Desde tempos imemoráveis que o centeio é semeado nas nossas terras. Exemplo disso é o que se colhe nas Inquirições de D. Afonso III (1258). Para se saber quais as terras que andavam indevidamente na posse do clero e da nobreza, o Rei ordenou Inquirições e encontramos o resultado de suas diligências:
De Penna Verde. F. Domicini juratus et interrogatus, dixit quod Penna Verde est toto foraria Regis de jugata et Fornos et Dornelas et Casalia de Moreyras et Monasterium et Finis Moreira et Queiriz que sunt aldeole de Penna Verde.
Interrogatus de foris regis dixit quod dabant de jugata: de tritico unam taligam et tres taligas de centeo.
O principal informador dos Inquiridores da Coroa foi um tal F. Dominici que disse darem de jugada uma taleiga de trigo e três de centeio os homens de Fornos, de Dornelas, Casais de Moreiras, Mosteiro, Fim de Moreira e Queiriz que eram aldeias de Penaverde.
Há mais de cinquenta anos, ainda os terrenos da nossa aldeia eram todos cultivados. Qualquer terra que não desse milho ou batata, era semeada de centeio "o nosso pão".
Os cereais (centeio, trigo e milho) eram primordiais na alimentação humana e na alimentação dos animais. No Outono procedia-se à sementeira do centeio e nos finais de Junho, lá pelo S. João, S. Pedro, iniciavam-se as ceifas. Para as ceifas eram chamados ranchos de gente e no dia marcado as pessoas apareciam munidas de seitoura e chapéu de palha. Era um trabalho árduo, debaixo do sol escaldante, que durava todo o dia e às vezes não se terminava. Nas refeições da ceifa não faltava o nosso pão, queijo, presunto, chouriça e as nossas azeitonas. Comia-se ao jantar migas de alho, batatas com bacalhau, feijão com carne da salgadeira, arroz doce e filhoses. Para acautelar a sede, não se podia esquecer o garrafão do vinho e o regador para a água. A cair da noite, no regresso à povoação, com as seitouras ao ombro o povo trabalhador cantava as nossas cantigas:
Ó senhora nossa ama
Ponha a candeia na sala
Venha ver a sua gente
Que vem da sua segada
Feitas as ceifas, atados os molhos das espigas, seguia-se o trabalho da acarreja e transportava-se em carros de bois para as lages. Nas lages malhava-se o cereal com os manguais. Mais tarde surgiram as malhadeiras, que muito facilitaram esta tarefa da separação do cereal e da palha.
Também começaram a surgir os motores de rega a petróleo, que vieram revolucionar as regas e os picanços foram desaparecendo do quotidiano forninhense.
Também começaram a surgir os motores de rega a petróleo, que vieram revolucionar as regas e os picanços foram desaparecendo do quotidiano forninhense.
Recolhido o centeio, este era metido nas arcas a fim de cumprir os compromissos pré-estabelecidos como o pagamento ao Senhorio pelo arrendamento das suas terras e pagamento ao barbeiro, mas a maior quantidade era moído, escolhendo-se a melhor semente para futura germinação.
A seguir às malhas do centeio logo vinha a colheita do milho e as escanadas. Hoje ainda se cultiva algum milho em Forninhos, mas já não é moído para o fabrico do pão.
A moagem do milho e do centeio era concretizada nos moínhos de água da nossa terra. O moínho da Carvalheira moeu muito cereal dos forninhenses. Hoje desse moínho só restam restos de um rodízio e parte das paredes.
Obtida a farinha, era peneirada para o nosso pão e o farelo era para as viandas dos porcos de ceva. A cozedura dos pães era feito nos fornos da aldeia. além dos fornos comunitários "Forno Grande" e "Forno do Lugar", havia ainda mais fornos de propriedade particular: o da tia Purificação, o da tia Esperança, o da tia Isménia, o do tio Luís da Coelha e o do Sr. Amaral. Ao terminar esta parte recordo um frase que no passado o nosso povo dizia: "Haja Saúde e Coza o Forno e o Pão que seja nosso".
Fornos e Forninhos também é nome de terra. O topónimo Forninhos, não é vulgar na toponímia portuguesa, que saiba, é único no país. De onde virá o topónimo Forninhos?
Há quem não tenha dúvidas: "Esta povoação já se chamou Fornilhos e tal como Dornelas pertenceu ao extinto concelho de Penaverde".
Mais um exemplo:
"A origem do topónimo pode também ter origem no vocábulo fornilhos (há uma localidade do concelho de Moura com este nome), designação por que são conhecidos os pequenos fornos utilizados pelo povo.".
Na sua origem, o nome Forninhos relaciona-se sempre e de certeza absoluta com "fornos" e algo que diz respeito aos fornos. O que não está muito claro é se de pão, cal ou telha.
Acrescentamos ainda as seguintes explicações:
(1)Nas inquirições de D. Afonso III (1258), Fornos do texto é Forninhos.
(1)Nas inquirições de D. Afonso III (1258), Fornos do texto é Forninhos.
(2)Fornos/Forninhos desde sempre esteve incluído no Termo e Vila e Concelho de Penaverde e foi agrupado no concelho de Algôdres entre 6 de Novembro de 1836 e 12 de Junho de 1837 e a partir daqui passa a fazer parte do concelho de Aguiar da Beira e Comarca de Trancoso. Há fontes que dizem que quando o concelho de Penaverde foi extinto, passou para o concelho de Trancoso, o que não é verdade. O antigo Termo de Penaverde, com excepção da freguesia de Queiriz, e bem assim o resto do concelho de Aguiar da Beira, só estiveram incluídos no concelho de Trancoso entre 1896 e 1898.
(3) Jugada, Imposto pago por cada jugo ou junta de bois, que recaia principalmente sobre os Peões.
(3) Jugada, Imposto pago por cada jugo ou junta de bois, que recaia principalmente sobre os Peões.
Fotos: "malhas" e "escanada", cortesia da família Carau; "malhadeira", cortesia da Luísa e Victor Cavaca, "picanço", cortesia da família Guerrilha; "Moínho da Carvalheira", cortesia do Contribuidor serip413; "Forno", cortesia do Contribuidor J SEGURO. Bem-hajam pela Contribuição.