Já velhinha e encostada, faz questão em se manter direita, esta genuína dorna de Forninhos, tal como quando andava em cima dos carros de bois!
Uma Dorna |
A dorna na nossa aldeia, era tal esta que aqui está, sem tirar nem pôr. A vasilha maior que recebia na vindima dentro de si, os canastros carregados de uvas que teria de levar até ao lagar do produtor.
Esta já foi outrora, menina e moça, aquando foi feita de aduelas de bom castanho, escolhidas a preceito. Demorou o seu tempo a tomar forma. Tinha de ser aplainada pelo mestre carpinteiro que lhe moldaria as formas depois de aquecer as suas "costelas" no fogo, encaixá-las e arrematá-la com os aros de ferro..
Mas mesmo que nova, a sua sina estava traçada, pois chegado meados de Setembro e logo nas primeiras chuvas, era colocada por debaixo de um caleiro ou beiral, quase sempre junto ao exterior do lagar para "acanar" a água e "embuchar", ficando assim até às vésperas da vindima e ser bem lavada e de modo tradicional e seguro. Amarrada ao carro dos animais, ia deitada por vazia e voltava ao alto por cheia.
Os homens haviam despejado quantidades de canastros que dariam muitos almudes de vinho, pois outro homem havia que tinha por função calcar as uvas que a dorna recebia de modo a diminuir o volume e aumentar a sua capacidade, até o mosto lhe dar quase pelo pescoço.
Feita a primeira dorna da vindima, vacas ao carro, dorna bem segura por grossas cordas e dois homens ao lado da mesma com sacholas viradas, a segurar e equilibrar, por caminhos lá ia orgulhosa a caminho do lagar, que também préviamente bem lavado, a esperava na sua barriga(curva da entrada do lagar de pedra) devidamente equipada com sacas de serapilheira, para não "magoar" as suas aduelas. A operação mais difícil das vindimas e apenas para homens.
Tragédias houve em que homens ficaram por debaixo das dornas de vinho, mas depois de uns momentos de descanso mais que merecido e um copo de vinho do ano anterior, lá partiam apressados de volta em direcção à vinha, conversando sobre a qualidade da colheita e o tempo que não parecia a favor, ameaçava chuva e diziam:
"Vindima molhada, dorna depressa cheia e pipa despejada", enquanto os canastros de vime já aguardavam a abarrotar.
Tão bom passar aqui e ver o que pra mim é desconhecido, mas fez parte da vida do meu marido. E pra vocês, essa volta, resgate, é maravilhoso! Imagino a cena dos homens seres "atropelados" pelas dornas.rs... bjs, lindo dia! chica
ResponderEliminarUm abraco ao seu marido, pois entendo que deve gostar destes reviveres...sentimentos gemeos, independentemente dos paises, se bem que no caso, latinos.
ResponderEliminarMas para nos mais facil estes resgates de memorias do que aqueles que por debaixo destas dornas de mosto de centenas e centenas de litro, era uma "desgraca" gritada na aldeia. Houve quem sobrevivesse a custo, outros nunca mais foram os mesmos...
Beijo, amiga Chica.
O processo tradicional da vindima todo ele muito bem explicado. Desde a forma como se faziam as dornas até ao seu papel na vindima. E muito bem escrito , como sempre.
ResponderEliminarUma das coisas que sempre me suscitou curiosidade foi o facto de apenas os homens pisarem as uvas no lugar. Bem entendível, aliás, já que é uma tradição que tem a ver com épocas em que as tarefas das mulheres e dos homens estavam bem definidas e determinadas. Hoje, parece que até os turistas pisam as uvas...:-)
Gostei do tema, que tem tanto a ver com a nossa portugalidade e consegue-se visualizar perfeitamente toda a acção.
xx
Olá Laura, boa tarde.
EliminarDiz bem, tarefas bem definidas e determinadas.
Pessoalmente, acho que havia quatro ciclos marcantes durante o ano, na vida dos campesinos da minha aldeia: as "ceifas", a "vindima" , a "vareja" e a "matança" do porco. Afinal o essencial e abençoado, o pão, o vinho, o azeite e a carne.
O papel da mulher, quanto a mim, era o mais importante! Fora da casa, o homem fazia os seus negócios de lavoura, transação de produtos e animais, aqueles mais vísiveis por "ser coisas de homens", mas o papel da mulher?
A abelhinha, que orientava tudo e a quem queiramos ou não, os maridos prestavam contas. Ela geria a casa com aquela intuição feminina de quem sabia quem seria bem vindo para estas tarefas "mais chegadas", por norma familiares e amigos e um ou outro que se fazia "rogado.
Na vindima tal como como nos enchidos em que definida a quantidade de dúzias de chouriças, farinheiras, morcelas e etc..., além da "piqueta " tradicional, estipulava a "janta" no dia anterior. Era a gerente, a mesma que no dia da vindima e antes de ser a primeira a "arrancar" para as vinhas, ia supervisionar a adega e o lagar, ver se estava tudo bem fechado, o lagar não iria deixar perder o mosto, pormenores importantes... e como dizia, lá partia cedinho para a vinha para escolher os melhores cachos, principalmente os moscatéis genuinos que seriam logo procurados pelos vindimadores que conheciam as videiras. Salvos, iriam perdurar pendurados nos tectos de madeira da casa´até por volta do Natal.
Tanto rodeio para entrar no Lagar, na pisa, não é Laura?
Coisa de homens em que na fugaz luz de candeeiro a petróleo e encostados à prensa, faziam o monótono bailado de centenas de volta, ocupando o tempo em que iam esmagando as uvas, com cantorias brejeiras, desgarradas e desavenças, enfim, uma espécie de libertinagem, que continuava quente por o dia ter sido uma homenagem ao deus Baco.
Imaginemos o tempo em que a dorna da foto, teria a pisar o fruto que ela tinha carregado por mulheres de saias compridas acima do joelho...
Claro que no fim iria aparecer, com a grande bacia de água morna para lavarem os pés e depois a ceia que quando a safra tinha sido boa e podiam, tinha por prenda um galo guisado, criado para esse dia...
Amanhã haveria outra vindima e dornas para carregar!
Lembro-me bem que se conseguia guardar os cachos (uvas) pendurados em bom estado para serem comidos no Natal e no 1.º de Janeiro!
EliminarEstes cachos existiam nas nossas vinhas e eram brancos, vermelhos, pretos, por norma escolhiam as castas mais adequadas para esse efeito, (Moscatel, Cachudo, D. Maria, etc.). Custa-me por isso ler, sobre a história de Forninhos, que a touriga nacional é a casta de excelência que confere a este produto (vinho) atributos únicos, quando quem é forninhense bem sabe que em Forninhos a estrutura das vinhas e das castas era orientada não para a produção de vinhos especiais, mas apenas para a produção de vinho e uvas. Por isso era vulgar cada vinha possuir videiras de várias castas que eram escolhidas na altura da enxertia. Por isso, existiam uvas brancas, vermelhas, pretas e dentro das cores várias castas, na mesma vinha. Mesmo hoje só nas produções mais especializadas, as vinhas são formadas por videiras todas da mesma casta, inclusive a touriga nacional, e não por esta mistura.
Enfim...tanta wikipédia no vinho!!!
Nunca tinha visto uma dorna.
ResponderEliminarAdoro estes teus relatos da vida no campo da qual tão pouco sei e praticamente nunca vi.
Obrigada por estes momentos de cultura.
Beijinhos.
Trouxe a dorna por ser um dos exemplos de excelência, digamos, um pergaminho marcante de uma época.
EliminarAo transportar as uvas, trazia consigo muitos anseios de abundância.
Vamos trazendo o pouco que na distância vamos conseguindo.
Coisas da nossa terra, Forninhos, que fazemos questão de não caírem no esquecimento.
Beijinho.
Embora o texto trate da vindima dos pequenos produtores, daqueles que produzem vinho quase só para consumo próprio, quando se fala em dornas lembro-me logo da grande vindima, das grandes quintas do Sr. Amaral e dos grandes lagares e adega enorme que tinha, no Armazém.
ResponderEliminarNo Largo da Lameira, junto ao Armazém, via os homens chegar com as dornas de madeira para serem despejadas nos grandes lagares. Tempos que já lá vão...hoje os proprietários das grandes vinhas parece que entregam as uvas nas Cooperativas Agrícolas (fora de Forninhos) que para ali são transportadas em contentores nos tractores ou camionetas.
Também já se não vê o carpinteiro/tanoeiro a consertar as dornas e pipos na rua...vemos antes, como que abandonadas, algumas vasilhas (como esta dorna) nas ruas de Forninhos, sem merecem a atenção devida. Se calhar para ir para fogueira ainda este Inverno. Se isso acontecer, é pena, porque ficavam bem expostas num museu etnográfico.
Como disse a Laura, hoje até os turistas pisam as uvas...os que passam por Forninhos não digo que o façam dentro da dornas, mas convenhamos que as dornas são um bom adereço, porque representativas do quotidiano e das actividades profissionais de outrora.
Parabéns pelo post, Xico.
Trazes mais que um comentário, um belíssimo Post, para mim um avivar de memórias...
EliminarSaídos da escola para jantar (assim se chamava o almoço), nós, a miudagem da Lameira, Outeiro e Ribeiro, corríamos a ver o frenesim da vindima do sr. Amaral.
Lavradores de Forninhos e outros de fora, pessoas que já tinham "vida" (terras de bastante cultivo) que justificavam ter uma "junta" de vacas, encontravam ali por largos dias a recompensa da pujança dos animais e a destreza dos donos, no acarretar das imensas dornas das grandes vinhas deste proprietário. Daí a mestreza com que "entornavam" as dornas para aqueles grandes lagares, enquanto vários homens, equilibrados em cima de várias tábuas de madeia que atravessavam os lagares, de "rodo" na mão, iam esmagando os restos do "engaço" das uvas esmagado e dando "côr" ao vinho. E o cheiro a vinho doce que inundava o Largo da Lameira...
Os "nossos" tanoeiros eram o tio Zé carau e o filho António que todos os anos martelavam junto à adega e lagar dos meus pais, na rua, as dornas e pipas encostadas à latada em frente.
O custo e a paga era a amizade, familia e amigos, mas deixem que diga, ainda parece que sinto o cheiro dos cigarros do tio Zé, um na boca o outro na orelha, à semelhança do lápis na outra para marcar as peças. A marca: Definitvos", assim ele permanece na minha lembrança.
Falas ainda entre outras coisas, no tema aqui batido de um museu etnográfico.
Pois bem, estas e tantas coisas já foram parar às mãos de usurários aproveitadores de gentes que não percebem esse imenso valor, além de monetário, histórico.
Deixo este simples exercício de consciência, aos autarcas de Forninhos e a quem com eles tem responsabilidades (já que sou censurado no facebook da junta de forninhos):
Dizem que foram gastos pelo menos dez mil euros na feitura de uma monografia sobre Forninhos e seus avós, a que eu simpáticamente continua a chamar de "coisa", dói um pouco menos que "aberração de mentiras".
Forninhos tem infelizmente duas escolas primária fechadas, sem qualquer utilidade, ao "Deus-Dará!"
O que falta para aproveitar esses espaços e dentro das recolhas possíveis, presentear os visitantes, residentes ou não, de algo real, a NOSSA história?
Se há dinheiro para um "simples papel de parede" que pelos vistos "vendeu" bem, uns miseros euros desse lucro não dá para meter dornas físicas de memórias numa sala de aulas?
Boas vindimas!
Boa tarde
ResponderEliminarjá que não entrou o primeiro....
Boas recordações, ver esta dorna recordo os velhos tempos em que eu andava dentro delas a pisar as uvas, hoje já nada disto se usa, lá vão os tractores com meia dúzia de bidons e o esmagador, é tudo tão simples.
abraço
Amigo Pires, há tanto tempo...
EliminarUm prazer aqui estares e olha que se o primeiro comentário não entrou, não foi por culpa daqui, a porta da "adega" está sempre aberta para quem quiser vir "beber" um copo, ainda por cima um forninhense acarinhado!.
Pois, tal como sugeres, perdeu-se a magia, agora é mais ver o lucro, compreendo.
Mas não sinto vergonha nenhuma, pelo contrário ,em trazer aqui a dorna nesta altura das vindimas.
Faz parte de um tempo que sempre vamos recordar e em que andávamos dentro delas a pisar os cachos, por vezes com malandrice e a esse propósito deixo-te uma pequena história passada comigo e com o meu primo Luís Pêgo que bem conheces.
Tinhamos uma tia velhota, a tia Albina que morava ali perto da igreja e quando ao domingo vínhamos da missa, passávamos por casa dela, pois sabíamos que tinha sempre umas castanhas piladas, umas maçãs ou umas nozes. Por vezes e em domingos de sorte, vinte e cinco tostões para dividirmos e depois andávamos à porrada, vinte e cinco a dividir por dois não dava troco, enfim a gente depois resolvia.
Ela, a tia Albina, tinha uns terrenos para os lados da Pardamaia e quando vindimou uma vinhita e uns cordões que lá tinha, chamou-nos aos dois para pisar os cachos dentro da dorna e por lá andamos com os pés acima e abaixo, com os braços apoiados na borda da dorna.
Já éramos rapazotes e queriamos era ir para a "borga" e quando vimos que pisa devia estar pronta, chateados, mijámos lá dentro, pois aquilo quando fermentasse, ninguém daria conta. A nossa vingança!
Passados tempos e na saída da missa, chamou-nos, tinha um petico para nós dois, chouriça frita e pão de milho, maravilha.
Pediu ao Luis para ir`à pipita buscar uma caneca de vinho para acompanhar e bom, do melhor. Limpamos a "beiça", agradecemos e fomos à vida, quando ela lá do fundo do pátio grita: "mijaste" bem, na próxima cá vos espero"
Recordamos a brincadeira e um dia disse que tinha sido um vizinho que lhe tinha contado. Tinha visto às escondidas.
Não digo o nome, mas ainda está vivo...
Estás a ver amigo, as coisas que uma dorna pode entornar...
braço grande.
Xico, um artigo muito bom... Aprendendo o que é "Dorna"...
ResponderEliminarA frase inicial e a última dizem muito!! Muita lição e poesia...
Abraços e MUITA PAZ...
Ainda bem que gostou Anete.
EliminarCá vamos, atentos a que o "barco" não "Adorne" e siga firme na sua rota.
Um beijinho.
Esqueci-me de dizer que gostei muito daquela parte que conta que a dorna da vindima era bem segura ao carro dos bois por grossas cordas e os homens iam ao lado da mesma com as sacholas viradas, a segurar e equilibrar, por caminhos, que eram irregulares, até aos devidos lagares.
ResponderEliminarAinda hoje é possivel ver em Forninhos alguns desses lagares com as entradas referidas, onde há um rebaixamento em redondo que servia para a dorna melhor assentar quando se despejava para dentro do lagar.
Como agora é o tempo das vindimas, vou escolher "meia dúzia" de fotos que guardo, para os nossos leitores saberem melhor do que falamos.
Acrescento, pelo que me lembro e vale o que vale. Adorna tinha de ir bem segura no carro de bois, que em Forninhos eram puxados por vacas. Os mesmos eram adaptados para as diversas funcoes do dia a dia, consoante as estacoes das sementeiras e sumariamente a recolha do produto final.
ResponderEliminarPara o estrume as sebes (aquelas tabuas que ladeavam o carro), os fogueiros (paus rijos de carvalho ou castanho, erectos de mais de metro e meio de altura para segurarem os cereais, medas de centeio ou carradas de milho).
Na vindima era diferente! Digo que era por isso fazer parte do passado que aqui tentamos recordar no minimo que os nossos pais ainda foram preservando, pois os avos... Desculpem, nao resisto a esta revolta fidagal dos "mancebos" , mas nas vindimas daqueles que como nos recordamos, filhos autenticos da terra, a dorna ia segura por cordas que seguravam uma formatura quadrada com quatro fogueiros. Bem amarrada e tal como dizes sob o olhar atento dos mais experientes. Lembro com carinho alguns, o tio Joaquim Branco, o tio Antonio Carau, o meu pai Alfredo na frente das vacas, o tio Guerrilha e Esmael e tantos sem desprimor. No mesmo bem hajam de gratidao por os podermos lembrar, eles que faziam aquilo que se pedia na vindima, com audacia e sabedoria, entornar a dorna que terminado o acto, suspiravam de alivio. Tinha corrido be, sabendo que quando no regresso para a vinha e avistados, as suas mulheres suspiravam de alivio.
Elas iam vindimando, acarretando cestos de vime, mas ao longe daquelas encostas, pareciam ver cada bocado de seixo em caminhos esventrados, fazendo mal a seus homens. Raios os partam que chegavam sempre animados!
Tinham levado a bom porto a sua dama, a dorna, que de cansada vinha deitada no carro e pronta para a proxima ida ao lagar, lagares esses que aguardo ansiosamente que tragas, por testemunhos autenticos da nossa ruralidade e que ainda servem se nao para as dornas, pelo menos para abrir as portas do mesmo lagar (dos que restam), para receber os cachos ja mastigados em cima do tractor.
Curiosamente, amanha vindima a minha mae. Nao vamos ter fotos, mas o pensamento la estara!
Ao telefone perguntei quem ia e felizmente continua a tradicao, os amigos!
Estava a fazer arroz doce e para a "piqueta", sardinha frita de escabeche, bacalhau albardado, fritas, mais o queijo, chourica e presunto.
Para o almoco, a feijoada abundante de carne de porco, enchido e hortalicas.
Diz que a vindima sera pouca, mas a comida muita, afinal uma reuniao de familia!
Traz as fotos Paula, pois em dia de vindima, vem a pisa no lagar e assim podes mostrar a porta de entrada do vinho.
Boa noite Xico, não sei o que mais admirar se a riqueza da sua prosa, se a descrição do transporte das dornas carregadinhas de belos cachos de uvas!
ResponderEliminarAmbas se completam e proporcionam um momento muito belo a quem tem o privilégio de por aqui passar!
Obrigada!
Beijinhos,
Ailime
Tempo de vindima, amiga Ailime. Vinho novo a nascer do corte dos cachos e por isso permita um brinde / "A sua saude"!
ResponderEliminarBeijinho
Pois é està na hora das vindimas, toca a carregar bidons gigos baldes e o esmagador era e penso que ainda é assim o alvolouço demanhã.
ResponderEliminarDornas , jà là vai o tempo em que eu de garoto passava parte das tardes a ver um mestre carpinteiro de nome Antonio Carau, meu tio a dar uma nova vida a essas dornas, pipos e muito mais , amanhar as leivas, fazer os tampos apertar os arcos , ainda estou a ver aquele ponteiro apenas uma martelada e o furo estava feito , à meia tarde por là passava o cliente, o Carau sempre conseguiste dar um geito o pipito? Bom pra este ano està arremedeado ,mas pro ano que vem jà não hà sapateiro que o cosa, dizia o mestre a rir, o dono tambem sorria pois sabia que enquanto o artista pudesse o pipo não ia parar à lareira.
Então não queres um copito , và vamos là agora.
Pois, nao queres um copito, David?
ResponderEliminarPergunto por ainda pouco tempo atras, ter ligado para Forninhos. A vindima da minha mae estava acabada e quem atende o telefone logo pergunta "nao queres um copito". Por acaso o meu irmao. A vindima tinha corrido bem, finalmente tempo de calor, poucos cachos mas bom vinho. Chega para a casa. Muita gente amiga e mesa farta, como de costume...
Uma pessoa diz que me perco ao escrever estas coisas,mas nao desligo, nao sei escrever de outro modo quando o sentido desperta, resumindo, estou chateado por la nao estar.
Os leitores que aqui participam, ja me conhecem, se bem que tenha de ter cuidado com as minhas emotividades, mas e caramba, nao posso desperdicar a oportunidade de te ler, um sentimento e modo de tal descrever do mesmo modo que sinto, nao fossemos da mesma terra.
Foram e acabaram as dornas, agora ao abandono, amigo David. E com elas tanta coisa, se bem que uma vez por outra, ainda se sinta a lembranca dessas boas gentes que citas. Familia Carau que bem sabes, amiga tambem dos meus pais e acredita que cada vindima era uma festa. No ano passado fui a vindima deles, bebi um copito depois da piqueta nas Androas, na pequena casota do tio Antonio Carau. Parte do ritual, apenas por isso. Nao assisti ao funeral dele (dos meus maiores amigos), mas a sepultura das suas "ricas" videiras...Cada um sabe de si, mas partiu mais uma grande parte da nossa juventude.
Adiante que o tempo voa, partiram avos e pais, mas felizmente ainda vao ficando filhos e ou netos.
E hoje na "pisa" da minha mae, poucos mas bons filhos dos "antigos" que nos contavam estorias.
Esmael, Jorge do 51 , Agostinho Branco, Joao Farrio e outros...
Ainda por la estao a comer e beber, afinal, foi dia de vindima
Hoje foi com o tractor, as pipas ja nao sentem a martelada, se bem que muito vinho aparece "martelado" e tal sendo, nao ha "sapateiro que cosa", enfim, paga o justo pelo pecador..
"' Então não queres um copito , và vamos là agora"
Um abraco..
O vinho era a bebida mais social nas nossas terras. Era usado em todos os acontecimentos de natureza social.
ResponderEliminarMas dantes as pessoas eram socialmente mais dadas entre elas era costume ouvir-se."Vamos beber um copito à minha adega" ou mesmo a um conhecido que por Forninhos passasse "não vai embora sem provar o meu vinho"; já outros, como não eram nada sociaveis (ainda hoje o são!) nunca convidaram ninguém, mas esses também raramente foram convidados!
E não era costume, para poder namorar uma rapariga em terra alheia o rapaz ter de "pagar o vinho"?
Até parece que era um negócio ;-) aliás os os negócios eram selados com vinho, pagava quem quem recebia o dinheiro.
Tudo ou quase tudo o que era importante na vida comunitária era acompanhado com vinho, se calhar por isso é que as tarefas da vindima e pisa eram muitos especiais, eram uma festa!
"...O negócio era selado na venda do tio Zé Matela, com copos de vinho e uns biscoitos....", tal escrevi em comentario no post "vacas e bois ao ganho". na etiqueta "tradicoes em extincao".
ResponderEliminarDizes bem, o vinho era bebida social e ainda hoje assim se mantem, sendo que quem ainda colhe e faz vinho, nao convida qualquer um que seja para a adega, apenas os amigos e os amigos que os amigos trazem, nao va o vinho envinagrar (estas coisas, o melhor e a cautela).
Sim, normalmente e por tradicao, quem vinha de fora "catrapiscar" uma rapariga da terra e os rapazes vendo que a coisa ia em frente, vinha o "castigo", um almude de vinho e uma rima de pao trig da sua altura.
Ou seja, o vinho era o selo que firmava irremediavelmente o negocio.
Desde o tio Armando na compra de batatas e cereais aos agricultores, ate ao tio Luis Picoto, no intermediar dos negocios de gado.
Certo que no fim e negocio fechado e sinal dado, o mesmo so ficava validado com os copos de vinho.
Talvez porque com muitos copos e linguas soltas, o negocio ficasse mais claro.
Das coisas boas, o vinho, que Forninhos ainda vai tendo.
Nao o baldeiem nem o turvem, pois dar a "volta" seria uma carga de trabalhos...
Algo que nao acrescentei...
EliminarEstes contratos selados em forma de copos de vinho, a gente sabia mais ou menos por perguntas e evasivas respostas por serem antigas, mas faltava o termo e aqui esta...
"Alboroque"!
… e chama-se “Alboroque” – o nome árabe dado ao copo de vinho ou à refeição que sela um contrato. Oficial!
Ora aqui esta, como dois "aprendizes" conseguem compilar parte do embriao do nascer de um povoado, armazenar "tegulas" pardamaienses (no pressuposto de...) e ainda estudarem o eventual percurso ate as lagaretas, carregando "canastros" as costas ate S. Pedro.
Nao tem logica, deveria ser antes, com anforas, mas os Fenicios...
Aonde caberia tanta gente na Pardamaia!
Fiquemos pelo certo e que a palavra dos Forninhense era selada com honra!
Coisa rara... hoje.
Agora vieram os jogos florais, procura aqui, olha achei...
Queira Deus que nao venha a ter de assistir ao "jogo da macaca" e aquele com pedrinhas...
Sejamos serios, Forninhos tem claramente muito que estudar por felizmente possuir fundamento para tal, a nivel nacional e, o que foram fazendo com dinheiros publicos para o efeito, ainda nao tem resultados nem explicacoes.
Levantem o que quiserem, mostrem o que quiserem (curiosamente os pseudos achados ninguem sabe aonde se encontram), fotos e mais fotos de coisas lugubres e ate engracadas como os "tintins ...do padre...", nada apaga o esconder de estudos e suas conclusoes, a nao ser que tal como o "outro", nao me lembro!
Nao fora assim e "Alboroque"!
Xico,
ResponderEliminarTudo se modernizou para acompanhar a correria da moderninade, mas eu confesso que sou apaixonada pelas coisas antigas.
Essa dorna da foto é linda. Numa vinha daqui de perto, tem uma na entrada, que serve de caixa de correspondências.
Lindo post.
Um lindo final de semana!
Abraços
Ola Lucinha!
ResponderEliminarClaro que tambem gosto de coisas antigas e de que maneira, mas as pessoas sendo possivel e presencialmente, de modo descontraido, aprando aqui e acola, vao encontrando um ou outro pequeno encanto, tal como ao lado, esta dorna tinha mais duas irmas, deitadas, como que dizendo que era ela quem recebia (o correio) as saudades de outrora...
Abraco grande.