É já amanhã, o dia que nos toca o sentimento numa doçura de alegre nostalgia, o sentir do aconchego do colo, o apertar protetor dos abraços, o remendar de forma cúmplice e conivente as nossas pequenas asneiras, pouco mais que pardalitos agarrados às saias das avós e por debaixo da sombra amiga dos chapéus dos avôs...tal como porventura São Joaquim e Santa Ana, pais da Virgem Maria e avós do Menino Jesus.
Esta fotografia ilustra à data de 1983 os netos da tia Maria da Urgueira e tio Luís da Coelha. Um rio de gente que agora deve ser um oceano de marés de felicidade. Um mundo! Mundo que não precisa do modo comercial com que agora se usa e abusa dos nossos avós, por falta de educação, penso, pois de outro modo bastaria sentir o bem-haja por terem feito parte das nossas vidas e ensinamentos.
Dos meus, infelizmente não conheci o meu avô materno de nome António que "partiu" tinha por volta de nove anos a minha mãe, mas era com toda a certeza homem de bem, pois vejo nos olhos de minha mãe aquando dele fala, um misto de tristeza que se mistura numa saudade infinita mas tranquila.
Da sua parte, tive todo o carinho da minha avó Maria, austera mas dócil e prestável para todos os que a ela recorriam para um conselho ou uma reza por necessidade, fosse ela pessoal ou de animais perdidos. Nasci no colinho dela e com ela dormi até morrer; tinha sete anitos de idade e rezámos os dois ao deitar e levantar.
Mais acima da ladeira que separava as duas casas, a minha avó paterna, Ana do seu nome e o meu avô Francisco.
Dela e já rapazote, sempre recebi o prazer do seu sorriso e mimos e aos domingos, uma moeda para gastar nas festas. Não queria que ficasse "mal-visto".
Dele, é difícil falar por ser um senhor respeitado e mais que avô, amigo e ídolo, queria ser como ele e como éramos companheiros solidários, ia aprendendo aos poucos o que me ensinava sobre o campo, pouco aprendi por culpa própria, mas jamais esqueci a honradez e partilha...
Tinha orgulho no seu neto e no Domingo de Ramos, o meu ramo por ele enfeitado, tudo fazia para ser o melhor.
No dia em que nasci, dizem, foi plantar uma pereira num terreno em Cabreira e quando esta começou a dar frutos, no dia dos meus anos, íamos os dois apanhar o fruto, ainda levado pela mão.
Ainda pequenino fui dado como quase morto e baptizado à pressa e de noite, levado ao colo da minha avó Maria e sem nome defenido, foi o padre que sugeriu, já que ia para debaixo da terra, o nome dos meus avós, em sua homenagem: Francisco António.
Comigo carrego com orgulho, o nome dos meus avós!
Foto de Adelino Coelho
Foto de Adelino Coelho