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quarta-feira, 25 de julho de 2018

DIA DOS AVÓS

É já amanhã, o dia que nos toca o sentimento numa doçura de alegre nostalgia, o sentir do aconchego do colo, o apertar protetor dos abraços, o remendar de forma cúmplice e conivente as nossas pequenas asneiras, pouco mais que pardalitos agarrados às saias das avós e por debaixo da sombra amiga dos chapéus dos avôs...tal como porventura São Joaquim e Santa Ana, pais da Virgem Maria  e avós do Menino Jesus.


Esta fotografia ilustra à data de 1983 os netos da tia Maria da Urgueira e tio Luís da CoelhaUm rio de gente que agora deve ser um oceano de marés de felicidade. Um mundo! Mundo que não precisa do modo comercial com que agora se usa e abusa dos nossos avós, por falta de educação, penso, pois de outro modo bastaria sentir o bem-haja por terem feito parte das nossas vidas e ensinamentos.
Dos meus, infelizmente não conheci o meu avô materno de nome António que "partiu" tinha por volta de nove anos a minha mãe, mas era com toda a certeza homem de bem, pois vejo nos olhos de minha mãe aquando dele fala, um misto de tristeza que se mistura numa saudade infinita mas tranquila.
Da sua parte, tive todo o carinho da minha avó Maria, austera mas dócil e prestável para todos os que a ela recorriam para um conselho ou uma reza por necessidade, fosse ela pessoal ou de animais perdidos. Nasci no colinho dela e com ela dormi até morrer; tinha sete anitos de idade e rezámos os dois ao deitar e levantar.
Mais acima da ladeira que separava as duas casas, a minha avó paterna, Ana do seu nome e o meu avô Francisco.
Dela e já rapazote, sempre recebi o prazer do seu sorriso e mimos e aos domingos, uma moeda para gastar nas festas. Não queria que ficasse "mal-visto".
Dele, é difícil falar por ser um  senhor respeitado e mais que avô, amigo e ídolo, queria ser como ele e como éramos companheiros solidários, ia aprendendo aos poucos o que me ensinava sobre o campo, pouco aprendi por culpa própria, mas jamais esqueci a honradez e partilha...
Tinha orgulho no seu neto e no Domingo de Ramos, o meu ramo  por ele enfeitado, tudo fazia para ser o melhor.
No dia em que nasci, dizem, foi plantar uma pereira num terreno em Cabreira e quando esta começou a dar frutos, no dia dos meus anos, íamos os dois apanhar o fruto, ainda levado pela mão.
Ainda pequenino fui dado como quase morto e baptizado à pressa e de noite, levado ao colo da minha avó Maria e sem nome defenido, foi o padre que sugeriu, já que ia para debaixo da terra, o nome dos meus avós, em sua homenagem: Francisco António.
Comigo carrego com orgulho, o nome dos meus avós! 

Foto de Adelino Coelho

sábado, 21 de julho de 2018

Forninhos vai ter um Ecomuseu!

Segundo a wikipédia o ecomuseu é um conceito de museus colocado em prática na década de 1971, na França. Neste tipo de museu, membros de uma comunidade tornam-se actores do processo de formulação, execução e manutenção do mesmo...

Forninhos, Corgas: sacha do milho, a foto já tem uns bons anos,
mas o método mais utilizado para sachar o milho continua o mesmo

É dentro deste espírito que irá nascer no território de Forninhos um museu vivo ao ar livre, que procura mostrar como se vestia, vivia e trabalhava noutros tempos já um pouco distantes dos meus...dos teus...
O percurso pedonal deste ecomuseu será composto por várias "pontos" correspondentes a vários locais de tradição rural como são exemplos a primeira fonte de abastecimento da população, os lavadouros onde lavavam a roupa, sítios onde se tratava o linho (no Linha'do do Ribeiro), assim como os artefactos usados na sua produção e até os moinhos de água onde eram moídos os grãos de milho, centeio e trigo, onde se encontravam os grandes lavradores de Forninhos, voltarão a fazer farinha...quem diria!
Nas alminhas haverá "devotas" a orar pelas almas dos seus familiares...
A ideia é que as pessoas não façam de figurantes, mas sejam actores principais da sua própria cultura.
O percurso, segundo se ouve, terminará no largo da aldeia, numa construção de granito, que partilhava a função de habitação com a de venda e taberna.
Vão agendando uma visita a Forninhos, embora sem acesso à acta da Assembleia, atrevo-me a dizer que ideal será inscreverem-se na Junta de Freguesia para fazerem a visita guiada, pois marcando com antecedência poderá ser possível assistirem à moagem dos cereais e /ou feitura e prova do pão no forno cumunitário com a ajuda de gente que o fez por décadas e décadas; e se assim fôr, parabéns à Junta por esta opção, pois investindo-se no passado, vão criar alguns postos de trabalho.
Eu estou super admirada (confesso), pois sobre "museus" sempre o porta-voz da Junta de Forninhos disse que "os custos para preservar o património local são elevados para uma autarquia com poucos recursos e poucas probalidades de muitas visitas".
Mas com pouco ou muito dinheiro certo é que o projecto já foi apresentado à população e a obra começará em breve. Parabéns uma vez mais à Junta, pois finalmente perceberam que o Forninhos com futuro não é outro senão o passado dinamicamente actualizado!

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Comemoração do Jubileu das almas

É preciso recuar até 17 de Julho de 1927 para encontrar os primeiros registos da realização das cerimónias com mais ênfase da Irmandade de Santa Marinha - o jubileu das almas. Todavia, a hipótese destas celebrações serem mais antigas é bastante plausível, não existindo contudo documentos que o comprovem.


A Paróquia de Santa Marinha de Forninhos vai levar a feito, uma vez mais, a 17 de Julho as tradicionais cerimónias do Jubileu, que se iniciam com confissões para todos, seguindo-se a cerimónia jubilar às 19h30, com uma procissão no adro da igreja.
As comemorações continuam no dia 18 de Julho (dia de Santa Marinha), pelas 10h00 com a celebração da eucaristia em honra de Santa Marinha seguida de procissão à volta do povo. Nesta procissão, um singelo andor transporta a imagem da virgem mártir e durante este pequeno percurso, são entoados os cânticos "Salvé Nobre Padroeira" e "A Vós hoje recorremos/Ó Virgem Santa Marinha".
Dantes o dia 18 de Julho também era o dia da catequese e o dia  da Associação Recreativa e Cultural de Forninhos. E, houve a tentativa por parte de um presidente de junta, no ano de 2010, de fazer do dia 18 de Julho o dia da Junta de Freguesia, mas foi sol de pouca dura e ainda bem, pois desde 1911 que existe no nosso país a lei da separação entre a igreja e o estado e este não se deve meter na igreja, nem esta nele. 
"O seu a seu dono"! Graças a Deus esta festa é só religiosa e não festa organizada pela Junta.
Continua, assim, a Mesa da Irmandade a  organizar todos os anos, para todos os irmãos desta Instituição, a Festa de Santa Marinha e mandar celebrar anualmente o aniversário ou o jubileu das almas (artigo 18.º, pontos 6 e 7 dos Estatutos Gerais). 
Bem-Hajam.
Manter vivas as tradições, que são a nossa referência é um BEM CULTURAL.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

O berço da Lameira



Fixem este casal, a Senhora Maria da Urgueira e o Senhor Luis da Coelha.
Vou tentar ter o máximo cuidado, para os descrever e aflorar um pouco da suas vidas, sofridas até quase ao extremo. Pobres,  chegaram aos treze filhos  e tais foram alimentando da forma madrasta que a vida lhes acudia mas dignamente, sem nada roubarem e aceitando o que vinha por bondade.
Talvez tenha havido algum arrojo desmesurado da minha parte em trazer aqui e agora este tema.
Mas explico:
Tanto tenho escrito sobre o Largo da Lameira e suas envolvências e agora que vem uma festa grandiosa, estas Gentes não ficam no registo?
Peco por não ter estórias e quem as tiver bem-vindas serão, mas ainda me lembro de tantas vezes ver o forno dela a cozer e ouvir dizer que o tio Luis tinha apanhado mais uma lebre à pedrada ou com o sacho.
Quem enchia a Lameira de alegria, gritos e confusão?
Agora que vou perguntando por aí sobre esta família, os mais velhos recordam  gente sofrida mas nobres que deram a volta á vida sem esquecer de onde vieram.
Foi assim que Forninhos se foi construindo, a pulso no respeito!
Digam bem, digam mal, um dia gostaria imenso de contar a história desta família que tanto respeito.
Maior respeito tem para mim, quem dirimiu uma vida inteira na pobreza que o maior rico na riqueza!

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Mulheres que lavam no ribeiro

Não me recordo de ver as mulheres lavar a roupa no rio do Salto (também conhecido por Poço dos Caniços), mas sei que há algumas décadas era um cenário habitual ver mulheres lavarem roupa nos diversos afluentes do rio Dão, dando um colorido engraçado às margens com as peças que ali coravam.
Nos lavadouros dos ribeiros, aí sim, recordo ver mulheres, com experiência adquirida na prática diária, a lavar a roupa à mão, de joelhos num farrapo velho ou numa tacoila para não se molharem.


Água fria da ribeira/água fria que o sol aqueceu.
Velha aldeia/traga a ideia, roupa branca que a gente estendeu.
Três corpetes/um avental/sete fronhas/um lençol/três camisas do enxoval que a freguesa deu ao rol.
Ó rio não te queixes/Ai o sabão não mata/Ai até lava os peixes/Ai põe-nos cor de prata.


Também ainda há lembrança das barrelas.
- Bem ensaboada a roupa era posta, em camadas, num canastro de vime, e tapada com panos de estopa com cinza; por cima era regada com água a ferver.
- No dia seguinte era então lavada de novo e, se por acaso alguma nódoa não saiu, lavavam-na novamente e ficava a corar nas lenteiras dos ribeiros.
Hoje esta tradicional tarefa não passa de uma memória.

Fotos: lavadouro do ribeiro dos Moncões, Forninhos, 2011.