Forninhos encontra-se situado na denominada Região Demarcada dos Vinhos do Dão, região esta muito sujeita a geadas, que põem em risco as rebentações temporãs e assim sendo só por Fevereiro é que se realiza a tarefa sazonal de que hoje vamos falar - a poda.
Depois da vindima as videiras perdem as folhas e a vinha fica em descanso durante a época das chuvas. E, é por esta época que se faz a poda da vinha, pois a videira todos os anos cresce a partir dos "nós" deixados na poda anterior e nestas deu os cachos de uvas.
O podador de tesoura em riste, olha para a videira e "estuda" como foi a sua rebentação e desenvolvimento no ano anterior e só depois procede ao corte das varas excedentárias. Normalmente deixa dois "nós", mas dependendo do estado, força da videira e sua idade, podem ser mais.
Depois da poda, a vinha fica então com um aspecto arejado e limpo, com as varas/vides aprumadas à espera que os "nós" rebentem, começando assim o novo ciclo que acabará por dar o novo vinho.
Quem passa junto às videiras, normalmente repara se a poda está bem feita, pois quem sabe podar com sabedoria sempre comenta se está bem ou mal, pois "ele há podadores e outros que cortam as vides". Diz o povo.
Depois é esperar que o ano seja propício e farto.
"Vinum bonum laetificat cor hominis"
O vinho bom alegra o coração do homem.
Salmo 104:15
Não era qualquer um que era podador!
ResponderEliminarEsses homens eram muito requisitados pela sua sabedoria e experiência, pois a poda era o fim de um ciclo e o início de um outro que havia que acautelar, tipo operação cirúrgica em defesa da videira; desde o corte das vides já não necessárias e que iriam servir depois de secas para a fogueira ou forno de cozer, era também esta a altura de escolher as varas de melhor qualidade e casta, para plantio de nova vinha ou substituir as videiras "mortas" pela idade e sem produção.
Essas varas eram então plantadas na terra, formavam os bacêlos e mais tarde, depois de transplantadas, seriam enxertadas, daqui se formando uma nova videira, "mãe", do bom vinho de Forninhos, o mesmo que depois de um duro e árduo dia de trabalho, reconfortava os podadores!
Um trabalho deveras importante para o bom crescimento das videiras! Acho lindo! Meu marido é que entende bem diosso e sabe ver as boas ou não! beijos,tudo de bom,chica
ResponderEliminarValiosa postagem, Paula! Gosto de saber de videiras, podas e vinhos!
ResponderEliminar"O vinho bom alegra o coração do homem." Gosto de lembrar que Jesus é a Videira Verdadeira, nós somos os ramos e o vinho é um dos símbolos do Espírito Santo!
Um beijão... Boa Noite...
Interessante. Como em tudo na vida há os que "podam" e outros que só sabem cortar...:-) Para tudo é preciso mestria.
ResponderEliminarQue bela dupla que vocês fazem, Paula e Xico!
xx
Obrigada. Neste trabalho por nós realizado, há uma recolha de tudo que estava a cair no esquecimento e em desuso como é também o caso desta tarefa sazonal feita só por podadores, pois a tesoura/poda já não é como antigamente e também há cada vez menos artistas da poda, daí que até é vulgar dizer só dá, fruto, o que fica, logo não é difícil. Portanto, só dá o que fica e qualquer um corta e poda!
ResponderEliminarCom este artigo tenho a certeza que ficaremos a compreender um pouco melhor o nosso passado e a história do nosso vinho.
Quanto à dupla, Paula e Xico, muitos já devem ter reparado na quantidade de Contribuidores do blog e visto que poucos colaboram. Então é assim: até ao fim de Fevereiro vão ser retirados os nomes dos participantes “fantasmas”, a não ser que participem, colaborem com o blog dos forninhenses, até lá.
Saudações forninhenses.
Custa infelizmente ouvir este aviso "à navegação"!
ResponderEliminarParece ser um fado que Forninhos carrega desde tempos tão longínquos que recuamos aos romanos que por lá andaram e que em Portugal introduziram a poda e os socalcos. Muitos anos depois, surgiu este "nosso" espaço, além de cultural, inovador,com muitos "podadores" e no início, participantes activos, mas...
Recuando no tempo, também por cá andaram os mouros e a poda esmoreceu e a vinha teve uma regressão devido à proibição deles consumirem bebidas fermentadas. Tal como agora, a "proibição" de darem a cara, enfrentarem medos, leva-os a enterrar, as suas origens e tradições. Sãos eles quem perde!
Sem nos querermos arvorar num Marquês de Pombal com a primeira região de vinho demarcada do mundo, podemos dizer que a "nossa vinha" tem sido bem tratada e podada, está pujante e recomenda-se, tal como o vinho português que na altura dos Descobrimentos chegou aos quatro cantos do mundo, também o "nosso vinho" aqui feito de palavras, é bem apreciado em locais próximos e distantes!
Se milhares aqui vêem beber, é a confirmação da sua qualidade, na certeza de como o vinho do Porto: "quanto mais velho melhor".
É provável que muitos não cultivem o blog dos forninhenses, porque foram proibidos de o fazer ou porque dá trabalho, mas pelo menos não foram proibidos daqui virem "beber"!
EliminarAssim como é provável que os Romanos, aqui chegados, começassem nas encostas e chãs a cultivar de sachola o centeio e outros cereais rústicos e a vinha, mais ou menos selvagem; e para obter o vinho pisassem a uva nas lagaretas, talhadas a picão nas rochas, aliás engenhos que a sudeste desta freguesia, se não me engano, existem 4 (quatro).
Mas passados muitos anos é que chegaram os Mouros e se calhar foi assim que, empurrados, ocuparam o lugar onde hoje é o povo de Forninhos e ali viveram sem guerras, ocupando e cultivando outras terras com cereal, vinho e ainda azeite.
A existência de água era uma das condições necessárias para que um local fosse escolhido e aqui lembro a antiga arte de vedor (que já aqui publicamos).
Também a arte de podador é antiga e fico a imaginar (só imaginar) que tipo de utensílio usavam esses nossos antepassados!
é um trabalho bem minuncioso , mas que com anos de experiencia,
ResponderEliminarquem faz, faz até de olhos fechados ,eu não sabia que se podava
aqueles galhos tão bonitos , bem se vê que de uvas eu só entendo de comer.
bjs
http://eueminhasplantinhas.blogspot.com.br/
É uma profissão especializada, que não está ao alcance de qualquer um. Antigamente passava de pai para filho. Hoje, nas pequenas produções, há sempre alguém que dá o "jeito". Quanto às grandes áreas, aí sim, há certamente uma formação. Na minha memória nos anos 40, lá na minha aldeia, lembro a habilidade desses podadores.
ResponderEliminarO meu abraço,
Manuel Tomaz
Boas, Sr. Tomaz.
EliminarSegundo me tenho apercebido nas grandes zonas vinhateiras há formações, mas lá para as nossas bandas não sei...confesso!
E, parece, que nas zonas mais quentes que a nossa, há agricultores que após as vindimas,fazem logo as podas.
E, nas zonas onde as geadas são mais frequentes, há quem faça a poda quando a videira já tem folhas, é designada de poda em verde.
E pensava eu que não se podia ou devia fazer a poda quando a videira tem rebentos, mas também percebo tanto disto como de lagares de azeite.
Um abraço.
VOLTEMOS À PODA...
ResponderEliminarNem sei bem porquê, mas para mim, a recordação da poda remonta ao tempo do meu avô Francisco em que ainda pequenito me levava com ele à vinha que tinha na Pardamaia. Mesmo sendo inverno, para mim parecia que estava sempre sol.
Lá íamos caminhando calmamente; adorava andar com ele e ouvir as suas sábias palavras e estórias, neste caso sobre a poda.
Os podadores já por lá andavam na vinha desde cedo, de tesoura afiada na mão e serrote pendurado no cinto por detrás das costas; iria ser preciso para serrar as já velhas cêpas duras.
Chegado à vinha e depois da salvação, traduzida num "bom dia, meus senhores", fazia a vistoria ao trabalho feito. A vinha já era velha e de tantas dornas de vinho já dali terem saído, andava cansada e por isso deixar varas em excesso era um abuso a nível de carga para a videira tão antiga, por isso as varas deviam ficar com menos olhos, sabendo de antemão que no ano seguinte dariam menos cachos mas pelo menos a vinha ficava salva.
Ele tinha muita confiança nos "seus" podadores que há anos havia escolhido a dedo, pois aquela actividade manual era ao mesmo tempo cerebral e técnica e eles sabiam isso quando tinham de tomar decisões, pois cada cêpa requeria uma abordagem diferente, mas eles sabiam como resolver.
E eu, por detrás deles, ia apanhando as vides que juntava em montinhos que mais tarde, já secas, seriam atadas em molhos e acartadas no carro de bois para casa; era a lenha apreciada para do forno de cozer sair o bom pão, carne assada e bolos de azeite pela Páscoa.
Enquanto isto, ia ouvindo as conversas dos adultos sobre o dia-a-dia, quase sempre acerca do trabalho, uma ou outra notícia do povo e do tempo, mas também sobre a tarefa que faziam e que a brincar deixavam em ditos de sabedoria popular: "podar em Março, é ser madraço", a que outro respondia "podar em Março, vindima no regaço".
Volta e meia lá paravam para matar a sede e fumar um cigarro da onça comprada na venda, mas logo retomavam ao trabalho com a mesma confiança e entrega de sempre: "pessoal, vamos à poda que o dia corre...".
Sentia-me num mundo de magia que aumentou quando um certo dia, o meu avô me ofereceu uma tesoura pequena da poda que havia de propósito comprado para mim na feira; prestava atenção ao modo dele fazer com a tesoura e ele ria embevecido com a minha entrega.
Pena estas maneiras de trabalhar irem sendo esquecidas, mas penso que o nosso município e outros vinhateiros, deveriam criar um Gabinete de Apoio Vinícula para apoio e formação da poda e enxertia.
Até porque podar é uma arte!
Boa noite Paula, excelente artigo sobre a poda das videiras! Há que podar para que os novos rebentos ressurjam vigorosos e continuem a dar excelentes uvas que se transformarão nesse precioso néctar do Dão! A poda, uma verdadeira arte! Uma tarefa que eu adorava ver o meu avô a fazer! Quem me dera nesses tempos;))! Beijinhos. Ailime
ResponderEliminarPaula,querida,acho tão lindo quem sabe lidar com a terra,fazendo as semeadura e colheita na hora certa! Um belo texto que muito nos ensina! bjs,
ResponderEliminarTem que ter muito talento e conhecimento para mexer com a terra e a poda.
ResponderEliminarAbraços,
Sandra
Eu sou um cortador de vides, mas aqui nesta terra e com videiras de reproducao directa, e mais facil mesmo para quem faca asneiras como eu!
ResponderEliminarUma vez a tentar explicar ao meu vizinho, os meus rudimentares conhecimentos de "podador", por muito pouco lhe podava um dedo!!!
Bem haja que com este artigo fez-me lembrar esse episodio, que naquela altura nao teve pidada nenhuma, mas que hoje recordo com uma risada!
Um abraco de amizade!
Al Cardoso refere acima as videiras de reprodução directa que penso ser o também chamado vinho americano/morangueiro.
ResponderEliminarRecordo o meu avó ter essas videiras no sítio dos Carregais e pedir que não misturassem as suas uvas com as outras. Ficavam para os pássaros e aliás, nem sequer eram podadas.
O vinho morangueiro apareceu em Portugal na sequência da destruição dos vinhedos tradicionais causados pela filioxera.O grande objectivo era neutralizar a filoxera, uma doença que estava a atacar a vinha nacional. Mas o que era para ser salvador da vinha, acabou por se transformar numa ameaça às culturas tradicionais, já que os produtores viram a extraordinária produtividade do vinho americano e também a sua grande capacidade de adaptação.
O decreto-lei de 18 de Abril de 1935 não permitia a plantação de videiras-americanas sem ser para lhes enxertar castas nacionais, determinando o arranque, a substituição ou enxerto das existentes. Os viticultores eram obrigados a inutilizar as enxertias efectuadas depois de Outubro de 1934. Nove anos depois, a legislação mudou e decidiu-se aplicar uma multa aos agricultores que desrespeitavam os imperativos legais.
Actualmente tem pouca relevância este vinho, mas pessoalmente, no verão adoro um bom morangueiro branco fresquinho, além de que é de baixo teor alcoólico.
De facto existem varias variedades de vinhas de reproducao directa, existe o que o amigo Xico chama de "morangueiro' que aqui chamam "concord" mas existem existem outros tipos de uvas brancas roses e ate umas que nao lhe sei o nome, que tenho no meu quintal que e muito parcecido no gosto e na cor, com o que nos chamava-mos ai "moscatel"! Sao umas uvas muito boas para comer, o pior e que ha alguns anos que os malandros dos passaros, comem-mas antes de estarem completamente maduras! Mas mesmo assim so para lhes fazer o favor vou as "podando" todos os anos!
EliminarVinho e que nunca fiz, mas tambem nao sei, compra-se ja feito, e mais caro mas poupa-se o trabalho!
E, sabes qual foi a única região da Europa que resistiu à filoxera?
ResponderEliminarFoi Colares, Sintra, Portugal.
Nos fins do século XIX a região de Colares ficou famosa precisamente quando desabou sobre a viticultura mundial a sua maior ameaça, a filoxera. Os vinhedos de Colares pela sua geografia diferenciada foram os únicos que resistiram a esta praga, uma vez que o insecto atacava a raíz das vinhas e não se propagava nos terrenos de areia.
Em toda a Europa, excepto nesta região, começaram então a utilizar-se plantas americanas (resistentes ao insecto), enxertadas com castas europeias.
Se calhar devemos publicar um artigo dedicado à filoxera, é só uma ideia, mas a matéria é interessante e como podemos constatar faz parte também da história de Forninhos.
A produção de Vinho de Colares, atualmente é quase nula. Já tive oportunidade de apreciar esse vinho, aliás maravilhoso, e que realmente é diferente de outros por as vinhas estarem em terrenos arenosos, perto do mar. Foi também por isso que a filoxera não as atacou, em virtude das suas raízes estarem muito profundas.
EliminarAbraço,
Manuel Tomaz
Olá,
ResponderEliminarmuito interessante o post de hoje, a poda é fundamental para a produção e para o crescimento da planta. Eu não aprendi, foi uma pena, meu pai sabia o tempo certo de fazer uma boa pode, ele se guiava pela lua e sempre dava certo. Que belo relato, essas informações não devem se perder.
Xico, a visita dos queridos amigos foi um tempo mágico e deixaram muita saudade. Agora estamos esperando tua visita e da Paula, para conhecer nossa vida de campo. O menino Edu gostou muito, e quando se despediu chorou e nos emocionou, a mãe dele Adriana, falou que todos os dias ao acordar ele chora para vir aqui para casa.
Me despeço e sigo para Solidão, Alfredo está louco por uma pescaria, vamos aproveitar enquanto o tempo está bom, o frio já está chegando por aqui.
Tenham um ótimo final de semana.
Pois é , està na altura dela tambem eu ia com o meu pai para a poda, a minha missão era apanhar as vides . Mas como tambem me queria armar em podador , o meu pai là me dava uma tesoura para as mãos e là ia eu na frente cortando aquelas vides maiores, depois passava para tràs dele atar aquelas que ele jà tinha podado (levàlas o arame) quando se dava uma volta a mais e ela partia , a solução era cortà la logo antes que o artista visse , tambem me lembro bem dos serrotes Xico, pedia sempre ao meu pai para me deixar cortar as sepas, e cheguei mesmo a cortar aquela que era para ficar e deixar a que era para cortar, e claro ai jà sabia que ia levar uma verdoada e não falhava nada . Bons tempos .
ResponderEliminarBom fim de semana
Tiro-te o chapéu mais uma vez vez David!
EliminarSabes o quanto gosto dos teu comentários, pois em jeito de brincadeira, trazes sempre boas recordações, ou menos boas, como andar a apanhar vides. Podar era com eles, os "artistas", ora essa!
Aramar as videiras, tinha que se lhe dissesse, ou nem sequer uma vide ficava com a tua arte: a de partir ,esconder e assobiar para o ar!
Os "tipos" é que sabiam, com o junco e a ráfia pendurado à cintura, era um ver se te havias, cordão fora!
A gente, já erámos uns homens (de palmo e meio) e tínhamos aprendido o truque na sacha do milho, que era a "eito" para despachar: cavas um, cortas o outro e às vezes enterrávamos os dois, e tudo ficava perfeito. "Como eles sacham bem; ricos filhos!".
Trabalho pronto, janta comida, uns tustos que vinham a calhar com a admiração dos pais ao dizerem: "hoje trabalhas-te bem!".
Bem era para a gente, pois mal eles sabiam...senão, era como dizes, à verdoada,
Cruzes, canhoto!!!
Abraço.
Pois é...numa primeira fase cortam-se as pontas, para facilitar o trabalho ao podador!
EliminarEu também ajudei a apanhar as vides que se punham em montes e depois de secas faziam-se molhinhos que iriam servir para a fogueira ou forno de cozer. Não era dos piores trabalhos, mas até a apanha das vides já não é como antigamente, agora, dizem-me que já se não se fazem os molhinhos, são logo queimadas na terra, porque agora há muita lenha, logo não é preciso aproveitar as vides.
Tempos Modernos.
Podar, atar; a seguir vinha a descava e a temida cava, que dantes era feita no dia 25 de Abril, porque no dia S. Marcos os bois não trabalhavam e escolhia-se este dia para cava das vinhas. Sabiam?
ResponderEliminarNessa altura, comparado com hoje que tanta vinha foi abandonada, dizem que era lindo ver toda a gente a cavar as suas vinhas. Eu soube deste detalhe quando em 2012 fiz o post: "História Antiga: O NOSSO VINHO".
Permite que te diga.
EliminarMesmo com o 25 de Abril, voltou-se ao outrora: Continuamos a cavar e descavar as "vinhas" e os "bois" a descansar, já não sob a protecção de São Marcos que foi substituído por São Bento.
Ao sabor de um copo de vinho e de quem nada percebe da "poda".
E venha mais um copo antes que as vinhas acabem...