Na aldeia de Forninhos, como em muitas outras, depois das colheitas (de propósito ou sem querer) ficavam sempre frutos para trás e as famílias mais pobres saíam ao rebusco. A tradição do rebusco, era uma das mais bonitas da nossa terra, sobretudo da parte daqueles que deixavam ficar parte do pouco que tinham, pois não seriam muitos aqueles a quem sobrava alguma coisa. Não sei onde li que o rebusco tem o seu fundamento na seguinte passagem da Bíblia: «Quando tu segares a seara dos teus campos, não cortarás rés do chão o que tiver crescido sobre a terra; nem enfeixarás as espigas que tiverem ficado. Não recolherás também na tua vinha os cachos que ficaram da vindima, nem os bagos que caíram; mas deixá-los-ás tomar aos pobres e aos peregrinos.» (Levítico, XIX, Pontos 9 e 10).
Vindimas feitas e vinho modernamente armazenado,
agora é mais prático a utilização das cubas inox e é nelas que ele descansa
até, pelo menos, ao S. Martinho.
procurar nas vinhas algum cacho que escapasse aos vindimadores
Por estes dias também as aves já se foram e além dos pardais, fiéis amigos de todo o ano, só se vê um ou outro tralhão à procura da castanha ou outro fruto.
Hoje há poucas castanhas em Forninhos, porque quase não se plantam castanheiros (acho que porque há alguns anos atrás apareceu uma doença nos castanheiros), porém, houve alguns exemplares de grande porte e razoável produção e os proprietários dos castanheiros colhiam muita castanha.
Depois de colhida a castanha, ficavam sempre alguns frutos nas árvores (ouriços) ou escondidos pelas ervas e folhagem. Os proprietários autorizavam aqueles que não possuíam castanheiros de ir ao rebusco da castanha.
para poupar o azeite, todos molhavam as batatas num prato de barro, sendo que o azeite era muitas vezes misturado com água, agora muita fica nas oliveiras, pois a idade já não ajuda, os custos que comporta a sua colheita são elevados e já não se encontra quem a queira varejar.
Tudo isto me é tão familiar, sabe bem ler e ver.
ResponderEliminarVoltávamos a correr para a terra se houvesse condições, regressar para as nossas origens, para o pé da família que só vemos algumas poucas vezes por ano, enfim...
Boa noite, o rebusco é prática quase em todas as terras, ainda me lembro muito bem que depois dos donos da terra terem feito a sua colheita, apareciam aqueles que não tinham nada apanhar o que ficara para trás, o que a Paula diz é verdade hoje sai muito caro fazer a apanha da azeitona, mas alguém que o fazer com a ajuda da familia e dos amigos só assim isso é possivél, mas como é só uma vez por ano até acho graça.
ResponderEliminarUma entrada muito bem apresentada. sobre o que era a vida nas nossas aldeias da nossa Beira.
ResponderEliminarGostei principalmente dessa reproducao do "Levitico"!
Um abraco de amizade.
Muito boa tarde a todos.
ResponderEliminarHoje vou apenas falar do rebusco da azeitona por ser um tema que me recorda o passado.
Claro, que os mais novos não sabem nem fazem uma pequena ideia, o que isto é, se bem calha, nem os de meia idade.
Por vezes, quando os da minha geração, vemos tanta azeitona no chão debaixo das oliveiras e ninguém a apanha, logo nos vem á memoria, e comentamos o tempo do rebusco.
Os meus pais não tinham oliveiras, no entanto, todos os anos faziam um bocadinho de azeite, não era muito, mas faziam, e para isso, eu contribuía; quando eu e outras crianças vínhamos da escola, ou aos domingos antes de ir para a missa, pegávamos num cestinho e lá íamos ao rebusco da azeitona, era catada no meio das ervas, e quando se via algumas esquecidas em cima da oliveira, subíamos, e com uma varita deitava-se abaixo, tendo atenção onde caía para depois se ir apanhar.
Eu sei que hoje custa acreditar nisto, mas era verdade, eu conto porque vivi, sei do que falo, mas amanhã não há testemunhos vivos destas e de outras vivencias de outros tempos.
Por isso, torna-se urgente, como aluap tem mencionado, escrever as memórias desta terra, se é que, os filhos de hoje, querem contar aos seus netos amanhã, o que realmente foi a vida difícil dos seus bisavôs.
Boa tarde.Rebusco das uvas e azeitona boas lembranças .Nos meus tempos também andávamos ao rebusco , as uvas quando se passava numa vinha apanhávamos e comíamos, as azeitonas íamos com as latas e com muito frio apanhar alguma que estivesse pelo chão para de seguida ser curtida ,pois nessa altura nada se estragava .
ResponderEliminarBoa tarde,
ResponderEliminarNão é muito frequente postar imagens tão actuais e ao mesmo tempo que retratam um passado tão longínquo, mas desta vez calhou…
O ir ao rebusco foi vivido por muita gente, mas eu já sou do tempo em que juntamente com outros íamos ao rebusco dos cachos, apenas por brincadeira. Mas, ainda assim, quando encontrávamos um respigo, tinha para nós um valor e sabor únicos!
Hoje, embora os tempos também não sejam fáceis, perdeu-se um pouco a consciência das dificuldades, mas olhar para o passado ajuda-nos a compreender como antigamente o povo deu volta a crises e aos problemas que directamente os afectavam, como superaram desafios e souberam lidar com as dificuldades.
Quanto ao registo da nossa História, repito, se não fôr preservada cai no esquecimento. Eu tento, aqui, mantê-la “viva” e sei, por experiência, o quanto é difícil, por um lado, não existe um livro, nem sequer um bloco de apontamentos sobre a memória e história de Forninhos; por outro, já começa a faltar produto humano para contar como foi o passado dos nossos avós, bisavós, trisavós…
Repito: É urgente (re)pensar prioridades!
Boa tarde:
ResponderEliminarQuando eu era criança os meus pais cultivavam terrenos que não eram deles, pois só depois dos meus avós falecerem a que ficamos com terrenos nossos, nos terrenos que não eram nossos só se cultivava a terra as azeitonas e as uvas eram para o proprietário apanhar, depois dele fazer apanha lá íamos nós com os cestitos de vime para o rebusco, era mais na azeitona para fazermos o azeite e para curtir, era pouca mas um bocadinho aqui outro ali lá se fazia um bocadinho de azeite e curtíamos umas azeitonas num pote de barro.
As uvas que ficavam eram mais os respigos, cachos eram poucos ou nenhum porque o dono ia sempre dar a volta ao fim da vindima.
Na minha casa no dia de São Martinho assava-se umas castanhas na lareira com um assador ou com caruma, comíamos requeijão com trigo e bebia-se o vinho que ainda estava doce.
Boa noite.
ResponderEliminarPois é, a tarefa do rebusco, sempre deu que comer a muitas famílias.
Assim como muitos já disseram, este trabalhinho, colher o que os outros deixam, propositadamente ou talvez um olho ainda com sono, e assim ficavam para trás o rebusco.
Este rebusco, que em tempos, quem ia ao rebusco conseguia para a sua casa uma boa maquia de azeite, vinho entre outras coisas.
Na nossa aldeia era habito, como já anteriormente foi dito, muitas das famílias mais desfavorecidas, aproveitar as passagens dos grandes Senhores, nas suas colheitas e a seguir nós muito minuciosamente aproveitar tudo o que era deixado para trás.
Estes eram os nossos divertidos tempos.
Olá.
ResponderEliminarAgora e reparando para estas maravilhosas imagens e tão bem concedidas, é bom ver o que ainda hoje se faz na nossa aldeia bem pequenina postada entre as serras; Ainda hoje e com muito custo se produz o bom vinho e o maravilhoso azeite.
Como todos dizem e eu próprio confirmo, esta azafama, que para alguns não dura mais que dois ou três dias, é sempre divertido..., pois que não dá muito jeito andar a apanhar a azeitona com as mãos e o corpo frio; Pois este serviço normalmente é feito na altura em que a geada se faz sentir, e de que maneira, mas a apanha tem de ser feita.
Aqui me fico, por agora.
Paula,acho que meu comentario que fiz pela manhã não entrou,mas não tem problema.Não sou artesã,mas gosto muito de invecionisses,agora acho-te com um palavreado de historiadora,tens o dom de pesquisa,deves gostar muito ou es uma profissional.Sabe que me formei em História.
ResponderEliminarDeusa
vasinhos coloridos
É a primeira fotografia que vejo de uma castanheira. Gostei do texto inteiro que é bastante elucidativo. Um abraço, Yayá.
ResponderEliminarPaula,
ResponderEliminarQue post lindo, de um conteúdo maravilhoso. Mas o que mais me tocou foi a partilha daquilo que ficava pra trás, e sempre alimentava outros.
A castanheira, que coisa linda! E as oliveiras, fiquei deslumbrada com elas.
Ahh por falar em oliveira, eu ganhei uma muda no ano passado, no Natal. Era bem pequena, e já está ficando grandinha. Plantei num vaso grande, até decidir onde e como plantar. Não entendo nada de oliveiras, pois no Brasil, nunca vi.
Eu poderia pesquisar no google, mas se você souber de alguma dica de plantio, me ajude por favor. Mas não tem pressa. Ok?
A única coisa que li, é que elas têm raízes grandes.
Beijos
Eu não sou historiadora, somente gosto e interessa-me a história da minha terra e gosto de trazer aqui recordações que ajudem a melhor conhecer as nossas raízes, a nossa cultura e as nossas referências, e acredito que os nossos conterrâneos, em especial os que residem longe, querem guardar em memória um Forninhos que conheceram e não o Forninhos actual.
ResponderEliminarEu acompanhei o programa “Prós e Contras” sobre a reforma da Administração Local e aproveito para recordar aqui uma frase do jornalista Fernando Paulouro Neves: “toda a gente sabe que os autarcas de Concelho para Concelho, de Freguesia para Freguesia se odeiam todos, cordialmente”.
Quanto aos munícipes é bom ter presente o aviso do Professor Vitorino Magalhães Godinho: “num país de muitas vilas e mais aldeias, o bairrismo e o paroquialismo tornaram-se um veneno de todos dias”.
Esta nota serve para dizer que enquanto nós recordamos com saudades o fim do mundo rural e se o recordamos é porque valeu a pena vivê-lo, as “novas pessoas” de Forninhos vão recordar quem e o quê?
Boa tarde a todos.
ResponderEliminarVou falar novamente do rebusco,; não é porque não gostasse de falar dos políticos, mas estes não merecem mais que o meu repúdio, não consigo gostar de nenhum, não sei porquê, mas é verdade.
Eu classifico o rebusco em dois tipos:
O rebusco de prazer e o rebusco de sobrevivência.
O de prazer é aquele que ainda hoje se faz; quando se passa por uma vindimada e se vê um respigo deixado pela vindimadeira, colhe-se, come-se e sabe melhor do que se se cortasse um cacho antes da vindima; se passamos por uma aveleira ou nogueira e apanhamos uma avelã ou noz, logo procuramos uma pedra para a partir e come-se, sabe muito bem, melhor do que as que temos em casa.
Já quanto ao rebusco da azeitona e castanha, eu chamaria: rebusco de sobrevivência, mas este já se não pratica, há outro modos de sobrevivência mais fáceis, ainda bem que assim é, mas será que vai ser sempre assim???
Pois é ed santos, será que vai ser sempre assim? O Forninhos de amanhã como será?
ResponderEliminarSabemos que as terras da beira eram pobres e, se calhar foi a falta de alimento, a falta de trabalho, ordenados miseráveis, o regime político em que viviam que “obrigou” muitos naturais a optar pela migração e emigração, esta noutro tempo nem sequer era livre.
Embora ache que ninguém gosta de deixar a sua terra, acho que até foi bom para os que partiram, como para os que ficaram.
Os que partiram foram melhorar as suas condições de vida e dos seus filhos. Nos anos 60 a maioria dos que emigraram e migraram estavam ligados à agricultura, havia uma grande percentagem de analfabetos, não eram trabalhadores especializados, etc., só que isto parece que muitas pessoas se esqueceram, ainda há em Forninhos quem tenha vergonha das suas origens, enfim…
Os que ficaram, uns, tiveram menos concorrência aos poucos postos de trabalho existentes; outros, governaram-se a tirar cursos e mais cursos e a receberem subsídios e apoios financeiros que sacaram ao Estado, sem qualquer objectivo a não ser o proveito pessoal (isto não é brincadeira, é pura realidade) e tudo pago por nós Contribuintes!
Voltando ao Forninhos de ontem e ao rebusco…
Para mim e outros ir ao rebusco dos cachos esquecidos ou das castanhas, era uma brincadeira, infelizmente para aqueles que nada tinham, ir ao rebusco das azeitonas ou batatas que a chuva descobria depois da arranca, era uma necessidade. Por mais fome que haja e hoje há infelizmente, não se compara com a situação que se vivia nos anos 40/50/60. A diferença é quase como do dia para a noite.
Mais uma vez, boa noite.
ResponderEliminarGostaria de pegar pelo fim do comentário anterior.
Hoje fala-se muito em crise, na falta de trabalho, enfim, na geração á rasca. Mas a grande diferença que nós, os mais velhos notamos, é que, esta geração de hoje não tem emprego, e a de outros tempos procuravam trabalho, fosse ele qual fosse, não era geração á rasca, era geração desenrascada, e isso, com o hábito de poupar e abdicar de bens supérfluos, levou a que se cria-se riqueza para proporcionar um modo de vida melhor, e criou-se, melhor sim, mas de um modo descontrolado, começando evidentemente pelos governantes.
Eu saí da escola aos 11 anos e fui procurar trabalho, trabalho difícil, trabalho de criança que os adultos de hoje recusam.
Como diz a Paula, e muito bem, há quem tenha vergonha das suas origens, não o deviam ter, antes pelo contrário, eu por exemplo, tenho muito orgulho, sou de origem muito humilde, mas consegui dar aos meus filhos um modo de vida melhor do que aquele que os meus pais conseguiram para mim, se os meus pais me deixassem herança material e eu não conseguisse mais do que isso, então sim, sentiria vergonha. Mas note-se, a riqueza não está nos bens materiais, está nos bens culturais, na educação, nos valores e honestidade, e isto está ao alcance de todos, dos humildes e dos abastados, não precisamos escrever palavras caras para exprimirmos o que a universidade da vida nos ensina.
É verdade que os curso subsidiados não vêm trazer nada útil ás pessoas se estas estiverem a pensar só no dinheiro que vão receber, se aproveitassem na prática o que lá ensinam, se é que ensinam alguma coisa de útil, valia a pena, assim não, só servem para ganhar dinheiro fácil, da parte de parte de quem administra e de quem frequenta, isto tornou-se mesmo um regabofe.
Para já não falar em projetos, onde o estado investiu milhares e milhares de todos nós, e que os beneficiários não fizeram nada para rentabilizar estes investimentos, como por exemplo, na agricultura e turismo sem que ninguém peça responsabilidade.
Gostaria de falar da migração, mas o meu comentário já vai longo e não quero ser chato.
Boa noite.
ResponderEliminarSubsídios para isto, para aquilo, dinheiros pagos por todos nós, é verdade, agora onde se encontram os benefícios, que algumas pessoas com esperteza retiraram dos fundos de maneio do estado.
Já referi e volto a referir, esses cursos que acima falaram e bem, onde estão os proveitos? nas carteiras de cada um, pois em obra pouco se vê.
Eu como todos sabem, oriundo de famílias com precaridade, hoje não me queixo muito, trabalho e tento dar o meu melhor, para isso.
Mesmo sem qualquer bem ou herança, lutei pela vida, tal como outras pessoas nas mesmas condições, de uma coisa tenho a certeza, o orgulho de ser quem sou e das minhas origens, deram-me educação para ser o Homem que hoje sou.
Não sou como os políticos que conheço, que tiveram um bom berço, e hoje o Povo não interessa, só nas eleições.
A era do rebusco, se calhar já nem existe, por enquanto, vamos ver os tempos que se avizinham.
ResponderEliminarHoje todos tem tudo, já poucas pessoas se veem no meio de uma vinha, de um olival ou mesmo debaixo de um castanheiro a apanhar algum fruto que tenha escapado, é mais simples e dá menos trabalho deslocarmo-nos ao supermercado.
Um abraço.
Os políticos com a treta de que querem o melhor para a população lá se vão governando a eles e à sua família, mas e a acção da Igreja Católica?
ResponderEliminarPenso que a Igreja teve no passado um papel importantíssimo na educação e formação do habitante de Forninhos – pessoas de sãos costumes, trabalhadoras, honestas, generosas, divertidas, leais, íntegras. Certos valores ainda hoje partilhados na nossa cultura são fruto, sem dúvida, da acção educativa da Igreja.
Hoje, pergunto-vos, qual é o papel da Igreja?
Pessoalmente acho que o que se passa na Igreja, em Forninhos, é também um autêntico regabofe!!!
Na paróquia onde eu cresci, ensinaram-me valores que hoje, sem qualquer dúvida estão confundidos com o conceito lucro, hoje servem-se da Igreja para ganhar dinheiro fácil e com segundas intenções!
Não colhas tudo o que Deus pôs à tua disposição, partilha com os pobres e com quem, por ser estrangeiro, precisa de sustento - eis a súmula desta passagem do Levítico.
O partilhar com os pobres era outra das qualidades dos nossos avôs e bisavós.
Boa Noite*
Quero ainda felicitar o Sr. Eduardo pelas memórias e descrições do seu baú, que nos mostra como era a vida da nossa gente por estas terras.
ResponderEliminarOxalá outras pessoas naturais de Forninhos, que todos os dias entram neste blog e que partem sem nada dizer (se calhar porque se envergonham das suas origens ou então receiam os erros de português), pudessem “presentear-nos” com "estórias" de outros tempos.
Têm dificuldade em se exprimirem?
«…não precisamos escrever palavras caras para exprimirmos o que a universidade da vida nos ensina.».
Cpts,
aluap
Obrigado Paula, pela felicitação.
ResponderEliminarEu tenho realmente o meu “baú” cheio de recordações, tive uma vivência com tudo, e já são quase sete décadas, vi, vivi e passei por muitas coisas, umas boas, outras menos boas, a vida é isto mesmo, mas ainda vale a pena viver apesar da desilusão que nos causam, principalmente quando as atitudes vêm daqueles de quem julgávamos amigos.
Eu sei o que isso é! Mas precisamente por isso é que eu ainda aqui ando a rebuscar a nossa História, mesmo sabendo que para as mentes iluminadas, aquilo que eu aqui escrevo nada tem de valor, mas é a nossa História e para mim é isso que importa.
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