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sábado, 31 de dezembro de 2022

Fim de ano, começo de novo ano

Por Laura Costa lembramos ainda as Janeirinhas, uma tradição seguida por grandes e pequenos no começo do novo ano e que o nosso próprio imaginário ainda mantém bem viva, do Forninhos de outros tempos.


Cantando as Janeiras

Ao fim de cada quadra as crianças (nós) cantava-mos:

Pastores, Pastores
Vinde todos a Belém
Adorar o Deus Menino
Que a Nossa Senhora tem



Adoração dos Pastores

Bom 2023

Agradeço, de coração, aos proprietários dos blogues a presença em mais esse ano. Tivemos ainda 38 postagens!!
Desejamos que todos passem um Fim de Ano sem sobressaltos e muito feliz. 
Que o Ano Novo que aí vem, ao contrário das expectativas, seja uma agradável surpresa para todos.
Para quem nos visita e lê, Boas Entradas e Felicidades para o ano inteiro.
Desejamos ainda para Forninhos um Próspero Ano Novo e que cada forninhense faça/realize aquilo que sonha.

2023 um Novo Ano que se anuncia...

sábado, 24 de dezembro de 2022

Feliz e Santo Natal 2022

A acompanhar os votos de um Santo e Feliz Natal 2022 deixo-vos mais uns belos postais da artista Laura Costa, com as nossas tradições de Natal do século passado.


Consoada infantil 

A véspera de Natal era o dia das filhós, muitas filhós. Na tarde desse dia já o cheirinho se espalhava pelas ruas de Forninhos. Sabia mesmo bem comer uma acabada de fritar, quentinha, polvilhada com açúcar...e no fim lamber os dedos.
De seguida a preparação da ceia: bacalhau, batatas, couves e azeite. 


Ida para a Missa do Galo

Esta missa era celebrada à meia-noite em ponto, hora que se diz que Jesus terá nascido e porque há a teoria ou lenda que conta que o galo foi o primeiro animal a presenciar o nascimento Deste, por isso ficou com a missão de anunciar ao mundo o nascimento de Cristo através do seu canto.


Sapatinho

E lembrava às crianças que antes de dormir era necessário colocar o sapatinho, pois o Menino Jesus iria chegar e deixar pequenos chocolates e aquelas meias que iríamos calçar no Natal.
A noite terminava cantando e beijando o Deus Menino que se fez homem para nos salvar.


Menino Jesus distribuindo prendas

Na manhã de Natal, aos saltos pela casa, descalços ou em chinelas, procuram as suas prendas, tão belas...

Meninos felizes


Confraternização



Cântico de Natal

Para todos aqueles que nos têm visitado, desejo uma boa época natalícia, que as tradições se cumpram com alegria, solidariedade e paz e que todos os sonhos se realizem com sucesso e saúde.

Feliz e Santo Natal 2022

domingo, 11 de dezembro de 2022

Traje da Beira Alta

Em 1977, com o patrocínio da OLIVA foi editada uma coleção de 16 postais com a temática de trajes portugueses femininos, das regiões portuguesas, insulares e ultramarinas. As ilustrações são de Laura Costa, de quem temos falado. Esta artista caracterizava com frequência o tipicismo dos trajes portugueses que os utilizou em muitos dos seus desenhos e foi com saia de lã com riscas escuras, avental do mesmo tecido, blusa branca, colete de rabichos de pano azul, lenço de chita garrida, capucha de burel, mitenes de lã, meias brancas e chinelas, que retratou a região da Beira Alta.



Gosto da caracterização, só que eu não me lembro de em Forninhos haver este traje de mulher ou um traje próprio. Já escrevi alguma coisa sobre o nosso trajar e dizia então que as roupas interiores eram de linho, cada família cultivando o seu linhar e a roupa de fora, era de burel, batido no pisão. As mulheres para além da capucha de burel para se livrarem do frio e das saias pelo tornozelo, usavam avental com duas algibeiras, uma de cada lado, lenço preto na cabeça ou um "caichené" todo enramado, também usavam ao domingo mantilha e xaile de merino; nos pés, umas chinelas ou tamancas.
Na minha infância, algumas velhas ainda usavam essas saias compridas, xaile e lenço atado no pescoço ou atrás da cabeça ou ainda no alto da cabeça (tipo orelhas de lebre), mas não me lembro de vê-las com mitenes e admirar-me-ia que as suas avós os usassem. Mas para Laura Costa ter este conhecimento não seria indiferente a convivência com Fernando de Castro Pires de Lima, médico, professor, escritor e etnógrafo português, de que foi ilustradora de vários livros infantis adaptados de histórias populares por este.
Ocoletes com rabicho ou corpetes e meias brancas eram peças que apenas eu via no Entrudo ou em momentos "folclóricos".
As mulheres de Forninhos pouca roupa possuíam do que a que andava no corpo e a de ir à missa. O vestuário era praticamente reduzido a duas mudas: a de trazer a cote e a das festas, dos casamentos e dos enterros - incluindo o da própria, porque para a mortalha era sempre guardada a roupa melhor que tinha.
Mulher viúva vestia roupas pretas por todo o resto da sua vida.

domingo, 4 de dezembro de 2022

Natal Em Portugal (1977)

Laura Costa também ilustrou a capa de um disco de Natal, de Shegundo Galarza, um músico de origem espanhola e que em Portugal teve uma longa carreira de 54 anos. 


É uma casa portuguesa com certeza!!


De entre os doze temas do disco escolhi "Natal em Portugal", uma vez que aborda memórias muito queridas e saudosas.



Carreguem no play e ouçam a música e o coro



Sugestão: Depois vão ao Youtube e ouçam as outras...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Advento

Já por diversas ocasiões aqui publiquei os postais de Natal da ilustradora Laura Costa, porque a sua arte remete-me para circunstâncias próprias da infância na minha aldeia.
Deixo mais uns relacionados com o Advento, do tempo em que pelos vistos havia muito azevinho (1948).


Amor

Na minha meninice, por acaso, quando se pensava em Natal, pensava-se em musgo e não em azevinho, mas o sentido é o mesmo. 
E pensar que hoje, tanto o azevinho como o musgo, são espécies protegidas, devido à excessiva procura para fins ornamentais na época natalícia!!


Iluminações ao Alto

A iluminação foi ligada. Os tempos podem ser de crise, mas o Natal é luz! 


Preparação do Presépio

Todos já estão no seu lugar. Está tudo a postos para a vinda do Menino.
Continua...
Dezembro é o mês do Natal e sempre que se proporcionar irei publicar mais algumas ilustrações da artista Laura Costa...espero que apreciem.

sábado, 26 de novembro de 2022

"A Morte Chega Cedo"

Foi em Setembro que Forninhos se despediu de mais um filho da terra, o João tinha 55 anos e faleceu no dia 4 de Setembro. No passado dia 24 de Novembro seria de cantar o seu aniversário e apagar as 56 velas.
Ontem, 25 de Novembro, ao falar com a minha mãe, soube que Forninhos sofreu mais uma perda, faleceu a São, que tinha a minha idade, 51 anos.
Dois amigos que Deus levou de forma inesperada!
Grande turbulência que vai na minha cabeça! Parece ficção. 
Até sempre amigos. 
Descansem em paz
🕊️🕊️
À família da São, os meus sentimentos e um abraço de solidariedade nesta hora má.
A ti, grande amigo João, Parabéns. As minhas memórias não deixarão que tu morras...(para quem crê na doutrina cristã como eu, não faz sentido tudo acabar depois da morte).


Em Vossa memória deixo os meus crisântemos que eram as flores que enfeitavam as campas dos cemitérios no mês de Novembro e uma bela mensagem de Fernando Pessoa, que fala sobre a existência humana.

"A Morte Chega Cedo".

A morte chega cedo,
Pois breve é toda a vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.

O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.

E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.

sábado, 19 de novembro de 2022

Gente Nossa

Tenho ainda lembrança da bisavó Casemira, de saias compridas, a quem chamavam tia Caniça (Forninhos tinha e tem uma alta imaginação de apor alcunhas, não só a todo o nativo, mas também a todo o estranho que entre em contato com a comunidade).
Era viúva e vivia em casa dos meus avós maternos. Já teria uma certa idade, mas só agora lhe contei os anos. Tinha 84 anos quando faleceu, no dia 1 de Setembro de 1978.
Da sua genealogia apenas sabia que era prima do ti Bartolomeu, que também ainda conheci. Então tive de voltar às investigações...

Nasceu a 23 de Dezembro de 1894


Foi Batizada no dia de Natal de 1894

Era a filha mais nova de Francisco de Almeida e de Elisa dos Prazeres da Costa
Neta paterna de António de Almeida e de Maria Albuquerque, ambos naturais e residentes em Forninhos.
Neta materna de José da Costa, de Forninhos e de Antónia Prazeres, de Dornelas.
Irmã de:
António, nascido a 01-01-1897 (emigrou para o Brasil)
Alzira, nascida a 22-10-1899 e que faleceu com 2 anos de idade
Diogo, nascido a 01-07-1902 (emigrou para o Brasil)

Casou no dia 24 de Abril de 1913

No Posto do Registo Civil de Forninhos, com Maximiano Guerra, filho de José Guerra, alfaiate, de Forninhos e Emília Mota, da Matança. 

Casemira com a filha, genro e netas: Ana e Ema

O casal teve apenas uma filha, uma rapariga de nome Maria de Jesus Guerra (minha avó). 
Teve 7 netos e o maravilhoso é que a avó Casemira amava todos da mesma forma. 
Depois de ter criado a filha, o destino reservou-lhe a missão de tratar dos netos:
-José, casou na Matela
-Ana
-Augusta
-Profetina, casou na Matela
-Lurdes
-Luis
-Ema (minha mãe)

Dos 15 bisnetos ainda conheceu 13.

Os seus avós paternos, António de Almeida e Maria Albuquerque, ambos naturais e residentes em Forninhos, terão casado na 2.ª metade do século XVIII, foram os pais de, pelo menos, sete filhos:

Batizado de Francisco Almeida

1-Francisconasceu a 01-12-1865 e foi batizado a 17-12-1865. Com 27 anos de idade casou com Elisa dos Prazeres da Costa, de 19 anos, filha de José da Costa, de Forninhos e de Antónia Prazeres, de Dornelas. Faleceu a 01-10-1934.
2- José, nasceu a 01-10-1868 e foi batizado a 15-10-1868; faleceu a 27-11-1936.
3-Maria, nasceu a 16-03-1871 e foi batizado a 02-04-1871. Com 25 anos casou com António Bartolomeu de 42 anos de idade. O casamento realizou-se no dia 28-01-1897. António Bartolomeu era filho de Maria Ferreira e de Manuel da Fonseca Bartolomeu, ambos de Forninhos.
4-Luís, nasceu a 03-12-1873 e foi batizado a 21-12-1873; faleceu com 6 meses a 21-07-1874.
5-Diogo, outro filho do casal, nasceu a 02-03-1876 e foi batizado a 26-03-1876; casou com 29 anos com Arminda Pina, de 21 anos (eram primos); ele faleceu a 05-09-1947. Arminda Pina era filha de Maria Moreira e António Pina, ambos de Forninhos.
6- Albertonasceu a 07-12-1879 e foi batizado a 18-01-1880; faleceu a 29-01-1950.
7- Luís (2.º do nome), faleceu com 18 meses a 28-07-1886.

Casamento de Maria e António Bartolomeu

Os seus avós maternos, o José da Costa, de Forninhos e a Maria dos Prazeres, de Dornelas, foram também pais de:
1- José, foi o padrinho da bisavó Casemira e à data era solteiro.
2- António, casou com Felismina Marques, filha de António da Fonseca Marques e Maria da Fonseca, vide família Marques. Este casal teve, pelo menos, uma filha chamada Alzira.
3- Júlia. Seria a Júlia dos Prazeres que casou com Alípio Batista? 

A família do marido:

Os sogros, José Guerra, alfaiate, de Forninhos, que faleceu a 18-09-1908 (tinha 60 anos), e Emília Mota, sabemos que tiveram três filhos que chegaram à idade adulta, netos paternos de Francisco de Andrade e Maria Guerra, ambos de Forninhos e maternos de José de Sousa e Joseffa Mota, ambos da Matança:

Emídio, nascido a 29-12-1878 (seria o pai da tia Purificação? a esposa do José Melo, moradores em Viseu, pais dos primos Américo e Esperança?)
Maria, nascida a 30-07-1882, mas quis Nosso Senhor levá-la com 10 meses
Maria, segunda do nome, nasceu a 05-11-1884 e foi batizada em Forninhos no dia 11-01-1885. Não sabemos se sobreviveu. De 1 de Junho de 1859 a 6 de Janeiro de 1888 os registos são muito difíceis de ler, foram todos feitos pelo Cura Francisco de Almeida Coelho, que tinha uma letra mais arcaica que a do Cura Baltazar Dias (1758). E, de 6 de Janeiro a 28 de Fevereiro, o Pároco Joaquim de Almeida Coelho tinha uma letra quase tão má como a do pároco anterior (pelos sobrenomes talvez fossem irmãos).
Maria de Jesus, nasceu a 15-04-1888. Casou a 20 de Maio de 1920 com José dos Santos Albuquerque, conhecido por "Zé Rito", pais de Júlia "Rito" esposa de Augusto Marques. Faleceu a 11 de Setembro de 1958.
Maximiano, nascido a 29-01-1892, marido da bisavó Casemira. Sabia ler e escrever, mas teve uma vida curta; faleceu no dia 01 de Agosto de 1928, tinha 36 anos. Morrer aos 36 anos é muito cedo!

Batismo de Maximiano Guerra

Para quando um cemitério memorial, a ressuscitar/imortalizar todos os esquecidos que deixaram pegadas por esta terra?
Houve enterramentos no adro da igreja.

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Nossos 13 anos

Faz hoje 13 anos que dei o alerta de que para compreender o presente é preciso primeiro conhecer o passado e, desde então, todos os anos nesta data, dia 9 de Novembro, lembro esta premissa e este 13.º ano não vai ser exceção, por isso, do baú sai mais um clique do século passado, do tempo quando as máquinas fotográficas ainda eram um artigo raro em Forninhos, daí a atenção e o ar sério dos interessados no passarinho


À frente está o meu pai, o Samuel, o meu tio António, penteadinho de risco ao lado, e de laçarote no cabelo, a Natália, minha madrinha. Lá atrás, encostadas à porta de madeira, estão as minhas tias Júlia e Margarida. 
Foi há setenta anos? Não sabemos a idade exata da foto, encontrada pelo meu primo Ricky entre os documentos da minha tia Margarida e facultada pela minha madrinha, mas já lá vão com certeza seis décadas; o meu pai está quase a fazer 78 anos e graças a esse extraordinário invento que foi a fotografia, todos podemos ver como "eram os homens e mulheres de amanhã" e fica demonstrado, mais uma vez, que o passado rejuvenesce as nossas lembranças da infância: vejo a enorme teia de primos, de tios e outros familiares e até de vizinhos, que compunham os quotidianos da nossa aldeia, com os trabalhos do campo, a escola, a catequese, a animação domingueira, as festas...
Saudades....
Bem hajam tias Margarida, tia Natália e primo Ricky por mais uma foto que aqui deixam ao povo de Forninhos e para a posteridade. 
Bem-Haja XicoAlmeida pela tua persistência. Os anos passam no mundo real (e virtual) e só o que é forte perdura. 
Durante este longo percurso de 13 anos, foram publicadas, até ontem, 971 entradas e 19.218 comentários no nosso Blog! Tudo isto é obra!
Bem hajam todos pela vossa companhia e amizade, que se não fosse desta forma virtual, provavelmente nunca aconteceria.
Parabéns a quem festeja esta data, 09/Novembro🎈
Vamos continuar por aqui...

domingo, 30 de outubro de 2022

É uma cidade (um castanheiro)

Se há coisas muito bonitas e que merecem ser recordadas todos os anos: são as castanhas e os castanheiros. Aquilino Ribeiro numa entrevista dada a Igrejas Caeiro descreve-nos com uma grande sensibilidade o lugar onde nasceu:
- Eu nasci no meio dos castanheiros, na zona dos castanheiros. Sabe que o castanheiro é uma árvore bonita, uma árvore da força e da beleza...
- Frondosa... A árvore mágica não parece estranha ao entrevistador!...
- Mais que frondosa. Um castanheiro é uma cidade. É uma cidade para os pássaros. Há o peto real, há a poupa, há o melro, que fazem o ninho nos castanheiros...
Aquilino parece ter descido à sua infância. 
- É um pequeno mundo...Parece que o entrevistador tem também um coração de menino!...
- Absolutamente. É um perfeito mundo. E depois as pastoras que vêm, com os seus tamanquinhos, britar o ouriço, com os britadores especiais, com a sua capuchinha para apanhar as castanhas, todas as manhãs, quando vem um bafo de vento. Tem muita graça. E quando elas se começam a rir?!...A castanha é uma coisa muito bonita!...
Como não há duas leituras iguais e depois, a cada época sua leitura, hoje ao ler esta entrevista lembrei-me dos meus avós, tias e tios que já partiram...
Havia um souto, herança do meu avô Cavaca, no terreno da Moradia; as minhas tias, Júlia e Margarida, foram para lá muitas vezes apanhar as castanhas logo pela manhã, antes de seguirem para a escola, ainda com o terreno orvalhado da noite, pois quando as castanhas estão na sua força de cair (estou agora a escrever como se ainda lá houvesse castanheiros, atenção: não há!) tinham de ser apanhadas duas ou três vezes ao dia para que mãos alheias não se aproveitassem delas. 
A pobreza levava muita gente a apoderar-se do alheio, sobretudo do que era menos comum haver na aldeia. 
A partir da apanha qualquer pessoa poderia ir lá fazer o rebusco

Foto retirada da net

Reforçamos, assim, a memória e a saudade, para que, cada um à sua maneira, não se esqueça que só somos eternos se tivermos memória e a passarmos aos vindouros.

domingo, 23 de outubro de 2022

Maneira de contar os dias e os meses

O dia 1 de Novembro é o dia de Todos os Santos, mas o calendário religioso tem um dia dedicado a cada santo e, por isso, o 11 de Novembro é o dia de São Martinho, embora ainda se celebre antes o dia dos fiéis defuntos, a 2 de Novembro (dia dos mortos). 
O dia 8 de Dezembro é dia da Sra. da Conceição e o dia 13 é dia da Santa Luzia (minga a noite e cresce o dia) e estamos no dia de Natal. Ainda hoje dizem dia de Natal e não dia 25 de Dezembro. Assim como a véspera é o dia da Consoada.
O primeiro dia do ano era o dia das Janeiras, o dia 6 era o dia dos Reis. 
As feiras também eram conhecidas pelo nome que se festejava nesse dia. O 20 de Janeiro (dia de São Sebastião) é dia da Feira dos Vinte, no Mosteiro; o 23 é o dia do Santo Ildefonso, festejado em Esmolfe, feiras onde sempre acorriam os forninhenses. 
Até os nossos descobridores iam pondo nomes de santos às terras que iam achando. Muitas tomaram nomes de santos que se festejavam nesse dia em que eram achadas: Ilha de São Miguel, Ilha de Santa Maria, Ilha de São Jorge, etc....
Mais vagos são os dias sem festividade fixa: o dia do Entrudo, a Quarta-Feira de Cinzas que marca o início da Quaresma ou o dia de Ramos e de Páscoa (não dizem o dia "x" de Março ou "y" de Abril).
O 3 de Maio ainda hoje é o dia de Santa Cruz. Depois vem a Quinta-Feira de Ascensão, a Segunda-Feira do Espírito Santo e o tempo das cerejas, que faz-me lembrar Amália Rodrigues.
A Amália não sabia o dia em que nascera. A mãe apenas lhe dissera que nasceu no tempo das cerejas e por causa disso Amália mandou pintar as paredes da sala de jantar com essa fruta.
O povo raramente usava o nome dos meses.
Regulava-se pelo tempo das ceifas, pelo tempo das malhas, pelo tempo das vindimas, pelo tempo dos magustos, pelo tempo dos míscaros...
Pelo Santo António, Pelo São João, pelo São Pedro, pela Santa Marinha (que é a Padroeira de Forninhos), pelo São Bartolomeu...

Sala de Jantar da Amália - foto retirada da net

Mas se há dia e mês que marca o calendário do forninhense, é o dia 15 de Agosto quando marca encontro na terra pela Senhora dos Verdes.
8 de Setembro é dia de Nossa Senhora da Saúde.
16 de Setembro é dia da Santa Eufémia, na Matança.
29 de Setembro é do dia de São Miguel das uvas.
Era a agricultura e a religião que comandavam a vida das gentes das aldeias como Forninhos. Por isso, até ficou em ditados esta forma de contar o tempo:
"Em Dia de S. Simão e de S. Judas, já colhidas estão as uvas", ou seja, pelo 28 de Outubro já toda a gente vindimou.
Ou
"No dia de São Martinho vai-se à adega e fura-se o pipinho"
E este outro:
"Pelo Santo André faz o bacorinho coé-coé".
O povo por mais que queira, não consegue desligar-se da religião e continua a marcar a sua vida pelo Natal, Páscoa e dias santos.

Faltam 69 dias para acabar o ano de 2022

sábado, 8 de outubro de 2022

Ora, certa manhã de Outono...

Quem nunca andou aos míscaros no outono e encontrou uma castanha ou uma bolota que as gaias enterravam? Estes pássaros faziam provisões de castanhas e bolotas que enterravam e as que ninguém achava e as gaias lhes perdiam o sítio começavam a nascer árvores, castanheiros e carvalhos(as).
Então, aqui fica mais um excerto de Aquilino Ribeiro, do Livro a Casa grande de Romarigães, escrito em 1957, tinha o autor 72 anos, que retrata muito bem essa vivência nossa em Forninhos e é a continuidade do post O vento que é um pincha-no-crivo que escrevi na Primavera do ano passado.


"... Também ali perto, por uma tarde fosca de Outubro, chegou um gaio, voejando de chaparro em chaparro, a grasnar mal-humorado como é próprio da raça. No saiote desbotado, as duas pinceladas de azul, azul retinto, fulguravam para que se soubesse que um gaio também é gente dos ares. Trazia no bico uma bolota, um pouco menor que o bolo que o corvo costumava levar à cova de Daniel, mas para ele era mais importante. Dispunha-se a comer a merenda bem amargada, quando deu com os olhos no mariolado vizinho com quem bulhara uma Primavera inteira por causa da gaia, depois sua mulher. Já esse tal, rancoroso e mau, dava jeitos de querer investir, penas riças, garras desembainhadas, a asa possuída de frenesim. Que remédio senão preparar-se para o receber condignamente! E deixou cair a glande. Esta foi bater na face zenital dum velho toro, saltou de ricochete para o lado e aninhou-se muito aninhada num monte de folhas secas e argalhos. Ninguém a via, nem ela via a mais pequena nesga do mundo.
Os dois gaios, depois de trocarem muitos gritos de cólera e darem a sua bicada, mas sem que corresse sangue, despediram-se. O mais rela e pundonoroso pulou ao chão a procurar a sua rica bolota. Procurou, tornou a procurar pincharolando dum lado para o outro e introduzindo por toda a parte, taladas e covilhas, o olho finório e matuto, mas nada descobriu. Soltou duas ou três vezes a sua voz ralhada a conjurar os deuses daquele desaforo, perdeu a paciência. E saraivando, batendo a asa, ainda meio atrida da rixa, lá foi para o outro carvalhal onde havia que pilhar.
A bolota taluda ficara ali muito quieta, muito bem refastelada em virtude do próprio peso, enterrada que nem pelouro de batalha depois de passarem carros e carretas. Que fazer senão deitar-se a dormir? Dormiu uma hora, uma vida inteira, quem sabe?! Um laparoto veio lá de cascos de rolha, rapou a terra, fez um toural, aliviou-se, e ela ficou por baixo, sufocada sem poder respirar, em plena escuridão. Estava no fim do fim?
Um belisco, e do flanco saiu como uma flecha. Era de luz ou de vida? Era uma fonte ou antes um cântico de ave, de água corrente, de vagem a estalar com o sol, dum insecto na sua primeira manhã, música trilada da terra ou das esferas? Era tudo isto, encarnado no fogo incomburente que lhe lavrava no flanco, verbo que acabou por irradiar do próprio mistério do seu ser. (...)
Ora, certa manhã de Outono..."

Da semente se faz a árvore🍁

sábado, 1 de outubro de 2022

Bem-Hajam

Atingimos um milhão de visualizações de páginas!! 
O meu sincero bem-haja a todos os que aqui recordaram, opinaram ou simplesmente nos visitaram.
Então, em jeito de celebração, deixo um retrato de bons momentos vividos em Forninhos e que recorda gerações, pessoas, acontecimentos, vivências...na primavera de 1970, no dia do batizado duma amiga de infância (a Cristina Moreira).
Não faço ideia desde quando foi que as festas de batizado tiveram início, visto que o batismo já é praticado desde os tempos de Jesus Cristo, mas de qualquer forma, em Forninhos é uma festa familiar, na qual padrinhos, amigos e família festejam esse sacramento. Todos vão até à igreja para assistir ao batismo e após a cerimónia e registo final, todos vão almoçar, confraternizar...e...comer umas fritas (também conhecidas por rabanadas) que eram usadas obrigatoriamente nos batizados.

A madrinha é a Arminda Coelho. Do (nosso) lado direito está o Adriano Moreira (sentado numa cadeira) e do (nosso) lado esquerdo está o meu avô Cavaca e há ali mais gente conhecida que já cá não está, infelizmente!
Já passaram 52 anos!

sábado, 24 de setembro de 2022

Até ao lavar dos cestos é vindima

Embora com bastantes lacunas, inverdades e omissões, por ignorância ou por outra qualquer razão (será que somos contra a nossa história?), tenho de reconhecer que, sobre este tema, as fotos publicadas na monografia "Forninhos, a terra dos nossos avós" representam muito bem o nosso passado.


Antoninho "Matela" - meu avô materno

Na minha meninice ia sempre à vindima do meu avô e ele contava sempre aos netos que uma velha no Douro só com os bagos fez cem pipas de vinho!! Acho que a velha do Douro fazia parte das vindimas do Dão da altura.
Até parece que estou a ouvir o meu avô:
- Vamos lá meninos, toca a apanhar também os bagos do chão. Olhem que uma velha no Douro fez cem pipas de vinho só com os bagos...sabiam?
Coitada da velha, pensávamos! Longe de nós pensarmos que todo o vinho é feito com os bagos das uvas.

Fotos copiadas da referida monografia.

domingo, 18 de setembro de 2022

Amora-Silvestre

"Minha amora negra/minha flor silvestre/toda a gente soube/ que um beijo me deste..." e lá continua a cantiga...


Amora-silvestre (Rubus Fruticosus), é um fruto de arbustro vulgarmente designado por silvas, que velhos e novos bem conhecem, porque as silvas abundam por todo o lado.
As flores brancas ou rosadas, diz a Wikipédia que florescem de Maio a Agosto (no hemisfério norte), dando após a frutificação as amoras de uma cor vermelha e depois negra que são usadas para composição de sobremesas, compotas e, por vezes, vinho.


Mas comidas simples também são ótimas!
- Gostas de  amoras? Então vou dizer ao teu pai que já namoras.
Esta era das frases que mais se ouvia no tempo das amoras.

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Entre Cruzeiros e Alminhas

Não tenho fotos de todos, mas ficam aqui inventariados alguns pequenos monumentos tradicionais de grande religiosidade e culto dos mortos da nossa terra.

Cruzeiros

- Cruzeiro da Sapa no limite entre Forninhos e Dornelas
- Cruzeiro junto à Senhora dos Verdes em honra da Irmandade de Penaverde
- Cruzeiros de Nossa Senhora dos Verdes

Cruzeiros de N.S. dos Verdes

- Entre a Senhora dos Verdes e o Bairro do Porto há +2 Cruzeiros
- Cruzeiro do Porto onde se recitava o responso final aos defuntos dos Valagotes
- Cruzeiro junto à Casa de Turismo Rural Fonte da Lameira
- Cruzeiro dos Centenários junto à Sede da Junta de Freguesia
- Outro Cruzeiro na Rua das Alminhas ao chegar à Igreja
- Cruzeiro Paroquial no adro da Igreja

Cruzeiro Paroquial

- Cruzeiro de Nossa S. de Fátima em honra dos povos de Sezures e Esmolfe pela sua fidelidade ao voto a Nossa Senhora dos Verdes

Cruzeiro de N.S.de Fátima

- Cruzeiro do Carvalho da Cruz em direção à Quinta da Ponte
- Cruzeiro em memória do Lúcio e Leonel, junto ao Carvalho da Cruz. Foi no dia 05 de Setembro de 1974 que um infeliz acidente de tractor ceifou a vida a dois jovens de Forninhos. 
- Leonel Bernardo Freitas dos Santos - 15 anos 
- Lúcio Marques de Almeida - 34 anos 

Que descansem em Paz!

Já agora:

Estávamos no início da década de oitenta - 24 de Agosto de 1981 - quando no regresso a França, após umas desejadas e merecidas e felizes férias, um casal de emigrantes morre num trágico acidente de viação.
Lembramos neste dia:
- Aurora de Jesus Albuquerque Diogo - 46 anos (N. 30-01-1935 F. 24-08-1981) 
- Antonio de Almeida Lopes - 50 anos (N. 13-03-1931 F. 24-08-1981)

Que descansem também em Paz!

Alminhas

- Alminha na casa que foi do tio Eduardo Craveiro 
- Alminha da Lameira, no interior dum pátio, em frente à casa que foi do tio Luís Moreira
- Alminha perto do bairro do Porto no início do caminho que vai para o Fontelheiro

Nicho do Parque das Merendas, Valagotes

- Nicho do Parque de Merendas de Nossa S. de Fátima, juntamente com o marco de passagem da imagem de Nossa Senhora pela nossa terra, em 13-08-1951
- Não esquecendo o nicho com uma imagem de Nossa Senhora de Lourdes, nos Valagotes

Nicho de N.S. de Lourdes, Valagotes

E deve haver mais...

domingo, 7 de agosto de 2022

Cartaz da Festa de Agosto 2022

Nas palavras de Aquilino Ribeiro que eu modifiquei "o mês de Agosto c' os seus santos ao pescoço não tinha melhor que a Senhora da Lapa dos Verdes. Seria este santuário que mais peregrinos concentrava no dia das sua festa, a maior parte das povoações à roda, mas muitos vindos de longe".


Desejando uma boa festa, este ano o destaque vai para o Jogo de Futebol no dia 14, que é uma tradição que acontece desde que o Covid não se impõe e também a presença imperdível da Fanfarra Original Bandalheira, no dia 13. 
Depois dos Grandes Arraiais ...vem o Grande Dia 15, o dia de Nossa Senhora dos Verdes, que milagrosamente nos tem protegido dos incêndios florestais. Vamos agradecer participando na procissão que é às 14hoo, seguida de missa campal.

VENHAM ATÉ À FESTA DE FORNINHOS!!

Obrigada a todos os que comentaram o cartaz. A normalidade voltou e a festa foi um sucesso. Comissão e voluntários estão de parabéns! Os andores foram armados com bom gosto e bonitas cores. Ora vejam o principal,  o de N.S.dos Verdes:


Continuação de bons dias de Agosto.
Até dia 24.

(Adicionado a 22-08-2022)

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Até à praia

Como Agosto é sinónimo de praias cheias, viajamos nas nossas memórias até à praia. Até à praia molhar os pés. Até à praia apanhar conchas do mar para trazer para casa como recordação. Até à praia ver as traineiras e os pescadores a puxar as redes e ver a sardinha a saltar.
Servia este dia certamente de bálsamo para os homens e mulheres que trabalhavam as terras durante todo o ano.


Bom mês de Agosto🏖️

domingo, 17 de julho de 2022

Pergaminhos da Fé

Santa Margarida de Antioquia ou Nossa Senhora da Conceição?

imagem da Igreja de Forninhos

Santa Margarida é celebrada a 20 de Julho e na Igreja Ortodoxa é venerada como Marina de Antioquia, três dias antes, a 17 de Julho. 
O seu nome e lenda confundem-se com Santa Marinha, festejada a 18 de Julho e patrona de uma grande quantidade de paróquias da Arquidiocese de Braga e também de Forninhos como padroeira desde sempre. 
Já Nossa Senhora da Conceição é comemorada a 8 de Dezembro e a imagem tem elementos representativos que em nada se assemelham à imagem da igreja paroquial de Forninhos.
O povo diz que a imagem é de Nossa Senhora da Conceição e os autores da monografia de Forninhos observaram ser da santa mártir Margarida de Antioquia. Na minha meninice, não me lembro ver esta imagem em qualquer altar, mas as mãos são talvez a chave para este enigma, pois as mártires habitualmente seguram um livro numa mão e na outra mão a palma do martírio.

imagem retirada da net

Santa Margarida na arte litúrgica da igreja pisa o dragão que a engoliu e também costuma carregar a cruz que irritou o estômago do dragão que a expeliu ainda viva...

imagem retirada da net

Será que o povo não tem um pouco de razão? 
Estamos na presença de uma imagem de Nossa Senhora e não duma virgem-mártir?!
A imagem pode não ser a da Senhora da Conceição, mas pode ser a da pequena Nossa Senhora do Rosário, que o arrolamento de 1911 refere ficar no altar dedicado à mesma Senhora e apenas lhe falta o terço nas mãos; mais tarde, se calhar depois do fenómeno "Fátima", como mudaram o nome e imagens dos altares, as novas gerações confundindo a sua identidade, chamaram-lhe Senhora da Conceição.
Com documentação ou sem ela, gosto de acreditar nas coisas que fazem sentido.