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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Carnaval em Forninhos

Forninhos foi desde sempre uma terra de trabalho. E, talvez por isso os folguedos e demais festas eram bem aproveitadas. Serviam certamente de bálsamo para os homens e mulheres que trabalhavam as terras. 
Para além dos bailes sempre animados e contradanças, pouco tempo depois das festas natalícias, chegada era a quadra carnavalesca, abrangendo o Domingo Magro, Domingo Gordo e Dia de Entrudo (terça-feira de Carnaval) que marcava o epílogo da animação e alegria.
As crianças, mesmo as de tenra idade, as mães tinham orgulho em as vestir com trajos garridos; e era bom ver grupos delas a calcorrear as ruas de Forninhos.
Havia também os "ensaiados" que  tentando tornar-se irreconheciveis, desfilavam pelas ruas ou de porta a porta, fazendo as suas tropelias de Carnaval, provocando um misto de medo e riso saudável.
Mas a tradição já não é o que era!
Com as mudanças no modo de viver...tudo se foi alterando...por tal, para recordar, fui ao arquivo e seleccionei umas fotos do nosso álbum de memórias:

Entrudos irreconhecíveis
Grupo de jovens e crianças  forninhenses com trajos típicos

Grupo de crianças mascaradas em frente da escola primária em 1979
Carlinha e Cila cerca de 1980

Bom Entrudo ou Carnaval, como preferir!

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Mosteiro - 1.ª Festa do Pastor e do Queijo

Ora vamos lá outra vez ao queijo!

 

Por várias freguesias do concelho de Aguiar da Beira, inclusivé Forninhos, estarem inseridas na região demarcada do queijo da serra, também Aguiar promove e homenageia desde há trinta e um anos, o Pastor e o Queijo.
A Feira/Festa do Pastor e do Queijo, que se realiza no Mosteiro/Penaverde no próximo dia 2 de Março, já não carrega o termo "Feira", talvez por ir morrendo sem os responsáveis lhe deitarem a mão. Digo eu. Pela primeira vez, resume-se a "1.ª Festa do Pastor e do Queijo".
Festa, simboliza celebrar o que aconteceu no passado; Feira, simboliza viver o presente de olhos no futuro . 
Parece que o nosso município parou no tempo e sem iniciativa vai votando ao ostracismo o pouco de que podia e devia orgulhar-se, riquezas endógenas, materiais e imateriais.
Já o anterior presidente da autarquia lamentava que a «falta de oportunidades» nos concelhos do interior levava cada vez mais ao «drama da desertificação» e pedia ao Governo que cria-se «políticas de igualdade» para o país.
Enquanto uns ficam à espera, outros municípios limítrofes tomam as rédeas do dinamismo e com arreganho e clarividência promovem os seus produtos, chegando ao ponto de terem cobertura televisiva na RTP1, em directo e para todo o mundo, por um período de seis horas.
Mostras de todo o género, desde o pastor ao produto final que o rebanho proporciona, artesanato, recriações etnográficas e tanto mais.
Aguiar e Penaverde, quais fidalgos pobres entre os seus pares, trazem um cartaz "apelativo" de ranchos e bombos; já nem as concertinas! Confesso ter alimentado mais esperança nas novas equipas há pouco eleitas, mas se já se celebra o passado e falta a coragem de nem se explicar o porquê da alteração deste evento, a ver vamos...entretanto a ver a banda passar!
Mas não se acanhem em vir, pois a tradição continuará no coração desta gente que gosta de conviver e bem receber, ainda por cima no sítio da Feira Nova, aonde tanto venderam e compraram.  

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A Poda da Vinha

Forninhos encontra-se situado na denominada Região Demarcada dos Vinhos do Dão, região esta muito sujeita a geadas, que põem em risco as rebentações temporãs e assim sendo só por Fevereiro é que se realiza a tarefa sazonal de que hoje vamos falar - a poda.
Depois da vindima as videiras perdem as folhas e a vinha fica em descanso durante a época das chuvas. E, é por esta época que se faz a poda da vinha, pois a videira todos os anos cresce a partir dos "nós" deixados na poda anterior e nestas deu os cachos de uvas. 
O podador de tesoura em riste, olha para a videira e "estuda" como foi a sua rebentação e desenvolvimento no ano anterior e só depois procede ao corte das varas excedentárias. Normalmente deixa dois "nós", mas dependendo do estado, força da videira e sua idade, podem ser mais.
Depois da poda, a vinha fica então com um aspecto arejado e limpo, com as varas/vides aprumadas à espera que os "nós" rebentem, começando assim o novo ciclo que acabará por dar o novo vinho. 
Quem passa junto às videiras, normalmente repara se a poda está bem feita, pois quem sabe podar com sabedoria sempre comenta se está bem ou mal, pois "ele há podadores e outros que cortam as vides". Diz o povo.
Depois é esperar que o ano seja propício e farto.


"Vinum bonum laetificat cor hominis"
O vinho bom alegra o coração do homem.
Salmo 104:15

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

ARREMATAÇÃO DE CARNES E ENCHIDOS

"...ó rapaziada, pela vossa rica saúde, olhem que rica choiriça fresquinha, até parece que o porco ainda está a mexer...". Assim se arrematava com o desafio final: "Quem dá mais?".


No próximo dia 23 é Domingo Magro e pelo 5.º ano volta-se a realizar em Forninhos esta tradição que dizem secular.
Em tempos idos, embora não tão distantes por ainda perdurarem na memória de muitos, a seguir à missa dominical, no adro da igreja e em cima do muro, o sacristão ou um mordomo do Santíssimo "arrematavam" as oferendas do povo que desta forma reconhecia e agradecia a sorte e favor de alguma abundância, sem terem sido atingidos pela maligna e isso queriam partilhar com os outros.
Era desta forma que se leiloavam enchidos do fumeiro e carne da arca salgadeira; cada produto, por si ou em conjunto, citado pelo leiloeiro, chamava-se lance. E um atrás de outro, repetiam-se os lances...bom sinal!
No próximo Domingo, não será muito diferente. As oferendas dadas com carinho, manterão a tradição e, no final, o trabalho fica para a grelha e panelas de ferro. E o estômago que se cuide...
Afinal é dia de festa!

domingo, 16 de fevereiro de 2014

O Candeeiro a Petróleo


Ainda hoje em Forninhos, quando faz um ventito, não há luz; se chove muito, não há luz; se troveja, não há luz; e as pessoas aceitam esta situação, como uma coisa que acontece naturalmente! Porque tenho vivido longe de Forninhos, numa zona onde se passam anos sem que tal aconteça, custa-me aceitar que os forninhenses não reclamem por direito esta situação até porque a falta de electricidade que, no mínimo, se prolonga por horas, e que volta e vai, e volta e torna a ir, acaba por pôr em risco o funcionamento de aparelhos eléctricos entre outros transtornos.
Por tal, resolvi falar do velho candeeiro a petróleo para ver se, se faz luz!
Hoje é de somenos importância, mas desempenhou numa aldeia rural sem luz eléctrica - há 55 anos - um papel de grande relevo.
Este candeeiro, constituído por um pequeno reservatório onde se colocava o petróleo, tinha por cima uma chaminé em vidro a qual se elevava com a ajuda duma patilha para assim conseguir chegar-se com um fósforo à torcida que mergulhava directamente no petróleo e incendiava-se. Descia-se a patilha e aí tínhamos uma luz, que não iluminava para além de certa distância, mas era o que tínhamos.
A torcida logicamente ia ardendo e acabava por diminuir de tamanho, havendo então uma roda pequena que se girava e subia um novo bocado da torcida para assim continuar a luz.
Em que se utilizava o candeeiro a petróleo?
Para além da iluminação doméstica, era fundamental para ir à rua de noite e à adega, ver os animais na loja ou ir de manhã muito cedo, ainda escuro, para o campo.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Trêplos e Espigos

A cozinha da nossa terra, pode parecer à primeira vista pouco elaborada, mas é muito rica em sabores e saberes, acreditem. Neste inverno agreste, só me apetecem as coisas da aldeia que nesta altura vão abundando: os trêplos e os espigos, ambos na cidade conhecidos só por grelos.
Perguntei à minha mãe o que os distingue.  

Os trêplos
São grelos do nabo com dois tempos diferenciados, 1) os temporões que começam a aparecer por altura do Natal e 2) os serôdios entre Fevereiro e Março, e que segundo a sabedoria popular podem durar, os de talos mais tenros e sem florir, até ao lavrar das terras para as sementeiras.
Apesar do seu típico sabor amargo, cozidos e temperados com o nosso azeite, acompanham os bons enchidos assados na brasa, com batata à racha aferventada.

Os espigos
São os grelos da couve, de preferência galega, podendo ser também couve de cortar e têm o seu auge por estes dias gelados do ano, o que mais tenros os torna. Chegado Março, começam a deitar flor (espigar), o que os torna duros e pouco apetecíveis.
Acompanha em termos culinários com um pouco de tudo, o que já em Forninhos sempre os nossos antepassados faziam: na sopa, com feijão, o saboroso arroz de espigos/grelos, bacalhau, sardinha frita, ossos de assuã...
Na nossa terra ainda há outra categoria conhecida: a chamada de couve nabiça, por alguma semelhança que apresenta com o nabo e que pode dar grelos até Junho.
Poderão perguntar porque não refiro aqui os grelos (trêplos ou espigos), salteados em azeite e com alho, agora tanto na moda?
Apenas por respeito aos nossos avós, que embora conhecendo melhor que ninguém esse modo de fazer, tal era proibitivo em tempos de quase miséria, pois os grelos "chupavam" muito azeite e havia que poupar.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

IN MEMORIAM

Há recordações que se vão esfumando, por isso, de vez em quando, vamos trazer à memória colectiva gente que viveu na nossa aldeia e fazem parte do Livro da Vida de Forninhos, pois aqui deixaram a marca da sua passagem. 
Começamos pelo Outeiro para aqui ouvir sons! Porque não? Se hoje aqui lembramos uma mulher que tão bem cantava as modas da época?


a tia Maria do Carau, que também nunca teve dificuldade em vender o seu queijo.


Também prestamos, uma vez mais, homenagem a um homem de longa vida, 
tio Carlos Guerra - O RETRATISTA


e à vida mais cedo interrompida de Viriato Baptista 
(Alferes Miliciano de Infantaria)
Deu sua vida pela Pátria
Morreu em Moçambique em 1972

Três memórias que trarão recordações a muitos conterrâneos e estórias que, quem as lembrar deve contar aos mais novos ou deixar aqui registado, para que a nossa história seja engrandecida, pois só é grande o povo que preserva e honra os seus antepassados.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Escritos da nossa terra

Divulgamos, nesta tarde invernosa, um escrito que fala de Forninhos, num poema recebido por email, do nosso conterrâneo Ilídio Marques e que aqui se estreia, o que só enriquece ainda mais este espaço que é nosso. Juntamos à palavra uma imagem do tempo de antanho, mas onde estão gravadas as gentes, caminhos, serras e pedras da nossa terra.


"Sou filho dum povo antigo
De gente boa e honrada
Na minha já longa estrada
Na alma e de mão dada
Anda sempre comigo.

Mudei-me p´ra perto do mar,
outro ar e horizontes,
mas as saudades dos montes
ninguém as pode abafar.

Ficou deles a saudade
Da minha aldeia,
Da minha terra,
Da gente cheia
Do sol da serra
Onde eu vivi meia idade."

A Natália Cavaca foi quem cedeu a foto ao blog dos forninhenses.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

XXIII Feira/Festa do Pastor e do Queijo

É já amanhã, 8 de Fevereiro, que tem lugar em Penalva do Castelo este certame anual que atrai milhares de pessoas; ainda que em cima da hora, aqui fica o cartaz:

É uma forma de promover a economia local, património, cultura, gastronomia e turismo.
Um dos pontos altos desta feira, é a "prova" da trilogia dos produtos endógenos da zona: queijo Serra, vinho "Dão Penalva do Castelo" e maçã bravo de Esmolfe.
De realçar a vitalidade desta vila beirã no saber preservar e ainda mais enriquecer aquilo que de tão bom tem. De facto, uma referência nacional e que este ano tem honras de transmissão televisiva no programa "Aqui Portugal", do canal público RTP1, à tarde e durante seis horas em directo para todo o mundo.
E Forninhos aqui tão perto, que é como se fôssemos de lá.
Não somos, mas bora lá!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A Pardamaia, a Ceramica, os Romanos e os Fornos!

Os meus amigos naturais e residentes em Forninhos, vão decerto desculpar-me (ou não) em meter "ceitoira" em seara alheia. Mas depois de um artigo focando este tema e depois de ler atentamente todos os comentários, ocorreu-me uma ideia; quem sabe de louco, mas terá provavelmente o mesmo valor que outros, de pessoas que não são especialistas na matéria!
Devo desde já esclarecer, que não sou arqueólogo, nem tenho formação cientifica nesta área, sou unicamente uma pessoa que adora a historia e tudo quanto a ela diga respeito.
E como quando comecei nas minhas lides bloguisticas, já há quase 9 anos, tive a felicidade de conhecer virtualmente, alguns amigos da vossa linda freguesia, alguns dos quais felizmente, deixaram de ser virtuais o ano passado. E devido ao facto, de nos unirem algumas tradicoes, o "voto" da Senhora dos Verdes, e a proximidade geográfica, atrevo-me a fazer algumas sugestões acerca do tema que e o titulo desta entrada!


Ora tenho lido, que na Pardamaia foram encontrados muitos restos de cerâmica; que uns supõem datar da época da romanização, quanto outros sugerem poder ser da época medieval, ou ate da moderna. Li também que no livro escrito a relativamente pouco tempo, sugere aqui ter existido uma "villae" romana.
Sem meter para aqui o machado que provavelmente será mais antigo, gostaria de propor aos meus amigos uma outra versão, porque com historia ou sem ela, gosto de acreditar em coisas que façam sentido.
E indiscutivel (ou não) que Forninhos na nossa época baixo medieval (que e quando começa a aparecer, documentação escrita sobre esta região) se chamava "Lugar de, ou dos Fornos". Acredito piamente, (e isto tambem se aplica para Fornos, da minha naturalidade) que esses fornos para serem identificadores de uma povoação ou lugar, nunca poderiam ser de pão, coisa que era, e e cozida, em todas as povoacoes e quintas. Portanto para ser identificador teriam que ser ou de cal, ou o mais provável, e que fossem de cerâmica!
Já li algures, que há ou houve, um local onde se observou argilas ou vestígios delas, ora na nossa Beira granítica, só poderia haver fornos cerâmicos onde houvesse argila.
Agora que a nossa região e por conseguinte Forninhos também foi romanizada, não haverá muitas duvidas, e, embora não muito abundantes, apareceram vestígios desse tempo, que podem estar relocalizados, como a edicula encontrada no actual território da freguesia de Penaverde, ou a base de coluna da capela de Valagotes, mas que são prova de que a romanização também aqui chegou, isto para não falar-mos do penedo com inscricoes, que se encontra na serra!
Ora a hipótese que eu gostaria de colocar a vossa discussão e a seguinte:
Será que todos nos, não temos um pouco de razão? Que terá existido aqui na "Pardamaia" ou noutro lugar uma, ou mais "villae" agrícolas romanas, que numa dessas vilas, se explorou argila, que ai existiram fornos cerâmicos, e que devido a isso a actual freguesia de Forninhos era na época baixo-medieval, "Fornos" ou lugar dos Fornos?
Também pode ser, que a origem dos "Fornos" seja já alto-medieval mas a razão seja a mesma.
Quero acreditar que se se fizesse, uma escavacao profunda, ao redor do lugar da arrasada capela (quero pensar mais que foi igreja) de S. Pedro, quem sabe se não descobria, que essa capela teria origem nos primeiros tempos do cristianismo, portanto ainda na época romana?

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

História da Ponte da Quinta da Ponte

As nossas memórias de hoje evocam o passado da ponte da Quinta da Ponte, que dá acesso a Forninhos, uma das pontes mais antigas sobre o nosso rio e que me parece teve muita importância no tempo em que Forninhos se servia pelo correio de Viseu.
Partindo de Viseu a Povilde, seguindo por Roriz, rumando a Esmolfe; Sezures; Forninhos. Daqui partia para Penaverde; Casais do Monte; Venda do Cego e Trancoso. 


Para recordação, abaixo fica uma foto da "Ponte da Bica" tendo ao fundo o lado de Forninhos, do arquivo do Sr. José Cardoso, da Quinta da Ponte, e também uma outra que retrata outra parte da ponte:


Segundo, o Sr. José Cardoso, in Memórias do Meu Querido Torrão Natal "Quinta da Ponte", páginas 13, 14 e 15, em 1959, a ponte sobre o Rio Dão que dava e dá acesso a Forninhos, encontrava-se em péssimas condições. Estava quase intransitável, especialmente para o trânsito de tracção animal, pois o constante aumento de trânsito de camionetas pesadas que com as suas grandes carroçarias já tinham derrubado as grandes pedras que faziam parte das guardas da ponte, bem como algumas que tinham feito parte do tabuleiro (plataforma) e que nessa data já faziam parte do leito do rio. As do tabuleiro foram substituídas por troncos (rolos) de pinheiro cobertos com torrões e terra, mas com a trepidação, chuva e tempestades, parte dessa terra também ia caindo para o rio, deixando buracos, os quais eram perigosos, especialmente, para o trânsito de tracção animal.
Tentando evitar os perigos que isto podia causar, o Sr. José Cardoso, expôs ao Exmo. Sr. Ministro das Obras Públicas as condições em que a ponte se encontrava e pediu a sua reparação. A resposta foi que este pedido tinha de ser enviado aos Serviços da Hidráulica de Coimbra(...) 
Os meses foram passando e os anos também, e as esperanças foram desaparecendo até quase ao esquecimento. 
Mas passados dez anos, sem que tivessem avisado, foi a população surpreendida por estarem a demolir a ponte, deixando todos estupefactos e indignados, informando-os apenas que após a sua reconstrução, ficaria com a mesma largura. 
Visto isto, a população reuniu com emergência, formando uma comissão e foram directamente para a Delegação da Hidráulica em Viseu, expôr a sua indignação e desilusão pelo sucedido, fazendo ver, especialmente, que era imprudente e não admissível que o tabuleiro da ponte viesse a ficar com a mesma largura, pois o trânsito de veículos pesados largos e longos havia aumentado...
Disseram que compreendiam a indignação, mas que...nada se podia fazer. De mais a mais, o pedido feito há 10 anos atrás era para a reparação duma ponte agrícola e não da construção de uma ponte rodoviária para veículos automóveis.
Recebendo esta informação, pediram então que, pelo menos, fosse feito um passeio do lado nascente do rio servindo o mesmo para a passagem de peões e de certa maneira aumentaria a largura da ponte sem interferir nos cálculos já efectuados e, também pediram que fosse alargada a entrada da ponte do lado de Forninhos para possibilitar que as camionetas entrassem já em alinhamento recto.
Embora impedido de prometer alguma coisa, o chefe da Delegação Hidráulica de Viseu, prontificou-se a desenvolver todos os esforços possíveis de modo a contemplar o pedido, que veio a ser concretizado. Com esforço e boa vontade, foi assim que a população da Quinta da Ponte conseguiu este benefício.


Já aqui, várias vezes, reproduzimos as excelentes memórias que o Sr. José Cardoso registou sobre a Quinta da Ponte e os seus "instantâneos", mas hoje dedico, especialmente este post a este homem e ao povo da Quinta da Ponte, cuja população interage e se identifica com o povo de Forninhos, em termos civis e religiosos, por ter conseguido a reconstrução (ou reparação) da ponte entre Forninhos e a Quinta da Ponte, na segunda metade do Séc. XX, e a quem a freguesia de Forninhos, pelo que fica dito, também alguma coisa deve.

Notas:
1) No dia 13 de Junho de 2012 trouxe aqui as memórias paroquiais de Forninhos. E, ficamos a saber, que em 1758 Forninhos não tinha correio e servia-se pelo correio de Viseu e que Forninhos dista de Viseu cinco léguas. O documento abaixo prova bem o que disse o Cura Baltazar Dias:


2) Sobre o Rio desta terra "Como se chama, assim o rio, como o sítio onde nasce?" "Se tem pontes de cantaria, ou de pao, quantas, e em que sítio?", o Cura Baltazar Dias "nada respondeu".
Verdade é que no Séc. XXI foi a Junta de Freguesia de Forninhos que reparou e pintou essa ponte.
Mas pergunto: 
- Pertence a "Ponte da Bica" a Forninhos ou à Quinta da Ponte?
3) Esta ponte só é  mencionada nas memórias paroquiais da freguesia de Sezures, em 25 de Maio de 1758 pelo Cura João Rodrigues:


"Tem mais este rio Dam quatro pontes de pao...Uma onde chamam a ponte de Sancta Clara na freguesia do Castello, outra onde chamam da Ribeyra Dam nesta freguesia de Cezures, outra na freguesia de Forninhos, outra juncto ao lugar de Dornellas".


4) Qual a data da construção da ponte?
A sua data de construção é desconhecida, mas sabe-se que já existia em 1758 ou antes de 1805, também segundo documento do Arquivo Militar: 
A 14 de dezembro de 1805, António Joaquim de Morais, oficial da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e de Guerra, escreve a António de Araújo, na altura Ministro e Secretário do Estado dos Negócios do Reino sobre a necessidade de reparação da ponte de madeira sobre o rio Dão, junto ao lugar de Forninhos, destruída pelas cheias desse inverno. Descrevia ele da seguinte forma: 
«Apresentando-me o correio assistente da Villa de Trancoso, que a falta da ponte de madeira que havia entre o rio Dam junto ao lugar de Forninhos, e que as cheias levaram no princípio do Inverno, obrigando-me estafeta a hum grande rodeio, por não dar passagem o mencionado rio faz com que cheguem muito demorado à dita Villa e a Vizeu do que resulta atrasarem a correspondências com grave prejuízo do Real Serviço Público. He o Príncipe Regente Nosso Senhor servido determinar que Vossa Ex.ª mande logo concertar ou fazer de novo a dita ponte entretanto para o presente expediente do mencionado estafeta como puder que todos os demais viajantes passão transitar por aquelle sítio com comodidade e segurança pondo vossa Ex.ª em execução para efeito o dito conserto todos aquelles arbítrios que costumão adoptar e são authorizados pelas Leis em semelhantes circunstancias. Deos Guarde V.Ex.ª Palacio de Queluz, a 14 de Dezembro de 1805»





Fonte: Arquivo Histórico Militar.

A monografia de Forninhos, não publica, mas cita este documento e coloca as  seguintes questões: "Será este documento a ordem para a construção da ponte em cantaria existente entre Forninhos e a Quinta da Ponte? Terá sido só reparada? A verdade é que por cima de pilares de cantaria, já no Século XX aplicou-se um novo tabuleiro, que ainda hoje permite a circulação de viaturas". Páginas 63/64.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Memórias do tempo...


Agora as condições climáticas andam confusas e confundem as gentes, a mínima alteração do tempo serve logo para empolamento noticioso que chega a provocar receios e medos. Mas dantes eram situações encaradas como normais pelas nossas gentes serranas e Forninhos não escapava à regra.
A neve, geada, chuva, vento e saraivadas, eram esperadas em Janeiro e Fevereiro, como uma dádiva, tinham de vir no tempo certo para bem das culturas. Assim, estava escrito na "Biblia" do agricultor - sabedoria popular - traduzida em ditos e provérbios que valorizavam a natureza e o seu ciclo como manifestações naturais do tempo e do clima.
"Janeiro geoso e Fevereiro chuvoso, fazem o ano formoso".
"A neve que em Fevereiro cai nas serras, poupa um carro de estrume às terras".
"Em Fevereiro chuva, em Agosto, uva".
Mas fenómenos anómalos também se abateram sobre a nossa aldeia, nos anos trinta do século passado, que de tanto estrago trazerem, levava as pessoas a lamentarem-se: "Ai que desgraça...".
De facto essa década foi pródiga, infelizmente!
Quem não se lembra de ouvir falar daquela raivosa trovoada do maléfico dia oito de Setembro de 1938? Uma medonha tromba de água desabou sobre o lugar de São Pedro e descendo em direcção a Forninhos, na sua fúria esbarrocou terras, derrubando muros e comareiros, enterrando centenas de alqueires de milho, mas o que mais perdura na memória foi o aniquilar dos moinhos de água, aqueles que traduziam o cultivo do cereal em pão. Foi nesse dia fatídico que, dizem se desmoronou o Lagar de Azeite da Eira; já outros dizem que por essa altura um terrível incêndio  o devastou (?).
Não menos atroz e terrível, cerca de três anos antes depois, o grande ciclone/tornado, coisa inimaginável na memória dos aldeões.
Mulheres e homens imploravam a Misericórdia Divina, mas o ciclone não acedeu aos rogos desta pobre e aflita gente. Matando animais, cultivos devastados, arrancando na sua fúria oliveiras, destelhando telhados e deixando pinhais vazios pela queda de milhares de pinheiros. Não houve vitimas pessoais, felizmente, mas ali ao lado nesse dia, no lugar da Moradia havia um casamento, em que  no regresso da boda, dois convidados que regressavam à sua aldeia morreram apanhados pelo ciclone.
E esta gente da nossa terra, com punhos de granito, tudo reconstruiu e, com respeito, foi esquecendo, sabendo de antemão que melhores dias viriam.