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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Em Maio comem-se as cerejas ao borralho...


...borralho é a lareira. Maio é um mês em que o frio intercala com algum calor, por isso dizem que em Maio comem-se as cerejas ao borralho e este ano parece dar razão ao ditado.
Outra expressão popular, muito usada nesta altura em Forninhos, principalmente quando se anda a apanhar as cerejas é as cerejas do Chico Balas, comem-se duas a duas, as que estão na barriga são minhas, as que estão na cerdeira são tuas.. Esta é mesmo nossa! Mas quem quiser conhecer a proveniência clique aqui:
Como já devem ter reparado eu adoro provérbios, ditos e modos de dizer, então trago aqui por causa do clima que temos neste momento o que mais gosto:
Uma velha em Abril
Queimou um carro e um carril
Uma camba que lhe sobrou
Para Maio a guardou
E um bocado que lhe sobrou como um punho
Ainda o guardou para Junho.
Há mais rifões e expressões populares sobre estes meses até ao Verão, quem souber algum, por favor, deixe-nos aqui em comentário esse contributo. Agradecemos todos.

38 comentários:

  1. Cheguei a publicar no 1-o dia de cada mês alguns provérbios relativos ao mês.

    Neste link vêm muitos. Talvez já conheças.

    http://proverbios.aborla.net/

    Beijinhos.

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    1. Obrigada Lisa.
      É desta forma que muito conhecimento antigo vai passando de geração em geração.
      Beijinhos**

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  2. Gostei da foto, gostei dos proverbios, e adoro cerejas!!!
    Beijo

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    1. Lídia, cá para nós que ninguém nos ouve...se forem roubadas ainda sabem melhor...
      Beijo e obrigada pelo comentário.

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  3. É este delicioso fruto o que mais encanta as crianças e leva os adultos de volta à meninice.
    Pena que dura pouco (seis a oito semanas), mas ainda assim o suficiente para nos podermos deliciar com elas e a garotada ter brincos naturais vermelhinhos, pendurados nas orelhas.
    Dizem que as primeiras cerejas a amadurecer na Europa, são as afamadas de Resende, mas em Forninhos, algumas cedo aparecem e par a arrelia do agricultor, a passarada quase nem dá tempo para a prova, tal a pressa com que as debicam.
    Daí o provérbio " em Maio, as cerejas, uma a uma leva-as o gaio; em Junho, a cesta e o punho ".
    Curioso que aparecem pela altura das favas, mas são abençoadas e se da fava se diz "favas me fartam...favas me matam ", das cerejas, desde a linda flor perfumada, até ao último caroço, tudo é divina.
    Por aqui me fico, pois " as palavras são como as cerejas, vão umas atrás das outras".

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  4. Ops!!!
    Imperdoável;
    Obrigado Paula pela referência ao meu blog.
    Beijos

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  5. Post muito lindo e agradável, Paula!
    Viva as cerejas! Maio está acabando, mas, um lindo post foi lançado por você sobre as maravilhas deste lindo mês!...
    Beijos e o desejo de que tenha um final de semana JOIA!

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    1. Foi por isso, antes que Maio finde, que me lembrei de divulgar neste meio de comunicação o meu fruto favorito - as cerejas - que nesta altura pintam a nossa paisagem.
      Beijos e votos de um bom fim de semana tb.

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  6. Que lindas cerejas , parecem de plástico , mas estas são mais belas que de plástico.
    Bom fim de semana.
    http://eueminhasplantinhas.blogspot.com.br/

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    1. Olá Simone, é como dizes, estas são mais belas.

      Bom fim de semana.

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  7. Olá, fiquei tentada por essas lindas cerejas, nunca comi a fruta somente na forma industrializada.
    Esses ditos populares são maravilhosos, por aqui também temos, adorei conhecer os prover bios de Forninhos.
    Contribuo com um dos nossos:
    - está um frio de renguear cuscu.
    ( quer dizer que está muito frio, e no frio os cachorros ando com uma das perna encolhida)
    Bjos tenha um ótimo fim de semana.

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    1. Apenas fantástico, Anajá.
      Aqui nos dias de muito frio são usuais expressões como “está um frio de rachar” ou “está um frio que corta” que acho se diz quando sopra um vento forte e frio que corta a cara como a navalha do barbeiro.
      Bjos e passe um óptimo fds tb.

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    2. Ah!
      As cerejas são um mimo do mês de Maio e que se prolonga pelo mês de Junho, pelo que fica a imagem para abrir o apetite e agendar, um dia, planos de viagem para o tempo delas ;)

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    3. Prosaicas e habituais, as frases soltas nas ruas, pela madrugada ou cair da noite.
      "esta um barbeiro que ate corta, nem se aguenta, parecem navalhas a cortar...".
      E entre o borralho da lareira e o deitar na cama, diz-se que "esta noite quer mais mantas..."

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  8. Por vezes apetece-me bater na "Coisa", por não relatar coisas tão simples e belas como as cerejas e o mês de Maio e disto não lembrar e registar a nossa aldeia em vez de se embrulharem nas pesquisas como nós tantas vezes a arrebentar as silvas dos troncos das cerdeiras, ah!, ia-me esquecendo dos tojos. Convenhamos, alguém me ouviu falar em carqueja?...
    Chamo a "coisa" à coisa aqui postada, pela simples razão de o ocorrido e ainda hoje lembrado episódio do "Chico Balas", se ter passado no Lugar da Pardamaia, não comigo, como há quem diga, mas com o meu avô Francisco.
    No local chegou anos mais tarde a ter terrenos e vinhas, embora sem nenhuma Villa Romana. Falo nisto porque se diz que foram os romanos a trazer do Japão para a Europa as cerejeiras e quiçá ´ não haja aqui algum fundamento, tendo por base o estudo e análise científica do caroço da cereja. falo a sério, pois se os romanos eram aventureiros, o meu avô, desde criança tal era! Daí, ele e outros amigos rapazotes, tomarem de assalto a cerdeira e escarnecer do dono forreta (Avé César, nós te saudamos) e lhe "cantar" a canção do Chico Balas.
    Se fosse no tempo dos romanos, teriam utilizada a táctica do quadrado, mas...
    Tão bem ou tal mal, que ainda hoje perdura na memória, mais real que machados e moedas por ali "achadas".
    Talvez esta invenção da riqueza arqueológica de Forninhos, tenha partido do ditado: "Quem em Maio não merenda, aos finados se encomenda", ou então falhou na profecia: "Maio pardo (pardamaia?), centeio grado.
    Claro que centeio, o de grão para o pão e não para erva de semente.
    E esta, Hein?!!!

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    1. Parabéns pelos provérbios...trocadilho "Maio pardo (pardamaia?), centeio grado."...e não só....as conversas são mesmo como as cerejas...atrás de um "belo" assunto vem outro!
      Gostavam tanto de sublinhar que o Cura Baltazar Dias, o padre que respondeu por Forninhos a 20 de Junho de 1758, não se interessou em responder a todas as perguntas dos Serviços da Monarquia orientados pelo Marquês de Pombal e afinal passados 255 anos não fizeram melhor!
      Pelo menos o padre à pergunta, n.º 15:
      "Quaes são os frutos da terra que os moradores recolhem em mayor abundância?"
      Respondeu que "os frutos sam pam e vinho, cereja azeite e castanhas".
      Embora no livro de Aguiar da Beira “A História a Terra e as Gentes" se leia:
      "15. Os frutos são pão, milho, trigo, azeite e castanhas", para mim, que também transcrevi as memórias paroquiais, a transcrição do livro não está correcta e continuo a dizer que escreveu “cereja” e fê-lo talvez porque respondeu no tempo delas.
      Quanto ao "Sítio Romano da Pardamaia" se na época romana foi o sítio central da freguesia, onde viveria um "dominus" com alguns recursos económicos provenientes da exploração da vinha e da oliveira e de cereais não percebo então porque é que nenhum dos lagares/lagarinhos mostrados e que são da época romana, atenção! não se situam na Pardamaia!
      Cerejeiras/Cerdeiras sempre por lá houve muitas, não sabia é que o episódio do "Chico Balas" se passou em cima duma cerdeira da Pardamaia.

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  9. olá!
    Tão lindas as cerejas no pé, nunca teria imaginado assim. Sabes, são as frutas que mais gosto, porém no Brasil são as mais caras.

    Grande abraço

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    1. Olá!
      Presumo que não conheça uma cerejeira/cerdeira, é que na época da floração as cerejeiras ficam também muito lindas.
      É pena pelo computador não poder prová-las, porque estas são de graça.
      Retribuo o abraço.

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  10. Uma imagem para abrir mesmo o apetite! Um fruto muito bonito e muito saboroso, e realmente sempre houve esse hábito de fazer das cerejas brincos. E o tipo de fruta que se come duas a duas e é difícil parar de comê-las. Acontece-me o mesmo com os figos, como muitos de seguida...:-)
    Quanto a provérbios assim de repente, só me recordo destes:
    Maio pardo e ventoso, faz o ano farto e formoso.
    Maio horteão; muita palha pouco grão.
    Esse dizer da velha que em Abril queimou um carro e um carril nunca tinha ouvido, e é muito completo.
    Gostei do post, Paula. E já agora, se "favas me fartam...favas me matam" também nunca tinha ouvido, e muita gente detesta, mas eu gosto muito de favas.
    xx

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    1. Olá Laura.
      É muito bom vê-la por aqui, há 1 ano (+-) publicamos os figos lampos juntamente com as cerejas e entre figos e cerejas, houve quem não resistisse a uns brincos vermelhos! Gosto de favas também e já sugeri ao XicoAlmeida que publique uma receita antiga da nossa terra à base de favas. Um desafio que aceitou ;)
      Sobre os provérbios como diz o rifão: "Aprender até morrer" ou "nunca é tarde para aprender" e eu não conhecia esse que diz "Maio hortelão; muita palha pouco grão". É muito giro e gostamos muito da visita :-)

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  11. Oi Paula!
    Adoro conhecer e também repetir certos provérbios, por aqui exitem muitos também, como esses, em abril, chuvas mil, mês de maio, mês das flores, mês de Maria, mês dos amores.
    Das cerejas só conheço, alem da fama que tem de deliciosa, as em conservas, e por sinal, são bem carinhas, e também as cerejeiras em flor que são bastante divulgas em fotos, que merecem mesmo de tão lindas.
    Beijos!

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    1. Nós que crescemos a ter cerejas "aos molhos", nem nos apercebemos que no Brasil são muito caras e muitos nunca viram cerejas ao natural :(
      Sobre o mês de Maio há uma bonita canção de Zeca Afonso que diz:
      "Sempre depois da sesta/ Chamando as flores/ Era o dia da festa/ Maio de amores."
      Maio, mês das noivas, Maio era o tempo do amor e do casamento e sabe porquê Fátima?
      Porque a Igreja recusava celebrar matrimónios durante a Quaresma e desaconselhava os crentes de praticarem relações sexuais nesse tempo de recolhimento e de sacrifício, que preparava a Páscoa. Acabadas as festividades pascais e antes que viessem em força os trabalhos agrícolas das mondas, das ceifas e das colheitas em geral, os camponeses (que eram 85% a 90% da população, lembremos) tratavam de casar.
      Se fizermos a análise dos registos paroquiais, verificamos que, na sazonalidade dos casamentos, Maio ocupa geralmente o primeiro lugar.
      Beijos e bom domingo!

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  12. Boa noite Paula, que cerejas lindas! Vermelhas e tão brilhantes! Aproveitem bem, pois sabe como são os preços por aqui;))!

    Sobre os provérbios também aprecio imenso e aqui deixo o meu contributo:

    Quando chove na Ascensão, até as pedrinhas dão pão;

    Das cerejas à castanha bem a gente se amanha;

    Maio frio, Junho quente, bom pão e vinho valente;

    Maio claro e ventoso faz ano rendoso;

    Pelo S. João a sardinha pinga no pão;

    Pelo S. João deve o milho cobrir o chão;

    Galinhas de S. João pelo Natal poedeiras são;

    Guarda pão para Maio, lenha para Abril e o melhor tição para o S. João;

    Para o S. João, guarda a velha o melhor tição;

    Chuva no S. João, bebe o vinho e come o pão;

    E bom apetite para as cerejinhas que devem ser uma delícia!
    Beijinhos e bom fim de semana.
    Ailime

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    1. Esta fotografia, Ailime, é um brinde à natureza que é pródiga quando o homem trata bem, neste caso, as cerejeiras/cerdeiras.
      Gostei do rol de adágios populares que aqui trouxe, em especial do "Para o S. João, guarda a velha o melhor tição" e o que diz "Das cerejas à castanha bem a gente se amanha". Em Forninhos dizia-se:
      "Do cerejal ao castanhal, bem vai, o pior é do castanhal ao cerejal" ou
      "do cerejo ao castanho, bem me eu amanho, mas do castanho ao cerejo, mal me vejo".
      Queria isto dizer que desde que começavam as cerejas até às castanhas havia sempre que comer, mas quando acabassem as castanhas e até que houvesse novamente cerejas passava-se fome.

      Cont. de bom fs e beijinhos**

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    2. P.S: "Quando chove na Ascensão, até as pedrinhas dão pão"; não conhecia.
      Em Forninhos dizia-se que "Quinta-Feira da Ascensão seca a raíz ao pão", anunciando assim o pão, a vida e o aloirar/amadurecer das searas.
      Hoje, dia 1 de Junho, a Igreja católica comemora a subida de Jesus ao Céu e é o dia que se faz a bênção dos campos.

      Bom Domingo!

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  13. As cerejas são lindas e aqui custam os olhos da cara,rs Adorei os ditos populares! beijos,lindo domingo! chica

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    1. Escrevi este 'post' "a correr", mas é bom saber que quem lê gosta do que vê, e sem falsa modéstia é um estimulo a continuar.
      Beijos e lindo domingo para si tb.

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  14. Um cantinho à beira mar, muito tempo para pensar ...
    Aqui como cerejas aos montes, às mãos cheias, sem lavar. Por isso é o paraíso e cada um tem o seu!
    Beijo

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    1. Pois. Não há fruto que saiba tão bem, como o que colhe directamente da árvore, e então cerejas...sabe tão bem comê-las duas a duas...atrás de uma prova-se logo outra e o difícil é parar.
      Beijo.

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  15. Aqui no Brasil as cerejas são caras e as vemos nas versões verdes e vermelhas pela época de Natal. Temos um Mercado Municipal excelente para estas frutas, embora por enquanto sejam raras. Um abraço, Yayá.

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    1. Olá Yayá, já tinha ouvido que no Brasil a cereja é vendida somente durante a época de Natal, mas "olhe" que os portugueses também gostam de comprar cerejas no Natal, como um luxo. São cerejas do Chile onde lá em Dezembro o clima é o do nosso Junho. Nunca comprei, pois são muito caras, mas dizem que são boas tal qual as portuguesas, portanto, é um erro pensar que toda a fruta importada não presta.
      Aqui na região de Lisboa temos o MARL (Mercado Abastecedor da Região de Lisboa) tem uma escolha imensa de fruta importada.
      Um abraço meu.

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  16. Paula e Xico,

    As cerejas são muito saborosas. No Brasil quase não comia, devido ao preço alto. Aqui, não é tão caro assim, e eu aproveito.
    Esses provérbios são muito legais.
    Feliz em estar de volta e visitando pessoas tão amadas.
    Uma linda semana! Beijos

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    1. Bons olhos a vejam, Lucinha.
      Se na NZ não são tão caras "esbalde-se" então a comer cerejas, pois se fôr como aqui, elas duram pouco (seis a oito semanas).
      Um grande abraço.

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  17. Foram uns amores singulares, aqueles. No Junho, as cerdeiras punham por toda a veiga uma nota viva, fresca e sorridente. As praganas aloiravam, as cigarras zumbiam, as águas de regadio corriam docemente nas caleiras, e dos verdes maciços de folhas leves e ondulantes, emoldurados no céu, espreitavam a primavera, curiosos, milhares de olhos túmidos e vermelhos. Era domingo. E ele subira por desfastio à velha bical dos Louvados a matar saudades de menino.

    - Não dás um ramo, ó Coiso? - perguntou do caminho a rapariga.

    - Dou, dou! Anda cá buscá-lo. Pela voz, pareceu-lhe logo a Natália. Mas só depois de arredar a cabeça de uma pernada é que se confirmou.

    - Não estás de caçoada? - Falo a sério!

    Era bonita como só ela. Delgada, maneirinha, branca, e de olhos esverdeados, fazia um homem mudar de cor.

    - Olha que aceito! - E eu que estimo... Tinha já no chapéu algumas cerejas colhidas, reluzentes, a dizer comei-me.

    - Não teimes muito...

    - Valha-me Deus!... A rapariga atravessou então o valado, entrou na leira e chegou-se, risonha,

    - Segura lá na abada... Encandearam os olhos um no outro, ela de avental aberto, ele de rosto afogueado, deram sinal, e a dádiva desceu, generosa e doce.

    Vista de cima, a Natália ainda cegava mais a gente. O queixo erguido dava-lhe um ar de criança grande; os seios, repuxados, pareciam outeiros de virgindade; e o resto do corpo, fino, limpo, tinha uma pureza de coisa inteira e guardada.

    - Terão bicho?

    - Têm agora bicho! Ia-te mesmo dar cerejas com bicho!

    Sem querer,, a resposta saíra-lhe expressiva demais. O coração agitou-se um pouco, o instinto, acordado, estremeceu, e os olhos, culpados, fugiram-lhe do rosto da moça e fixaram-se sonhadoramente no céu.

    - Bota cá mais meia dúzia. Já que comecei... À medida que se enfarruscava de sumo, a Natália ia-se tomando também num fruto que apetecia colher. Mas recusou-se a vê-la com pensamentos desejosos e atrevidos.

    - Segura lá esta pinhoca... Era um lindo ramo que fora buscar à coroa quase inacessível da árvore. As cerejas, libertas da sombra protectora das folhas, tinham-se dado inteiramente ao sol, deixando-se amadurecer por igual, num abandono quente e ditoso.

    - Que lindo! - É para que saibas... Concentraram a atenção um no outro, e de tal modo ficaram fascinados, que se ela não dá um grito de aviso, com a oferta vinha o doador também ao chão.

    - Cautela!

    - Não há perigo. No enlevo em que ficara, o desgraçado até se esqueceu do sítio onde estava.

    - Queres mais? - Não, bem hajas... Pôs-se logo a descer, um pouco atarantado por lhe faltarem já as palavras que lhe havia de dizer cá na terra. Ela é que entretanto se escapulira. .- Adeus!...

    *Miguel Torga, Novos Contos da Montanha*

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  18. O namoro, contudo, tinha começado. Sem nunca falarem daquela tarde, sabiam ambos que se amavam e que fora a velha cerdeira bical que lhes aproximara os corações. Pena elo ser o que era: uma natureza tímida, incapaz de um acto rasgado e levado ao fim.
    Falavam ao cair da tarde, quando a fresca do anoitecer aligeirava o cansaço das cavas, sem que ninguém reparasse, pois a povoação aceitara já aquela união como um facto natural e acertado - e o rapaz ainda a meio do caminho, atarantado e reticente.
    (...)
    Infelizmente, a vida não podia parar naquela lírica indecisão. Os meses passavam, as folhas caíam, e outros renovos vinham povoar a terra.
    - O João Neca esperou-me ontem à entrada do povo... - começou a Natália, à saída da missa.
    - Ah, sim? E depois? - perguntou ele, a sentir o sangue subir-lhe à cara.
    - Pediu-me namoro... - deixou ela cair com melancolia.
    Era justamente altura de lhe dizer tudo, que a não podia tirar do pensamento, que só quando a levasse ao altar teria paz, que não seria nada no mundo sem os seus olhos verdes ao lado. Mas ainda desta vez o ânimo lhe faltou.
    (...)
    A pobre Teodósia é que lutava às claras. E dias depois já estava a picar o filho:
    - Sabes o que me disseram hoje na fonte? - Que a Natália tem namoro com o João Neca... - respondeu, vencido.
    (...)
    Os sinos tocavam festivamente, ia por toda a aldeia um alvoroço de noivado, e só naquela casa a tristeza se aninhava sombria e desamparada a um canto.
    - Também eu gostava dela... Era outra vez Junho, as searas aloiravam já, e nas cerdeiras, polpudas, rijas, as cerejas tomavam uma cor avermelhada e levemente escarninha.


    Miguel Torga, Novos Contos da Montanha

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  19. Meu avô, que é do Minho, dizia: Em junho, frio como punho!....rss...só esse que sei tb! Muito interessante sua postagem,Paula! Acho legal trabalhar com as crianças esses proverbios. bjs e boa semana,

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    1. Não haja dúvida que divulgação de provérbios como esse que dizia o seu avô, seria uma mais valia na consciencialização e divulgação do viver e do sentir dos nossos avós, mais do que géneros de textos monográficos que nada dizem para as tradições e costumes da nossa terra.
      Bjos e boa semana tb.

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  20. Nada como colher o fruto da árvore, marvilha é come o fruto acabado de colher, pena foi mesmo não ter conseguido comer nenhumas das minhas, pois quando lá cheguei já alguns pássaros de duas pernas e braços as tinha apanhado.
    Pode ser que para o ano que vem não haja para colher

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