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quarta-feira, 1 de maio de 2024

A saga do Volfrâmio

Porque hoje é dia do trabalhador, aqui vai uma passagem do "Volfrâmio" de Aquilino Ribeiro sobre a corrida desenfreada ao minério, durante a segunda guerra mundial, que levou à riqueza de muitos e à desgraça e exploração de outros...

filão

"De caminhos afluentes desembocavam mulheres com cestos à cabeça ou o seu molho de tangos, uma almotolia, encomendas das lojas, e entrevia-se nelas estas criaturas plurais que forjicam o bazulaque às maltas, as lavam, as remendam, e ainda a tasqueira que abriu à margem da mina a baiuca de vinho, cigarros, petiscos e o resto.
(...)
Até bem longe, quinhentos a mil metros, se via gente, mulheres que lavavam a terra mineralizada ao ar livre e debaixo de telheiros, braços arremangados, pés descalços, saia colhida entre os joelhos para a água não esperrinchar pelas pernas acima.
Rapazotes, com boinas de homem, sem cor à força de usadas, a carne tenra a espreitar das camisas cheias de surro e em frangalhos, vinham baldear no monte o carrinho atestado de calhaus em que coruscavam com o sol as pirites e palhetas de volframina.
Mais ao largo, grande caterva de homens abria uma trincheira, e outra, para o morro, levava um banco de pedra e saibro à ponta-de-ferro e picareta. Aqui e além trabalhadores brocavam a rocha, enquanto a outros incumbia os tiros de pólvora bombardeira.
Crispados às varas dos sarilhos, muitos extraiam o resulho dos poços ou enxugavam-lhes a água para o trabalho prosseguir eficazmente".
O Aires, uma das personagens do romance, conhecia tudo isto, não como assalariado, mas das rapiocas e visitas que ali fizera com outros curiosos.

TENHAM UM BOM MÊS DE MAIO 🌹

8 comentários:

  1. Importante fragmento trouxeste! Feliz dia d trabalho e lindo MAIO! beijos, chica

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    1. Pois concordo. Comparada, só mesmo a loucura da febre do ouro.
      Bjs e que Maio seja bom!

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  2. Excelente escolha para relembrar a importância da data! 👏😘

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    1. Obrigada.
      Aquilino mostra neste romance um tempo e uma história, que foi de algum progresso para a nossa região. Daí a minha escolha.
      Mas não menos importante, Aquilino mostra nesta sua obra que as pessoas rurais têm os mesmos vícios que as da cidades: a inveja, a mesquinhez, o domínio dos mais fortes que infernizam a vida dos mais fracos, etc...
      Bom fds

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  3. A minha mãe contou-me uma história passada comigo e com os mineiros, da qual sou franco, por mais que tente não consigo lembrar com clareza, tenho apenas uma vaga ideia.
    Dizia ela que um dia andava mais o meu pai a regar no lameiro de Cabreira e eu fui armar os custilos aos tralhões por aqueles arretos acima.
    Já ao findar do dia fui ter com eles ao lameiro com um custilo dos grandes na mão e a minha mãe perguntou-me aonde o tinha arranjado e onde estavam os quatro ou cinco tralhões já depenados ao que lhe respondi que tinha dado os pássaros aos mineiros do Picão em troca do custilo.
    Obrigou-me a desfazer o negócio, sob pena de uma surra se aparecesse em casa sem eles.
    Parece que tive sorte pois os mineiros ainda os não tinham comido.
    Ouvia-se comentar
    Em anos idos atrás
    Daquilo que vou falar
    Vamos ver se sou capaz

    Lá no Poço do Picão
    Havia quem disputasse
    Mais minério do filão
    E mais dinheiro ganhasse

    Os Belezas e os Guinários
    Em disputa desabrida
    Quase ficaram sanguinários
    Por querer ganhar a corrida

    A picareta fumegava
    De encontro ao vil metal
    Era ver quem mais achava
    Ninguém queria ficar mal

    Dizem que os Belezas ganharam
    Por serem mais numerosos
    Os Guinários não se ficaram
    E tornaram-se ardilosos

    O minério nos canastros
    Havia que o lavar
    No ribeiro dos Moncões
    Mesmo que fosse de rastos

    Por mais mulheres eles terem
    Vingam-se assim os Guinários
    Era prós Belezas verem
    Não eram nenhuns otários

    Se uns mais depressa colhiam
    Outros mais rápido lavavam
    E no fim todos sorriam
    Pois no mesmo trabalhavam

    E à noite na taberna
    Entre dois jarros de vinho
    Esqueciam a caverna
    Nem sabiam o que era o tino

    Era fartar vilanagem
    Nem que gastassem metade
    Vai mais um copo de vinho
    E ala, que se faz tarde

    Foi assim que ouvi dizer
    Nisso quero acreditar
    Era bom podido ver
    E mais coisas vos contar.
    (Vidas dadas ao trabalho...).

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    1. Quem aderiu a esta exploração, foram os homens que trabalhavam na arte de pedreiro. Estes dirigiam-se diariamente com enxadas, pás, picaretas, picos, agulhas de ferro e sacos, para o Picão.
      Os homens trabalhavam na mina e as mulheres deles iam para o ribeiro fazer a limpeza nuns crivos dentro da água.
      O volfrâmio dava muito dinheiro e nessa altura as famílias que o explorava, viveram à grande e à larga, como se a mina donde vinha o dinheiro nunca “secasse”, mas “secou”. Acabou e como não souberam poupar, voltaram à amarga vida que tinham antes, escassa de bens e de dinheiro.
      Os que tinham jeito para troçar e fazer crítica à forma como os “mineiros” geriam o dinheiro, cantavam:

      Vou p´ra o volfrâmio
      Para o sítio do Picão
      Quem quiser ganhar dinheiro
      Vai trabalhar para o filão.

      Olha o minério
      O minério sai em linha
      Com o dinheiro do minério
      Vou comprar uma carmucina.

      Vou p´ró minério
      E deixa falar quem fala
      Com o dinheiro do minério
      Vou comprar uma samarra.

      Fonte: tia Margarida, 25-04-2013.

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  4. Boa Noite

    Blog de Forninhos

    Com a devida vénia ao Xico Almeida

    Daquilo que vou falar
    Lá no Poço do Picão
    Em disputa desabrida
    Os Guinários não se ficaram

    Por muitas mulheres eles terem
    Entre dois jarros de vinho
    Nem que gastassem metade
    ( foram ) Vidas dadas ao trabalho

    Lindo....

    Abraço

    António Miguel Gouveia

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  5. Um ótimo mês de Maio por aí também!
    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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