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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Vimos desejar um Ano Novo Bom


Vê-se bem que a imagem acima não é de Forninhos...nem do tal "Forninhos com Futuro", mas isso agora não interessa nada e nem eu me vou alongar na descrição do sentido da imagem...cada um pense o que quiser sobre...
Sem mais achegas, porque é tradição FELIZ 2015 A TODOS!

PS- A imagem é do Google.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Feliz Natal 2014

Ande o frio por onde andar, pelo Natal cá vem parar


Os interesses comerciais, estão a sobrepor-se ao verdadeiro espírito natalício. E nós sabemos que é verdade. Nas aldeias beirãs, felizmente as tradições ainda se vão mantendo. Por exemplo, as filhoses ainda são um doce com presença obrigatória na mesa do natal. Têm uma cor de sol, dada pela fritura, com um toque areado dado pelo açúcar que se polvilha sobre elas. 
Feitas em cada casa, a base deste doce é a farinha de trigo e fermento de padeiro, a que se acrescentam os ovos caseiros e algum azeite e aguardente q.b.. Depois de levedada a massa é separada em pequenas porções que se trabalha com as mãos de forma a ficar esticada/espalmada, de seguida é levada a fritar em azeite (ou óleo) bem quente e é ficar a vê-las crescer e...salivar. 
Quando estão no ponto de fritura, que é quando atinge uma cor dourada, retiram-se e num prato grande são polvilhadas só com açúcar (ou com uma mistura de açúcar e canela). É neste momento que sabe bem saborear a primeira. 
Entretanto, é meu dever informar que a panela de ferro de três pernas, não faz parte do contexto das filhoses, mas ela é um adereço indispensável para evitar o calor excessivo a quem as está a "esticar" ou a "virar". Quem já participou nesta tarefa, facilmente compreenderá a presença da dita cuja. 
É um belo "serão" passado em família a fazer as filhoses.

Votos de um Feliz Natal 2014 para os forninhenses e para todos os nossos visitantes, amigos bloguistas com filhoses e tudo a que o Natal tem direito.


***BOAS FESTAS***

sábado, 13 de dezembro de 2014

Os artistas

Artista é quem domina uma arte. Artista é quem vive uma arte. Artista é quem vive de uma arte. Hoje quando dizemos a palavra «artista» falamos de palcos, telas pintadas, pedras esculpidas. Mas nem sempre foi assim. Dantes, em Forninhos, artistas eram os profissionais que iam às casas das pessoas resolver problemas: do telhado, duma parede, duma porta...

Homenagem ao tio Ismael Lopes - Pedreiro. Escultura do artista Laiginhas
pertença de Henrique Lopes
«É preciso arranjar a parede. Temos de chamar um artista». Ou então: «É melhor chamar cá o artista para arranjar a porta». O artista era o profissional que sabia reparar coisas e que a troco de quase nada dava um jeito no que funcionava mal. O artista era aquele que se chamava para pequenas obras, pequenas reparações. Havia artistas de vários ramos: o pedreiro vinha arranjar uma parede, o tanoeiro (hoje sei que se chama assim) arranjava tudo o que era dorna, pipo ou pipa, o carpinteiro vinha tapar um buraco do soalho.
Usavam ferramentas muito apropriadas às suas tarefas, cada artista tinha as suas ferramentas específicas, adequadas à sua arte. Por exemplo, o carpinteiro? Quem mais tinha aquele operacional serrote ou aqueles martelos feitos de madeira, para já não falar da magnífica plaina?

plaina do meu tio António Carau - carpinteiro
Mais tarde, seguramente depois de 1959 aparece, por imposição do progresso, outro ramo de «artistas». Nesse ano foi inaugurada a electricidade nas ruas de Forninhos. A pouco e pouco, as casas foram sendo dotadas desse benefício. Aí, começam a surgir novas avarias e surge uma nova casta de «artistas»: os que sabiam mexer no chamado «quadro» e no chamado «fio».
Mas hoje quando dizemos a palavra «artista» já falamos de pedras esculpidas. Este artista chega ao local da obra e tem toda a autonomia. Faz o que precisa fazer e tem carta branca. 
Tira cada apetrecho necessário, mexe-se com precisão e com exactidão. Em serviço, conversa menos do que é habitual.
Tem todo o espaço por sua conta. Toda a gente se afasta. As pessoas, mesmo que estejam a ver como é que a coisa se desenvolve, apenas conversam baixinho. É um ambiente típico.
O artista é o artista!
S. Matias - Contributo da CF S. dos Verdes - Ano 2013
Monumento aos Combatentes do Ultramar, em Forninhos
Comemorações dos 500 anos do Foral de Carapito -Aguiar da Beira
Matança, Fornos de Algodres - Comemorações dos 500 anos do Foral
Outros artistas que apareciam em Forninhos 2 ou 3 vez por ano eram os artistas do circo e esta é uma imagem muito forte na minha memória, o circo e seus artistas que vinham divertir-nos a todos em Forninhos dos anos 70/80. Um pouco de música, um pouco de trapézio, umas anedotas e muita expectativa de todos e uma grande noitada de correrias dos pequenos (nós) pelo largo da aldeia (da Lameira). 
Vinham numa carrinha velha.
Agora já não vem o circo, mas há mais palhaçada que nunca!, sem menosprezo pelos profissionais, claro. Esses artistas sabem melhor que ninguém que para manter o povo calmo, amorfo, basta dar-lhes diariamente panem er circenses (pão e circo).


Nota: as obras apresentadas foram feitas pelo artista José Maria Laijinhas, da Ponte do Abade e são contributo do Henrique Lopes (neto de Ismael Lopes). Bem-haja.

sábado, 6 de dezembro de 2014

"QUANDO OS LOBOS UIVAM"

Relatório N.º 6282 (7 de Fevereiro de 1959) relativo a
"QUANDO OS LOBOS UIVAM"

Corria o ano de 1958 quando Aquilino Ribeiro publicou o seu livro-choque "QUANDO OS LOBOS UIVAM". "Aquilino gostava das verdades duras como punhos". Ler mais em:
Esta semana, o blog dos forninhenses publicou também um post-choque "OS FILHOS DO CENTRO" que, certamente, desconheciam que no seio de uma população iletrada e ignorante, há gente capaz de se não calar, apesar do preço a pagar. O enredo do livro-choque de Aquilino Ribeiro, retrata a época do Estado Novo (a história tem lugar nos finais dos anos 40 e início dos 50 do século XX) e retrata a saga dos beirões em defesa dos terrenos baldios. Mas sobre os baldios virá um dia destes outro post-choque, pois como dizia Aquilino: "A serra foi dos serranos desde que o mundo é mundo, herdade de pais para filhos. Quem vier para no-la tirar connosco se há-de haver."
Então...nos nossos dias, Portugal vive num regime bem diferente, onde a liberdade de expressão faz parte dos direitos democráticos, só que a gente nova de Forninhos não aceita críticas, mostrando que prefere viver na ditadura; tal como uma alcateia que sente indefeso o rebanho, surgem de novo na ribalta, vozes/nomes que, se tivessem alguma vergonha, deveriam permanecer no anonimato, mas não, em pleno Inverno descem da montanha em cujo cimo se refugiam, espreitando a oportunidade do retorno...
Em Forninhos, já se sentem os uivos dos lobos predadores, sedentos de carne. Andam sobejos - quer dizer ousados, atrevidos - pois resfastelam-se com os pratos fartos, convencidos de que poderão voltar ao repasto, sempre que lhes apetecer. É vê-los aos domingos, de pêlo luzidio e dentes afiados, porque é sempre assim quando se ouve o uivar dos lobos.

TRANSCRIÇÃO do Relatório/Censura N.º 6282 (7 de Fevereiro) relativo a "QUANDO OS LOBOS UIVAM" DE AQUILINO RIBEIRO, 
no blog Ephemera - Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira

"Quando os Lobos Uivam"

«O autor intitula este livro de romance, mas com mais propriedade deveria chamar-lhe de romance panfletário, porque todo ele foi arquitectado para fazer um odioso ataque à actual situação política.
Escrito numa prosa viril, classifica o governo de "piratas" e descreve várias Autoridades, Funcionários, Polícia, Guarda Republicana e Tribunais em termos indignos e insultuosos.
Um interrogatório num posto da G.N.R. e uma audiência dum Tribunal Plenário, são focados de uma forma infamantes.
São desnecessárias mais citações, porque basta folhear o livro, encontra-se logo matéria censurável em profusão.
É evidente que, se o original tivesse sido submetido a censura prévia, não teria sido autorizado, porque é, talvez, a obra de maior ataque político que ultimamente tenho lido.
Sucede, porém, estou disso certo, que já devem ter sido vendidos muitas centenas de exemplares, e muitos outros também, já devem ter passado a fronteira, por isso, deixo ao esclarecido critério de V.Exa., decidir se nesta altura, será de boa política mandar apreender o livro, fazendo-lhe (...)».
Com base no Relatório, lê-se, foram tomadas as seguintes decisões:
«1) Não autorizada a reedição;
2) Não permitidas críticas em imprensa;
3) Apreender os poucos exemplares que, possivelmente, existam (...)».
Despacho assinado pelo censor.

-/-
Apesar das decisões acima, não devem ter apreendido muitos porque há pelo menos mais de 500 primeiras edições assinadas pelo autor e a venda pela Bertrand esgotou quase no fim de 1958. Dos exemplares editados restavam menos de 100 a 31 de Dezembro de 1958 em armazém. Aquilino sempre vendeu bem no Natal, excepto 1996 e seguintes.

domingo, 30 de novembro de 2014

Os filhos do Centro

Em termos históricos, em Portugal, os primeiros centros sociais apareceram no final dos anos 30 do século XX. 
No início dos anos 50, nascem os "Centros de Assistência Paroquial", por influência de D. António Ferreira Gomes, antigo Bispo do Porto, que existem hoje como "Centros Sociais Paroquiais", dado que são organizações pertencentes à igreja católica, de acordo com o modelo de Estatutos em vigor. 
Juridicamente, o Centro Social Paroquial está equiparado às IPSS, mas tem estatutos próprios aprovados pelo bispo diocesano e são consideramos um serviço da paróquia.



Já na natureza nada se cria, nada se muda...tudo se transforma! E aqui temos à entrada um candelabro...ecológico, claro está!
Que se faça luz, então, na mente dos actuais responsáveis do Centro Social Paroquial de Forninhos, porque vou falar do aproveitamento social consentido por parte dos membros sociais, da assistente social e utilizadores, fazendo apenas leitura das fotos que seguem:



Celebrou o Centro de Forninhos, no dia 26.10.2014, a VIDA, sendo os utentes incentivados pela Sra. Mariana Vaz a retomar esta "tradição", isto é, a festejar os anos no Centro no último domingo de cada mês. Recomeçou em Outubro e ficou marcado o de Novembro. Acontecerá, presumo, hoje, domingo, dia 30.11.2014. Tudo muito bem. A ideia é boa. Boa mesmo. 


Mas...como é useiro e vezeiro, quando há festa ou é domingo, o Centro recebe familiares, amigos e conhecidos de todas as idades, quando a sua actividade principal é o apoio à 3.ª idade.





Eu não acho bem, não só porque vejo ali jovens utilizadores que não necessitam da "caridade" do Centro, mas também porque vejo ali pessoas que bem conheço a aproveitarem-se de apoios financeiros que esta Instituição recebe destinados para a resolução dos problemas dos mais carenciados.
Este tipo de ajuntamento que já vi acontecer anualmente na Festa do Espírito Santo, por exemplo, quanto a mim é "só para inglês ver". Sempre senti que o Centro de Forninhos limita-se a ver a pessoa como um número, ou seja, para receber verba inscreve residentes e não residentes e sei lá mais que tipo de utilizador...
Aceita inscrições para almoços de não-inscritos!
O problema da desertificação/ou/despovoamento e, consequentemente, o encerramento por falta de utentes, não pode servir de desculpa para isto. Que saibamos o Centro Social e Paroquial de Forninhos é uma organização sem fins lucrativos e que tem o dever de fazer uma leitura e análise da realidade concreta em que se insere.
A intervenção desta Instituição não pode reduzir-se à mera "comezaina"; a sua intervenção tem de ser mais alargada e dar resposta a necessidades diagnosticadas, a casos sinalizados. Não é, depois da MORTE, vir dar "assistencialismo" à família enlutada, como li no outro dia...!


Para este 'post' seleccionei um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen:

Porque
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Este "tu" claro são todos os leitores que, por natureza, acreditam nos valores da verdade, liberdade e solidariedade.
Os "outros", são os que ficam calados.

Nota: as fotos são do evento divulgado no facebook "do Centro".

domingo, 9 de novembro de 2014

Há 5 anos este blog começou assim

Há quem diga que para compreender o presente é preciso primeiro conhecer o passado. Ciente desta premissa, o objectivo deste blog é dar a conhecer a todos os forninhenses (naturais, residentes, não residentes, aos que sentem Forninhos no coração, que sentem esta aldeia como sua, todos no geral) esta aldeia da beira, desde a publicação de fotos antigas que relatem a aldeia de Forninhos de antigamente, documentos antigos e também dar destaque ao nosso património, desde:

Arqueológico e Religioso: Castro, Pontes, Igreja, Capela, Cruzeiros, Alminhas
Arquitectónico: Casas, ex-escola primária (por exemplo)
Social e Lazer: Associação, Junta de Freguesia, Centro Social e Paroquial, Cemitério, Campo de Futebol
Turístico: Turismo Rural, Miradouro, Moínhos, Ruas emblemáticas
Humano: Irmandade
Lendas, Mitos e Tradições: por exemplo, Lenda da Moura Encantada e outros mitos e tradições
Gastronomia
Ditados, Modos e Modismos etc e tal ...

No fundo é tentar através deste cantinho no mundo virtual, conhecer melhor as nossas raízes, a nossa cultura, as nossas referências, de modo a que fique registado para que as futuras gerações de forninhenses possam conhecer o passado, a história da sua terra - Forninhos.
Este é o post original, que achei por bem nada alterar.
Publicamos no dia 9 de Novembro de 2009, uma fotografia do ano de 1976, em que os andores da procissão da N.S. dos Verdes eram carregados aos ombros pelas pessoas e não pelos tractores, como é hábito hoje.
Publica-se mais duas.



Agora...
Já este ano escrevi aqui que quando chegar o dia em que não temos nada para dar...o blog acaba. Chegou esse dia.
Penso ter seguido o caminho a que me propus, embora alguns ainda hoje me acusem de divisionismo e coisa e tal...mas decerto para a maioria, desde o início o blog dos forninhenses retratou um só povo!
Hoje somos um só povo?
Não. Nada disso.
Mas através do percurso todo do blog dos forninhenses sabemos bem (o melhor possível) quem somos e de onde vimos.
Gostei de mostrar o que fui conseguindo, mas não foi fácil manter "vivo" por 5 anos o blog dos forninhenses, porque o meu grupo, o grupo social com que me identifico, "anteontem" apoiou-me, mas "ontem" nem por isso e "hoje" muito menos. Mas o ser humano é mesmo assim, ao longo dos milénios foi percebendo que tão importante como combater inimigos foi sempre melhor juntar-se aos que o não eram, mesmo que esses nunca chegassem a ser amigos! 
Mas não se alarmem "esses" que não vou escrever nem um décimo do que estou a pensar nesta noite de Sábado para Domingo, mas o vosso comportamento, atitudes e reacções fez-me perceber que para vós escrever no blog dos forninhenses é uma "chatice" e que mais vale só ler. Portanto, a partir de agora, se faz favor: não leiam, não abram, porque também já é uma "chatice" escrever para vós...
Com isto, caros bloguistas, não quero dizer que o blog dos forninhenses "morreu", apenas quero dizer que só vou voltar a publicar se por algo tal se justificar. 
E, como sigo muitos blogues, vou continuar a ler e a comentar os que mais gosto. Faço questão de demonstrar o meu apreço por todos os bloguistas, continuando a escrever nos blogues.  Onde me tratarem bem é que eu me sinto bem.
Fica muito mais por dizer, mas fico por aqui hoje.
Despeço-me aproveitando já para desejar um Feliz S. Martinho aqueles que apoiaram o blog dos forninhenses, que quiseram ver este projecto crescer de dia para dia, a todos esses um muito BEM-HAJA.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A azeitona já está preta

A azeitona já está preta/já se pode armar aos tordos/Diz-me lá, ó cara linda/como vamos de amores novos. Esta canção popular não fica por aqui, mas basta para anunciar que em Forninhos a azeitona já está madura, pelo menos, para curtir!



No mês passado escrevi sobre a sementeira do pão. Hoje, sobre o azeite. Mas nada que se compare, enquanto quase todas as famílias semeavam pão, poucas eram as que supriam as suas necessidades em azeite.
Ter oliveiras, ter azeite, significava se uma família era pobre, remediada, abastada ou mesmo rica, ou seja, para essa classificação contava o número de oliveiras, se eram colhidas pelos próprios com ou sem ajuda de familiares e amigos, ou se a colheita era simplesmente efectuada como trabalho assalariado.
Mas lembro que muitas famílias por não terem oliveiras suas, saíam ao rebusco. A tradição do rebusco, era uma das mais bonitas da nossa terra, sobretudo por parte daqueles que deixavam ficar parte do pouco que tinham, pois na época (anos 40, 50...por aí) não seriam muitos aqueles a quem sobrava alguma coisa.
Porque para compreender o presente é preciso primeiro conhecer o passado, não resisto em destacar aqui as palavras de alguns bloguistas, contribuidores, visitantes, conterrâneos. Alguns, hoje, não vão achar bem, mas tem de ser:
«Os meus pais não tinham oliveiras, no entanto, todos os anos faziam um bocadinho de azeite, não era muito, mas faziam, e para isso, eu contribuía; quanto eu e outras crianças vínhamos da escola ou aos domingos antes de ir para a missa, pegávamos num cestinho e lá íamos ao rebusco da azeitona, era catada no meio das ervas e quando se via algumas esquecidas em cima da oliveira, subíamos, e com uma varita deitava-se abaixo, tendo atenção onde caía para depois se ir apanhar.».
«Quando eu era criança, os meus pais cultivavam terrenos que não eram deles, pois só depois dos meus avós falecerem é que ficamos com terrenos nossos. Nos terrenos que não eram nossos só se cultivava a terra, as azeitonas e as uvas eram para o proprietário apanhar, mas depois de ele fazer a apanha lá íamos nós com os cestitos de vime para o rebusco, mais para a azeitona para fazermos o azeite e para curtir, era pouca, mas um bocadinho aqui, outro ali, se fazia um bocadinho de azeite e curtíamos umas azeitonas num pote de barro.».
«Depois tínhamos direito às batatas, mas com pouco azeite. Às vezes punha-se a panela das batatas em cima da mesa. No meio da mesma encontrava-se um prato onde o azeite flutuava no cimo da água. Tínhamos direito de pegar nas rodelas das batatas e de as molhar no azeite mas só de um lado, para poupar o azeite.».
«Sou do tempo em que todos comíamos as batatas de uma bacia, era assim que se chamava a uma travessa de barro de forma arredondada, para poupar o azeite!».
Da importância da colheita da azeitona e do fabrico de azeite falam também os dois lagares de azeite que chegou a haver em Forninhos que, em dois ou três meses por ano, muito duros e de trabalhos esforçados, alguns homens trabalhavam...
«Em forninhos no passado, existiram dois lagares de azeite, movidos por força da água dos ribeiros, um pertencente ao Sr. José Baptista, outro ao Sr. Luísinho Abrantes.
O pertencente ao Sr. José Baptista não o conheci a funcionar, pois uma cheia tenebrosa o destruiu, mas o do Sr. Luísinho Abrantes conheci-o muito bem a trabalhar em pleno. Forninhos produzia azeitona abundante e por isso o lagar laborava bastante tempo. Abria normalmente próximo do Natal, alguns, os mais necessitados, já se valiam do azeite novo para fritar as filhós e temperar as couves, batatas e bacalhau da Ceia da Consoada.
Depois da azeitona apanhada, vinham os ensacadores ensacá-la para ser transportada para o lagar. Nas sacas, lembro-me, punha-se um sinal para não haver misturas com sacas de outros no transporte para o lagar.».
«Eu só me lembro do Lagar do Sr. Luísinho, onde passei algumas noites sentado à lareira a ver as pedras das mós a esmagar a azeitona, o enchimento das ceiras com a massa da azeitona e a comer batatas, cebolas e bacalhau assados, regados com muito azeite quente tirado das pias. Quando íamos a pé, passávamos o ribeiro por um pontão de madeira muito escorregadio, que existia ao lado do lagar; outras vezes íamos no carro de bois juntamente com a azeitona e quando o ribeiro levava muita água, a travessia era difícil e perigosa, pois não havia qualquer ponte.».
«O Lagar de Azeite do Sr. Luísinho Abrantes, fez com que a minha mente recuasse cerca de 7 décadas, lembrando-me da travessia do ribeiro, que eu ainda rapazinho, o lavrador do Sr. Luísinho me autorizava a viajar sobre as sacas da azeitona e que um dia, já ao escurecer, houve grande dificuldade para atravessar o ribeiro, porque tinha havido uma trovoada e o nível da água subiu mais do que se esperava. As batatas à lagareiro, além das cebolas, babalhau e azeite, tinham a ajuda dos garrafões de 5 litros. Nesta época o Lagar do Sr. Luísinho era o mais moderno entre os quatro da nossa área: o lagar do Dr. Varela de Dornelas; o lagar da Matela Velha e o lagar do Sr. José Maria de Almeida em Sezures, este era movido por bois. Quanto ao lagar do Sr. José Baptista, salvo erro, no meu tempo já não funcionava.».
É, consta que esse lagar, foi desactivado em 1938, porque no dia 8 de Setembro desse ano, uma forte trovoada desabou sobre o nosso concelho; os rios e ribeiros cresceram assustadoramente e o lagar do Sr. José Baptista desmoronou-se.
Na minha terra natal, ainda todos os anos quase todas as famílias fecham as portas para  ir apanhar a azeitona, para consumo privado, mas hoje levam-na para um qualquer lagar das redondezas e bem vistas as coisas Forninhos é que perdeu/perde. 

sábado, 1 de novembro de 2014

O cão do Zé Vaz

Quem nao se lembra ainda hoje em Forninhos, do vociferar das mulheres para os seus homens:  "andaste na moina, andaste na borga, és pior que o cão do Zé Vaz".


Num modo de linguajar caseiro, eis a história simples destas palavras julgativas de menosprezo por comportamentos "vadios", embora de sã libertinagem.
O cão, porventura mais delgadito que o da foto e segundo me disse quem o recorda, tinha pelo amarelo escuro. O seu dono não vivia mal e muitos ainda dele se recordam. Feitor do homem com mais posses na aldeia, quatro filhos. Uma freira, um padre, um juiz e um marceneiro.
Mas, relato a estória ouvida. 
Havia uma mulher na vizinha aldeia da Quinta da Ponte que vendia sobretudo na Feira Nova, utensílios de madeira para utilizacão na vida doméstica do dia a dia, gamelas e banquitas, tendo por tal a alcunha de "Gamelas".  
Vinda a pé ou  montada na  burrita, subia em direccão à feira, tendo de passar por Forninhos e o "raio" do cão, esperto e curioso, começou a seguir os passos da feirante, nas quartas-feiras, de quinze em quinze dias. Dias de feira em que ele se "escapava", o malandro. Tal mistério foi descoberto, aquando os vendedores e compradores da feira que iam da terra  o notaram como companheiro por debaixo das mesas de madeira improvisadas,  a abocanhar os restos de ossos e marrã frita.
Um cão com dono, armado em vagabundo aventureiro, mas fino. Chegava a casa satisfeito, pudera!
E segundo consta, enquanto deu para tal, "lá navegava" atrás da tia Gamelas. Um senhor "feirante", sem nunca se perder e voltando sempre a casa!
Embora real, podia dar um bom filme de amor entre um cão e uma senhora que ganhava a vida nas feiras, mas vendo bem tal foi! Permanece na memória e por tal, quando ainda hoje os homens vão a esta feira  no argumento de comprar, na simples mira de petiscar e no regresso tardio, embora complacente, ouvem a ladainha do por onde andaste tanto tempo e a sentença habitual "Não tens vergonha nenhuma a cirandar por aí, és pior que o cão do Zé Vaz"!.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

II Certame Gastronómico do Míscaro


Num concelho onde existem muitas espécies micológicas, mas que nem todas são reconhecidas, a Câmara Municipal de Aguiar da Beira pretende pelo segundo ano demonstrar que muitas são comestíveis. Contudo, já sabem, todo o cuidado é pouco, e a sua correcta identificação é o primeiro passo para evitar problemas maiores. 
Espero que a gente de Forninhos (e também  todos vós leitores) vão até lá participar na apanha e assistir à palestra para, pelo menos, desfazer alguns mitos acerca da identificação das diferentes espécies de cogumelos, pois trata-se de uma oportunidade de conhecer um pouco mais sobre cogumelos e ainda provar um dos melhores pratos: um belo arroz de míscaros...e outras iguarias feitas com base neste alimento.
Também vai haver um lanche-magusto-ceia, com animação.
O evento vai decorrer nos dias 15 e 16 de Novembro de 2014, Sábado e Domingo.
Esperamos por si.
Para saber mais é só clicar:
E já agora informo: existem em Forninhos duas Casas de Turismo Rural, a "Casa Fonte da Lameira" e a "Casa das Camélias da Beira", é só reservar (contactos na «net»).

domingo, 26 de outubro de 2014

A pilheira

O termo "pilheira" significa em Forninhos, a parte da retaguarda da lareira onde se depositam as cinzas sobrantes do último lume, que seria menosprezada, não fora que ainda hoje nos meios rurais protege as culturas da geada.
A propósito de cinzas: já ouviu falar em "ollas"? Eu não. Mas as "ollas" eram o equivalente às urnas cinerárias, normalmente feitas de barro, mas também de chumbo e de pedra onde depositavam as cinzas mortuárias, sendo guardadas no próprio chão das sepulturas ou mesmo na própria casa. E, o termo "pilheira", no tocante aos ritos cinerários, significava o espaço onde se guardam as ollas.
É minha convicção que o termo pilheira poderá remontar a esse tempo em que as cinzas eram guardadas em casa, no lar...nesse tempo longínquo em que os nossos antepassados cremavam os corpos e quiçá guardavam, cada um, as cinzas dos seus. 
Desculpem levar a conversa para algo triste, mas tudo faz parte da nossa história, mesmo quando falamos da morte. Já as nossas avós diziam aquela lengalenga que começa assim: "à morte ninguém escapa, nem o rei, nem o papa...".



Cozinha antiga com pilheira. Uma relíquia do passado!

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Sepulturas escavadas na rocha


Esta sepultura escavada numa pequena rocha, encontra-se numa mata (pinhal) a sul da lagareta que se encontra perto da Capela de N. S. dos Verdes, em Forninhos. Tem 1,70m de comprimento e 50cm de largura na parte superior e 40cm na parte inferior e a cabeça está virada para nascente.
Já falamos dela aos leitores do 'blog dos forninhenses' em Setembro de 2010 e foi descrita num livro feito de fotos - pág. 42 - a que deram o nome "Forninhos, a terra dos nossos avós", ano 2013, assim:

"Sepultura escavada na rocha de Lagarinhos

Descrição
Sepultura escavada na rocha, não antropomórfica. O corpo do defunto seria colocado na posição de decúbito supino ou dorsal, sem caixão apenas envolto num pano ou túnica (sudário). Esta sepultura seria encerrada com uma tampa formada por uma lage única ou várias colocadas lado a lado.
Cronologia 
Medieval (séc. XII-XIII)".
Mais foi referido (e aqui existe contradição):
"As sepulturas escavadas na rocha podem apresentar-se sem o contorno da cabeça e pés, como é o caso da Sepultura dos Lagarinhos, correspondendo ao momento mais antigo da edificação destes monumentos, em redor dos sécs. X/XI. Um pouco mais tardias, do séc. XII/XIII são as sepulturas que apresentam os contornos do corpo humano sendo por isso denominadas de antropomórficas.
(...)
É quase certo que esta sepultura estará relacionada com o povoado de S. Pedro localizado a cerca de 1,5 km a nordeste.". (sublinhados nossos).

Como há uns tempos, recebi no meu e-mail uma foto idêntica, hoje, dia 22 de Outubro de 2014, apeteceu-me publicá-la, pois aqui e ali...outras sepulturas escavadas nas rochas deve haver, quase de certeza...


O que o autor da foto disse é que a encontrou indo para Senhora dos Verdes, próximo a uma lagareta, mas não soube dizer-me se é a mesma lagareta a que chamam "lagarinho ou lagarinhos" ou se foi perto da lagareta da pág. 32 a que deram o nome de "lagar rupestre de Santa Maria". Conto consigo para ajudar a que se perceba melhor...

sábado, 18 de outubro de 2014

Castanhas Piladas

Altura delas!
Colheitas e lenha arrecadas, vindimas terminadas e nabos e "pão" semeados, pouco vai restando até a vareja, a última "empreitada" do ano a doer. Vão-se apanhando os míscaros e as primeiras paridelas dos ouriços arreganhados, as castanhas. Que vão escasseando, mas tanta história fizeram...e fome mataram...era o pão dos mais desfavorecidos, em muitas casas.

 

Os normais e típicos magustos ainda remetem a lembranças, mas das castanhas boas e sãs que iam às arrobas para o caniço que ficava por cima da lareira, quem ainda se lembra? Possivelmente só quem delas tinha uma fonte de alimento e rendimento.
À semelhança do porco morto, do vinho e cereais, havia que guardá-las e poupá-las para todo o ano, mormente para o impiedoso inverno em que um caldo feito de castanhas secas, um bocado de gordura e migado com uns pedaços de pão de milho esfarelado, era um belo sustento.
Depois de secas, pilavam-se e assim se conservavam para depois de demolhadas se utilizarem na alimentação, cozidas ou em caldo.
A preparação:
A castanha pilada - também conhecida nas nossas bandas por castanha seca - tinha um modo certo de ser preparada. Eram escolhidas as melhores, "sem bicho" e de preferência as martainhas e longais, saborosas e que descascavam-se bem.
Por cima da cozinha com lareira e pilheira de pedra, colocavam um caniço feito de tábuas estreitas, desviadas ligeiramente umas das outras, sendo aí espalhadas as castanhas que o calor e fumo da fogueira ia secando.
Findo o processo da secagem natural (1 a 2 meses), eram retiradas e metidas em canastros de verga, em Forninhos chamados de "barreleiros" por serem os mesmos onde se faziam as "barrelas" para lavar e tingir as roupas...
E os homens de botas ou tamancos calçados, bamboleando-se de um lado para o outro, pilavam-nas, isto é, quebravam-lhes a casca para estas se soltarem.
Cada qual depois as guardaria, conforme o governo da casa e necessidades; e tais sobrando, "duras que nem cornos", ansiavam pelos almocreves que no Largo da Lameira soltavam o pregão:

Quem tem castanhas piladas p´ra vender...
Peles de coelho...peles de cabra...
Ou cornicão ou cornacho...lenticão!
Ferro velho p´ra veeeeender!...

E mais tarde, cantando as Janeiras de porta em porta, la vínhamos com um punhado delas nos bolsos!
E mais tarde ainda, rilhava-se uma castanha no 1.º dia do mês de Maio, uma tradição que se cumpria noutros tempos, ou seja, nesse dia era costume perguntar-se aos miúdos: - já comeste uma castanha hoje? Olha que o burro engana-te! Havia sempre quem as guardasse de propósito para este dia como de resto se explicou aqui.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Sementeira do Pão


Outubro é altura da sementeira do pão. Em Forninhos já não vai encontrar terra lavrada prestes a ser semeada, mas vamos falar de como os lavradores faziam para germinar e produzir o nosso pão. 
Era necessário executar sobre a terra várias operações. Por exemplo, nas terras desprovidas de água, que apenas suportavam uma cultura em cada ano, era preciso estrumá-la e lavrá-la. Depois alisá-la para garantir que a distribuição da semente fosse bem espalhada, gradeando-a com a grade voltada ao contrário - como pode ver-se na imagem acima - em que se utilizou uma pedra para fazer peso e garantir o alisamento. Às vezes o peso da pedra era substituído pelo próprio lavrador que ía com os pés em cima das travessas da grade e inclinado para trás segurava com uma das mãos a corda para manter o equilíbrio e com a outra mão segurava a aguilhada para orientar os animais. 
Espalhar a semente
Se o terreno era grande, como por vezes acontecia, requeria que tivessem certos cuidados. Colocavam-se por exemplo, marcas delimitadoras de zonas. As marcas podiam ser ramos espetados na terra, que depois de lavrada e alisada estava mole, para orientação visual de quem estava a espalhar a semente. O semeador utilizava um saco e tirava uma mão cheia de grão que espalhava e a cada mão cheia de grão que tirava, espalhava.
Claro que se uma seara era muito grande não se conseguia estrumar, lavrar, gradar, semear, tudo num só dia ou no seguinte, embora estas tarefas fossem efectuadas num curto espaço de tempo.
Espalhada a semente era altura de amarejar a terra, ou seja, traçar margens ou regos  com as aivecas do arado na terra semeada, para que o cereal desenvolva as raízes mais abaixo - num espaço arejado - e para permitir em tempo de chuva o esgotamento das águas e, assim, não estragar a sementeira.
Disseram-me que a habilidade para fazer regos perfeitos e direitos na sua seara era, por vezes, motivo de vaidade e orgulho, já que de comentário entre todos! Verdadeiras obras de arte agrícola que se mantinham até à ceifa. Hoje há pinhais, em Forninhos, com os regos pronunciados. Já uma "arada" mal feita ficava com esse aspecto até à ceifa e por isso havia tempo para gozarem com o artista. 
É evidente que a forma de lavrar as searas nada tinha de especial e não existia uma receita para as distâncias em que deviam ser executadas, tudo dependia de vários factores que o lavrador melhor que ninguém conseguia avaliar em cada caso: comprimento dos regos, inclinação do terreno, pluviosidade do local, consistência da terra, etc...
Todos nesta terra eram lavradores e todos merecem ser lembrados, mas merece aqui especial menção o meu avô Cavaca, um dos mais habilidosos.
Convém ainda recordar que o estrume curtido era acartado para as terras no carro de bois equipado com as sebes e "artilhado" com fugueiros ou fueiros (paus que se enfiam numas argolas no estrado do carro e que se mantêm na vertical e que servem de apoio às sebes) como pode ver-se na imagem abaixo. Bem, talvez o mais habitual fosse o carro de uma junta de vacas (duas vacas ao mesmo tempo a puxar o carro). A razão para uma só vaca, prender-se-à com factores económicos e menor área no campo para cultivar.


Carro com rodas de meia lua, equipado com sebes e chavilhão na ponta e charrua (utilizada também na lavoura) fotografados há muitos anos junto à Sede da Junta de Freguesia de Forninhos. Não sei se ainda existirão...penso que não, por tal é que este blog continuará a mostrar o que o tempo apagou.

sábado, 11 de outubro de 2014

OS RESPONSOS

Os responsos são orações populares que se rezam aos santos para que não aconteçam males, ou então que apareçam coisas perdidas. 


Quem tinha "sabedoria" para arresponsar era por norma mulheres idosas, era-se vista como pessoa de algum poder, pelo que não era para qualquer uma.
Aqui recordo vagamente a minha avó Maria Lameira quando volta-não-volta ali ao final do dia ou noite adentro a ela recorriam, principalmente quem tinha rebanhos e na recolha para as cortes dava falta de alguma rês. Entre por aqui e veja a foto da minha avó Lameira. No fundo dos degraus de pedra que ainda lá estão e que dão para o pátio, firme e hirta, aconchegada pelo xaile preto para se proteger da orvalhada que ia "caindo" escutava a "choradeira" da desgraça com a responsabilidade de ser a última esperança daquela gente tão sofrida pelas agruras da vida.
Como que ausente do mundo, balbuciava algo inaudível, curiosamente de modo calmo e sereno. Estava a arresponsar...
Tinha que ter toda a oração dita de forma encadeada sem se enganar. Quando a vontade de se encontrar era grande, a responsa repetia o pedido mais que uma vez. Quando toda a oração saía bem era certo que o perdido ou o desejado seria alcançado. Quando se enganava tinham de recomeçar e repetiam até três ou mais vezes. Se as rezas continuassem a não ser bem encadeadas estava o "caldo entornado".
Até se chegava ao ponto de sentenciar se estava vivo ou morto, geralmente comido por bicho ou lobo. 
Dizem que o mais eficaz e utilizado era o responso de Santo António.

Beato Santo António se lebantou,
Se bestiu e calçou
Suas santas mãos labou,
Ao Paraíso cortou.
Chigou ao meio do caminho
Com o Senhor se incontrou,
- Para onde bais, Beato Santo António?
- Com o Senhor eu bou.
- Tu comigo num irás
Que eu p´ro Céu subirei.
Tudo quanto me pedires te farei:
Cães e lobos com os dentes trabados;
Rios e regatos bão imbaçados;
Corações inimigos acobardados;
O perdido seja achado.

Também se responsavam pessoas, tal como um filho do tio António Grilo, acho que era o Júlio, desaparecido aquando da invasão da Índia e que se corria estaria preso, embora sem certeza absoluta, pois poderia até estar morto. Era responsado todos os dias e sem enganos, felizmente deu sinais de vida. 

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Para quem gosta de cogumelos...


Agora sim, o tempo mudou...chegou o Outono, altura dos tão apreciados tortulhos e míscaros e muitos outros cogumelos que vemos e não apanhamos, pois não está na nossa arte apanhá-los, embora sejam bonitos de ver e ficam bem na fotografia, como este magote em cima ou essa espécie abaixo que dizem são venenosos. Por tal, quem gosta de cogumelos, tenha sempre presente "Todos os cogumelos são comestíveis, alguns só uma vez"!


Em Forninhos as pessoas, na sua grande sabedoria, herdada de gerações sem conta, só come os conhecidos pelos nomes populares de tortulhos e miscaros (clique no azul para os conhecer).

sábado, 4 de outubro de 2014

Forninhos - O local da Igreja

Exterior da Igreja Paroquial - anos 60 (??)

Há uns anos publiquei esta foto aqui. Liguei-a com a construção da igreja da minha aldeia, mas como não teve a leitura que merecia, novamente trago aos leitores o assunto.
Uns 2 meses antes tinha publicado um post que intitulei "Cemitério Antigo". E o que é que o cemitério tem a ver com a nova igreja? Perguntam vocês.
É que os enterramentos eram feitos dentro e fora da igreja.
E será que a antiga igreja podia ter estado ao lado da igreja nova?
Eu acredito que sim, porque em documento de 1734 que já publiquei em Fevereiro de 2012 e que volto a publicar, lê-se: "He cousa pouca não convem estar ali igreija pode ir a Ornelas, ou a Matança - Dandose algua cousa pello currãres, mas não a Ornelas por serem Abbas anexas a Pena Verde". Perante esta visão/informação, colocava-se à data um problema: construir uma igreja maior. O que foi feito em 1797, ou seja, 63 anos depois, embora há quem afirme que a construção igreja de Forninhos "deve remontar a 1731" já que no cimo do portal está gravada a data de 1731 (?). 

Documento de 1734 - Visitas Pastorais

Mas e o cemitério? 
Dizem-nos que o cemitério antigo ficava no adro, do lado que dá acesso à sacristia, entenda-se do lado direito da igreja actual. Portanto, seria ali o local da antiga matriz de Forninhos? É capaz.
O que deve ter acontecido, se é que se decidiu construir de raíz um templo maior, foi reaproveitar o cemitério já existente dentro e fora da igreja e, sendo assim, é quase certo que a igreja foi construída do lado esquerdo. Mas a minha opinião vale o que vale. 
A seguir à construção do novo templo de 1797, em 1834, veio uma lei liberal que proibiu os enterramentos dentro das localidades. Esta lei levou 56 anos para ser aplicada, porque em certas aldeias, inclusive Forninhos, se recusavam a enterrar os mortos no "meio do mato", alegando o perigo de rezar menos pelos mortos, facilmente esquecidos em lugar ermo. No caso da nossa aldeia só o foi nos anos 40 do Séc. XX, no tempo do Sr. Pe. Albano. O cemitério foi então criado no local onde hoje está, mas sem que todos os corpos fossem trasladados.

De histórico há a assinalar:
1- Em 20 de Junho de 1758 (data respeitante à resposta do padre cura ao inquérito paroquial) refere-nos o Baltazar Dias que a paroquial "está próxima do povo" e dotada de um "altar-mor e dois colaterais". Esta Igreja era a antiga.
2- Segundo a História da Igreja em Portugal, aquel igreja foi reedificada, com obra concluída em 1797; a 2 de Dezembro desse ano era concedida licença para a respectiva bênção, tendo os moradores de pagar, por essa mesma licença, entre o S. João de 1797 e igual dia de 1798, 5.600 réis de selo da bênção. A igreja foi reedificada "tanto de paredes como de armação... e da mesma sorte a capela mor com a sua tribuna nova, asseada e com toda a decência".
3- "Durante as obras de reedificação, os fregueses serviram-se da velha capela-mor, que ficava ao lado da igreja nova, na qual não cabia a quarta parte do povo da freguesia".
4 - Já depois da construção do cemitério, anos 40, foi subido o corpo da igreja e recolocados os sinos, anos 50. Conta-se que nesta altura foi trazida para Igreja a imagem de S. Pedro de Verona que pertenceu ao templo de S. Pedro. Mas essa imagem depois foi levada para o Seminário de S. José de Fornos de Algodres e encontra-se hoje no Seminário Maior de Viseu.
5- O cemitério de Forninhos foi aumentado em 2012 e construída dentro uma capela. Uma ampliação necessária, mas até hoje eu ainda não entendi a finalidade, nem a necessidade dessa capela.