Este espaço nasceu para dar a conhecer a História, estórias e memórias duma aldeia chamada Forninhos (antigamente Fornos). Vem-lhe o nome certamente por lá ter havido fornos/fábrica de cozedura...assim rezam os livros de História, Lendas e Tradições de outros lugares.
As imagens individuais do Menino Jesus começaram a aparecer em Portugal no século XVI. Contudo, foi nos séculos XVII e XVIII que o culto destas imagens atingiu no nosso País o seu apogeu.
A nossa paróquia foi fundada no século XVI e também teve/tem uma imagem do Menino Jesus desde finais do século XVII.
Melhor ou pior conservada, é vista seguramente desde a primeira metade do século XVIII no altar à direita para quem entra, quando a nossa Igreja era composta de um altar mor (ao qual se acedia através de um degrau) e de dois colaterais: o altar de N. S. do Rosário e o altar do Menino Jesus.
Muitos de nós não se lembrarão de ver a N. Senhora do Rosário no seu altar, mas desde a infância lembram ver no Altar do Menino, Jesus desnudo. Tenho a certeza.
Agora vejam bem o que fizeram ao nosso Menino, à nossa memória colectiva!
Menino Jesus mostrando os seus dessous
Aos nossos olhos contemporâneos esta nova representação quase nos parece travestida.
Na vizinha localidade de Dornelas já vi um Menino Deus quase feminino, dentro duma redoma; Na Senhora da Lapa, Sernancelhe também lá está um com a sua jaquetinha e chapéu de Marialva, própia da corte joanina, conforme no-lo descreve Aquilino in "Uma luz ao Longe" (1948).
Só que o Menino de Forninhos, não é de Dornelas, nem é da Lapa, e é muito triste ver nos dias que correm estragarem o património legado e preservado, pois a imagem até foi restaurada no ano de 2013.
Eu já não sei o que fazer para mudar as mentalidades. Desisto.
No Forninhos de hoje, existe uma irmandade: a de Santa Marinha. Mas no passado existiram confrarias, associações responsáveis pela manutenção e renovação de equipamentos religiosos, assistência aos desvalidos e reforço das práticas religiosas. Este facto é hoje conhecido graças ao registo de óbito de António Fernandes, que refere foi sepultado "dentro da Igreja de fronte da porta travessa debaixo do caixam da confraria do Senhor" (ANTT, Paróquia de Forninhos, Mistos, lv. 1, cx 6, fl. 127). É crível que a confraria do Senhor estivesse vinculada ao altar de Jesus.
Mas tendo em consideração a existência do altar da Senhora do Rosário, desde finais do século XVII e até à primeira metade do século XX (vide bens da igreja de forninhos) é verosímil, à semelhança do que se verificava noutras paróquias da diocese de Viseu, que existisse uma confraria de N. S. do Rosário. No século XIX e início do século XX, quem entrasse na Igreja de Forninhos via várias imagens nos altares que hoje já não se podem observar in su situ. Em 1911, o altar-mor, dedicado à padroeira, era composto pela imagem de S. Marinha, ladeada por S. António e S. Sebastião. Os altares colaterais eram consagrados a N. S. das Dores, ladeada pelo Menino Jesus e S. Pedro, e a N. S. do Rosário, ladeada por S. Paulo e N. S. do Rosário. Voltando às confrarias...
De assinalar igualmente a existência das confrarias do Santíssimo Sacramento e Senhora dos Verdes. Em 1841, Anastácia de Andrade e em sede de testamento, deixou "à confraria do Santíssimo sacramento hum meio de pao de milho e outro à Senhora dos Verdes e cada huma das outras confrarias huma quarta" (ADG, Notarial de Aguiar da Beira, lv. 51, fls. 29-29v).
No decurso da Época Contemporânea, este tipo de associações confraternais foram extintas, sendo então criada a 1 de Outubro de 1926, a irmandade de S. Marinha, com estatutos.
Fica assim para a história, a existência em Forninhos de Confrarias.
Nota: Estas informações foram-me dadas pelo professor/historiador João Nunes, a quem mais uma vez agradeço do fundo do coração a partilha dos seus conhecimentos sobre uma terra de onde também brotaram as suas raízes e que não esquece.
Encontrei nos Livros Mestres informação de militares forninhenses. Os Livros Mestres ou de Matrícula foram criados por Lei de 7 de Julho de 1763 e vigoraram até 1908, ano em que foram extintos. Durante o tempo que durou a Lei 7, recrutaram-se mais de 100 forninhenses e não posso deixar de lembrar aqui dois ou três homens, do Regimento de Infantaria 24, sendo que o primeiro era o único irmão do meu bisavô Eduardo Albuquerque, filhos de António de Albuquerque Janela e de Maria Fernandes (Cavaca):
Henrique Albuquerque - Forninhos
O meu avô Eduardo nasceu em 1862 e o seu irmão, Henrique, nasceu em 1867, a 27 de Julho, jornaleiro, media 1,64, tinha cabelo louro e olhos castanhos, rosto redondo, nariz chato, cor natural, boca regular.
Serviu por doze anos e teve exemplar comportamento militar
Mas interessante é também o facto de se referir o seguinte: "Tendo sido o concelho d' Aguiar da Beira anexado no districto de recrutamento e reserva n.º 15, por decreto de 26 de Dezembro de 1895, foi transferido para este districto em 1 de Fevereiro de 1896. Continua domiciliado na freguesia de Forninhos anexada por decreto de 26 de Junho ao concelho de Trancoso. (...).
Continua domiciliado na freguesia de Forninhos anexada por decreto de 13 de Janeiro de 1898 ao concelho de Aguiar da Beira, do mesmo districto de recrutamento e reserva.
Matias Guerra - Forninhos
Nasceu a 13 de Fevereiro de 1862, era filho de Luís Guerra e Margarida Angélica, tinha o cabelo e olhos castanhos, nariz regular, rosto redondo e cor natural. A sua altura era de 1,54 e a sua profissão era de criado de servir.
Contém informações sobre a sua carreira militar (clicar na imagem).
Francisco de Almeida - Valagotes/Forninhos
Cultivador. Altura: 1,58
Nasceu no dia 24 de Fevereiro de 1882, tinha cabelo e olhos castanhos, nariz chato, boca regular, rosto oval e cor natural.
Era filho de António Almeida e Antónia Gomes.
Contém informações sobre a sua carreira militar (clicar na imagem). Curiosidade: Todos de estatura pequena.
Fonte: Aquivo Militar, Livro 20 do Regimento de Infantaria 24.
Já alguma vez ouviu falar do imposto do real de água? O imposto do real de água terá sido criado para fazer face a despesas de construção de aquedutos e chafarizes. Foi uma das formas de financiamento da construção do Aqueduto da cidade de Elvas e do Aqueduto Geral das Águas Livres em Lisboa. O imposto primitivamente incidiu sobre o vinho, mas alargou-se sobre outros produtos, isto é, qualquer cidadão que vendesse ao público géneros sujeitos ao imposto do real de água "carnes verdes, seccas, salgadas ou por qualquer modo preparadas; arroz descascado; vinho, qualquer que seja a sua qualidade; vinagre; bebidas alccoólicas; bebidas fermentadas; azeite de oliveira"tinha de fazer um manifesto na repartição da fazenda do concelho, caso contrário era multado com taxas entre os 7 e os 50 réis por quilograma/litro. (artigo 1.º do regulamento de 29 de Dezembro de 1879)
Forninhos teve alguns "infractores" a saber:
José Maria Alexandre, da freguesia de Forninhos, concelho de Aguiar da Beira e distrito da Guarda, por ter escondido numa tapada 13 litros de vinho, a 14 de Maio de 1893, na Romaria de Nossa Senhora das Neves, na mesma freguesia, sem o prévio manifesto.
PT/ACMF/DGCI/GUA/AGB1/TRA/002B (Processo)
→ Sublinho Romaria de Nossa Senhora das Neves, porque acho que houve um erro na transcrição, mas até nem é de descartar completamente a hipótese, pois a lenda de Nossa Senhora dos Verdes faz referência a Nossa Senhora das Neves.
António de Frias Cabral, da freguesia de Forninhos, concelho de Aguiar da Beira e distrito da Guarda, por ter exposto à venda 10 litros de água ardente em pipa de madeira, no dia 10 de Dezembro de 1884, na freguesia da Cortiçada, sem o prévio manifesto.
O Auto de Transgressão iniciou-se em 1884-03-14
PT/ACMF/DGCI/GUA/AGB1/TRA/004A (Processo)
Joaquim Ferreira, da freguesia de Forninhos, concelho de Aguiar da Beira e distrito da Guarda, por ter vendido 90 litros de vinho para consumo particular, a Carolina de Abreu, do lugar do Mosteiro, nos últimos dias de Novembro de 1893, sem que tivesse pago os direitos à Fazenda Nacional.
O Auto de Transgressão iniciou-se em 1893-12-16.
PT/ACMF/DGCI/GUA/AGB1/TRA/004B (Processo)
Augusto Vaz, da freguesia de Forninhos, concelho de Aguiar da Beira e distrito da Guarda, por expôr à venda no seu estabelecimento 10 quilos de arroz nacional, no dia 10 de Abril de 1895, sem o prévio manifesto.
O Auto de Transgressão iniciou-se em 1895-04-10.
PT/ACMF/DGCI/GUA/AGB1/TRA/021 (Processo)
José Ferreira de Melo, da freguesia de Forninhos, concelho de Aguiar da Beira e distrito da Guarda, por expôr à venda no dia 30 de Junho de 1876, 112 litros de vinho, ao preço de 80 réis por litro, sem o prévio manifesto.
O Auto de Transgressão iniciou-se em 1877-06-30
PT/ACMF/DGCI/GUA/AGB1/TRA/034 (Processo)
António Saraiva, da freguesia de Forninhos, concelho de Aguiar da Beira e distrito da Guarda, por ter exposto à venda em dia de feira, a 2 de Janeiro de 1884, no seu estabelecimento na localidade de Pena Verde, 30 quilos de arroz sem o prévio manifesto.
O Auto de Transgressão iniciou-se em 1884-01-02.
PT/ACMF/DGCI/GUA/AGB1/TRA/003A (Processo)
António Mota, do lugar de Valagotes, freguesia de Forninhos, concelho de Aguiar da Beira e distrito da Guarda, por ter vendido 60 litros de vinho para consumo particular a Francisco Castanheira, do lugar do Prado, nos últimos dias do mês de Novembro do ano de 1893, sem o prévio manifesto.
O Auto de Transgressão iniciou-se em 1893-12-16.
PT/ACMF/DGCI/GUA/AGB1/TRA/005B (Processo)
Foi assim até à implantação da República.
Para ilustrar, publico uma foto que eu, num impulso "roubei" à minha mãe, do tempo em que os meus avós tinham a venda e ainda vendiam vinho e outros produtos nas festas e feiras. Fonte:Arquivo das Finanças.