Porque hoje é dia do trabalhador, aqui vai uma passagem do "Volfrâmio" de Aquilino Ribeiro sobre a corrida desenfreada ao minério, durante a segunda guerra mundial, que levou à riqueza de muitos e à desgraça e exploração de outros...
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filão |
"De caminhos afluentes desembocavam mulheres com cestos à cabeça ou o seu molho de tangos, uma almotolia, encomendas das lojas, e entrevia-se nelas estas criaturas plurais que forjicam o bazulaque às maltas, as lavam, as remendam, e ainda a tasqueira que abriu à margem da mina a baiuca de vinho, cigarros, petiscos e o resto.
(...)
Até bem longe, quinhentos a mil metros, se via gente, mulheres que lavavam a terra mineralizada ao ar livre e debaixo de telheiros, braços arremangados, pés descalços, saia colhida entre os joelhos para a água não esperrinchar pelas pernas acima.
Rapazotes, com boinas de homem, sem cor à força de usadas, a carne tenra a espreitar das camisas cheias de surro e em frangalhos, vinham baldear no monte o carrinho atestado de calhaus em que coruscavam com o sol as pirites e palhetas de volframina.
Mais ao largo, grande caterva de homens abria uma trincheira, e outra, para o morro, levava um banco de pedra e saibro à ponta-de-ferro e picareta. Aqui e além trabalhadores brocavam a rocha, enquanto a outros incumbia os tiros de pólvora bombardeira.
Crispados às varas dos sarilhos, muitos extraiam o resulho dos poços ou enxugavam-lhes a água para o trabalho prosseguir eficazmente".
O Aires, uma das personagens do romance, conhecia tudo isto, não como assalariado, mas das rapiocas e visitas que ali fizera com outros curiosos.
TENHAM UM BOM MÊS DE MAIO 🌹