
Chamam-lhe o ouro branco da floresta.
Chegou a haver uma razoável extensão de pinhal manso no Boco, pertença de uma só família, mas em Forninhos, que me lembre,  só havia este, o pinheiro manso do Sr. Amaral.
Coisa de ricos.


a copa do pinheiro manso é redonda,
assemelhando-se a um cogumelo

A informação que existe é que após o seu corte, foi utilizado para madeira. O banco de carpinteiro do meu saudoso tio António Carau, tinha duas pranchas de pinho manso (cortesia do Manel "do rancho").
Mas não julguem que naqueles idos anos 70,  íamos lá buscar pinhão à vontade!
Não, de passagem, lá se apanhavam umas pinhas que restavam perdidas ou ao abandono, tipo rebusco. 
Os ricos são regra geral avarentos e pinhão rima com milhão....

domingo, 8 de dezembro de 2019

Hoje era "Dia da Mãe"

Há alguns anos atrás, o Dia da Mãe era comemorado no dia de hoje, 8 de Dezembro.  Os menos jovens, durante muitos anos fizeram deste dia um dia muito especial, mas alguém tomou a decisão de passar a comemoração, no nosso país, para o 1.º domingo de Maio e "não havia necessidade" como dizia o diácono Remédios. Hoje sequer se mencionou na comunicação social esta bonita data (pelo menos eu não vi/ouvi) então os meus votos de feliz Dia da Mãe deste ano, são dados pelas mãos de Laura Costa que foi ilustradora de livros infantis e desenhou uma série de postais de Natal que foram publicados pelos CTT durante vários anos, na década de 1940.


Neste desenho (que foi capa do disco "Natal em Portugal" de Shegundo Galarza "), editado no final dos anos 70, entre 1977 e 1979, está representada a comunhão, a divisão de trabalho, a colaboração e a intimidade e traz ainda a saudade dos tempos de infância em que sobre o lume da lareira as mães faziam as tradicionais filhóses. Era um ritual muito desejado pelos filhos. Depois de fritas as filhóses eram colocadas num grande prato e polvilhadas com açúcar.


Tão boas que eram quentinhas!

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Protestar, um Direito

Repousam em caixas do Arquivo Histórico da Assembleia da República, as muitas representações (protestos) das então Câmaras dos concelhos extintos e das respectivas populações do século XIX.
Trago aqui um Parecer que confirma que os habitantes da extinta Villa de Fornos de Algodres e das extintas Villas de Figueiró da Granja e Infias, não estavam contentes por incorporados no concelho de "Algodres".
Ninguém gosta de perder nem a feijões!


Este Parecer de 10 de Maio de 1837, arquivado no Arquivo Parlamentar, sobre a então Villa de Algodres é claro: é uma insignificante Villa, que não apresenta a menor comodidade aos povos do concelho, que ali foram obrigados a ir tratar do seus negócios; 




acrescentado mais que nenhuma espécie de comércio e contacto existe entre os povos do concelho com a referida Villa; quando pelo contrário a extincta Villa de Fornos é a maior em população, tem excelentes edificios, póprios para o serviço de audiências gerais e ordinárias, uma magnífica casa de Camara, diferentes lojas, em que se vendem os generos necessários à vida e aonde vão prover-se todos os habitantes do concelho; um correio assistente, um mercado mensal, estando além disto sobre a estrada real, que serve de trânsito às tropas das províncias da Beira Alta, e Baixa, além de muitas outras razões não referidas por a comissão  d' estatística julgar suficientes para o deferimento. 
O parecer ainda refere que sejam desanexadas e reunidas ao de Aguiar da Beira as quatro freguesias, de Dornelas, Forninhos, Penaverde e Queiriz, que formavam o antigo concelho de Penaverde.
Um exemplo de como os serviços podem ser preciosos em tempo de reformas administrativas.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Um pombal tradicional

"Os pombais correspondem a construções especialmente preparadas para albergar pombos e destinam-se a cumprir uma ou várias das seguintes funções: produção de carne (borrachos e pombos); produção de estrume de pombo denominado por "pombinho"; simbolizar ou ostentar poder, riqueza, melhoramento estético de uma propriedade e entretimento (columbofilia)".

Pombal com Gargula

À semelhança de outras regiões do país, bem perto dos Valagotes-Forninhos, em território do concelho de Penalva do Castelo, podemos encontrar rebocado de argamassa de cal, com uma pequena porta (para entrada e saída do dono) um pombal tradicional de planta circular. No telhado uma plataforma de entrada e saída dos pombos.
Está numa propriedade privada, que foi do Senhor Adelininho, que apenas serviu, disseram-me,  para ostentar poder, riqueza; não funcionava como fonte alimentar (tanto melhor que fosse assim).
Há ainda muitas pessoas que se lembram ver o pombal e bandos de pombos "quando eu era rapazote passei lá muitas vezes a caminho da Matança. E no Mosteiro também havia um da familia dos Coelhos, que ainda se pode ver, fui lá uma vez com o Ilídio Marques buscar pombos para entretimento. Foram-se os pombos e os pombais, vieram os frangos e os aviários".

Ano 1892

Por parte do município de Aguiar da Beira e municípios vizinhos, com afinidades comuns, não seria possível a recuperação dos pombais da nossa região, sei lá...para postos de vigia de fogos...para algo últil e bonito por esses campos fora?
Afinal são património da região, um património arquitectónico, cultural e é uma pena o seu abandono.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Era uma vez um cemitério...

Durante séculos os enterros foram feitos na igreja. Sabemos que em Forninhos "dentro da igreja de fronte da porta travessa debaixo do caixam da confraria do Senhor" foi sepultado António Fernandes (ANTT, Paróquia de Forninhos, Registos Mistos -1634/1761)- lv. 1, cx 6,fl.126). 
No século XVIII, certamente devido à sobrelotação da Velha Capela-Mor e/ou construção da actual Igreja Matriz, os enterramentos passaram a realizar-se no adro da mesma e só os ricos tinham direito a uma pedra tumular.
Recorde-se que no dia de "Todos os Santos", acabadas as cerimónias, a criançada corria para as campas dos familiares da Dona Olímpia e da Dona Laura para apanhar as velas, pois eram as únicas que as tinham. 
Nos anos 40 do séc. XX é feito um cemitério novo e o cemitério velho ficou ao abandono (na minha meninice, já nada havia que identificasse as sepulturas).
Há uns bons 9 a 10 anos, escrevi umas linhas sobre...
http://onovoblogdosforninhenses.blogspot.com/2010/01/cemiterio-antigo.html




Na minha última visita ao cemitério de Forninhos quando vi a legenda "À memória de todos os falecidos naturais desta freguesia que não se encontran sepultados neste cemitério Homenagem da J. Freguesia 01.11.94" fotografei a mesma para mostrar que mesmo sem todos os corpos trasladados ao menos ficámos com um Memorial da Nossa Gente naquele novo cemitério.
Há quem diga que estas iniciativas servem para os autarcas se autopromoverem, mas eu não acredito que em 1994 fosse essa a intenção do Presidente da Junta.
Então, apetece-me dizer Bem-haja...muito bem-haja por dignificar a memória dos que ali não foram sepultados.
Já o cemitério antigo continua abandonado e...nem acreditei no que vi no "Dia de Finados"...caibros antigos aos  montes:



Uma imagem vale mais que as mil palavras que aqui poderia registar, para falar do enormíssimo desmazelo...

sábado, 9 de novembro de 2019

10.º aniversário -uma década!

Foi há 10 anos que este Blog começou!
10 anos é muito tempo, muitos dias e muitas horas retiradas ao sono, muitas teclas do computador gastas, alguns amargos de boca, mas valeu a pena, o Blog é ainda tema de conversa pelos assuntos que aborda, pelas fotografias, pelos documentos históricos, pela homenagem a pessoas que já cá não estão, etc...
Mais...o Blog levou-me muitas vezes à pesquisa e daí também o nosso enriquecimento. Nasceu longe de ser aquilo que hoje é.


No exacto dia em que perfazemos 10 anos apresentamos uma fotografia da procissão com que iniciamos há 10 anos este Blog - Ano 1976-15-AGO.
No ano seguinte os andores já passaram a ser transportados por tractores com excepção de dois:
1) Santa Marinha, transportado pelos Irmãos da Irmandade;
2) Menino Jesus, transportado pela Cruzada.

Para comprender o presente é preciso primeiro conhecer o passado.

E agora os agradecimentos:
Em primeiro lugar agradeço ao colaborador XicoAlmeida, que começou por dizer-me que "Vai ser um Blog sério e a sério". Pois tal aconteceu e, com o tempo, dei-me conta que era também gente séria que estava do outro lado à espera de mais um bocadinho da terrinha, que dá pelo nome de Forninhos.
Agradeço-lhe então a si que está a ler estas linhas e que gosta de me ler.
Agradeço ainda a todos os proprietários de Blogs amigos de Forninhos, são meia dúzia que tenho no meu coração: 


Ao cumprirem-se estes 10 anos, só me posso sentir feliz nesta longa caminhada e agradecer de modo sentido, a vossa companhia!
Um Grande Bem Hajam!

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Forninhos no Museu de Música Portuguesa

O museu de Música Portuguesa tem depositado e disponível para consulta uma parte importante do Fundo de Michel Giacometti composto por romances, provérbios, cantigas, anedotas e outros registos de expressões orais do qual faz parte o conjunto de 233 advinhas designado como advinhatário e nós encontramos duas advinhas dactilografadas (bem antigas!) recolhidas em Forninhos a 21 de Agosto de 1975 que nos vão fazer recordar os tempos em que elas faziam parte da cultura da aldeia, pois todos as sabiam e as utilizavam nas suas conversas.
A informante foi Isabel Vaz, de Forninhos não sabia ler nem escrever.


adivinha simples

Creio que não se dizia "Nem dinheiro há sequer para a colher"dizia-se:

Ó que lindo pucarinho,
Ó que lindo ramalhete,
Nem é cozido, nem é assado,
Nem comido com colher
Não advinhas este ano
Nem pr'o ano que vier
Só s'eu te disser...

R: Romã
adivinha maliciosa

Brinco, brinco, brinco,
Quanto mais brinco, brinco,
Mais a barriga me cresce.

R: o fuso.


Que Isabel Vaz não caia no esquecimento, nem Michel Giacometti.

---/---

Da Cortiçada (Aguiar da Beira, Guarda) ficou registada uma "adivinha erudita":
"Que diferença há entre a videira e a pomba?"
R: A pomba dá borrachos e a videira borrachões". 
O informante foi António dos Prazeres, tinha 58 anos a 16-07-1975.

sábado, 19 de outubro de 2019

Datas Cravadas

Em Forninhos e até à primeira metade do século XX, devia ser normal marcar a data de construção na torça duma porta de entrada; ainda se podem ver algumas, mas duas ou três já foram cobertas com massa.


No final do século XVI, num lagar de vinho parece ter sido gravada de forma rudimentar, a data de 1591.


Do século  XVII: Capela de Nossa Senhora dos Verdes, sem dúvida, 1696


No século XVIII, numa casa rural, está escrita a data de 1783. Mas o último algarismo pode não ser um 3, porque há uma falha na pedra. Também pode haver ali um 3 invertido e seja mil setecentos e trinta e tal...



Séc. XIX: Num forno de cozer pão a data de 1899 entre duas cruzes


Numa casa de habitação do século XX: 1932

Não temos brasões que ostentem riquezas, apenas datas corroídas pelos tempos...

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Os Expostos

O recurso à Roda dos Expostos, pelas famílias carenciadas, para obtenção de subsídios para sustento dos filhos, mostra-nos a miséria em que viveram os nossos antepassados.


Portaria de 14 de Março de 1838, que autorisa a derrama para
a sustentação dos expostos do Municipio da Villa de 
Aguiar da Beira

A Portaria que autoriza a derrama (contribuição repartida ou derramada por todos) permite-me afirmar com segurança que no Município da Vila de Aguiar da Beira também houve Expostos, meninos de ninguém, desespero, vergonha, pobreza, incapacidade parental....
Então porquê o silêncio?
"Os expostos não eram anónimos, ou desprovidos de reconhecimento por aqueles com quem conviviam. É gente que cresce, casa, usa e toma apelidos de diversa origem: da família que o criou, dum padrinho ou duma madrinha, duma profissão que entretanto aprende..." (wikipedia).
No Arquivo Militar, por acaso (só por acaso) encontrei o registo dum soldado de Forninhos, filho de pai incógnito e de Maria Ferreira Coelho, com o apelido "Exposto", nascido em 1846.
Quando li este nome "António Exposto" lembrei-me logo dos meninos enjeitados, mas só o acesso ao registo de baptismo possibiliaria saber se foi mesmo uma criança enjeitada.
Neste momento não me é possível.
Tenho esperança que isso venha a acontecer...seria muuuuiiito interessante saber se existiu uma roda ou casa de Expostos na Vila de Aguiar da Beira, locais de origem das crianças, o número de progenitores que recorriam aos subsídios, etc...

António Exposto; ocupação: alfaiate

Quando encontrei este nome ainda me preocupei em questionar algumas pessoas sobre o apelido "Exposto" e pessoa da família (como de Maria Ferreira Coelho). Ninguém foi capaz de fornecer-me qualquer informação útil, ou seja, nada sabem em Forninhos!
Mas este artigo não deve ser visto como um produto final, mas sim como uma etapa que deverá despoletar novas fontes...

domingo, 13 de outubro de 2019

Polémica em torno do Menino Jesus

Antigamente nos dias de festa, era costume convidarem um padre de fora para fazer o "Sermão", ou seja, a homilia do dia de festa. Normalmente estes "Pregadores" eram quem referiam as histórias dos nossos santos, se calhar por "os santos à porta de casa" as desconherem. Não sei...
Vem isto a (des)propósito do mau estar vivido -este domingo -motivado por uma postura algo anormal do actual pároco - Jorge Miguel Tavares Gomes - que há cerca de dois anos o Senhor Bispo de Viseu colocara em Forninhos e agora decidiu ou autorizou vestir o "nosso" Menino Jesus.
Não é um padre ou meia dúzia de pessoas que o cercam que mandam nos bens da Igreja!


O Pe. Jorge é visto por mim mais como um ditador, do que um bom pastor. 
A visão mais marcante que tenho dele é dos "recados" no final da missa, que a maior parte da assembleia nem compreende, mas que punha, durante a semana, grande parte das mulheres a falar do assunto.
Não acho correcta esta forma do padre interagir com este povo, maioritariamente envelhecido, até porque os forninhenses já deram provas, ao longo da sua história, de serem ordeiros, respeitadores dos valores da igreja bem como do seus pastores, para ali designados. A prová-lo estão os três últimos párocos: dois deles (Sr. Pe. Barranha e Sr. Pe. Flor) estiveram décadas à frente da paróquia e o último (Sr. Pe. Paulo Gouveia), até abandonar o sacerdócio, depois de meia dúzia de anos ao serviço da comunidade.
Diz a nossa história que nos finais do século 17 e principios do século 18, na nossa igreja matriz existiam dois altares colaterais, um dedicado ao Menino Jesus e outro a Nossa Senhora do Rosário e o altar-mor dedicado à padroeira Santa Marinha (ladeada por São Sebastião e por Santo António carregando ao colo o menino nu).
Na última metade do século 20, muitas imagens desapareceram, é certo, mas o Menino Jesus manteve-se até hoje no seu altar, despojado de tudo, na sua pureza e humildade como veio ao mundo e nunca o povo o achou "impróprio" nem o Mártir S. Sebastião é indecoroso!
Nem queria acreditar, mas parece que foi esse o motivo porque este ano ambas as imagens não fizeram parte da procissão dedicada a Nossa Senhora dos Verdes.
"A maldade está nos olhos de quem vê" 

domingo, 6 de outubro de 2019

Profissão:Cardador

No dizer de Aquilino, que vestiu de capucha o corpo fecundo de Brízida, a paciente esposa do Malhadinhas e de capucha se vestiu Joana, na Serra da Lapa, pastorita eleita para ver Nossa Senhora "a capucha de burel gerada provavelmente em longeva idade a partir do saio lusitano, permanece como vestimenta de generoso uso até ao fechar das portas do século XX. Ciranda com elas mulheres nas voltas do povo, nos caminhos da fonte ou do ribeiro onde vão lavar, na ida à feira quando o tempo se oferece, na rotina do serão(...) As raparigas essas levam a capucha para o monte quando à meia tarde partem com o gado(....) que por lá deixam a pastar. Os homens cobrem-na a desoras enquanto vigiam a vinha antes da vindima, o pinhal armado para a colha da resina ou as àguas de lima nos lameiros".

moça com capucha de burel a cardar lã

Antes que os mais novos pensem que isto são puras fantasias, posso dizer-vos que  tudo isto é verdade; da lã caseira das ovelhas tosquiadas, se fazia a capucha de burel para durar vidas e outra roupa de lã com que os habitantes das nossas aldeias se livravam do frio.
Churra, era lavada. 
Depois vinham as cardas num demorado pentear e, armada em velos, demorava um inverno inteiro a fiar. 
Urdida a teia, "bate-que-bate, luz da candeia, o sono esquecido ao cantar, iam crescendo as varas de pano no tear" (Aquilino Ribeiro).
Só depois vinha o pisão, engenho tosco e primitivo todo armado em madeira, movido pela força da água, em regra dentro de toscos casebres.
Era através deste instrumento que se sovavam os tecidos de lã para ganharem firmeza, pois, quando os panos de lã saem do tear apresentam-se frágeis, com pouca consistência, desfiando-se com facilidade. 
Depois deste tratamento do tecido é que se talhavam as mantas para uso domésticos e os búreis.
Sobre o rio desta terra o Cura de Forninhos, Baltazar Dias, em 1758, não respondeu se tinha moinhos, lagares de azeite, pizoens, noras, ou outro engenho, então fui ler outros documentos antigos, podia não haver pizões, mas podia haver alguém ligado à profissão, um pisoeiro, por exemplo. Quando falamos nestas profissões a nossa mente está mais a pensar no mundo masculino. «Nada»
Mas encontrei um documento que refere um cardador em 1794:
- José Esteves, filho de Inácio Esteves, de Forninhos, Penaverde
O documento não diz se era também pastor ou tosquiador sei que diz:
- profissão: cardador.
Serve portanto, este artigo para lhe prestar a minha  humilde, mas sincera homenagem.
Agora se comprava ou vendia a lã depois de desenriçada, antes de ir ao tear? Eu creio que sim. 
Mas também é possível que tivesse um tear (em algumas casas havia teares) saísse com a trouxa às costas...caminhos velhos...para proceder ao pisionamento e depois batesse à porta de algum alfaiate.
Ao mesmo tempo, também com o apelido "Esteves", entre  1790 e 1795, encontrei 2 (dois) alfaiates de Forninhos:
-António Joaquim Esteves e Luís Esteves.
Isto até podia ser um negócio de família(?)!!
Sendo assim, o cardador, José Esteves, podia muito bem ir até Dornelas, porque o Cura de Dornelas, José de Campos, sobre o rio respondeu como transcrevo: "Tem em si vários engenhos como são pizões, moinhos, lagares de azeite." 

sábado, 28 de setembro de 2019

Menino Jesus

As imagens individuais do Menino Jesus começaram a aparecer em Portugal no século XVI. Contudo, foi nos séculos XVII e XVIII que o culto destas imagens atingiu no nosso País o seu apogeu. 
A nossa paróquia foi fundada no século XVI e também teve/tem uma imagem do Menino Jesus desde finais do século XVII.


Melhor ou pior conservada, é vista seguramente desde a primeira metade do século XVIII no altar à direita para quem entra, quando a nossa Igreja era composta de um altar mor (ao qual se acedia através de um degrau) e de dois colaterais: o altar de N. S. do Rosário e o altar do Menino Jesus.
Muitos de nós não se lembrarão de ver a N. Senhora do Rosário no seu altar, mas desde a infância lembram ver no Altar do Menino, Jesus desnudo. Tenho a certeza.
Agora vejam bem o que fizeram ao nosso Menino, à nossa memória colectiva!

Menino Jesus mostrando os seus dessous
Aos nossos olhos contemporâneos esta nova representação quase nos parece travestida.
Na vizinha localidade de Dornelas já vi um Menino Deus quase feminino, dentro duma redoma; Na Senhora da Lapa, Sernancelhe também lá está um com a sua jaquetinha e chapéu de Marialva, própia da corte joanina, conforme no-lo descreve Aquilino in "Uma luz ao Longe" (1948).
Só que o Menino de Forninhos, não é de Dornelas, nem é da Lapa, e é muito triste ver nos dias que correm estragarem o património legado e preservado, pois a imagem até foi restaurada no ano de 2013.
Eu já não sei o que fazer para mudar as mentalidades. Desisto.
Há coisas que me cansam.

terça-feira, 24 de setembro de 2019

As confrarias


No Forninhos de hoje, existe uma irmandade: a de Santa Marinha. Mas no passado existiram confrarias, associações responsáveis pela manutenção e renovação de equipamentos religiosos, assistência aos desvalidos e reforço das práticas religiosas. Este facto é hoje conhecido graças ao registo de óbito de António Fernandes, que refere foi sepultado "dentro da Igreja de fronte da porta travessa debaixo do caixam da confraria do Senhor" (ANTT, Paróquia de Forninhos, Mistos, lv. 1, cx 6, fl. 127). 
É crível que a confraria do Senhor estivesse vinculada ao altar de Jesus. 
Mas tendo em consideração a existência do altar da Senhora do Rosário, desde finais do século XVII e até à primeira metade do século XX (vide bens da igreja de  forninhosé verosímil, à semelhança do que se verificava noutras paróquias da diocese de Viseu, que existisse uma confraria de N. S. do Rosário. 
No século XIX e início do século XX, quem entrasse na Igreja de Forninhos via várias imagens nos altares que hoje já não se podem observar in su situ.
Em 1911, o altar-mor, dedicado à padroeira, era composto pela imagem de S. Marinha, ladeada por S. António e S. Sebastião. Os altares colaterais eram consagrados a N. S. das Dores, ladeada pelo Menino Jesus e S. Pedro, e a N. S. do Rosário, ladeada por S. Paulo e N. S. do Rosário.
Voltando às confrarias...
De assinalar igualmente a existência das confrarias do Santíssimo Sacramento e Senhora dos Verdes. Em 1841, Anastácia de Andrade e em sede de testamento, deixou "à confraria do Santíssimo sacramento hum meio de pao de milho e outro à Senhora dos Verdes e cada huma das outras confrarias huma quarta" (ADG, Notarial de Aguiar da Beira, lv. 51, fls. 29-29v).
No decurso da Época Contemporânea, este tipo de associações confraternais foram extintas, sendo então criada a 1 de Outubro de 1926, a irmandade de S. Marinha, com estatutos.
Fica assim para a história, a existência em Forninhos de Confrarias.



Nota: Estas informações foram-me dadas pelo professor/historiador João Nunes, a quem mais uma vez agradeço do fundo do coração a partilha dos seus conhecimentos sobre uma terra de onde também brotaram as suas raízes e que não esquece.

domingo, 15 de setembro de 2019

Nas trincheiras da memória

Encontrei nos Livros Mestres informação de militares forninhenses. Os Livros Mestres ou de Matrícula foram criados por Lei de 7 de Julho de 1763 e vigoraram até 1908, ano em que foram extintos. Durante o tempo que durou a Lei 7, recrutaram-se mais de 100 forninhenses e não posso deixar de lembrar aqui dois ou três homens, do Regimento de Infantaria 24, sendo que o primeiro era o único irmão do meu bisavô Eduardo Albuquerque, filhos de António de Albuquerque Janela e de Maria Fernandes (Cavaca):

Henrique Albuquerque - Forninhos

O meu avô Eduardo nasceu em 1862 e o seu irmão, Henrique, nasceu  em 1867, a 27 de Julho, jornaleiro, media 1,64, tinha cabelo louro e olhos castanhos, rosto redondo, nariz chato, cor natural, boca regular.
Serviu por doze anos e teve exemplar comportamento militar
Mas interessante é também o facto de se referir o seguinte: "Tendo sido o concelho d' Aguiar da Beira anexado no districto de recrutamento e reserva n.º 15, por decreto de 26 de Dezembro de 1895, foi transferido para este districto em 1 de Fevereiro de 1896. Continua domiciliado na freguesia de Forninhos anexada por decreto de 26 de Junho ao concelho de Trancoso. (...).
Continua domiciliado na freguesia de Forninhos anexada por decreto de 13 de Janeiro de 1898 ao concelho de Aguiar da Beira, do mesmo districto de recrutamento e reserva.

Matias Guerra - Forninhos
Nasceu a 13 de Fevereiro de 1862, era filho de Luís Guerra e Margarida Angélica, tinha o cabelo e olhos castanhos, nariz regular, rosto redondo e cor natural. A sua altura era de 1,54 e a sua profissão era de criado de servir.
Contém informações sobre a sua carreira militar (clicar na imagem).

Francisco de Almeida - Valagotes/Forninhos
Cultivador. Altura: 1,58
Nasceu no dia 24 de Fevereiro de 1882, tinha cabelo e olhos castanhos, nariz chato, boca regular, rosto oval e cor natural.
Era filho de António Almeida e Antónia Gomes.
Contém informações sobre a sua carreira militar (clicar na imagem).

Curiosidade: Todos de estatura pequena.

Fonte: Aquivo Militar, Livro 20 do Regimento de Infantaria 24.

sábado, 7 de setembro de 2019

Imposto do real de água

Já alguma vez ouviu falar do imposto do real de água?
O imposto do real de água terá sido criado para fazer face a despesas de construção de aquedutos e chafarizes. Foi uma das formas de financiamento da construção do Aqueduto da cidade de Elvas e do Aqueduto Geral das Águas Livres em Lisboa. 
O imposto primitivamente incidiu sobre o vinho, mas alargou-se sobre outros produtos, isto é, qualquer cidadão que vendesse ao público géneros sujeitos ao imposto do real de água "carnes verdes, seccas, salgadas ou por qualquer modo preparadas; arroz descascado; vinho, qualquer que seja a sua qualidade; vinagre; bebidas alccoólicas; bebidas fermentadas; azeite de oliveira" tinha de fazer um manifesto na repartição da fazenda do concelho, caso contrário era multado com taxas entre os 7 e os 50 réis por quilograma/litro.
(artigo 1.º do regulamento de 29 de Dezembro de 1879) 

Forninhos teve alguns "infractores" a saber:

José Maria Alexandre, da freguesia de Forninhos, concelho de Aguiar da Beira e distrito da Guarda, por ter escondido numa tapada 13 litros de vinho, a 14 de Maio de 1893, na Romaria de Nossa Senhora das Neves, na mesma freguesia, sem o prévio manifesto. 
 PT/ACMF/DGCI/GUA/AGB1/TRA/002B (Processo)

→ Sublinho Romaria de Nossa Senhora das Neves, porque acho que houve um erro na transcrição, mas até nem é de descartar completamente a hipótese, pois a lenda de Nossa Senhora dos Verdes faz referência a Nossa Senhora das Neves.

António de Frias Cabralda freguesia de Forninhos, concelho de Aguiar da Beira e distrito da Guarda, por ter exposto à venda 10 litros de água ardente em pipa de madeira, no dia 10 de Dezembro de 1884, na freguesia da Cortiçada, sem o prévio manifesto.
O Auto de Transgressão iniciou-se em 1884-03-14
 PT/ACMF/DGCI/GUA/AGB1/TRA/004A (Processo)

Joaquim Ferreirada freguesia de Forninhos, concelho de Aguiar da Beira e distrito da Guarda, por ter vendido 90 litros de vinho para consumo particular, a Carolina de Abreu, do lugar do Mosteiro, nos últimos dias de Novembro de 1893, sem que tivesse pago os direitos à Fazenda Nacional.
O Auto de Transgressão iniciou-se em 1893-12-16.
 PT/ACMF/DGCI/GUA/AGB1/TRA/004B (Processo)

Augusto Vazda freguesia de Forninhos, concelho de Aguiar da Beira e distrito da Guarda, por expôr à venda no seu estabelecimento 10 quilos de arroz nacional, no dia 10 de Abril de 1895, sem o prévio manifesto.
Auto de Transgressão iniciou-se em 1895-04-10.
 PT/ACMF/DGCI/GUA/AGB1/TRA/021 (Processo)

José Ferreira de Meloda freguesia de Forninhos, concelho de Aguiar da Beira e distrito da Guarda, por expôr à venda no dia 30 de Junho de 1876,  112 litros de vinho, ao preço de 80 réis por litro, sem o prévio manifesto.
O Auto de Transgressão iniciou-se em 1877-06-30
 PT/ACMF/DGCI/GUA/AGB1/TRA/034 (Processo)

António Saraivada freguesia de Forninhos, concelho de Aguiar da Beira e distrito da Guarda, por ter exposto à venda em dia de feira, a 2 de Janeiro de 1884, no seu estabelecimento na localidade de Pena Verde, 30 quilos de arroz sem o prévio manifesto.
O Auto de Transgressão iniciou-se em 1884-01-02.
 PT/ACMF/DGCI/GUA/AGB1/TRA/003A (Processo)

António Mota, do lugar de Valagotes, freguesia de Forninhos, concelho de Aguiar da Beira e distrito da Guarda, por ter vendido  60 litros de vinho para consumo particular a Francisco Castanheira, do lugar do Prado, nos últimos dias do mês de Novembro do ano de 1893, sem o prévio manifesto.
O Auto de Transgressão iniciou-se em 1893-12-16.
 PT/ACMF/DGCI/GUA/AGB1/TRA/005B (Processo)

Foi assim até à implantação da República.


Para ilustrar, publico uma foto que eu, num impulso "roubei" à minha mãe, do tempo em que os meus avós tinham a venda e ainda vendiam vinho e outros produtos nas festas e feiras.

Fonte: Arquivo das Finanças.