Porque hoje é dia do trabalhador, aqui vai uma passagem do "Volfrâmio" de Aquilino Ribeiro sobre a corrida desenfreada ao minério, durante a segunda guerra mundial, que levou à riqueza de muitos e à desgraça e exploração de outros...
"De caminhos afluentes desembocavam mulheres com cestos à cabeça ou o seu molho de tangos, uma almotolia, encomendas das lojas, e entrevia-se nelas estas criaturas plurais que forjicam o bazulaque às maltas, as lavam, as remendam, e ainda a tasqueira que abriu à margem da mina a baiuca de vinho, cigarros, petiscos e o resto.
(...)
Até bem longe, quinhentos a mil metros, se via gente, mulheres que lavavam a terra mineralizada ao ar livre e debaixo de telheiros, braços arremangados, pés descalços, saia colhida entre os joelhos para a água não esperrinchar pelas pernas acima.
Rapazotes, com boinas de homem, sem cor à força de usadas, a carne tenra a espreitar das camisas cheias de surro e em frangalhos, vinham baldear no monte o carrinho atestado de calhaus em que coruscavam com o sol as pirites e palhetas de volframina.
Mais ao largo, grande caterva de homens abria uma trincheira, e outra, para o morro, levava um banco de pedra e saibro à ponta-de-ferro e picareta. Aqui e além trabalhadores brocavam a rocha, enquanto a outros incumbia os tiros de pólvora bombardeira.
Crispados às varas dos sarilhos, muitos extraiam o resulho dos poços ou enxugavam-lhes a água para o trabalho prosseguir eficazmente".
O Aires, uma das personagens do romance, conhecia tudo isto, não como assalariado, mas das rapiocas e visitas que ali fizera com outros curiosos.
TENHAM UM BOM MÊS DE MAIO 🌹
Importante fragmento trouxeste! Feliz dia d trabalho e lindo MAIO! beijos, chica
ResponderEliminarPois concordo. Comparada, só mesmo a loucura da febre do ouro.
EliminarBjs e que Maio seja bom!
Excelente escolha para relembrar a importância da data! 👏😘
ResponderEliminarObrigada.
EliminarAquilino mostra neste romance um tempo e uma história, que foi de algum progresso para a nossa região. Daí a minha escolha.
Mas não menos importante, Aquilino mostra nesta sua obra que as pessoas rurais têm os mesmos vícios que as da cidades: a inveja, a mesquinhez, o domínio dos mais fortes que infernizam a vida dos mais fracos, etc...
Bom fds
A minha mãe contou-me uma história passada comigo e com os mineiros, da qual sou franco, por mais que tente não consigo lembrar com clareza, tenho apenas uma vaga ideia.
ResponderEliminarDizia ela que um dia andava mais o meu pai a regar no lameiro de Cabreira e eu fui armar os custilos aos tralhões por aqueles arretos acima.
Já ao findar do dia fui ter com eles ao lameiro com um custilo dos grandes na mão e a minha mãe perguntou-me aonde o tinha arranjado e onde estavam os quatro ou cinco tralhões já depenados ao que lhe respondi que tinha dado os pássaros aos mineiros do Picão em troca do custilo.
Obrigou-me a desfazer o negócio, sob pena de uma surra se aparecesse em casa sem eles.
Parece que tive sorte pois os mineiros ainda os não tinham comido.
Ouvia-se comentar
Em anos idos atrás
Daquilo que vou falar
Vamos ver se sou capaz
Lá no Poço do Picão
Havia quem disputasse
Mais minério do filão
E mais dinheiro ganhasse
Os Belezas e os Guinários
Em disputa desabrida
Quase ficaram sanguinários
Por querer ganhar a corrida
A picareta fumegava
De encontro ao vil metal
Era ver quem mais achava
Ninguém queria ficar mal
Dizem que os Belezas ganharam
Por serem mais numerosos
Os Guinários não se ficaram
E tornaram-se ardilosos
O minério nos canastros
Havia que o lavar
No ribeiro dos Moncões
Mesmo que fosse de rastos
Por mais mulheres eles terem
Vingam-se assim os Guinários
Era prós Belezas verem
Não eram nenhuns otários
Se uns mais depressa colhiam
Outros mais rápido lavavam
E no fim todos sorriam
Pois no mesmo trabalhavam
E à noite na taberna
Entre dois jarros de vinho
Esqueciam a caverna
Nem sabiam o que era o tino
Era fartar vilanagem
Nem que gastassem metade
Vai mais um copo de vinho
E ala, que se faz tarde
Foi assim que ouvi dizer
Nisso quero acreditar
Era bom podido ver
E mais coisas vos contar.
(Vidas dadas ao trabalho...).
Quem aderiu a esta exploração, foram os homens que trabalhavam na arte de pedreiro. Estes dirigiam-se diariamente com enxadas, pás, picaretas, picos, agulhas de ferro e sacos, para o Picão.
EliminarOs homens trabalhavam na mina e as mulheres deles iam para o ribeiro fazer a limpeza nuns crivos dentro da água.
O volfrâmio dava muito dinheiro e nessa altura as famílias que o explorava, viveram à grande e à larga, como se a mina donde vinha o dinheiro nunca “secasse”, mas “secou”. Acabou e como não souberam poupar, voltaram à amarga vida que tinham antes, escassa de bens e de dinheiro.
Os que tinham jeito para troçar e fazer crítica à forma como os “mineiros” geriam o dinheiro, cantavam:
Vou p´ra o volfrâmio
Para o sítio do Picão
Quem quiser ganhar dinheiro
Vai trabalhar para o filão.
Olha o minério
O minério sai em linha
Com o dinheiro do minério
Vou comprar uma carmucina.
Vou p´ró minério
E deixa falar quem fala
Com o dinheiro do minério
Vou comprar uma samarra.
Fonte: tia Margarida, 25-04-2013.
Boa Noite
ResponderEliminarBlog de Forninhos
Com a devida vénia ao Xico Almeida
Daquilo que vou falar
Lá no Poço do Picão
Em disputa desabrida
Os Guinários não se ficaram
Por muitas mulheres eles terem
Entre dois jarros de vinho
Nem que gastassem metade
( foram ) Vidas dadas ao trabalho
Lindo....
Abraço
António Miguel Gouveia
Um ótimo mês de Maio por aí também!
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
...E o mês de maio já está quase terminando, mas viva o trabalho e os trabalhadores tão dedicados. Gostei do texto escolhido.
ResponderEliminarBjs