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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Vimos desejar um Ano Novo Bom


Vê-se bem que a imagem acima não é de Forninhos...nem do tal "Forninhos com Futuro", mas isso agora não interessa nada e nem eu me vou alongar na descrição do sentido da imagem...cada um pense o que quiser sobre...
Sem mais achegas, porque é tradição FELIZ 2015 A TODOS!

PS- A imagem é do Google.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Feliz Natal 2014

Ande o frio por onde andar, pelo Natal cá vem parar


Os interesses comerciais, estão a sobrepor-se ao verdadeiro espírito natalício. E nós sabemos que é verdade. Nas aldeias beirãs, felizmente as tradições ainda se vão mantendo. Por exemplo, as filhoses ainda são um doce com presença obrigatória na mesa do natal. Têm uma cor de sol, dada pela fritura, com um toque areado dado pelo açúcar que se polvilha sobre elas. 
Feitas em cada casa, a base deste doce é a farinha de trigo e fermento de padeiro, a que se acrescentam os ovos caseiros e algum azeite e aguardente q.b.. Depois de levedada a massa é separada em pequenas porções que se trabalha com as mãos de forma a ficar esticada/espalmada, de seguida é levada a fritar em azeite (ou óleo) bem quente e é ficar a vê-las crescer e...salivar. 
Quando estão no ponto de fritura, que é quando atinge uma cor dourada, retiram-se e num prato grande são polvilhadas só com açúcar (ou com uma mistura de açúcar e canela). É neste momento que sabe bem saborear a primeira. 
Entretanto, é meu dever informar que a panela de ferro de três pernas, não faz parte do contexto das filhoses, mas ela é um adereço indispensável para evitar o calor excessivo a quem as está a "esticar" ou a "virar". Quem já participou nesta tarefa, facilmente compreenderá a presença da dita cuja. 
É um belo "serão" passado em família a fazer as filhoses.

Votos de um Feliz Natal 2014 para os forninhenses e para todos os nossos visitantes, amigos bloguistas com filhoses e tudo a que o Natal tem direito.


***BOAS FESTAS***

sábado, 13 de dezembro de 2014

Os artistas

Artista é quem domina uma arte. Artista é quem vive uma arte. Artista é quem vive de uma arte. Hoje quando dizemos a palavra «artista» falamos de palcos, telas pintadas, pedras esculpidas. Mas nem sempre foi assim. Dantes, em Forninhos, artistas eram os profissionais que iam às casas das pessoas resolver problemas: do telhado, duma parede, duma porta...

Homenagem ao tio Ismael Lopes - Pedreiro. Escultura do artista Laiginhas
pertença de Henrique Lopes
«É preciso arranjar a parede. Temos de chamar um artista». Ou então: «É melhor chamar cá o artista para arranjar a porta». O artista era o profissional que sabia reparar coisas e que a troco de quase nada dava um jeito no que funcionava mal. O artista era aquele que se chamava para pequenas obras, pequenas reparações. Havia artistas de vários ramos: o pedreiro vinha arranjar uma parede, o tanoeiro (hoje sei que se chama assim) arranjava tudo o que era dorna, pipo ou pipa, o carpinteiro vinha tapar um buraco do soalho.
Usavam ferramentas muito apropriadas às suas tarefas, cada artista tinha as suas ferramentas específicas, adequadas à sua arte. Por exemplo, o carpinteiro? Quem mais tinha aquele operacional serrote ou aqueles martelos feitos de madeira, para já não falar da magnífica plaina?

plaina do meu tio António Carau - carpinteiro
Mais tarde, seguramente depois de 1959 aparece, por imposição do progresso, outro ramo de «artistas». Nesse ano foi inaugurada a electricidade nas ruas de Forninhos. A pouco e pouco, as casas foram sendo dotadas desse benefício. Aí, começam a surgir novas avarias e surge uma nova casta de «artistas»: os que sabiam mexer no chamado «quadro» e no chamado «fio».
Mas hoje quando dizemos a palavra «artista» já falamos de pedras esculpidas. Este artista chega ao local da obra e tem toda a autonomia. Faz o que precisa fazer e tem carta branca. 
Tira cada apetrecho necessário, mexe-se com precisão e com exactidão. Em serviço, conversa menos do que é habitual.
Tem todo o espaço por sua conta. Toda a gente se afasta. As pessoas, mesmo que estejam a ver como é que a coisa se desenvolve, apenas conversam baixinho. É um ambiente típico.
O artista é o artista!
S. Matias - Contributo da CF S. dos Verdes - Ano 2013
Monumento aos Combatentes do Ultramar, em Forninhos
Comemorações dos 500 anos do Foral de Carapito -Aguiar da Beira
Matança, Fornos de Algodres - Comemorações dos 500 anos do Foral
Outros artistas que apareciam em Forninhos 2 ou 3 vez por ano eram os artistas do circo e esta é uma imagem muito forte na minha memória, o circo e seus artistas que vinham divertir-nos a todos em Forninhos dos anos 70/80. Um pouco de música, um pouco de trapézio, umas anedotas e muita expectativa de todos e uma grande noitada de correrias dos pequenos (nós) pelo largo da aldeia (da Lameira). 
Vinham numa carrinha velha.
Agora já não vem o circo, mas há mais palhaçada que nunca!, sem menosprezo pelos profissionais, claro. Esses artistas sabem melhor que ninguém que para manter o povo calmo, amorfo, basta dar-lhes diariamente panem er circenses (pão e circo).


Nota: as obras apresentadas foram feitas pelo artista José Maria Laijinhas, da Ponte do Abade e são contributo do Henrique Lopes (neto de Ismael Lopes). Bem-haja.

sábado, 6 de dezembro de 2014

"QUANDO OS LOBOS UIVAM"

Relatório N.º 6282 (7 de Fevereiro de 1959) relativo a
"QUANDO OS LOBOS UIVAM"

Corria o ano de 1958 quando Aquilino Ribeiro publicou o seu livro-choque "QUANDO OS LOBOS UIVAM". "Aquilino gostava das verdades duras como punhos". Ler mais em:
Esta semana, o blog dos forninhenses publicou também um post-choque "OS FILHOS DO CENTRO" que, certamente, desconheciam que no seio de uma população iletrada e ignorante, há gente capaz de se não calar, apesar do preço a pagar. O enredo do livro-choque de Aquilino Ribeiro, retrata a época do Estado Novo (a história tem lugar nos finais dos anos 40 e início dos 50 do século XX) e retrata a saga dos beirões em defesa dos terrenos baldios. Mas sobre os baldios virá um dia destes outro post-choque, pois como dizia Aquilino: "A serra foi dos serranos desde que o mundo é mundo, herdade de pais para filhos. Quem vier para no-la tirar connosco se há-de haver."
Então...nos nossos dias, Portugal vive num regime bem diferente, onde a liberdade de expressão faz parte dos direitos democráticos, só que a gente nova de Forninhos não aceita críticas, mostrando que prefere viver na ditadura; tal como uma alcateia que sente indefeso o rebanho, surgem de novo na ribalta, vozes/nomes que, se tivessem alguma vergonha, deveriam permanecer no anonimato, mas não, em pleno Inverno descem da montanha em cujo cimo se refugiam, espreitando a oportunidade do retorno...
Em Forninhos, já se sentem os uivos dos lobos predadores, sedentos de carne. Andam sobejos - quer dizer ousados, atrevidos - pois resfastelam-se com os pratos fartos, convencidos de que poderão voltar ao repasto, sempre que lhes apetecer. É vê-los aos domingos, de pêlo luzidio e dentes afiados, porque é sempre assim quando se ouve o uivar dos lobos.

TRANSCRIÇÃO do Relatório/Censura N.º 6282 (7 de Fevereiro) relativo a "QUANDO OS LOBOS UIVAM" DE AQUILINO RIBEIRO, 
no blog Ephemera - Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira

"Quando os Lobos Uivam"

«O autor intitula este livro de romance, mas com mais propriedade deveria chamar-lhe de romance panfletário, porque todo ele foi arquitectado para fazer um odioso ataque à actual situação política.
Escrito numa prosa viril, classifica o governo de "piratas" e descreve várias Autoridades, Funcionários, Polícia, Guarda Republicana e Tribunais em termos indignos e insultuosos.
Um interrogatório num posto da G.N.R. e uma audiência dum Tribunal Plenário, são focados de uma forma infamantes.
São desnecessárias mais citações, porque basta folhear o livro, encontra-se logo matéria censurável em profusão.
É evidente que, se o original tivesse sido submetido a censura prévia, não teria sido autorizado, porque é, talvez, a obra de maior ataque político que ultimamente tenho lido.
Sucede, porém, estou disso certo, que já devem ter sido vendidos muitas centenas de exemplares, e muitos outros também, já devem ter passado a fronteira, por isso, deixo ao esclarecido critério de V.Exa., decidir se nesta altura, será de boa política mandar apreender o livro, fazendo-lhe (...)».
Com base no Relatório, lê-se, foram tomadas as seguintes decisões:
«1) Não autorizada a reedição;
2) Não permitidas críticas em imprensa;
3) Apreender os poucos exemplares que, possivelmente, existam (...)».
Despacho assinado pelo censor.

-/-
Apesar das decisões acima, não devem ter apreendido muitos porque há pelo menos mais de 500 primeiras edições assinadas pelo autor e a venda pela Bertrand esgotou quase no fim de 1958. Dos exemplares editados restavam menos de 100 a 31 de Dezembro de 1958 em armazém. Aquilino sempre vendeu bem no Natal, excepto 1996 e seguintes.