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Relatório N.º 6282 (7 de Fevereiro de 1959) relativo a "QUANDO OS LOBOS UIVAM" |
Corria o ano de 1958 quando Aquilino Ribeiro publicou o seu livro-choque "QUANDO OS LOBOS UIVAM". "Aquilino gostava das verdades duras como punhos". Ler mais em:
Esta semana, o blog dos forninhenses publicou também um post-choque "OS FILHOS DO CENTRO" que, certamente, desconheciam que no seio de uma população iletrada e ignorante, há gente capaz de se não calar, apesar do preço a pagar. O enredo do livro-choque de Aquilino Ribeiro, retrata a época do Estado Novo (a história tem lugar nos finais dos anos 40 e início dos 50 do século XX) e retrata a saga dos beirões em defesa dos terrenos baldios. Mas sobre os baldios virá um dia destes outro post-choque, pois como dizia Aquilino: "A serra foi dos serranos desde que o mundo é mundo, herdade de pais para filhos. Quem vier para no-la tirar connosco se há-de haver."
Então...nos nossos dias, Portugal vive num regime bem diferente, onde a liberdade de expressão faz parte dos direitos democráticos, só que a gente nova de Forninhos não aceita críticas, mostrando que prefere viver na ditadura; tal como uma alcateia que sente indefeso o rebanho, surgem de novo na ribalta, vozes/nomes que, se tivessem alguma vergonha, deveriam permanecer no anonimato, mas não, em pleno Inverno descem da montanha em cujo cimo se refugiam, espreitando a oportunidade do retorno...
Em Forninhos, já se sentem os uivos dos lobos predadores, sedentos de carne. Andam sobejos - quer dizer ousados, atrevidos - pois resfastelam-se com os pratos fartos, convencidos de que poderão voltar ao repasto, sempre que lhes apetecer. É vê-los aos domingos, de pêlo luzidio e dentes afiados, porque é sempre assim quando se ouve o uivar dos lobos.
TRANSCRIÇÃO do Relatório/Censura N.º 6282 (7 de Fevereiro) relativo a "QUANDO OS LOBOS UIVAM" DE AQUILINO RIBEIRO,
no blog Ephemera - Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira
"Quando os Lobos Uivam"
«O autor intitula este livro de romance, mas com mais propriedade deveria chamar-lhe de romance panfletário, porque todo ele foi arquitectado para fazer um odioso ataque à actual situação política.
Escrito numa prosa viril, classifica o governo de "piratas" e descreve várias Autoridades, Funcionários, Polícia, Guarda Republicana e Tribunais em termos indignos e insultuosos.
Um interrogatório num posto da G.N.R. e uma audiência dum Tribunal Plenário, são focados de uma forma infamantes.
São desnecessárias mais citações, porque basta folhear o livro, encontra-se logo matéria censurável em profusão.
É evidente que, se o original tivesse sido submetido a censura prévia, não teria sido autorizado, porque é, talvez, a obra de maior ataque político que ultimamente tenho lido.
Sucede, porém, estou disso certo, que já devem ter sido vendidos muitas centenas de exemplares, e muitos outros também, já devem ter passado a fronteira, por isso, deixo ao esclarecido critério de V.Exa., decidir se nesta altura, será de boa política mandar apreender o livro, fazendo-lhe (...)».
Com base no Relatório, lê-se, foram tomadas as seguintes decisões:
«1) Não autorizada a reedição;
2) Não permitidas críticas em imprensa;
3) Apreender os poucos exemplares que, possivelmente, existam (...)».
Despacho assinado pelo censor.
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Apesar das decisões acima, não devem ter apreendido muitos porque há pelo menos mais de 500 primeiras edições assinadas pelo autor e a venda pela Bertrand esgotou quase no fim de 1958. Dos exemplares editados restavam menos de 100 a 31 de Dezembro de 1958 em armazém. Aquilino sempre vendeu bem no Natal, excepto 1996 e seguintes.