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sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Feliz Natal 2023

Que seja como se deseja, bom de felicidade para todos nós e que o Menino Jesus conceda a todos o melhor!




Iluminação de Natal no largo da rotunda, Forninhos

domingo, 10 de dezembro de 2023

E o Natal começava

Começava nos lugares mais simples da aldeia, quando íamos apanhar musgos para o presépio e trazer o pinheiro para a árvore de Natal da nossa escola. Então para reviver trago à memória mais umas páginas de um livro de leitura da primária, com histórias simples e com as belas ilustrações da Maria Keil e do Luís Filipe Abreu:



O Carlitos trouxe um ramo de pinheiro para a árvore de Natal.
A Rita e o Pedro ajudaram a enfeitá-la com velinhas, bolas de cores e brinquedos.
Estava linda a árvore de Natal.
(...)


Na consoada de Natal o prato principal é o bacalhau cozido com batatas e couves, que nesta altura do ano são muito boas, temperadas com o azeite novo. 
Na mesa também não podem faltar as guloseimas de Natal, certamente comuns a outras mesas espalhadas pelo país.


A mãe passou o dia na cozinha, com os preparativos para a consoada.
Fez arroz-doce, filhós e outros bolinhos.
A Rita e a prima enfeitaram a mesa para a ceia.
(...)


À volta da mesa (ampliada nesta altura) a família reúne-se para a celebração desta importante tradição e data de convívio familiar, num espírito fraterno de paz e partilha.
Ao serão a avó conta(va) uma história! 


Os três Reis Magos (clique na imagem para ler).

domingo, 19 de novembro de 2023

Jogo "Par ou Pernão"

Deixo-vos mais uma ilustração de Laura Costa que representa uma reunião familiar no campo. Laura Costa coloriu maravilhosamente o Portugal de 1940-1950.
À esquerda da representação está uma mãe, segurando um bebé que se encontra a dormir.
Do lado direito da representação, um jovem pega na mão de uma outra criança.
Na parte central, vemos duas crianças, a menina segura uma pinha e o menino parte pinhões contra uma pedra. 
Postal dos CTT (1944), retirado daqui


Como escrevi há uns tempos: Os pinheiros mansos eram espécimes raríssimos em Forninhos, só me lembro de um, frondoso, bonito e "de passagem" apanhar pinhas e comer aqueles frutinhos saborosos, mas ao encontrar este postal, impossível não lembrar os jogos duma infância muito feliz e diversificada, o nosso património cada vez mais imaterial.
- E se jogássemos, agora, ao par ou pernão?
Vamos lá. É um jogo simples, basta palpitar e acertar.

Material - pinhões, se não houver pinhões, pode ser utilizado um punhado de feijões
Terreno - qualquer terreno
Participação - Grupos de dois
Desenvolvimento - Joga-se com pinhões ou com feijões que se escondem no bolso, onde disfarçadamente metem a mão e tiram um certo número de pinhões, por exemplo 4; com a mão fechada, mas sempre com os dedos para cima, pergunta:
- Par ou Pernão?
Resposta: Par - acertou!
Se o número for ímpar, ganha quem apostou pernão.
- Não vale ir de mãos vazias!!

Feliz Dia dia Internacional do Homem para todos (hoje, 19 de Novembro)

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

O 14.º aniversário deste Blog

Para postal de aniversário do 14.º aniversário deste Blog, escolhemos mais uma fotografia cheia de história, que nos chegou dos Estados Unidos da América, pois a história dos forninhenses emigrados também são parte da memória de Forninhos e hoje temos a possibilidade de manter o laço com o pessoal que está na América ou no Brasil com as raízes aqui na nossa querida terra - Forninhos.
Sou muito grata!


Para compreender o presente é preciso primeiro conhecer o passado e é fantástico dar corpo aos nossos antepassados que há mais de 100 anos tiveram de emigrar, deixando, alguns, Forninhos para sempre...como foi o caso de António Almeida, em fotografia com a esposa e filho aqui agora partilhada.
Era ainda muito jovem quando foi assassinado numa festa (1927); o filho era uma criança (nasceu a 17 de Agosto de 1923).
Relembro que o pai deste António era o tio Augusto ferreiro, um dos "Nove Magníficos" da família dos ferreiros

Obrigada a todos pela V/ presença.

2023-Novembro-09 - Mais um ano ao serviço dos Forninhenses

sábado, 4 de novembro de 2023

Os forninhenses na I Guerra

Fico surpreendida com a quantidade de forninhenses que se alistou no Exército Americano a pedido do tio Sam!! Opção dura e dolorosa foi, com certeza, o caso do nosso conterrâneo, Abílio de Figueiredo, nascido em Forninhos a 3 de Outubro de 1894.

Registo de Naturalização

Chegou à América através do navio SS Roma, com saída de Lisboa, em 24 Fevereiro de 1916, quando decorria a Guerra Mundial 1914-1918 e foi chamado a participar na Guerra.


Já são dois "de Figueiredo" que estiveram presentes nessa Guerra e acho que esta homenagem e lembrança são mais que merecidas!

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

1 de Novembro de 1755

Na manhã de 1 de Novembro de 1755, às 09h30 ou 09H40 da manhã, dia que coincide com o feriado do Dia de Todos os Santos, um sismo, seguido de um maremoto quase destruiu a cidade de Lisboa. A data contribui para um alto número de mortos, visto que as ruas e igrejas estavam cheias de fiéis, certamente mais de 10 mil mortos, mas há quem aponte muitos mais...
Mas Lisboa não foi a única cidade portuguesa afetada pela catástrofe. 
Fonte: Wikipédia
Então...no início de 1758, o Marquês de Pombal, Secretário dos Negócios do Reino, cargo homólogo ao atual primeiro-ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, mandou perguntar a todos os padres do país que tutelavam paróquias, se a sua paróquia padeceu alguma ruína ao terramoto de 1755, e em quê, e se já está reparada.
Pergunta N.º 26



O Cura de Forninhos, Baltazar Dias, respondeu: "Nam padeceu ruínas no terramoto de 1755"🙏
Para além da questão dos estragos provocados pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755, pedia as suas descrições geográficas, demográficas, histórias, económicas e administrativas. 




Recordemos todas as vítimas dos terramotos🌻💮➕
Amén🙏

domingo, 29 de outubro de 2023

Rastos perdidos

Hoje é dia de procurar rastos perdidos da memória, nos Estados Unidos da América.
Pois é tempo.
No cemitério de Saint Joseph está sepultado António Almeida, natural de Forninhos e assassinado a tiros de pistola nos EUA, Condado de Providence, Rhode Island. 
Tinha 32/33 anos e é já conhecida a sua história aqui


António Almeida deixou, em 1927, um filho com 4/5 anos, o António Augusto Almeida, nascido a 17 de Agosto de 1923, Taunton, Bristol County, Massachusetts, USA.
20 anos depois, a 1 de Novembro de 1943, nascia um novo Almeida, o Anthony Almeida
No dia 20 de Março de 1945, nasceu a filha Kathleen Almeida.
A mãe dos seus filhos, Lena Almeida, faleceu no dia do aniversário da sua filha, Kathleen, a 20 de Março de 2004, com 84 anos de idade.


António Augusto Almeida, faleceu a 27 de Abril de 1986 (tinha 62 anos)


O filho Anthony Almeida, que nasceu a 1 de Novembro de 1943, faleceu com 39 anos de idade, a 27 de Junho de 1983. 
A sua irmã, faleceu no ano passado, 11 de Outubro de 2022, tinha 77 anos (nasceu a 20 de Março de 1945). Sobre, quem tiver um pouco de tempo pode ler/ou/traduzir um artigo escrito em inglês:


Está esta família originária de Forninhos sepultada no cemitério de Saint Ann, Cranston, Providence County, Rhode Island, Estados Unidos da América, também conhecido como Rhode Island Historical Cemetery Canstron #1 e nós aqui estamos a homenageá-Los.
Fonte, site do memorial: consultar aqui
Um outro artigo nesse site refere-se à família Ventura Saraiva.

sábado, 14 de outubro de 2023

14 e 15 de Outubro de 1655

Caleture caía nas mãos dos holandeses.
No dia 14 de Outubro de 1655, o nosso conterrâneo, Manuel Nunes, era feito prisioneiro pelos holandeses quando tomaram o Forte de Caleture. 
Antes de ir para Jakarta, na Indonésia atual, esteve preso no Forte de Caleture.
É com muito orgulho que lembro novamente a participação de um forninhense na expansão do extremo oriente.

A gravura de Baldaeues, de 1672, 
tenta dar uma impressão do antigo forte português

Breve resumo: 

Em 1594 as forças portuguesas levadas pelo General De Azevedo conquistaram Kalutara. O construtor do forte de Kalutara foi Jorge de Albuquerque em 1622. O forte tinha 300 homens de arma em permanência e servia para proteger os navios de comércio nos mares de Ceilão, equivalente hoje a Sri Lanka.
Mais tarde o forte foi conquistado pelo Rei Rajasinghe I do Reino de Sitawaka, depois pelos holandeses e por fim retomado pelos portugueses para o perderem definitivamente em 14-10-1655, quando os holandeses lançaram uma invasão marítima vitoriosa. 
Fontes: 
Essa data corresponde à história do nosso soldado e torna plausível o relato da sua vida militar.
Em 1645, em Lisboa, embarcara com destino ao Estado da Índia. Chegando à cidade de Goa, quatro meses depois mandaram-no para a ilha de Ceilão para servir como soldado, onde permaneceu cerca de doze anos. Nessa altura, os holandeses acabaram de tomar o que faltava por conquistar da dita ilha e acharam-no, a ele, Manuel Nunes, na fortaleza de Caleture.
Três anos depois, a 10-10-1658, estava em Lisboa para depor no Tribunal da Inquisição.


Desenho de Mosqueteiro

soldado Manuel Nunes, decerto que foi Mosqueteiro ou Arcabuzeiro.

Arcabuzeiro

Foi em Forninhos que nasceu, sabia ler e escrever, num tempo em que pouca da gente que trabalhava na agricultura o sabia.
Embarcou para as Índias com 13 anos. Será que recebeu instrução militar para tal?
Refere que foi crismado na Igreja de Santa Justa em Lisboa, pelo Arcebispo de Lisboa. Haverá aqui alguma relação com o Mosteiro de São Domingos, onde poderia ter recebido instrução? 

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

5 de Outubro

Neste dia, 5 de Outubro, celebra-se a implantação da República Portuguesa em 1910. A data comemora a ocasião em que Portugal deixou de ser uma monarquia e passou a ser uma república. Mas foi também neste dia, do ano de 1143, portanto, há 880, que o Rei de Leão reconheceu D. Afonso Henriques como nosso Rei e Portugal como reino independente. 
Acho que este feriado nacional poderia comemorar as duas datas e, por isso, deixo-vos aqui a bonita bandeira de Portugal e também a bandeira da monarquia, igualmente bonita.



VIVA PORTUGAL

sábado, 23 de setembro de 2023

Outono outra vez


"O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura..."

Miguel Torga

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Trovoadas de verão

"A oito de Setembro de 1938, formidável trovoada, de como nunca houve memória, fez abater aqui uma verdadeira tromba de águas que transformou as ruas em ribeiros caudalosos, afogando animais nos cortelhos e poleiros. Os rios cresceram assustadoramente. Na ribeira, dois moleiros estiveram em perigo de vida, agarrados à cumieira do moinho ameaçado de desmoronamento pela força da corrente; colhidos lá dentro de surpresa, só no tecto encontraram refúgio.
Esbarrocou terras, arrancou árvores, derrubou muros, levou e enterrou centenas de alqueires de milho e toneladas de batata, sem falar nos prejuízos que deu, inutilizando terras de cultivo. Felizmente, catástrofes assim são raras".
Este texto, retirado do livro "PENAVERDE SUA VILA E TERMO, do Pe. Luís Ferreira de Lemos, fala numa trovoada na nossa região, no ano de 1938, "Foi uma trovoada que desabou sobre o concelho de Aguiar da Beira, as terras altas do concelho de Sátão e as do Alto Paiva. Este, em Reris (Castro Daire), inundou a loja de um comerciante, inutilizando sacas de arroz e açúcar". Com ligeiras diferenças, podia também referir-se ao que aconteceu esta semana em quase todo o território português.


Na aldeia de Forninhos a forte trovoada de 1938 também fez estragos, derrubou muros de lameiros, lenteiros e hortas, tudo levando à sua frente. Desmoronou um moinho nas Caldeirinhas e dois na Eira e também desmoronou o lagar de azeite do Senhor José Baptista, já desactivado para aí 2 ou 3 anos antes da enxurrada, devido a um incêndio, segundo a informante Maria Augusta Guerra.

sábado, 2 de setembro de 2023

Tília de uma vida

Ali no Oiteiro vive uma "Árvore sagrada das antigas civilizações germânicas, dotada de uma longevidade pouco vulgar, a tília..." da Tia Eduarda.

frente da casa

Não sei a sua idade, já não conheci a tia Eduarda, uma irmã da minha bisavó Maria Matela, mas sempre que ali passo fico encantada pela imponência do porte, pela majestade do aspeto. Esta tília redondíssima fascina-me!
E quando ouço falar dos serões lá passados à sua sombra, no verão, entre amigos, lembro logo do título duma canção que andou na moda "Dragostea din tei", que significa "O amor sob as tílias".

Do lado de quem sob a ladeira

Talvez por isso há quem diga que se a tília falasse já a tinham cortado há algum tempo atrás...não sei, acho que se a tília pudesse falar contaria histórias de maravilhar, mas só quem as viveu sob a sua sombra as pode recordar...
Eu vejo a tília da tia Eduarda como uma guardiã fiel e embora sem as companhias de outrora, a sua vida ainda não acabou. "Diz-me a tília a cantar: Eu sou sincera,
eu sou isto que vês: o sonho, a graça,
deu ao meu corpo o vento, quando passa,
este ar escultural de bayadera...
E de manhã o sol é uma cratera,
uma serpente de oiro que me enlaça...
Trago nas mãos as mãos da Primavera...
E é para mim que em noites de desgraça
toca o vento Mozart, triste e solene
e à minha alma vibrante, posta a nu,
diz a chuva sonetos de Verlaine..."
(...)Florbela Espanca - A Voz da Tília (Charneca em Flor, 1930).

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Balanço da Festa de Agosto

A festa de Agosto, é sinónimo de encontro de pessoas que já não vemos, há pelo menos um ano e isso é positivo, permite-nos dar beijinhos e abraços sentidos a todas elas, sem o estranho covid a pairar no ar. 
Todo o movimento/agitação que trouxe à vida comunitária, também é/foi positivo.
A atuação das concertinas, voltou a dar aquele ar de festejo popular à moda antiga no terreiro do Santuário. Foi uma boa aposta para a tarde do dia 15.
O ponto menos positivo da festa foi a atuação dos grupos musicais da noite, que ficaram muito aquém do habitual. A meu ver, temos vindo a decair desde a última festa antes da pandemia. Não havia necessidade.
Da programação religiosa, o Facebook está cheio de fotografias e vídeos, realçando o melhor: procissão, andores, capela e como cada imagem vale por mil palavras, como dizem os manuais de comunicação...está tudo dito.
Aos Mordomos fica o reconhecimento pelo empenho e esforço feito e os nossos Parabéns!

Andor de N.S. dos Verdes- 2023

Vejam mais fotografias em:
Para melhorarmos apenas duas achegas, pois as tradições por vezes já não são o que eram e vão-se perdendo pormenores:
1. Se é para continuarmos a levar os andores em tratores, porque deixamos de transportar o Mártir São Sebastião e o Menino Jesus como era de tradição e os trocamos pelo Santo António e pela Virgem de Guadalupe?
2. E se deixamos de levar o Menino Jesus, porquê vestir alguns meninos com o traje  da Cruzada Eucarística? 
A acompanhar os tempos, o reatamento das tradições está a aparecer por todo o lado, menos em Forninhos não sei porquê. Já nem falo das representações bíblicas dos anos 70 e 80 do século passado que nos fizeram tão felizes e motivava as pessoas a acompanhar a procissão e outras a deslocarem-se ao Santuário para ver chegar os andores. 

sábado, 5 de agosto de 2023

Forninhos - Festa de N.S.dos Verdes 2023


O cartaz da Festa em honra da Senhora dos Verdes está bem bonito, com fogo de artifício! Mas acho que o fogo já não tem lugar, está proibido. Estava aqui apenas a olhar e a lembrar-me dos foguetes das festas. No dia que chegavam era logo lançada uma descarga anunciando a sua chegada e assim começava a festa de Agosto...e na manhã cedo do dia 15 toda a gente despertava ao som da alvorada, era bonita essa salva de foguetes...os foguetes acompanhavam a procissão e ainda havia, à noite, os foguetes de lágrimas.
É uma pena os foguetes terem acabado, acho que muitos partilhamos essa saudade dos foguetes. 
Venha daí. O programa é interessante, visto que contém as atividades religiosas e profanas desta festa.
Nós já cá estamos. 
Regressamos no final de agosto.  

domingo, 30 de julho de 2023

Caninhas

Os gladíolos também chamados de palmas, na nossa terra são conhecidos popularmente por "caninhas"Existem numa grande variedade de cores e são muito utilizadas em arranjos florais ou em vasos, pois são lindas, vistosas e têm longa duração.

(gladíolos, foto da net)

A seguir hão-de vir "as caninhas de São José". Acho que lhe puseram este nome, porque quer as imagens, quer as pagelas que representam o santo, geralmente mostram uma açucena florida na mão.
Também fazem lindos arranjos e exalam um perfume acentuado. 

(açucenas, foto da net)

Mas há mais caninhas na nossa terra

foto da net
De cor laranja-avermelhadas, normalmente são misturadas com outras flores. 

terça-feira, 18 de julho de 2023

Santa Marinha

Hoje dia 18 de Julho, é um dia muito especial para a nossa paróquia, é o dia de homenagear a nossa Padroeira,

Santa Marinha

Tocam os sinos da Torre da Igreja...
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.


Missa Solene às 10h00...


Parabéns à nossa Irmandade e a quem se encarregou de enfeitar a igreja e o andor

Na nossa aldeia que Santa Marinha a proteja, vai passando a procissão...

sábado, 8 de julho de 2023

Mil abóboras no telhado

Agora que chegamos aos mil posts sinto que "é a altura de tirar as abóboras do campo e pô-las com a barriga ao léu...em cima do telhado", como fez Aquilino Ribeiro, in "Abóboras no Telhado" (1955).
Com uma dedicatória impressa a Jaime Cortesão que assim começa: "Dê-me licença, querido amigo, que lhe ofereça esta carrada de abóboras. Dou o que tenho. Faça de conta que lhe ofereço...o quê? os pomos de oiro das Hespérides...".


Com o Subtítulo "Polémica e Crítica" Aquilino analisa peripécias da carreira, ajusta contas com quem lhe plagiou textos, com quem escreveu isto ou aquilo por ter lido bem, por ter lido mal as suas obras ou até sem as ler! 
As abóboras eram, portanto, de espécie metafórica.
Faz balanços com humor e com lucidez. Escrever...Para quê? Para quem? Escrever para quê numa terra que lê apenas as contas que traça o merceeiro?
A princípio os editores sentenciavam:
- "O senhor não tem público" (p. 28)
- "Os livros de Aquilino não se vendem" (p. 41)
No entanto o seu primeiro romance/novela, "Via Sinuosa" (1918), vendeu duas edições em poucos meses, fenómeno que o escritor atenua: "Nesse tempo imperava o gosto da leitura. O futebol não esvaziara os cascos do honesto cidadão nem tão-pouco as suas algibeiras" (pp 45-46). 
Mais adiante avança esta afirmação provocatória: "Dentro de vinte anos não há mais literatura em Portugal. Não digo que não continuem a aparecer livros interessantes, mesmo superiores, mas de génese esporádica, mais ou menos eventual, como outrora os Lusíadas e as Peregrinações (p. 293). 
Depois explica: "Hoje tudo é febril, tumultuário, dinâmico e muscular. Nas belas-letras tudo é remanso, pausa, meditação" (p. 296). 
E conclui: "A leitura que supõe umas horas de ócio, e sobretudo concentração de consciência, não tem atmosfera propícia. A rádio, a gazeta, o cinema satisfazem as restantes e normais necessidades de bestunto" (p. 297). 
Passaram mais de sessenta anos após a publicação de "Abóboras no Telhado" (polémica e crítica) e o diagnóstico de Aquilino continua válido, as cabeças esvaziam-se cada vez mais e surgiram outros modos de vida, outros modos de leitura, pelo que acrescentámos à sua lista, a TV e o Facebook.

Fontes: 

sábado, 1 de julho de 2023

Passaportes

O Arquivo Distrital da Guarda disponibilizou há tempos alguns livros dos passaportes de alguns dos anos dos séculos XIX e XX (todos os passaportes concedidos e prazos ficavam registados em livro próprio). Mesmo com a dificuldade em decifrar a caligrafia do escrivão que os redigiu, desafio os forninhenses a "passearem" por lá e eventualmente poderão encontrar um antepassado... 
Deixo o que encontrei à primeira olhadela:

03-09-1906 - Matheus d' Almeida, de 27 anos, solteiro, jornaleiro, natural de Forninhos, filho de pai incógnito e de Maria dos Anjos, residente em Sezures
Destino: Rio de Janeiro

Matheus D' Almeida

Destino: Rio de Janeiro

10-03-1913 - José Augusto, de 24 anos, casado, jornaleiro, filho de pai incógnito e Cândida Gomes, sabe ler e escrever e reside em Forninhos
Destino: Nova Yorque

10-03-1913 - Francisco Vicente, de 22 anos, casado, jornaleiro, filho de José Vicente e Maria Fernandes, não sabe ler nem escrever e reside em Forninhos
Destino: Nova Yorque

José Augusto e Francisco Vicente

A amostra, bem sei, não dá uma ideia clara da quantidade concedida, mas como o Arquivo Distrital de Viseu disponibilizou alguns pedidos de passaportes de pessoas da nossa terra (não tem disponíveis online os livros), conseguimos por Viseu perceber que entre os anos de 1875 e 1913 mais ou menos (para mais que para menos) uma dúzia de pessoas, pediu passaporte para se ausentar do país e que era obrigatório haver alguém que "abonasse" a viagem (uma espécie de fiador); em cada documento consta a identificação do requerente, a filiação, o estado civil, a naturalidade, a idade, a profissão, a residência, as condições perante o serviço militar, a apresentação do registo criminal emitido pela comarca, o lugar do destino da viagem e quem acompanhava a pessoa (se fosse o caso) e também consta as várias características particulares de cada um, como altura, a cor dos olhos e do cabelo, nariz, barba e sinais.

Requereram passaporte:

19-02-1875 - Miguel Ferreira de Melo, de 31 anos, solteiro.
Destino: Rio de Janeiro

19-02-1875 -  António Ferreira de Melo, de 40 anos, proprietário
Destino: Rio de Janeiro

11-07-1881 - João Fernandes, de 34 anos, solteiro, jornaleiro, filho de António Fernandes
Destino: Rio de Janeiro

05-05-1887 - José Diogo, de 22 anos, solteiro, cultivador
Destino: Império do Brasil

09-11-1887 - António da Fonseca, de 37 anos, casado, jornaleiro, natural de Forninhos e residente na Matela
Destino: Rio de Janeiro

25-02-1909 - António Diogo, de 44 anos, casado, agricultor, filho de António Diogo e Maria Christina
Destino: Rio de Janeiro 
reside em Sezures atestou o pároco de Sezures António Gonçalves Nunes
Foi baptizado em casa em perigo de vida

Passagem de António Diogo

10-10-1910 - Jeremias Ferreira, de 25 anos, solteiro, trabalhador, filho de Miquelina Ribeiro
Destino: Rio de Janeiro
reside em Demercilo há mais de 4 anos como criado de servir (atestou o pároco Alfredo Augusto de Almeida Paes)

06-05-1911 - Casimiro Diogo, de 30 anos, casado, agricultor, filho de António Diogo e Piedade de Andrade
Destino: Santos
Residente na Ínsua

Casimiro Diogo

06-05-1911 - Diamantino Pires, de 29 anos, casado, agricultor, filho de Luís Urbano e Ana Pires
Destino: Santos
Residente na Ínsua

24-01-1913 - Mateus de Almeidafilho de Maria dos Anjos, agora com 34 anos, casado, agricultor, volta a pedir passaporte com destino ao Rio de Janeiro - Já não reside em Sezures, mas na Ínsua

18-02-1913 - António Monteiro, de 21 anos, casado, agricultor, filho de Manuel Monteiro e Maria Augusta
Destino: América do Norte
Residente na Ínsua

18-02-1913 - Francisco Melo, de 24 anos, solteiro, agricultor, filho de José Caetano e Maria Amália
Destino: América do Norte  
Residente na Ínsua

Francisco Melo

Fatos relevantes sobre o Francisco Melo:
1- Ficou livre do recrutamento para o serviço militar e depois  veio a participar na I Grande Guerra através do Exército Americano vide aqui. 
2- o registo criminal diz que foi condenado a quatro meses de prisão pelo crime de ofensas corporais em José Tavares, solteiro, filho de Maria Jose Pedra, de Forninhos.



18-02-1913 - António de Almeida, de 32 anos, casado, agricultor, filho de Francisco de Almeida e Ana dos Anjos
Destino: América do Norte
Residente na Ínsua

António de Almeida

18-02-1913 - Justino da Fonseca, de 41 anos, natural da Quinta dos Valagotes, Forninhos, casado, agricultor, filho de António da Fonseca e Ana de Jesus
Residente na Ínsua
Destino: América do Norte

Curiosamente, nestes passaportes todos eram homens e a maior parte residiam na Ínsua, concelho de Penalva do Castelo, conforme atestou Alexandre Almeida Lopes, o Regedor da freguesia da Ínsua. Acho que era uma forma de conseguirem o passaporte através de Viseu, pois era a unidade administrativa mais próxima de Forninhos (Distrito da Guarda). O destino da viagem para a maior parte era o Brasil. 

Viagens de Antigamente!

Mas pelos vistos, as dificuldades que muitos tiveram para sair do país, foram quase insignificantes comparadas com os trabalhos por que passavam os que tinham que viajar para além dos limites do concelho.
Do que consegui perceber, qualquer pessoa que pretendesse viajar para fora da sua comarca tinha que ter um passaporte para transitar, por motivos relacionados com o serviço militar ou razões de trabalho (para o Alentejo, por exemplo, no tempo das ceifas ou ir ao Porto comprar matérias primas, como fazendas); por cada localidade onde passasse (parasse/pernoitasse), a autoridade local tinha que visar o passaporte, confirmando e registando os dados que nele constavam; caso o viajante não apresentasse passaporte era-lhe aplicada uma multa que seria elevada para aquele tempo.
Quando o meu pai foi tropa, 1966/1967, há pouco mais de cinquenta anos, era o Regedor Antoninho Bernardo (conhecido também por Toninho do Aníbal) quem lhe carimbava e rubricava o "passaporte de fim de semana". Era uma forma de controlar os soldados.
Os tempos mudaram e as pessoas hoje circulam livremente, mas ainda temos de pagar as portagens!!

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Na mourama

Creio que uma grande parte dos leitores sabe que habitualmente, é no dia de São João que se acredita que as mouras encantadas aparecem com os tesouros e se pode quebrar o seu encantamento e então ocorreu-me publicar um escrito (que achei) do XicoAlmeida: 

Ó linda moira encantada
Encantada de magia
Tanto o coração esperou
De te poder ver neste dia

De te poder ver neste dia
O dia de São João
A pentear teus cabelos
Sentada na penedia

Sentada na penedia 
Nas Lojas da Barroqueira
Ó linda moira encantada
Quero estar à tua beira

Quero estar à tua beira
E pentear teu cabelo
Enquanto rodas o fuso
Segurar no teu novelo

Ó linda moura encantada
Encantada de magia...


Consta que na nossa Serra vive uma moura escondida entre enormes penedias e uma só vez em cada ano - na manhã de São João, antes do nascer do sol - aparece numa fonte (ficou conhecida por fonte da moura) e estende as suas finas roupas e espalha o seu ouro, que só entregará a quem naquela noite a apanhar...não sei se alguma vez nesta noite de verão e de São João alguém passou à ação, mas a moura nunca se deixou ver, pois ao pressentir a aproximação de alguém, magicamente se recolhe até ao ano seguinte e, por isso, lá entre as enormes penedias, continua encantada, linda, a guardar pelos séculos dos séculos, um grande tesouro.

Bom São João🎈