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sexta-feira, 23 de março de 2018

O bens da igreja de Forninhos

A lei da Separação do Estado e da Igreja, publicada a 20 de Abril de 1911, determinou o inventário de todos os bens da Igreja.
Para se comparar o que hoje existe e o que existia em 1911, reproduzimos aqui o original desse inventário realizado em Forninhos no dia 22 de Agosto de 1911 aonde se encontravam presentes o secretário de finanças do concelho, José Augusto de Carvalho e os cidadãos José Vital de Matos e António Bernardo, o primeiro na qualidade de administrador do concelho de Aguiar da Beira e o segundo na qualidade de Presidente de Junta da Paróchia de Forninhos. 
A saber:



Uma igreja matriz, contendo três altares denominados: Altar Mor - Altar da Senhora das Dores e Altar da Senhora do Rosário, bem como tem uma torre ou torrão, uma casa altos e baixos denominada de casa de residência paroquial.
No altar mor a imagem de Santa Marinha, aos lados Santo António, S.Sebastião e ao fundo um crucifixo de madeira dourada - seis castiçais da mesma madeira dourada.
No altar da Senhora das Dores há ao alto uma imagem da mesma Senhora, aos lados o Menino Jesus e S.Pedro, ao fundo um crucifixo de madeira já velho e dois castiçais de metal amarelo.
No altar da Senhora do Rosário, há ao alto uma imagem da mesma Senhora e aos lados o S.Paulo e outra imagem pequena da Senhora do Rosário, ao fundo um crucifixo de madeira já velho e dois castiçais de metal amarelo.
Na torre há dois sinos. No corpo da igreja há dois tocheiros grandes - uma lampada de metal amarelo - uma caldeirinha para água benta - quatro lanternas de latão, uma cruz processional de metal amarelo -um turibulo do mesmo metal - uma naveta do mesmo metal. Ao fundo da igreja está a pia baptismal.
Na sacristia há um armário comoda com dois gavetões para guarda dos paramentos - há três missais.


Paramentos

Duas umbelas de seda branca, uma nova e outra já velha - um baldaquino de madeira rameado a encarnado -um pálio de veludo encarnado - um pano de cobrir a estante -um frontal de veludo preto- um frontal de damasco branco e encarnado -um veo d'hombros branco rameado de damasco - uma capa de asperges de côr verde - uma dita branca - cinco abas -uma casula de renda branca toda rameada -uma casula de veludo preta com galão amarelo -uma dita de damasco encarnado -uma dita de renda branca - uma dita de damasco rosa -uma dita de damasco encarnada -uma dita de damasco verde -duas dalmáticas roxas, com acabamentos verdes - duas ditas de renda branca rameadas -as respectivas estolas e manípulos para todos estes paramentos.

Objectos de prata

Uma custódia, um relicário pequeno - um cálice com a parte interior dourada. 
E não havendo mais que inventariar nesta igreja passaram à Capela de Nossa Senhora dos Verdes que é composta por três altares denominados: Altar da Senhora dos Verdes, com imagem da mesma Senhora - Altar de Santa Rita com uma imagem da mesma Santa e Altar de S.Matias, com imagem do mesmo Santo, tendo cada altar dois castiçais de metal amarelo e um crucifixo de madeira. Tem duas casulas -uma de renda branca  e uma encarnada - uma aba e as estolas e manípulos respectivos.
Em seguida passaram à Capela de Santo Amaro em Valagotes.
Altar com a imagem de Santo Amaro- um crucifixo de madeira já velho e dois castiçais de metal amarelo. 
→ Curiosidade, ou talvez não, voltamos a encontrar num documento do século XX a menção à capela e imagem de Santo Amaro nos Valagotes e não há sequer referência à imagem de Santo António, que no século XVIII era orago da capela.
E não havendo outros bens a inventariar se concluiu este auto, ficando pois tudo entregue ao presidente da junta da paróquia que assinou com os representantes do Concelho e Secretário das Finanças.
O pároco de Forninhos não assistiu ao despojamento dos bens, pelo menos, nesse dia 22 de Agosto de 1911.
Terá aproveitado para tirar uns dias de férias em Agosto?





+ou- 30 anos depois, em 1942, foi feito novo arrolamento ao inventário, pois tinham esquecido os seguintes bens da igreja:
- Uma terra centieira e olival, sita no lugar do Ervedal, denominada "Serrado do Senhor".
-Uma tapada com sete oliveiras sita no "Lugar"
- Uma sorte de terra centieira,com quatro oliveiras,sita no "Lugar"







Datado também de 20 de Dezembro de 1942, ainda foram acrescentados outros bens que haviam ficado de fora do arrolamento inicial:
-Uma casa da Fábrica, junto à igreja paroquial.
- O adro da Capela de Nossa Senhora dos Verdes.


Foram testemunhas presentes António de Almeida de Araujo, solteiro, maior e Artur Manuel Gomes da Silva, casado, ambos comerciantes e residentes na vila de Aguiar da Beira. → Causa-me perplexidade não serem testemunhas presentes cidadãos residentes em Forninhos!
Também assinou com os referidos o Chefe da Secção de Finanças e o Pároco da freguesia de Forninhos,o Sr. Pe. Albano Martins de Sousa.


Fonte: site do arquivo digital das Finanças.
Com a ajuda de um neto de Forninhos, João Nunes.
Obrigada João.

18 comentários:

  1. Pergunto: e se hoje (24/03/2018), fosse feito novo arrolamento acerca dos bens da Igreja de Forninhos?
    O que porventura ainda perdura deste relato histórico?
    Memórias de altares e santos por de tais se ouvir falar aos nossos avós e pouco mais, uns tinham visto, outros não queriam saber, pois se nem os padres estavam presentes no testemunho e os entregavam a gentes de fora, curiosamente comerciantes?
    Parece que o passado se reencontra no presente.
    Recuo poucos anos atrás, aquando entregaram as memórias de Forninhos a gente estranha e bem paga e nada disto relevaram...dava trabalho e inteligência.
    Fica o desafio a quem de direito, façam um inventário actual para desse modo podermos comparar o antes e depois.
    Parabéns Paula e por agora por aqui me fico.

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    1. Mas ainda tiveram a lata de dizer publicamente que as letras que estão no guião da irmandade de Forninhos foram desenhadas pelos nossos avós!
      Em 1911 nem um guião havia!
      Em 1911 dos 555 habitantes, sabiam ler 21 homens e 10 mulheres!
      Mas enfim...foram os nossos avós que desenharam as letras do guião que sabe-se lá quando foi adquirido! O melhor é não ligar ao que dizem/escrevem e confrontá-los com documentos oficiais, porque só assim as pessoas podem facilmente distinguir a verdade da mentira!
      No século XX, como se vê a nossa igreja tinha imagens que hoje não tem, capela da N.S. dos Verdes, idem.
      Dos Valagotes nem falo...
      Aonde estão as imagens desaparecidas: Nossa Senhora das Dores, São Paulo, São Matias, etc...?
      A ordem observada nos altares também era outra.
      Que olhem para o arrolamento de 1911 com olhos de ver e façam então o inventário actual.
      Durante décadas a população, por omissão e receio, tudo consentiu; hoje continuam a desbaratar o nosso património e ninguém se importa. Ficam afinal as orações, como se essas fossem o importante para a história e memória de Forninhos.

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  2. Estou em Lagos e aqui não tenho pc. Só com o smartphone não consegui acompanhar.
    Bom fds. Abraço

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    1. Bom fim de semana Elvira e Boas Festas de Páscoa para si e família. Vivam as tradições pois elas são a história de vida dos nossos antepassados e a nossa história!
      Abraço.

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  3. Inventariar todos os anos ... a meu ver ... seria uma OBRIGAÇÃO!!!
    Que seja um fim de semana radioso!!!

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    1. Nem mais!
      Mas depois de 1942 creio que não foram feitas outras adendas ao documento inicial. Se o tivessem feito esses documentos também estariam ao nosso alcance.
      Só tenho pena do documento acima não dizer as cores da imagem de Santa Marinha, orago de Forninhos, para comparação com a imagem actual.
      Beijinhos, bom fim-de-semana.

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  4. Interessante e acho que se fosse feito por aqui todo inventario, nada teria guardado..Apenas o que APARECE ,rs... bjs, chica

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    1. Hoje a nossa igreja até se encontra mais cheia de imagens, mas tudo leva a crer que as de mais valor foram as que desapareceram!
      As capelas também continuam a ser as mesmas, o nome de uma delas é que não!
      Há uns anos falou-se que o padre (em 1916) confundiu o santo, mas em 1911 não esteve presente padre nenhum e estava presente uma testemunha de Forninhos. Assinou o documento "António Bernardo".
      Bjs, bom fds.

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  5. Um inventário muito minucioso e rigoroso, coisa que hoje em dia não se faz.
    Um abraço e Boa Páscoa.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    Livros-Autografados

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    1. Não fazem, só fazem as coisas por imposição duma lei. Por iniciativa própria «nada».
      Comparemos com a prevenção dos incêndios florestais.
      A 23 de Novembro de 2009 já eu escrevi isto:
      "Seria importante as Juntas de Freguesias começarem por criar ecopontos florestais nas respectivas freguesias e informar, sensibilizar os cidadãos para o propósito de recolher e encaminhar para destino adequado a biomassa florestal da região (restos de limpeza da floresta, como restos de madeiras, troncos, cascas, folhas, ramos, etc). Ao mesmo tempo, alertando-os para a facilidade de assim evitarem multas pela falta de limpeza da floresta".
      Ninguém ligou patavina, mas agora como saiu uma lei já têm medo das coimas e até já fazem sessões de esclarecimentos para limpar a floresta!
      Boa Páscoa e um abraço tb.

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  6. Basta olhar para o Passal, o que falta? Relógio mecânico com o seu pendulo para o Baptistério, os Serafins, o órgão, a Saga de Cristo das paredes na Igreja, penso que eram de prata. Qualquer dia vendem as oliveiras do adro, os sinos porque o relógio eletrónico os substituiu e sei lá , é uma tristeza.

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    1. É por isto e outras que nos tornamos num povo católico não praticante!
      Se Forninhos tivesse Gente (não digo homens, nem mulheres, digo GENTE) não tinha desaparecido nem metade dos bens do passal ou da igreja matriz e capela!
      Da freguesia, idem.
      Só vendem património se a população consentir e a população de Forninhos como se tem calado, consente. "Quem cala consente" é um antigo ditado popular.

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  7. Um inventário bem cuidadoso. Tão bom que os fiéis tivessem mais carinho e preservação, zelo nos seus valores.
    Um bom domingo! Uma boa semana...
    Bjs

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    1. Nem que fosse porque nenhum povo vive sem o seu passado!
      Beijinhos.

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  8. Não presto culpas, antes, tenho a pretensão de dignificar a minha terra sendo a coisa fácil de explicar nestes escritos históricos.
    Houve um tempo em que a paróquia devia ser possuidora de bens de formas várias.
    De tais, retiro do texto um baldaquino, coisa nobre para paróquias diferenciadas pela sua nobreza, coisa que esta testamuenteira de Deus, devia ser, embora o nosso pároco tal não tenha entendido e ignorar os seus 220 anos. Esteve mal, pois e quanto me parece, cantar e dançar, é o seu testemunho de Cristo,
    e as velhotas agradecem---
    Pouco mudou, a roubalheira continua e prece que os culpdos são quem escreve.
    Afinal quem teve e tem as chaves da igreja e ...recebe as contas?
    Vai doer o que digo: Ninguém quer saber de nada, recebem sem perguntar e agradecem o acréscimo; o que lá vai, lá vai, seja o bolso que for...
    Ou pensam que não haja ainda vivo que não se tenha consolado?
    "Per omnium patria amen"

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    1. O desaparecimento do baldaquino merecia alguma investigação, mas é o que dizes: "Ninguém quer saber de nada".
      Pergunto eu: as imagens de Nossa Senhora do Leite e Nossa Senhora do Rosário que estão na capela não seriam as da igreja matriz: Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora das Dores?

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  9. Boa noite Paula,
    Pelo que pude ler pareceu-me que a igreja e as capelas tinham um grandioso património.
    Pena que nos tempos que correm esses inventários não se façam (penso eu) com esse rigor, apesar de esse ter sido imposto por lei.
    Ouço dizer (até na comunicação social) que alguns bens de algumas igrejas vão desaparecendo, mas sem provas de quem faz tais actos.
    Esperemos que todos (povo e clero) velem por tão ricos patrimónios.
    Beijinhos e feliz Páscoa para a Paula e Xico.
    Ailime

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    1. Olá Ailime.
      Se se comparar o que hoje existe, e o que existia em 1911 é possível chegar facilmente a esta conclusão!
      Desapareceu, no séc. XX, sobretudo o património material. Diz-se (e eu concordo com o que se diz) que os párocos foram os principais responsáveis, mas a maioria da população, seja por omissão ou receio, também consentiu!
      Mas na história de Forninhos já houve pessoas, principalmente um Homem (Francisco Almeida - avô do XicoAlmeida) que não se calou. Esse SENHOR foi a primeira pessoa a dar conta do roubo de 2 valiosos castiçais da nossa capela - isto em 1959 - e como um grande devoto, enervado disse publicamente dirigindo-se à pessoa de quem os roubou que lhe puxava os colarinhos, nem que fosse com as gengivas. Nada aconteceu à pessoa que praticou o roubo e certo é que ainda foi mentor das Misericórdias Portuguesas, pasme-se!!!
      Mas o Clero nem tudo levou, os padres nunca levarão a História...as "estórias" e...as memórias. Ficará sempre na memória local este episódio.
      Houve um santo que também desapareceu pela calada da noite, pelas mãos desse Sr. Padre - o S.Pedro.
      Ao longo dos anos muito mais património desapareceu da nossa igreja e residência paroquial...
      Beijinhos e Boas Festas de Páscoa.

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