carro-de-bois na Lameira carregado de caruma
Forninhos é rodeado de pinhais e desde sempre se utilizou a caruma, fetos, giestas e tojos para estrumar as lojas do vivo (gado), pátios particulares e até alguns caminhos mais lamacentos. Deste modo, se curtia o estrume para as terras e era/é o melhor adubo, por ser natural. Grande parte dos lavradores têm estrume em propriedades suas, mas antigamente também cortavam muito estrume nos baldios e aqui, pelo menos, desde os anos 40 até 60/61 do Século XX, havia o "acordo do estrume", em virtude do qual, os moradores, antes de S. Francisco - 4 de Outubro - eram proibidos de o cortar nos baldios. Não pude averiguar a origem deste acordo, mas segundo me informaram pessoas antigas o motivo era porque como, antes daquela data, havia um certo aperto de serviço e os que menos tinham que fazer cortavam e açambarcavam mais do que os que andavam mais atarefados no trabalho das colheitas, se "acordou" em que ninguém cortasse estrume antes daquela data. Hoje já se não respeita esta convenção, nem se controla as saídas dos pinhais, e grande parte das matas não são limpas. Hoje a falta de conservação da floresta portuguesa tem sido a grande falha no combate aos incêndios dos últimos anos.
Foto: Cortesia da Luísa
Com este blog também podemos recordar pessoas bem conhecidas de muitos nos . Aqui podemos ver tio Luis em frente da casa dele com o carro de bois carregado estrume ,pois era assim que a maior parte das pessoas faziam ,e quem nao tinha bois trazia o estrume a cabeça .Nessa altura o estrume era utilizado por toda a gente como diz a Paula era o melhor adubo utilizado,ao menos as matas eram limpas ,nos incêndios pouco se ouvia falar .
ResponderEliminarÉ verdade Manuela, recordamos nesta fotografia pessoas que já não estão entre nós, como o tio Luís Moreira e também o seu filho (Luís) e é uma pena que tantos já tenham partido sem nos deixar o testemunho de uma vida dura. Para fazer “o acordo do estrume” e o aqui juntar à história de Forninhos e do nosso Blog cheguei a falar com várias pessoas e já quase ninguém sabe responder até quando durou o “acordo”. Temos de ser nós a “agarrar” as pontas para ver se as coisas não se perdem.
ResponderEliminarBoa noite para todos.
ResponderEliminarBonito tema que aluap nos trás hoje: informar os mais novos e o reviver para os mais velhos.
Já falei com algumas pessoas de forninhos, procurando saber alguma coisa sobre este assunto, eu pouco sei porque este “acordo do estrume” não se celebrava em todas as freguesias, e, que eu tenha conhecimento, só mesmo nesta freguesia. Pode haver mais, e de certeza que há, mas não conheço.
Sobre o de Forninhos, e segundo a informação que tenho, este acordo era apenas um acordo de cavalheiros, mas toda a gente respeitava, como aliás, naqueles tempos se respeitava muito a palavra e o acordado.
Assim, quando chegava o dia acordado, as pessoas iam para a serra muito cedo onde encontravam já pessoas que lá tinham dormido com o intuito de escolherem o melhor local para demarcar com um corte em redor e apanhar o estrume que, normalmente era só fetos.
Giestas, tojo e sargaços, não havia, porque nesses tempos também havia muito gado que percorriam a serra toda e não deixavam crescer nada, os fetos, o gado não gosta, por isso, era o que escapava.
Os pinheiros também não cresciam porque os cortavam ainda pequenos, o que só foi travado, e ainda segundo me informaram, quando o Sr. Augusto Marques foi presidente da Junta de freguesia.
O “acordo” envolvia também a Junta e o Regedor, figura esta, cujo cargo foi extinto com a constituição de 1976. Fazia parte da comunidade mas era a autoridade policial da freguesia, uma figura respeitada, ao serviço de Estado e sem remuneração, assim como, os autarcas locais, era uma honra servir o Estado, ao contrário do que acontece hoje, que se serve o serviço publico, mas com fins lucrativos.
Desculpem, já fugi do tema, mas volto.
“Até já”
Por esta altura, segundo me informaram pessoas “antigas”, o Regedor de Forninhos era o Sr. José Matela. O acordo do estrume era válido por poucos dias, daí as famílias nos dias próprios demarcarem logo a sua área, cortavam os fetos ao redor e deixavam uns montinhos, tipo marco.
ResponderEliminarTive de ouvir várias pessoas para perceber as linhas gerais do “acordo” e nas conversas imediatamente percebi que são muitos que o não conheciam. A história de Forninhos infelizmente continua a passar ao lado da “sociedade política”, tal como lhes passa ao lado este blog, deve ser por o mesmo realçar a história da freguesia que representam, daí não verem nenhum interesse em mencioná-lo e em servi-lo.
@té amanhã
Bom dia, pessoalmente desconhecia a existência deste tipo de acordo, pois para mim o estrume é o que resulta dos estábulos dos animais, mas esse estrume a que se refere o acordo é bem diferente, segundo esse acordo era bem recebido porque assim todos estavam em pé de igualdade para o poder apanhar e por isso ter o proveito e evitar o açambarcamento por parte de outros, pena mesmo é esta prática ter acabado e com isso agora as matas encontram-se devotadas quase ao abandono contribuído isso para o pasto das chamas dos FOGOS que todos os anos se fazem sentir. Obrigado Paula por mais um ensinamento para mim e decerto para alguns Forninhenses e o reviver para outros.
ResponderEliminarPaula,
ResponderEliminarQue coisa interessante. Nunca havia ouvido falar nesse tipo de acordo. Conheço estrume como fezes dos animais, que é usada muitas vezes como adubo.
Muito interessante essa informação, sobre a história de seu povo. Beijos
Bom dia . Perguntei a minha mae a estoria do acordo pois so me soube dizer que era poribido cortar estrume do S. Joao ate Setembro e como foi dito as pessoas iam la dormir e aqueles que cortassem estrume antes da época apanhavam uma multa , do resto nao soube explicar visto que saio de Forninhos antes de o acordo ter acabado . Ate aproxima .
ResponderEliminarA Manuela diz que a mãe lhe disse que do S. João a Setembro não se podia cortar estrume, o que faz sentido. A mim informaram-me que era proibido cortar e açambarcar estrume antes do dia de S. Francisco, porque antes desta data havia um certo aperto de serviço no trabalho das colheitas.
ResponderEliminarTanto quanto apurei o “acordo” durava 2 ou 3 dias, mas ninguém me soube explicar o motivo de um prazo tão curto, uma vez que a Junta tinha e tem uma grande “fatia” de pinhal/baldios. A mim, parece-me, que o prazo não seria assim tão curto, só que as famílias eram numerosas, havia muitos animais, os pátios também eram estrumados, pelo que cortavam todo o estrume/mato que havia (mais fetos, como disse ed santos) num só dia, máximo, 2 dias.
Temos de guardar estas memórias…ouvir as pessoas mais velhas. Eu sinto-me uma privilegiada por ter este blog, por essa razão as pessoas recolhem e entregam-me fotografias que me permitem conhecer melhor a história da minha terra. Dou muito valor a fotografias antigas, são para mim documentos preciosos.
Um grande bem-haja Luísa.
Boa noite, caros amigos.
ResponderEliminarComo se diz e era verdade, que havia uma época protegida, para a apanha do estrume, que depois servia para fazer a "cama" dos animais.
Aquela serra( castelo, talegre, etc) houve tempos em que não se via uma gista ou feto, pois em poucos dias as familias de Forninhos, as que precisavam, passavam horas de podoa na mão, a cortar umas boas carradas, para assim poderem dar aconchego aos seus animais e mais tarde adubarem as suas terras.
Os anos passsam, as memórias ficam.
ResponderEliminarHoje a população de Forninhos é bem pequena, os animais já poucos existem, as pessoas já não tem necessidade de ir pela madrugada serra acima á procura de umas giestas.
Hoje no que chamam baldio, crescem todo o tipo de arbustros, e crescem sem que ninguém repare.
Estes matagais que hoje se podem ver, são um chamariz aos grandes fogos, nós já tivemos alguns devido a este factor, abandono.
O estrume cortado na serra era muito pouco comparado com as necessidades. Sabemos da importância do estrume (há quem chame esterco) para a agricultura, é um excelente fertilizante, o melhor.
ResponderEliminarMas, para além disso, também era muito importante para fazer a cama ao gado, não ponho aspas em cama, porque era mesmo assim que se falava.
O estrume cortado na serra, que na sua maioria eram fetos, servia mais para fazer a cama do que para fertilizante, porque este mato, depois de pisado desfaz-se, pouco ficava. O mais utilizado era mesmo a caruma que se vê no carro da foto, misturada com os fetos. A caruma era apnhada nos pinhais todos os anos, e assim se mantinha limpos.
É possível que o acordo durasse pouco tempo, por, uma vez iniciada a autorização, em poucos dias cortavam tudo que houvesse para apanhar.
Muito interessante esta informacao e esse "acordo do estrume" que parece que se respeitava, como outro comentador disse nesses tempos as palavras valiam ainda mais do que os documentos escritos!
ResponderEliminarUm abraco de amizade dalgodrense.
Como era salutar este tipo de acordo e bastava a palavra entre a comunidade e tudo funcionava. Agora fazem "as coisas" no sentido do individualismo e é ver quem consegue enganar mais o vizinho do lado.
ResponderEliminarAgora cada vez mais entorpecem a acção da JUSTIÇA sobrecarregando os tribunais com acções sem quaisquer fundamentos.
Até as usuais Saudações deixaram de se ouvir. Aos que passavam pelo tio Luís Moreira (e eu passei muitas vezes) dizia-se “Bom Dia” e o tio Luís respondia de uma forma tão genuína “Venha com Deus ó moça”; “Deus te ajude” ou "Deus te abençoe". Hoje ouve-se um boa tarde "entre dentes".
ResponderEliminarAs pessoas andavam bem dispostas, sentiam-se felizes só por fazerem as camas “lavadas” aos seus animais. Deste modo, se curtia o estrume para as terras, que por ser natural, era/é o melhor adubo. O adubo químico utilizou-se as primeiras vezes somente nas videiras e batatas.
Também se empregava muito a cinza.
Era com a caruma que se acendia o lume e era com a caruma que se faziam os magustos, as castanhas eram assadas na caruma.
Até os magustos à antiga acabaram, já se assam as castanhas nos fornos das Padarias!
Será que tudo quanto os nossos antepassados nos legaram estará condenado ao desaparecimento?
Boa tarde. As castanhas assadas com caruma eras muito mais gostosas que no forno , compreendo que certas pessoas so e possível assar no forno mas em Forninhos caruma nao falta , que pena nao continuarem com a tradição .
ResponderEliminarDo que me lembro e não havia outro nome: fazer um magusto, no geral, significava assar castanhas na caruma, onde era indispensável que se enfarruscassem uns aos outros. Esta “praxe” (as enfarruscadelas) acho que já está em desuso, mas mais à frente vamos voltar ao tema “magustos”, pois há uma fotografia bem antiga.
ResponderEliminarPermitam-me um outro comentário relativo a este tema. Não sei se em Forninhos o acordo era só verbal, sei que até 1960/1961 se respeitava, mas visto que os Guardas (penso que florestais) multavam os transgressores, se calhar este acordo era o resultado de alguma decisão antiga da Câmara/ou/Comarca (???)
ResponderEliminarTambém apurei que na freguesia de Penaverde também existiu o “acordo do estrume” e que noutras freguesias do nosso concelho não exista porque não tinham “Serra” ou grandes áreas de baldios. Não tenho a certeza, mas acho que seria esse o motivo porque em Dornelas, por exemplo, não havia "o acordo".
De facto das coisas mais bonitas na nossa Beira, era as saudacoes:
ResponderEliminarNosso Senhor os ajude, Venha com D*us, era muito usual e significativo.
Um dos grandes males desta nossa sociedade, e o individualismo cada vez mais acentuado!
Mas isto digo eu, que ja estou mais para la que para ca!
Um abraco de amizade.
E como era bonito ver chegar à Lameira as carradas como a imagem do Post mostra, em cima da carrada o filho do lavrador, as recomendações à junta para encostarem (atenção: “junta” = parelha de bois ou vacas, duas vacas ao mesmo tempo a puxar o carro). As vacas eram ensinadas, uma à direita e outra à esquerda, não tenho a certeza, mas acho que se as trocassem puxavam para o mesmo lado.
ResponderEliminarComo diz aluap, bastava a palavra e um aperto de mão para se selar o acordo, e funcionava, embora houvesse muita água ralhada e alguns palmos de terra disputada, mas só enquanto o acordo não era celebrado.
ResponderEliminarHoje, nada disto funciona, e como diz a Paula, entopem-se os tribunais para tentar acordos que os antepassados, ao seu modo celebravam o exemplo disso verifica-se com o direito por usucapião, isto quer dizer, o bem ou passagem já se pratica há mais de 20 anos, se houvesse bom senso nos homens de hoje, não seria necessária esta lei, que por vezes é deturpada, conforme a habilidade dos advogados, na tentativa de manipular, levando-a por vezes a não ver a razão.
Acordo = honradez, convivência e amizade.
Tribunal = desentendimento, animosidade e mal-estar.
E, para mim, é tão fácil ser-se justa*
ResponderEliminarHoje quando damos conta aquele que se dizia nosso amigo, já nos lixou com um “F” (Grande)! A mim neste blog, infeliz e lamentavelmente, foram alguns que o fizeram. Quantos escreveram palavras, como:
«Parabéns pelo novo blog e conta comigo; Força Paula e conta comigo; Parabéns pelo blog e pela oportunidade de contribuir para o bem desta freguesia; Parabéns pelo blog agora vamos postar matéria e fazê-lo crescer; Onde todos ajudam nada custa; Faço votos que o blog seja um sucesso e sobretudo diferente; beijinhos para aqui e para ali, muita força, muitos parabéns, muito blá, blá…» (e por trás a lixarem-me com F).
No outro blog até houve quem escrevesse:
«Paula tu vales ouro…» hehehe, dá vontade de rir, mas é triste observar esta crise de valores, que me envergonha e envergonharia os nossos antepassados, com toda a certeza.
Isto vem a propósito que no tempo em que a palavra era ponto de honra, os nossos antepassados não precisavam sequer escrever as palavras porque sentiam que bastava dizê-las verbalmente e essas valiam para perpetuar durante uma vida. As palavras ditas pelos homens e mulheres de ontem, eram palavras sentidas (mesmo as palavras ralhadas).
E…assim vai o nosso Forninhos...assim vai o nosso desenvolvimento.
Apetece-me aqui ainda lembrar que uma das promessas eleitorais deste Executivo foi a Requalificação do Largo da Lameira. Bem sei que ainda falta cumprir metade do mandato, mas espero que o Presidente da Junta de Freguesia não o esqueça. A Lameira conserva a traça original que vem dos antepassados, acho que o pavimento do largo já merecia alguns melhoramentos e não somente remendos de alcatrão.
Cumprimentos forninhenses.
Uma das coisas que me cativa nas aldeias como a de forninhos é, que as pessoas ainda se saúdam, têm sempre uma palavrinha a perguntar por pai, mãe, filhos ou da nossa doença, temos sempre qualquer coisa a dizer e ouvir o que nos dá sensaçao de que não estamos sós, temos alguém que nos acompanha na tristeza e na alegria, isto é muito bom, mesmo muito bom.
ResponderEliminarEmbora, também por aqui já aparecer o grande mal da nossa sociedade como diz al Cardoso, mas mesmo assim, ainda é bom viver nas nossas aldeias da Beira, com acordo ou sem acordo.
Já agora, um comentáriozinho dirigido a al Cardoso: meu caro, nunca estamos mais para lá, eu ainda “só” tenho 67 e estou cá, não penso no lá. Não sei a idade do Sr. Mas deve ser mais novo que eu, mas seja como for, não pense “lá”.
Um abraço de amizade para todos que nos lêem.
Bom dia.
ResponderEliminarNão é esquecimento, tão pouco, desistência, apenas o tempo não chega para o que nós queremos.
Falar-se no corte de estrune na serra, apanhar umas boas carradas de caruma, para o bem estar dos nosso vivo e mais tarde fertilizar a terra; terra essa que nos dá o Pão Nosso de cada dia.
Como se dizia. - que engraçado ver chegar á Lameira os carros de bois e de uma ou outra forma, ía ser ali no largo, que cada um tomava a sua direcção.
Falando em largo ou Lameira, já se encontra em obras de requalificação? Segundo fui informado essa era uma das principas tarefas se o actual poder politico.
Eu já por diversas vezes chamei à atenção aqui no blog para o estado lastimável em que se encontra o Largo da Lameira.
ResponderEliminarNestes quase dois anos houve locais que mexeram, actuaram, por forma a valorizá-los, estou a referir-me a uma rotunda e sua área envolvente, enquanto que a Lameira que é um dos sítios mais emblemáticos da aldeia, é um local de história da nossa aldeia, que poderíamos designar de o Rossio de Forninhos, como já aqui foi dito, no entanto, continua por requalificar.
Há coisas que me custam aceitar, mas parece que as pessoas têm medo de falar das coisas ou então será mesmo conformismo…sei lá!