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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Em Maio comem-se as cerejas ao borralho...


...borralho é a lareira. Maio é um mês em que o frio intercala com algum calor, por isso dizem que em Maio comem-se as cerejas ao borralho e este ano parece dar razão ao ditado.
Outra expressão popular, muito usada nesta altura em Forninhos, principalmente quando se anda a apanhar as cerejas é as cerejas do Chico Balas, comem-se duas a duas, as que estão na barriga são minhas, as que estão na cerdeira são tuas.. Esta é mesmo nossa! Mas quem quiser conhecer a proveniência clique aqui:
Como já devem ter reparado eu adoro provérbios, ditos e modos de dizer, então trago aqui por causa do clima que temos neste momento o que mais gosto:
Uma velha em Abril
Queimou um carro e um carril
Uma camba que lhe sobrou
Para Maio a guardou
E um bocado que lhe sobrou como um punho
Ainda o guardou para Junho.
Há mais rifões e expressões populares sobre estes meses até ao Verão, quem souber algum, por favor, deixe-nos aqui em comentário esse contributo. Agradecemos todos.

terça-feira, 27 de maio de 2014

A Poça da Eira/Fonte do Miguel

A "Poça da Eira/Fonte do Miguel" foi, no passado, dos lugares mais procurados pelos forninhenses. Mas isso foi noutros tempos... 
As fotografias já com quase 5 anos, falam por si, como dizem os manuais de comunicação; as tiradas recentemente optei por não publicá-las porque o que ali encontramos é um cenário ainda mais lamentável, consequência dos rigores do último Inverno.


Desde há vários anos a esta parte que a situação se vem arrastando e a única intervenção que se registou foi a limpeza do muito lixo e "mato" que já nem a fonte deixava ver, mas o "mato" volta todos os anos a crescer e plantaram duas ou três árvores também.
No entanto, não deixa de ser curioso que a recuperação da Poça da Eira seja uma presença habitual entre as promessas eleitorais das forças partidárias que se têm apresentado a votos para a Junta de Freguesia de Forninhos, porém, até hoje, tudo permanece na mesma e nem o esboço de um qualquer projecto de intervenção se conhece: no seu plano de actividades o partido que venceu as últimas eleições autárquicas (Psd) disse que comprometia-se a concretizar a "Requalificação da zona ribeirinha da Eira" sem adiantar qualquer pormenor. Os Independentes, embora vencidos, também disseram que pretendiam efectuar a "Limpeza do Ribeiro dos Moncões desde o Porto até à Pontinha." (integrando este local).
Mas mais do que entrar em questiúnculas políticas/partidárias, acho que importa fazer alguma coisa por este lugar antes que seja tarde de mais.

Fonte do Miguel
Vão se calhar dizer, agora, que a concretização dos "compromissos" dependem da Câmara. E, não vão dizer, que o novo regime jurídico das autarquias locais, previsto na Lei 75/2013, de 12 de Setembro, confere novas responsabilidades e competências para as Juntas de Freguesia, para o que importa, o que puder ser tratado pela Junta de Freguesia não o deve ser pela Câmara, e ainda bem, pois fica assegurada uma maior transparência e uma maior aproximação entre o decisor e o cidadão destinatário.
Das competências materiais conferidas às Juntas de Freguesia, cabe destacar:
- Discutir e preparar com a Câmara contratos de delegação de competências e acordos de execução;
- Promover a conservação de abrigos de passageiros existentes na freguesia;
- Gerir e manter parques infantis públicos e equipamentos desportivos no âmbito local;
- Gerir, conservar e promover a limpeza de balneários, lavadouros e sanitários públicos;
- Conservar e promover a reparação de chafarizes e fontanários públicos;
- Colocar e manter as placas toponímicas;
- Emitir parecer sobre a denominação das ruas e praças das localidades e das povoações;
- Conservar e reparar a sinalização vertical não iluminada instalada nas vias municipais;
- Proceder à manutenção e conservação de caminhos, arruamentos e pavimentos pedonais;
- Administrar e conservar o património da freguesia;
- Elaborar e manter actualizado o cadastro dos bens móveis e imóveis propriedade da freguesia;
-Participar, em colaboração com instituições particulares de solidariedade social, em programas e iniciativas de acção social;
- Apoiar actividades de natureza social, cultural, educativa, desportiva, recreativa ou outra de interesse para a freguesia.
Compete ainda à Junta de Freguesia o licenciamento das actividades ruidosas de carácter temporário que respeitem a festas populares, romarias, feiras, arraiais e bailes.
Etc.
A lei em apreço deu, portanto, mais responsabilidades e competências às Juntas de Freguesia e isso é bom!

Nota:
Todas as fontes e os chafarizes (que vieram mais tarde) necessitam ser limpos, inclusive limpeza de pedra, mais não seja, por terem sido obras, no passado, tão necessárias para o povo; um memorial de tempos carregados de estórias vividas e contadas, enquanto na fila se aguardava a vez de cada um encher o seu cântaro ou a sua bilha de barro com água fresca.
Sobre este assunto, podia fazer um artigo e não uma simples nota, mas para já fica esta anotação só para lembrar que "conservar e promover a reparação de chafarizes e fontanários públicos" é uma das competências da Junta de Freguesia.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Jogos de cartas

forninhenses a jogar ao burro


No ano passado, no começo do Outono, falei aqui que os serões antigamente, no tempo em que as pessoas não tinham televisão, eram passados nas casas de familiares e vizinhos. As raparigas faziam renda, dobavam novelos, contavam advinhas e anedotas, jogavam às cartas ou simplesmente passavam o serão a conversar de dois assuntos: de tudo e de nada. Mas como esta forma de viver e conviver perdeu-se na voragem dos tempos e hoje tudo é diferente decidi publicar esta foto tirada num domingo ou dia santo e arquivar o nome e técnica dum jogo de cartas - o jogo do burro - um dos jogos de cartas tradicionais que pelo conjunto limitado de regras e as estratégias de jogo simples, era especialmente jogado pelas crianças, mas geralmente os pais, mães e avós também se entretinham a jogar com os filhos e netos, pois podem jogar entre 2 e 6 jogadores, assim como rapazes e raparigas. A foto foi cortesia da Natália 'Cavaca', mas se alguém de Forninhos reconhecer os elementos ou reconhecer-se que identifique ou identifique-se. Não dói nada.

***
No início cada jogador recebe 4 cartas, sendo as restantes (o burro) colocadas no centro da mesa, iniciando o jogo o jogador à direita de quem distribui as cartas. 
As regras são simples:
É obrigatório assistir, isto é, jogar uma carta do mesmo naipe;
Ganha o direito a iniciar a próxima jogada o jogador que colocar a carta mais alta;
Se não tiver para assistir o jogador vai ao baralho - retirar cartas até sair uma do mesmo naipe - no caso de acabar o baralho, passa a vez ao jogador seguinte;
O jogo termina quando um jogador fica sem cartas;
O número de cartas na mão dos restantes jogadores, que são o número de anos de burro, é registado e pode dar-se início a um novo jogo, após baralhar as cartas e distribui-se novo jogo; 
Os resultados são mantidos ao longo de vários jogos.

***
Jogava-se também muito à bisca dos 7 ou dos 9; a sueca e o chincalhão (ou truque/truco) jogavam mais os homens nas tabernas. Ainda hoje são jogos populares praticados por homens nos cafés de Forninhos. O jogo da sueca, dizem, foi inventado por 4 mudos, ao contrário o chincalhão é um jogo "falado" e de "bluf" com truques e sinais. A origem é incerta; especula-se que tenha surgido dos mouros, porém não há consenso a esse respeito. Se calhar na noite que um ataque surpresa dos cristãos, incendiou, destruiu e expulsou o povo da mourama o rei e a sua corte jogavam ao chincalhão (ou truque/truco). Para melhor entender vale a pena ver aqui: A Lenda da Cadeira do Rei.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Decisões de Visitas: Capela de S. Pedro

Hoje vamos deixar as provas que a história tem da capela de S. Pedro e que os visitadores dizem da sua importância ao longo dos tempos, muitos saberemos, mas muitos desconhecerão, agora todos podemos ficar a saber.
Embora na freguesia de Forninhos, foi dos templos religiosos mais antigos situados no antigo território de Penaverde. A sua data de construção é desconhecida, mas há quem afirme que já existia nos primeiros tempos em que o cristianismo foi implantado na região a partir dos séculos VI ou VII.

Planta da Capela de S. Pedro

Em 1758, in"Memórias Paroquiais" o padre Caetano Alvares de Campos, por Penaverde, referia-se assim a este pequeno templo: "Tem uma ermida fora desta vila com a distância de quase uma légua chamada de S. Pedro dos Matos que fica junta a um outeiro, que dizem foi castelo dos mouros, e ainda conserva alguns vestígios de alicerce e porta, e nesta ermida se conta por tradição fora antiguidade a paróquia e vila e ainda se acham muitos alicerces de casas, e muitas sepulturas feitas em pedra. Nesta ermida costuma ir em procissão a gente desta freguesia, e das anexas em dia de S. Pedro Mártir, e dia da Ascensão, as quais procissões acompanha a Câmara do concelho...".
Caiu de todo, mas no ano de 1804 aquando da visita pastoral do abade de Server do Vouga, Fradique Soares do Amaral Borges, que nos servirá também para conhecer a respectiva história, este mandou que "A de São Pedro seja reparada, bem trancada e entretanto retirem o Santo para a igreja matriz.". E, em 1825, o Rev. José Rodrigues Ferreira, abade de Côta, arcipreste de Mões e visitador dos de Penaverde, escreveu: "A capela ou ermida de S. Pedro, M.: não a pude ver sem mágoa e aflição pelo desprezo e profanação com que é tratada - arruinada - os telhados a cair, as portas abertas...por isso fica suspensa e os párocos proibidos de acompanhar lá procissões, tanto daqui como das anexas e lhes marco três meses para a comporem."
O Santo já tinha sido levado para Forninhos.
Em 1948 o Dr. José Coelho, de Viseu, ainda conseguiu ver as ruínas desta capela referindo que a porta principal encontrava-se voltada a poente, descrevendo-a assim: "Templozinho medieval, dissemos, baseados num capitel de coluna românica, que encontramos ao lado, e por lá ficou, mas com obra quinhentista, como o atestam os restos de um portal e do arco cruzeiro - que por milagre ainda se achavam de pé, mas resistindo à vandálica e sistemática acção destruidora dos bárbaros peregueiros regionais. Esta capela estava há pouco tempo reduzida à ábside, limitada pelo arco cruzeiro, e foi recentemente destruída, sendo levada a melhor pedra para Forninhos (...)" assim adiantam, em 2013, os autores da monografia de Forninhos. 
Agora o resumo resultante das visitas dos arqueólogos ao local, em Agosto de 2013, pág. 36, monografia de Forninhos: "...o sítio do Castelo ao S. Pedro, ou Castelo dos Mouros, é um reduto fortificado edificado por volta do século X/XI." "..., onde um pouco mais tarde, talvez no séc. XII/XIII se implantou um casario ainda hoje bastante preservado. Neste povoado, denominado de S. Pedro, são ainda visíveis os restos duma capela em redor da qual estaria uma necrópole, da qual restam alguns sarcófagos partidos em granito.". "A capela cujo orago é S. Pedro de Verona, encontra-se praticamente arrasada, não sendo possível fazer mais ilações sem intervenções arqueológicas.". (sublinhado nosso).

resquícios do casario, em 2008
E, pág. 124:"Um facto interessante diretamente relacionado com o templo de Forninhos diz respeito à imagem de S. Pedro de Verona. Esta imagem foi transferida do templo de S. Pedro de Matos para a igreja de Forninhos sendo posteriormente levada para o Seminário Maior de Viseu, onde ainda hoje permanece.". (sublinhado nosso).
Já o Pe. Luís Lemos, autor do Livro de Penaverde, em 2001, escreveu pág. 339: "Foi Forninhos a herdeira mais quinhoeira do espólio artístico-religioso e arqueológico de S. Pedro dos Matos, na Gralheira - uma estância pré-histórica, dois quilómetros a leste, verdadeira metrópole daqueles tempos. De lá vieram pedras para construções, provenientes de casas desmoronadas (destruídas) e da capela." (...) "Veio também a imagem do Santodepois de muito tempo abandonada na sacristia da igrejaatrás da portaaté que um pároco a levou para o Seminário de Fornos com desagrado geral das populações."(sublinhado nosso).

 S. Pedro de Verona, em 2011

Somente para elucidação de alguns leitores que porventura desconheçam: "Sobre os limites entre a freguesia de Forninhos e a de Pena Verde, muita tinta correu  pelas respectivas juntas de paróquia e pelo município. Havia alguma crispação entre os povos, chegando-se por vezes a ameaças e à concretização destas, até que, em 4 de Maio de 1858, a Câmara Municipal de Aguiar da Beira decidiu estabelecer os limites da coutada desta freguesia, feita através de antigas demarcações.
A Junta de Freguesia de Penaverde, em Outubro de 1939, reclamava acerca dos limites entre aquela e Forninhos, pelo que a Câmara decidiu ir ao local a fim de "serem resolvidas as dúvidas que existiam entre os habitantes das referidas freguesias".
Uma outra contenda, mais pacífica, tem a ver com a "posse" do castro da Gralheira (que Forninhos pretende designar como castro de S. Pedro, por se situar nos montes de S. Pedro e nos limites desta freguesia), cuja designação, segundo alguns autores locais, remete para o lugar de Moreira e termo de Pena Verde.".

Monografia do Município de Aguiar da Beira, pág. 382.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Das janelas da minha terra


Na zona antiga de Forninhos são já poucas as janelas do antanho que restam. Umas porque foram substituídas segundo o gosto dos proprietários, outras porque entraram em completa ruína, outras...porque são casas que só têm um jânelo que se calhar nunca se abriu, porque calafetado de farrapos velhos. 


Mas ainda bem recordo as janelas da minha terra, onde durante o dia as mães assomavam, correndo a pequena cortina, aquelas que a tinham, e chamavam pelos filhos, de início em tom cândido, mas que de tão repetido virava ameaça, no limite do impropério.


A canalha não havia maneira de largar a rua e fazer descansar as brincadeiras; e a angústia da mães era se alguém se vinha queixar de vidros partidos ou asneiras impensadas. Mais as horas de sol abafado e quente que lhes rachava a moleirinha a ponto de ter de se ir ao senhor doutor.
Por vezes discutiam com as vizinhas, por futilidades ou raivas antigas, muitas herdadas de família, mas na orgulhosa honra teimosa, como se fosse entre elas. Isto enquanto os seus homens trabalhavam juntos nos campos ou conviviam fraternalmente nas tabernas. Era lá com elas, dizia quem sorrateiramente assistia, pois não queriam confusão para o seu lado: "deviam ter vergonha por levantarem coisas antigas, mais valia  calarem-se e fecharem a janela".
Agora na minha aldeia, das portas de cravelhos ou pinchos e fechaduras forjadas, pouco resta; e das janelas, pedaços de vidros partidos, ancoradas em escombros negros onde vai sobressaindo uma réstia de musgo esverdeado, como que abraçando o eterno e solidário granito. Foram morrendo, acompanhando os seus donos, os mesmos que outrora de madrugada assomavam à janela ao ouvir o primeiro chiar do carro de bois com sebes carregado de estrume, arado, grade e sacos de semente. O vizinho ia já para a sementeira e outras janelas se abriam também, era pois hora de levantar, dia de "pica-o-boi" e, de janela em janela, o grito de guerra matinal, resumido na "salvação"
- Bom dia...
- Bom dia ... e Nosso Senhor vos acompanhe...
E tantas vidas nasceram por detrás delas e tantas  se viram passar por fora delas. E como eram bonitas as janelas de Forninhos, espelhos de alma em que subindo os degraus da entrada e a ela assomar, parecia estarmos mais perto do céu.
Agora urge escancarar as suas memórias, antes que seja tarde demais!


Este último modelo já é dos baixos duma casa em cantaria, de gente ao tempo considerada abastada; por cima tem sacada, sala e quartos com janelas.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Fenos, erva dos lameiros e lenteiros

Estamos em Maio, altura de noutros tempos se pegar na gadanha e ceifar com desembaraço os fenos - erva criada nos lameiros e lenteiros - e preparar as terras para a sementeira dos milhos.


Para melhor descrever esta tarefa transcrevo um trecho do livro que melhor, até agora, descreve o que era a ruralidade das nossas aldeias:
"Os primeiros fenos em penachos a secar nas belgas ou nas eiras, ali por fim de Maio, vão deixando as terras livres para a sementeira dos milhos. Aqui e além, por lenteiros e quintais, o lavrador - "ou, ou!, ao rego ou!" - vai escrevendo e cantando o seu poema bucólico, num cenário de maravilha, a acompanhar a orquestra de pintassilgos, rouxinóis, maranteus, e pimpalhões, um melro, num salgueiro próximo e mesmo um cuco, no coruto de uma árvore, a despedir-lhe, em flauta, um intervalo de quarta."

In Penaverde, Sua Vila e Termo
Pe. Luís Ferreira de Lemos


Como o sacerdote refere, ali por fim de Maio os primeiros fenos eram colocados a secar em penachos, isto é, na vertical, com a espiga bem juntinha e atada, para a semente não se perder, ficando com o aspecto de "bonecas" dispostas no lameiro ou nas eiras, lages como se diz na nossa terra, para amarelecer e secar melhor. Dias depois a erva era bem sacudida para a semente cair, sem que fosse necessário usar o mangual. 
O feno/palha ficava estendido, traziam-se os bincelhos húmidos feitos da palha do centeio do ano anterior e então era enfaixado e carregado com as forquilhas no carro de bois, preparado com os fugueiros (fueiros ou estadulhos como são conhecidos em algumas localidades) para segurar bem a carrada e, no fim, apertava-se melhor com uma corda e lá seguia para a palheira para servir de alimento para o gado. A semente servia para futura germinação, sendo que uma boa quantidade era comercializada. 
Além deste feno ceifava-se também o feno pousio ou feno bravo. Este depois de ceifado ficava estendido no lenteiro uns dias e se ficasse basto era virado para secar bem dos dois lados. Quando seco era atado com os bincelhos e carrejado nos carros de bois, tal como descrito.
Em Maio, há décadas, atrás, a vida do campo era assim. Presentemente ainda se vê algumas "bonecas" nas lages ou espalhadas nos lameiros, mas os carros de bois é que já se não vêem, foram substituídos pelos tractores.


Usava-se o ancinho para gavelar o feno e para ajudar a remover as palhas; para limpar e juntar a semente, usava-se muito as vassouras de giesta. 



As três fotos antigas tiradas nas lages de Forninhos, foram já publicadas em Maio de 2011 aqui.

 Três notas:
1) Lameiros, são terras de cultivo mais húmidas, normalmente as localizadas nas margens dos ribeiros onde a erva cresce mais e dá tempo para se criar a semente, por serem lavradas mais tarde para as sementeiras dos milhos.
2) Lenteiros, são terras de pouso, tratadas com os cuidados da água, a chamada "água de limar"reservadas para este tipo de erva, que não é semeada como a dos lameiros.
3) Verificamos que na monografia de Forninhos, págs. 95, 96 e 97, esta erva de semente é associada ao nosso pão o que é de lamentar! Muitos jovens não conhecem a história e os usos e costumes dos nossos antepassados e os que a elaboraram confundem o centeio e trigo com o feno?! Santa ignorância! 
Cumpre ainda, no rigor das coisas, dizer que o nosso pão era semeado nas terras secas e da palha de centeio é que se faziam os bincelhos (vincelhos) e não os vancilhos como vem publicado! 
Muitas palavras são ditas de forma parecida, todos sabemos isso, mas se a obra é sobre a terra dos nossos avós, acho eu, deviam ter respeitado os seus "falares". 
O resultado fica aí para vergonha dos doutos que a elaboraram e dos que tal permitiram.

domingo, 11 de maio de 2014

Melros

O ninho deste pássaro já foi apresentado no ano passado neste blog, porém o meu irmão David ao encontrá-lo novamente não pôde deixar de acompanhar o seu ciclo de criação e fotografá-lo. Trata-se de um pássaro que vive junto do homem, adora as sombras das árvores e o primeiro assobio que se ouve pela manhã e ao final do dia é porventura o "ximximxim" do melro. 
Então como estamos na altura de homenagear as mães e os filhos, pois sem eles as mães não existiam, sabiam que estas aves ajudam os filhos e até dão a vida por eles, se necessário fôr, mas quando chega a altura de saírem do ninho, têm de governar-se sozinhos?


O melro faz um ninho caprichoso, seguro e confortável.

Clique nas fotografias para ampliar

Nas fotos seguintes o melro-pai leva-lhes o almoço no bico, mas não dá para ver bem porque desconfiado não quis fazer "pose" e virou-se de lado para a máquina fotográfica. 


Se calhar por o melro ser desconfiado é que quando alguém anda a "cheirar" o que não deve por determinados lugares se ouve, no sentido talvez depreciativo, "cuidado...anda aí o melro!". 
É bonito o melro, na sua escura penugem.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Doenças e Maleitas

Hoje vou falar de doenças e maleitas, sobretudo das que ainda estão na memória de muita gente da aldeia. Como sabem, dantes as nossas aldeias eram dez vezes mais populosas (força de expressão), afinal nasciam muito mais crianças que hoje, mas também havia muita mortalidade infantil, morriam muitos dos bebés por causa de febres muito perigosas, daí que as mães quando alguma febre apertava lá iam ao "médico" da terra: Sr. José Bernardo, que em matéria de doenças era quem lhes valia. Era o "médico popular" da aldeia, salvou muita gente e poupou a muitos dinheiro com consultas e com medicamentos.
Nós já o referimos aqui.

crianças com sarampo

Que doenças assolavam a aldeia?
A tuberculose, que felizmente não matou ninguém, mas nos anos 40 apareceram casos de tifo, alguns deles fatais, a febre tifóide; a difteria, conhecida por garrotilho, vitimou também muitas crianças - não confundir, com uma doença nas ventas dos animais a que se dava o mesmo nome - tem se calhar este nome por ser doença de garotos. Mas das maleitas dos miúdos, do que me lembro melhor é do sarampo e da varicela; tesorelho ou trazorelho e febre de malta, porque dores de garganta, constipações e estados febris que davam uns tremores, isso era todos os Invernos. Amigdalites (anginas) também. Mas houve outras doenças a ameaçar a saúde da miudagem como, por exemplo, a coqueluche, tosse convulsa, a meningite e otites. A asma também um ou dois tinham e lembro-me de ouvir falar, na adolescência, da vacina da rubéola, como sendo uma doença que ameaçava as grávidas, sendo que o embrião pode sofrer malformações.
Havia muitas doenças que nos chateavam os dias. 
Na minha aldeia muitos adultos tinham úlceras, de estômago, principalmente. Hoje duvido que algumas não fossem cancros, mas cancros e cirroses também havia, como aliás em toda a parte. Não esquecendo a pneumonia e a hepatite, como sendo doenças perigosas. Gripes, catarros, carbúnculo, comichões (algumas por causa dos piolhos) e diarreias de vária ordem povoavam o dia a dia da aldeia nos anos 50 e 60. 
Em 1957 a gripe asiática atacou muita gente, em Forninhos chamavam-lhe "andaço".
Já agora, registo, a respeito, a informação datada de 2 de Abril de 1850, do jornal Ilustração Brasileira, constante do "livro" de Forninhos, a pág. 72: "...o jornal Ilustração Brasileira, na sua edição de sábado, na secção História da Actualidade, referia que «Na freguesia de Forninhos grassa actualmente uma febre de caracter maligno», não dando mais explicações sobre esta epidemia.". 
Pena que aqueles que se dedicaram  à investigação tenham escrito um livro  para historiadores, porque aos netos desta terra igualmente não foi dada qualquer explicação, nem o assunto "nosografia" foi abordado. Quando uma febre assim tem carácter maligno tem certamente um nome, uma causa...
Até consultei os censos da época e, curiosamente, entre 1849 e 1862 a população não sofreu uma evolução negativa.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

O Brasão da Freguesia de Forninhos


Este é o brasão da freguesia de Forninhos e como pouco sei de brasões e significados, na última semana li e aprendi umas coisas...
A Lei é de Abril de 1930. E, por parecer da Secção de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses, a Direcção Geral da Administração Pública obrigou as comissões administrativas das Câmaras Municipais a legalizar os brasões dos municípios que já existiam, mas que careciam de ser sistematizados e oficializados, ou mesmo actualizados, dada a disparidade entre a data da sua criação (alguns com centenas de anos) e a evolução que a região sofrera entretanto.
Actualmente, a heráldica das autarquias portuguesas é regulamentada pela Lei n.º 53 de 1991, que, com algumas alterações, manteve as regras básicas que já haviam sido definidas por diploma do Ministério do Interior, de 14 de Abril de 1930.
A regra em vigor é de que freguesias urbanas ou povoações simples sejam representadas por uma coroa mural de três torres. Quatro torres indicam uma vila, o que não é o caso de Forninhos, que nunca foi concelho (vide fig.). As cidades pela sua grandeza, são representadas com cinco torres na sua coroa mural que será de prata ou, no caso da capital do país, de ouro. De resto, tudo tem significado: cor, forma, partição do fundo, elementos colocados...
Por exemplo, o de Forninhos, que é recente, encimando o escudo de vermelho tem as três torres que a freguesia tem direito; e entre uma flor-de-lis em prata, estão o pão e o vinho representados pela espiga e um cacho de uvas, ambos de ouro e folhados de prata, significando talvez a nossa riqueza e antiguidade ou significando o nosso património/tradição, embora a representação do lírio esteja associado aos brasões e escudos da realeza francesa, em especial ao rei Luís VIII, daí que de sobrolho franzido e com ar intrigado, pergunto o que significa o elemento flor-de-lis no nosso brasão?
faixa murada de prata, apresenta quatro frestas abertas com chamas de sua cor. Duvido que não sejam fornos de cozer pão. Porquê? Já explico porquê a seguir.
Os ondeados de prata e azul penso que representam o nosso rio - o Dão.
O fundo interior do escudo é vermelho talvez por ser a cor da nossa Irmandade. 
Se cada freguesia procurar o significado do seu brasão, poderá encontrar boas surpresas para a História da sua terra. Mas pretendo com a publicação deste 'post' que os forninhenses tenham uma noção clara do que é o brasão da freguesia de Forninhos, pois há assuntos que nos acompanham a vida toda e nem sabemos porquê; e já agora se questionem, se o brasão que foi editado, há umas cinco legislaturas atrás, representa perfeitamente o nosso património/tradição, riqueza e antiguidade.
No meu entender, quando se avançou com o projecto, quem "desenhou" pensou aqui também representar os fornilhos na murada, designação por que são conhecidos os pequenos fornos utilizados pelo povo e porque havia a versão de que o topónimo Forninhos podia ter origem no vocábulo fornilhos, mas posso estar errada. Achou bem colocar também o símbolo do lírio, pois em heráldica (ciência dos brasões) representa uma das quatro figuras mais populares, juntamente com a águia, a cruz e o leão. 
Gosto do nosso brasão. Gosto do listel branco com a legenda em negro, em maiúsculas "FORNINHOS", mas gostava de ver o azeite representado. Uma árvore/oliveira secular ficava lá muito bem. O azeite há 50 anos mal chegava para os gastos, mas sempre foi considerado por nós uma riqueza e as oliveiras ainda hoje têm valor. Até o pinhal, envolvente florestal de Forninhos, podia representar melhor que a flor-de-lis- a nossa aldeia.
O debate está aberto.
Obrigada,
Saudações forninhenses.

Nota final: O Edital do brasão da Freguesia de Forninhos encontra-se publicado no Diário da República n.º 44, de 21 de Fevereiro de 1997, III Série: aqui (página 3245, fl. 47).

domingo, 4 de maio de 2014

Procissão e Visita Pascal

Como ainda não tinha publicado as fotos da Procissão de Domingo de Páscoa, porque preteridas em relação a outras, com duas semanas de atraso, mas numa antevisão de outras que nos esperam, aqui fica o registo de como a aldeia viveu a Celebração da Ressurreição de Jesus Cristo:



Ao contrário do que prometia a meteorologia, o dia esteve agradavelmente bom e convidava a desfrutar a rua.


Sente-se no ar alegria e os cheiros da época, das flores naturais



Passamos à visita pascal, que se fez na 2.ª F de Páscoa:



Foi a reportagem possível e ao vê-la vimos que há muito não se via tão pouca gente a acompanhar o "compasso" e também, diga-se, a abrir a porta para receber Jesus Ressuscitado. Por tal, a todos os que tornaram possível e deram corpo a este evento pascal o nosso agradecido reconhecimento.

Manter vivas as tradições que são a nossa referência é um BEM CULTURAL.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Maio, o mês das trovoadas

Eram de mais respeito e medos, as trovoadas algumas décadas atrás. Então Maio era terrível, o mês delas. 


Guardados por detrás da porta da cozinha, os ramos de oliveira, alecrim e loureiro benzidos no Dia de Ramos, iriam em situação de forte trovoada e no arreigar da fé e crença das tradições das pessoas, servir de protecção.  
A árvore da foto é uma oliveira situada num pequeno quintal da minha mãe frente à sua casa. Foi esventrada há muitos anos por um malvado raio que num ziguezaguear mortífero a atingiu e rasgou. Tinha eu sete anos de idade e em conversa pensamos aqui trazer a história deste dia que me marcou.
Curiosamente num dia em finais de Maio e de calor abafado, o tempo na sabedoria popular previa que "ela" nesse dia viesse, tal como veio, quase transformando o dia em noite. Em casa estava a minha avó Maria, a minha mãe Augusta e eu que sempre tapava a cabeça quando ouvia os trovões, se calhar por a minha mãe me contar que quando tinha a minha idade se metia dentro de uma saca de serapilheira e pedia à sua mãe para a levar para uma terra aonde não houvesse trovoadas.
Seguindo um ritual antigo, depressa se acendeu uma pequena fogueira e a minha avó ordenou à minha mãe que tapasse a aliança de casamento, já que os dedos com o trabalho do campo não eram fidalgos e o anel não iria sair. Podia atrair um raio. De detrás da porta tiraram um ramo benzido e pouco a pouco a minha avó ia deitando pedaços na fogueira enquanto rezava invocando a santa protectora:


 Santa Bárbara bendita
 Que no céu estais escrita
E na terra assinalada
Nosso Senhor te reme para bem longe
Lá para Castro Marinho
Onde não haja pão nem vinho
Nem mulher que páre menino
Livrai-nos desta trovoada

Ao lado desta oliveira, tinha o meu pai (que na altura do sucedido estava ausente) umas rimas de troncos de pinheiros e ramagens dos mesmos. Num repente imprevisto pela sua violência, o raio e trovão caem em simultâneo, "ela" estava ali mesmo por cima de nós e num ápice a casa começa a ser invadida por um fumo intenso, quase palpável de espesso que era. A madeira havia pegado fogo e apesar de molhada com tal intensidade que pensamos a casa estar a arder. Entre o esconder e sair para a rua, a minha avó de idade avançada, a minha mãe aflita e eu quase criança, alguém ouviu os nossos gritos, o Lúcio, não me esqueço, que acorreu e lá nos conseguimos arrastar para o páteo exterior da casa, enquanto gritava "acudam que há fogo"Tocou a rebate o sino e o povo acudiu em massa com o que tinha à mão, como era apanágio da entreajuda do povo de Forninhos.
Na semana passada estive lá e olhei para ela, a oliveira, começava a deitar flor e estava bonita. Gosto dela, apesar de aborrecido por não ter devolvido a relha metálica do arado que segundo a superstição tradicional, seria o que ia na ponta do raio e se enterrava na terra, mas que passados sete anos voltava à superfície.