Merecia um rua com o seu nome, na mesma onde morou e enfrentou a vida. Acomodou filharada sem jamais fugir às necessidades do sustento dos seus. Bom homem o tio Venâncio, figura real de Forninhos; um marco!
Afinal quem foi o tio Venâncio?
Para tal devemos recuar aos primórdios de Forninhos e da sua constituição como povo até aos dias de agora. Num lugar bendito como o nosso e apetecível, muitos povos por aqui passaram e o possuíram, desde a mouraria aos romanos, ou vice-versa, pois tantos outros aqui se regalaram...
Os tempos, foram-se perdendo na memória deles mesmos por desmérito nosso, o que lá ia...lá ia.
Não está certo, temos obrigações, temos testemunhos vivos e não temos vontade de trazer por medos, as nossas raízes, aquilo que nos honra, como se fosse vergonha.
Homem simples e trabalhador, o tio Venâncio. Parecia ter sido companheiro de Viriato nos montes hermínios, tal a sua audácia.
Uma prol que não era pequena, carecia de um sustento e por tal ele madrugava para a sua faina de resineiro ao mesmo tempo que visualizava as "covas" de onde porventura poderia advir acrescento, tal como uma várzea para os lados da ribeira.
Vamos ao que interessa pra o tema: O Raposeiro!
No seu dia-a-dia como resineiro, melhor que ninguém, conhecia pelas serranias os penhascos, desde a Portela, Cova da Raposa, até ao limite de Dornelas.
Sabia melhor que ninguém armadilhar, Eram lages que podiam pesar cinquenta quilos, armadas sobre três paus, o chamado triângulo e chincavam a presa.
Ele, o tio Venâcio, tinha a sabedoria de caçar as presas, sabia o que podia caçar e por tal na toca, melhor, na sua entrada, deitava fetos e se estes eram recolhidos, sinal de que era texugo, ao contrário da raposa.
Dinheiro valiam as peles os bichos caçados por necessidade. Esfolados, eram pregados com a pele contra as portas, antes esticadas e passadas com sal grosso e cinza. Um prego no focinho e outros nas patas e ficavam a curtir mais de oito dias, até Janeiro.
Podem dizer que barbaridades, mas tal ainda hoje nao entendem as nossas gentes, para elas galinhas e ovos, era uma benção que este senhor ajudava e por tal e quando apanhava uma raposa e a mostrava na aldeia, as pessoas reconhecidas davam o que entendiam por bem, ovos, batatas, cebolas...
A pele bem curtida, podia valer por cima na Feira Nova, 10 escudos...
Saudades, ti Venâncio!
Foto: cortesia da sua filha Fernanda.