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domingo, 31 de maio de 2015

Transumância e tosquia das ovelhas

A transumância
As  transumâncias aconteciam por esta época, mas em Forninhos talvez não tenha havido transumância, porque os rebanhos eram pequenos, só se o do Sr. Amaral que era maior tivesse passado por este sistema...mas não acredito. Acredito é que S.Pedro-Forninhos tivesse sido um ponto de passagem. Na "monografia da freguesia de Forninhos" não encontrei nada a respeito. Deixá-lo, encontrei no Livro de Penaverde, pág. 47, esta interessante passagem:
"Antigamente, passava por aqui duas vezes no ano o "gado da serra". Para fugirem certamente aos rigores e fomes do inverno na Serra da Estrela, e à procura de melhores pastos, em Outubro, várias centenas de gado acompanhadas de 4 ou 5 pastores e outros tantos canzarrões, faziam de Penaverde um ponto de passagem para o Douro. O regresso era ali por Abril ou Maio. De cá não há transumância; e quando não haja verdura nos montes, há pastagens de ferrãs e ervas, em quintais e lameiros".
Também em Maio se faz a tosquia das ovelhas. Em Maio os últimos, em Setembro os primeiros. Quer isto dizer que a tosquia no mês de Maio deve ser feita nos últimos dias e a de Setembro nos primeiros. A tosquia de Setembro é mais curtinha é para tecer e a de Maio é para urdir. Estamos no dia 31 de Maio e da tosquia das ovelhas que anuncia o fim do frio, publica-se duas fotos tiradas na quinta do Pisão, espaço gerido pela Câmara Municipal de Cascais em pleno Parque Natural de Sintra-Cascais:



Dantes a ferramenta do tosquiador era a tesoura, feita com um aço muito fino, mas a prática da tosquia com tesoura foi substituída pela tosquia com máquina, muito menos demorada e trabalhosa do que aquela. Não deveria ser fácil utilizar a tesoura, já que os tosquiadores tinham de pôr lã enrolada à volta dos anéis da tesoura, para facilitar o trabalho de horas, dias e semanas!
Vide:

Esta tesoura pertenceu ao ti Armando Castanheira e já foi publicada n'O Forninhenses em Fevereiro de 2011 com o intuito de mostrar e explicar aos mais novos a sua utilidade.
O corte da lâmina é direito, mas as costas são abauladas, isto para facilitar os cortes, mais fundos ou mais leves.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Forninhos: Dias 25 e 26 de Maio de 2015

Ontem, dia 25 de Maio, foi dia de festa em Forninhos. Não é uma festa qualquer, é a festa do Espírito Santo, uma romaria antiquíssima. Lembro que em 1758 o Cura local já fala de romagem ao santuário em alguns dias do ano principalmente nos dias Santos do Espírito Santo. Se tiver interesse por estas coisas leia as perguntas dos Serviços do Marquês de Pombal e as respostas do Cura aqui
Se calhar até há outros documentos históricos sobre a importante festa local e regional do Espírito Santo. E, digo regional, porque há forninhenses que vivem fora da aldeia, que contam que foi esta romaria que deu a conhecer Forninhos para além de Forninhos, como ouviam aos mais velhos, segundo dizem... 
Este ano não foi possível estar presente, ainda assim publica-se uma imagem da nossa procissão rumo à Capela da Senhora dos Verdes, a rezar e a pedir a Nossa Senhora que livre as culturas da desgraça das pragas:


Hoje, dia 26 de Maio, foi dia dos forninhenses matarem saudades e ver a imagem da Senhora de Fátima que andou em peregrinação por Portugal e chegou à nossa terra, salvo erro, a 13 de Agosto de 1951. A caminho do centenário, a imagem peregrina voltou a passar hoje de manhã pelos Valagotes e por Forninhos.



Já agora uma nota de rodapé: em 1951 o povo de Forninhos, em procissão foi ao encontro do povo de Penaverde receber a imagem. Encontro esse que aconteceu no 'alto' pertinho da povoação dos Valagotes (anexa de Forninhos) e a partir daí ficou o 'alto dos Valagotes' conhecido também por 'Alto da Senhora de Fátima'. Lançaram-se pombas brancas e existe um azulejo como confirmação desse momento.



Obrigada Henrique Santos Lopes por esta partilha.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

VADE RETRO SATANÁS

"Exorcizamus te, omnisimmundus spiritus, omnis satanica potestas,, omnis incursio infernalis adversaria, omnis legio, omnis congregatio et  secta diabolica, in nomine et virtute Domini Nostri Jesu Christi...".


Deste modo se inicia o ritual do exorcismo maior ou solene desde 1641, de expulsar o demónio de alguém possuído e que até hoje, dizem, se mantém inalterado.
Mas afinal em que consiste este acto tão controverso e antigo em que o pagão se mistura com o religioso?
A Igreja admite, mas apenas em casos excepcionais e rodeados este ritos de determinado secretismo e "oficialmente" à sua revelia, na certeza porém de que apenas poderá ser efectuado por padres de invulgares qualidades nomeados por bispos da diocese. Pelo que averiguei, existem actualmente 12 padres eleitos a nível nacional, entre eles a diocese de Guarda e Viseu. Ou seja, não assume, mas sustenta a autenticidade dos esconjuramentos demoníacos.
Raro nestas e outras coisas, e ver a forma aberta e desafrontada do Padre Fontes "...toda a gente faz exorcismos. Exorcismo é um palavrão, que traduz o que antigamente seria tirar o diabo do corpo...a Igreja acabou com isso há uns anos, embora haja padres que o façam...actualmente o pseudo exorcista é feito por qualquer curandeiro...por conhecimento de meios ou por imitação dos padres. No fundo não é fazer exorcismo, mas uma farsa...". E diz mais este padre mediático "... não acredito em bruxas, feitiços, nem sequer no diabo...em aldeias de miséria, não se pode ficar a olhar para o lado e por tal estas aldeias do interior nunca abandonaram o seu paganismo fundamental que lhes dava curas, mezinhas, vida comunitária e assistência na desgraça e a igreja no alto da sua catedral, nunca entendeu estas gentes e por tal nunca conseguiu que deixassem de acreditar em bruxas e fantasmas...farto-me de dizer as pessoas que essas coisas não existem, mas por aconselhar as pessoas, pensam que sou bruxo...".
Tal como em tantos lugares, em Forninhos também houve exorcistas, mas perguntando por aqui e ali, as pessoas mais velhas, quedam-se pelo silêncio, mesmo que na insistência de "falavam de dois padres, o Pe. Matos e o Pe. Barranha, que tinham o hábito de hipnotizar e fazer esse número, de expulsar os diabos do corpo, mas não sei... se calhar faziam estas coisas mas era a brincar...sei lá...".
Os tais medos que apenas a cova irá tapar, embora digam que este número do exorcismo era feita pelos padres (afinal sabem), mas desviam "que a gente saiba, quem tirava o demónio do corpo, era a bruxa de Dornelas, falavam com a voz dos mortos e em estrangeiro, por vezes eram precisos muitos para os segurar e até chegavam a morder... depois ficavam mansinhos".
Talvez o padre Fontes tenha razão...
Afinal e porventura, tudo terá começado no exorcismo menor, o baptismo que embora com vestes sacerdotais normais, pouco difere do exorcismo solene, nascemos e somos benzidos, a esconjurar o diabo.

sábado, 16 de maio de 2015

Mais uma história de aldeia

Anos 60 do século XX.
Esta é uma história com bastante piada. Foi real, aconteceu mesmo com o ti Zé Carau, um carpinteiro de Forninhos, morador no Outeiro - Forninhos (não digo senhor porque a palavra "senhor" só era usada para referir os proprietários de terras/terrenos de alguma dimensão; os outros eram todos "tio" ou "ti", não sei se me faço entender...).

tia Arminda, ti Zé Carau, ti António Carau, tia Aida e tio Domingos

Pois bem, no mês de Agosto de 1964 a esposa do ti Zé Carau faleceu e por tristeza ou porque pingado (gostava muito da pinga), numa bela e quente noite de Agosto foi para o cemitério e deitou-se numa cova que o coveiro tinha feito para no dia a seguir enterrar um defunto recentemente falecido. Adormeceu; quando acordou ao ver-se deitado no cemitério começou a gritar: "tirem-me daqui...quem m' acode...tirem-me daqui..."; "Ó almas salvai-me...".
O Henrique Freitas, da Quinta da Ponte, aldeia vizinha de Forninhos, que era um dos mais ramboieiros da circunvizinhança, não se preocupava em regressar a casa, com a sua bicicleta, às tantas da noite, de madrugada ou mesmo ao outro dia, ao passar em frente ao cemitério de Forninhos, já altas horas da noite, ouviu os gritos vindos de dentro do cemitério, que ele pensou serem de almas do outro mundo. Apanhou um susto tão grande, que a biclicleta deixou de correr para voar e só aterrou à porta dos seus pais na Quinta da Ponte, sem fôlego e sem fala por alguns momentos.
Só mais tarde quando passou em frente ao cemitério um homem de Forninhos é que reconheceu a voz do ti Zé Carau e lá o tirou da cova.
Conta-se que o Henrique Freitas só voltou a passar em frente do cemitério muito mais tarde, depois de vir a saber que os gritos que ele tinha julgado virem das almas do outro mundo, tinham sido dado pelo Zé Carau de Forninhos.
O episódio fez notícia em todo o país e mais de 45 anos depois o Sr. José da Costa Cardoso da Quinta da Ponte registou no seu livro a história do Henrique Freitas.
Haverá alguma explicação para que esta história perdure no tempo?
Há pelo menos uma...a originalidade.

domingo, 10 de maio de 2015

A residência paroquial de Forninhos

Em tempos idos, o pároco, pastor de Cristo, tinha necessidade de estar perto do seu rebanho para conhecer cada ovelha  pelo seu nome aquando o abordavam por necessitarem de auxilio e podendo a paroquia, era construída a casa paroquial, por norma distinta pela sua imponência, da generalidade das casas térreas e o "passal"!
Ter padre fixo, era algo que carecia de ser sustentado e por tal, o Clero ainda beneficiava de pensões e uma parcela em volta da igreja, uns tantos passos geralmente 70 a que se dava o nome de "passales" e mais 12 destinados ao cemitério .



A paróquia de Santa Marinha de Forninhos e tal como as fotos a negro documentam, teve em tempos o seu auge religioso, bonita casa dos padres ali fixados e rodeados por mordomias tendo por criadas por norma primas, irmãs ou tias solteiras e  que o mais pobre para tal olhando, se sentia tão próximo da igreja ao lado, como do céu e por tal e com respeito, uma hóstia enganava o jejum da barriga que acompanhava no roncar as badaladas do sino.
Para o povo, a casa era pertença do padre e por tal passava de uns para os outros, quando na verdade era propriedade da Igreja, tal como ainda hoje.
Por entre o diminuir de vocações sacerdotais e décadas de emigração, foram acabando os padres residentes, atá a sua extinção na nossa paróquia.


 

Ficou a casa e os terrenos do "Passal", como que por ironia, demonstram as fotos a cores...ao abandono!
Abandonado ultimamente, pois ali tiraram particulares proventos do seu cultivo, até o Centro de Dia ali se ter instalado provisoriamente, porventura na antevisão de que havia uma parcela de terreno da igreja passível de ser destacada em termos de Registo Predial e tal aconteceu. Para a escritura, assinou o sr. padre e gentes da aldeia (modo que desconheço) e o Centro durante tempos foi apanhando a azeitona (da igreja) em seu proveito, deixando ao Deus Dará, os terrenos, videiras e árvores de fruto, pois afinal a obrigação era da Igreja e a azeitona bastava apanhar...
Nunca consegui ver um Centro com uma visão de gestão capitalista tão assertiva e um padre tão alheio a uma paroquia em que tanto os acorda de madrugada para a missa, que devia ser de tarde por solenidade, enfim, como não faz finca pé em prol de uma paroquia que o ajuda. Para tal um pequeno exemplo:
Existe uma propriedade pertença da Igreja de Forninhos, chamado de lameiro da Pontinha. Ali  se encontram as fossas da freguesia da aldeia, por permissão camarária, presumo. Quais as contrapartidas?
Igreja, Centro e Politica, escolham...

Nota: a 1.ª e 2.ª fotos, a negro, foram retiradas daqui:

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Quem se lembra?

Já que Maio é o mês dos burros, será interessante dar a conhecer um dos acessórios do burro, a cangalha. A cangalha era uma espécie de albarda de madeira que era assente no lombo do animal, quer dizer, sobre o dorso assentava uma albarda e as cangalhas assentavam sobre a albarda. Serviam para transportar o estrume (fertilizante orgânico) para as sementeiras, quando os caminhos eram estreitos e não havia os tractores que hoje há!
Acrescento ainda que as cangalhas eram feitas por um carpinteiro, hoje uma das profissões já extinta em Forninhos.

burro de cangalhas
Agora, com sua licença, o porquinho.

pia de pedra
Mãos habilidosas na arte de trabalhar a pedra de certo a executaram esta pia de pedra (granito) igual a tantas outras que serviu de certo viandas sem fim, quer às porcas parideiras, quer aos lustrosos porcos que serviriam de sustento, durante todo o ano, às pessoas da casa.
Agora que as viandas se tornam inúteis, a pia encostada à parede permanece disponível para outras funções, quiçá, um dia servir de floreira num qualquer jardim. Enquanto isso não acontecer esta pedra silenciosa, continuará com muitas estórias ainda por contar.

Urna partida 
Em cada aldeia, há sempre estórias que são transmitidas de forma verbal. Essas estórias têm sempre um fundo de verdade, embora "quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto", mas a história que conto não tem acrescentado.
Há umas dezenas de anos atrás, quando uma retroescavadora, ao serviço da Junta de Freguesia, procedia à abertura de um caminho, foram levantadas algumas urnas - algumas com ossos que se desfizeram com o movimento - e foram levadas dali para servir de bebedouros a animais (ou pias, como popularmente assim chamamos). Há quantos anos lá estavam? Sabe-se lá?
O que sei é que o nosso património precisa de ser protegido e protegê-lo não é levá-lo para lugares que nada têm a ver com ele, aliás, se assim fosse para que serviria o património existente?
As urnas deviam voltar àquele lugar (cemitério medieval de S. Pedro), porque só àquele lugar dizem alguma coisa. A povoação residente de Forninhos pode não ter pessoas interessadas, mas o concelho tem uma Associação de defesa do património, Aquilaris - Património Vivo Aguiar da Beira, que tem o dever de defender o que pertence à comunidade. 

Ah! Aguiar da Beira, sim, foi onde o nosso Primeiro Ministro inaugurou na semana passada uma queijaria e no seu discurso, desatou a elogiar Dias Loureiro, antigo dirigente e um dos principais responsáveis pela fraude do BPN, que causou aos contribuintes um prejuízo superior a 4.700 milhões de euros.

sábado, 2 de maio de 2015

Maio enfeitado de rosas

Ainda que tenham os espinhos, gosto muito de rosas, se calhar até são os espinhos que têm as rosas e não o contrário, seja como fôr, é tal qual a vida, se não tivesse alguns espinhos não tinha beleza nenhuma.
E, porque diz-se que Maio é o mês de Maria, das rosas, das mães (celebramos o "dia da mãe" amanhã, domingo: dia 03 de Maio) lembrei-me de "colher" rosas para todas as mães que passarem por aqui, biológicas e de afeto, desejando um feliz dia e um mês de Maio bom.
Não conheço todas as variedades de rosas, mas do que sei, intitulo-as:

rosas salmão


rosas de "Santa Teresinha"

rosa gallica

rosas amarelas

rosa branca com ligeiro matizado



rosa na cor que leva o seu nome

rosa branca ou champanhe

Também se diz que Maio é o mês dos burros, por tal não queria deixar a oportunidade para dizer que o burro foi um animal muito útil ao longos dos tempos, basta lembrar que transportou Maria e o Menino Jesus; mas pela informação que tenho, não é por esse motivo que Maio era considerado mês dos burros, era por as burras emprenharem neste mês de Maio e como andam doze meses prenhas, os burros nascem em Maio. 
Em tempos idos, em Forninhos até havia o costume de comer-se uma castanha no 1.º dia do mês de Maio, antes de se ver o burro, para não ser enganado e perguntava-se:
- Já comeste a castanha hoje? Senão o burro engana-te!
Se por acaso se esqueceu da comer...se ouvir o burro ou passar por um...