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quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Forninhos no Museu de Música Portuguesa

O museu de Música Portuguesa tem depositado e disponível para consulta uma parte importante do Fundo de Michel Giacometti composto por romances, provérbios, cantigas, anedotas e outros registos de expressões orais do qual faz parte o conjunto de 233 advinhas designado como advinhatário e nós encontramos duas advinhas dactilografadas (bem antigas!) recolhidas em Forninhos a 21 de Agosto de 1975 que nos vão fazer recordar os tempos em que elas faziam parte da cultura da aldeia, pois todos as sabiam e as utilizavam nas suas conversas.
A informante foi Isabel Vaz, de Forninhos não sabia ler nem escrever.


adivinha simples

Creio que não se dizia "Nem dinheiro há sequer para a colher"dizia-se:

Ó que lindo pucarinho,
Ó que lindo ramalhete,
Nem é cozido, nem é assado,
Nem comido com colher
Não advinhas este ano
Nem pr'o ano que vier
Só s'eu te disser...

R: Romã
adivinha maliciosa

Brinco, brinco, brinco,
Quanto mais brinco, brinco,
Mais a barriga me cresce.

R: o fuso.


Que Isabel Vaz não caia no esquecimento, nem Michel Giacometti.

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Da Cortiçada (Aguiar da Beira, Guarda) ficou registada uma "adivinha erudita":
"Que diferença há entre a videira e a pomba?"
R: A pomba dá borrachos e a videira borrachões". 
O informante foi António dos Prazeres, tinha 58 anos a 16-07-1975.

sábado, 19 de outubro de 2019

Datas Cravadas

Em Forninhos e até à primeira metade do século XX, devia ser normal marcar a data de construção na torça duma porta de entrada; ainda se podem ver algumas, mas duas ou três já foram cobertas com massa.


No final do século XVI, num lagar de vinho parece ter sido gravada de forma rudimentar, a data de 1591.


Do século  XVII: Capela de Nossa Senhora dos Verdes, sem dúvida, 1696


No século XVIII, numa casa rural, está escrita a data de 1783. Mas o último algarismo pode não ser um 3, porque há uma falha na pedra. Também pode haver ali um 3 invertido e seja mil setecentos e trinta e tal...



Séc. XIX: Num forno de cozer pão a data de 1899 entre duas cruzes


Numa casa de habitação do século XX: 1932

Não temos brasões que ostentem riquezas, apenas datas corroídas pelos tempos...

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Os Expostos

O recurso à Roda dos Expostos, pelas famílias carenciadas, para obtenção de subsídios para sustento dos filhos, mostra-nos a miséria em que viveram os nossos antepassados.


Portaria de 14 de Março de 1838, que autorisa a derrama para
a sustentação dos expostos do Municipio da Villa de 
Aguiar da Beira

A Portaria que autoriza a derrama (contribuição repartida ou derramada por todos) permite-me afirmar com segurança que no Município da Vila de Aguiar da Beira também houve Expostos, meninos de ninguém, desespero, vergonha, pobreza, incapacidade parental....
Então porquê o silêncio?
"Os expostos não eram anónimos, ou desprovidos de reconhecimento por aqueles com quem conviviam. É gente que cresce, casa, usa e toma apelidos de diversa origem: da família que o criou, dum padrinho ou duma madrinha, duma profissão que entretanto aprende..." (wikipedia).
No Arquivo Militar, por acaso (só por acaso) encontrei o registo dum soldado de Forninhos, filho de pai incógnito e de Maria Ferreira Coelho, com o apelido "Exposto", nascido em 1846.
Quando li este nome "António Exposto" lembrei-me logo dos meninos enjeitados, mas só o acesso ao registo de baptismo possibiliaria saber se foi mesmo uma criança enjeitada.
Neste momento não me é possível.
Tenho esperança que isso venha a acontecer...seria muuuuiiito interessante saber se existiu uma roda ou casa de Expostos na Vila de Aguiar da Beira, locais de origem das crianças, o número de progenitores que recorriam aos subsídios, etc...

António Exposto; ocupação: alfaiate

Quando encontrei este nome ainda me preocupei em questionar algumas pessoas sobre o apelido "Exposto" e pessoa da família (como de Maria Ferreira Coelho). Ninguém foi capaz de fornecer-me qualquer informação útil, ou seja, nada sabem em Forninhos!
Mas este artigo não deve ser visto como um produto final, mas sim como uma etapa que deverá despoletar novas fontes...

domingo, 13 de outubro de 2019

Polémica em torno do Menino Jesus

Antigamente nos dias de festa, era costume convidarem um padre de fora para fazer o "Sermão", ou seja, a homilia do dia de festa. Normalmente estes "Pregadores" eram quem referiam as histórias dos nossos santos, se calhar por "os santos à porta de casa" as desconherem. Não sei...
Vem isto a (des)propósito do mau estar vivido -este domingo -motivado por uma postura algo anormal do actual pároco - Jorge Miguel Tavares Gomes - que há cerca de dois anos o Senhor Bispo de Viseu colocara em Forninhos e agora decidiu ou autorizou vestir o "nosso" Menino Jesus.
Não é um padre ou meia dúzia de pessoas que o cercam que mandam nos bens da Igreja!


O Pe. Jorge é visto por mim mais como um ditador, do que um bom pastor. 
A visão mais marcante que tenho dele é dos "recados" no final da missa, que a maior parte da assembleia nem compreende, mas que punha, durante a semana, grande parte das mulheres a falar do assunto.
Não acho correcta esta forma do padre interagir com este povo, maioritariamente envelhecido, até porque os forninhenses já deram provas, ao longo da sua história, de serem ordeiros, respeitadores dos valores da igreja bem como do seus pastores, para ali designados. A prová-lo estão os três últimos párocos: dois deles (Sr. Pe. Barranha e Sr. Pe. Flor) estiveram décadas à frente da paróquia e o último (Sr. Pe. Paulo Gouveia), até abandonar o sacerdócio, depois de meia dúzia de anos ao serviço da comunidade.
Diz a nossa história que nos finais do século 17 e principios do século 18, na nossa igreja matriz existiam dois altares colaterais, um dedicado ao Menino Jesus e outro a Nossa Senhora do Rosário e o altar-mor dedicado à padroeira Santa Marinha (ladeada por São Sebastião e por Santo António carregando ao colo o menino nu).
Na última metade do século 20, muitas imagens desapareceram, é certo, mas o Menino Jesus manteve-se até hoje no seu altar, despojado de tudo, na sua pureza e humildade como veio ao mundo e nunca o povo o achou "impróprio" nem o Mártir S. Sebastião é indecoroso!
Nem queria acreditar, mas parece que foi esse o motivo porque este ano ambas as imagens não fizeram parte da procissão dedicada a Nossa Senhora dos Verdes.
"A maldade está nos olhos de quem vê" 

domingo, 6 de outubro de 2019

Profissão:Cardador

No dizer de Aquilino, que vestiu de capucha o corpo fecundo de Brízida, a paciente esposa do Malhadinhas e de capucha se vestiu Joana, na Serra da Lapa, pastorita eleita para ver Nossa Senhora "a capucha de burel gerada provavelmente em longeva idade a partir do saio lusitano, permanece como vestimenta de generoso uso até ao fechar das portas do século XX. Ciranda com elas mulheres nas voltas do povo, nos caminhos da fonte ou do ribeiro onde vão lavar, na ida à feira quando o tempo se oferece, na rotina do serão(...) As raparigas essas levam a capucha para o monte quando à meia tarde partem com o gado(....) que por lá deixam a pastar. Os homens cobrem-na a desoras enquanto vigiam a vinha antes da vindima, o pinhal armado para a colha da resina ou as àguas de lima nos lameiros".

moça com capucha de burel a cardar lã

Antes que os mais novos pensem que isto são puras fantasias, posso dizer-vos que  tudo isto é verdade; da lã caseira das ovelhas tosquiadas, se fazia a capucha de burel para durar vidas e outra roupa de lã com que os habitantes das nossas aldeias se livravam do frio.
Churra, era lavada. 
Depois vinham as cardas num demorado pentear e, armada em velos, demorava um inverno inteiro a fiar. 
Urdida a teia, "bate-que-bate, luz da candeia, o sono esquecido ao cantar, iam crescendo as varas de pano no tear" (Aquilino Ribeiro).
Só depois vinha o pisão, engenho tosco e primitivo todo armado em madeira, movido pela força da água, em regra dentro de toscos casebres.
Era através deste instrumento que se sovavam os tecidos de lã para ganharem firmeza, pois, quando os panos de lã saem do tear apresentam-se frágeis, com pouca consistência, desfiando-se com facilidade. 
Depois deste tratamento do tecido é que se talhavam as mantas para uso domésticos e os búreis.
Sobre o rio desta terra o Cura de Forninhos, Baltazar Dias, em 1758, não respondeu se tinha moinhos, lagares de azeite, pizoens, noras, ou outro engenho, então fui ler outros documentos antigos, podia não haver pizões, mas podia haver alguém ligado à profissão, um pisoeiro, por exemplo. Quando falamos nestas profissões a nossa mente está mais a pensar no mundo masculino. «Nada»
Mas encontrei um documento que refere um cardador em 1794:
- José Esteves, filho de Inácio Esteves, de Forninhos, Penaverde
O documento não diz se era também pastor ou tosquiador sei que diz:
- profissão: cardador.
Serve portanto, este artigo para lhe prestar a minha  humilde, mas sincera homenagem.
Agora se comprava ou vendia a lã depois de desenriçada, antes de ir ao tear? Eu creio que sim. 
Mas também é possível que tivesse um tear (em algumas casas havia teares) saísse com a trouxa às costas...caminhos velhos...para proceder ao pisionamento e depois batesse à porta de algum alfaiate.
Ao mesmo tempo, também com o apelido "Esteves", entre  1790 e 1795, encontrei 2 (dois) alfaiates de Forninhos:
-António Joaquim Esteves e Luís Esteves.
Isto até podia ser um negócio de família(?)!!
Sendo assim, o cardador, José Esteves, podia muito bem ir até Dornelas, porque o Cura de Dornelas, José de Campos, sobre o rio respondeu como transcrevo: "Tem em si vários engenhos como são pizões, moinhos, lagares de azeite."