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domingo, 21 de outubro de 2018

Em busca do Eldorado

Esta história que hoje vos trago é de um aldeão que quis emigrar para a Argentina, deixando mulher e filhos para trás, provavelmente com a promessa de uns tempos depois "os mandar ir", mas não foi assim. Não pretendo identificar as personagens. Quem conhece, conhece, quem não conhece fique apenas a saber a história.



Deve ter sido na altura em que na Argentina a classe média chega ao poder que esse jovem tomou a decisão de deixar Forninhos em busca de melhor vida, de um sonho de "riqueza", afinal, uma partida às cegas para uma terra de "promessas".
Casado e com dois filhos, veio a ordem: havia autorização para ele partir para a Argentina.
Mas por razões que nunca ninguém entendeu - e menos ainda, certamente, a sua mulher - nunca mais cá veio, nem deu notícias, nunca mais não, passaram-se cerca de 30 ou mais anos. Os golpes de estado rebentaram com a Argentina daqueles dias e um dia, quem é que aparece na aldeia? O argentino que fora à procura do Eldorado, mas não o encontrara. Por isso, nada mais podia fazer: voltou para a aldeia pobre e de mãos a abanar, onde levou uma vida de boémio, nas tabernas falando com sotaque espanhol abertamente das jovens de Buenos Aires com que eventualmente se relacionava nas "boîtes".
E julgam que a mulher o rejeitou?
Não Sr!
A senhora, já entradora na altura, pois os filhos que criara e educara sozinha haviam ido estudar para Viseu e já estavam formados quando o pai voltou, recebeu-o como se tivesse abalado ontem..."aceitou-o", era assim que se dizia.
Dizem que viveu envergonhada até morrer, pois tinha as preocupações e mentalidade de qualquer mulher de uma aldeia amodorrada e não a mentalidade das jovens de Buenos Aires de "soutiens" bem empinados, cuecas super-sexy e outros apetrechos...
Jaz numa campa no cemitério de Forninhos - campa digna dos cemitérios dos Prazeres ou do Alto de São João - onde está gravado o seu nome completo.

sábado, 13 de outubro de 2018

Origens da Família "Coelho" de Forninhos

Caros forninhenses,
Acredito que a maioria de nós descendemos de pessoas nascidas numa aldeia chamada Forninhos, pois temos muitos costados familiares, mas grande parte dos avós não eram de Forninhos; por exemplo, a minha avó paterna, Maria de Andrade Coelho (ficou conhecida por Maria Coelha) falava muito da sua avó Dulce, com quem ela foi criada, que era de Sernancelhe e da avó Carolina, que era da Matela. 
Lembrei-me disto a propósito da obra imaterial "Forninhos a terra dos nossos avós".
Então, a minha trisavó, que se chamava Dulce do Carmo, nasceu no dia 24 de Janeiro de 1855, em Sernancelhe, mas foi criada desde os 18 meses em Aguiar da Beira, era filha de Constantino António de Sobral, de Sernancelhe e de Dona Maria Leopoldina, da cidade de Viseu (meus tetravós (ou tataravós). 

Registo Batismo de Dulce do Carmo, em 1855

Constantino António de Sobral e Maria Leopoldina não eram de Forninhos, Aguiar da Beira e os seus pais e meus pentavós  (5.ºs avós) também não eram.

- Os pais do avô Constantino eram ambos de Sernancelhe e chamavam-se: 
António Caetano 
Maria de Santana

- Os pais da avó Leopoldina, eram ambos de Viseu e chamavam-se: 
Francisco de Assis Marinho de Moura 
Teresa de Sá Costa (o registo indica Dona Teresa de Sá Costa)

Isto quer dizer que os pais dos meus 5.ºs avós também não deviam ser de Forninhos, como  de facto não eram.

- Os pais do avô António Caetano e da avó Maria Santana, meus heptavós (6.ºs avós), eram do Granjal, Sernancelhe e chamavam-se: 
António José Dias 
Teresa de Jesus

A avó Maria Santana era filha de pai desconhecido (pelo menos no registo não indicam o nome) e a mãe chamava-se Maria do Carmo e Sobral (minha 6.ª avó) e era do Granjal, Sernancelhe.

Os meus  quatro 7.ºs avós também eram do Granjal, Sernancelhe:

- Os pais do avô António José Dias chamavam-se:
João Dias Coelho  
Luísa Maria

- Os pais da avó Teresa de Jesus chamavam-se:
Luís Ferreira 
Maria Rodrigues

Sem mais consultas, desconhecemos qual a origem genealógica dos pais de Francisco de Assis Marinho e Moura e Dona Teresa de Sá Costa. A partir da nascença dos filhos podemos concluir que seriam da cidade de Viseu. Mas há margem de erro!
O que descobri é que na cidade de Aveiro, na esquina das ruas Combatentes da Grande Guerra (Rua Direita) e Nascimento Leitão (antiga Travessa das Laranjeiras), datado do século XIX existiu um edifício brasonado e que Artur Jorge Almeida escreveu no Boletim n.º 2 da ADERAV, publicado em Maio de 1980, isto:
"...Foi mandado construir no início do século passado por Manuel de Moura Marinho. Nele funcionou o Governo Civil aquando da criação do Distrito. Foi comprado pelo então brigadeiro Pedro António Rebocho Freire de Andrade e Albuquerque, em 10 de Julho de 1842, pela quantia de 1700$00, a Francisco de Assis Marinho de Moura e a seu irmão José António de Moura Marinho, de Viseu, filhos do referido Manuel de Moura Marinho". A fachada da Rua Direita ostenta o brasão do Visconde de Santo António, do qual está uma réplica sobre o portão lateral (na Rua Nascimento Leitão). "No interior do edifício, encontra-se uma capela, que chegou a ser considerada o mais importante oratório existente na cidade.".

Réplica do brasão na fachada da casa

Manuel de Moura Marinho também mandou construir um palheiro na Costa Nova, posteriormente comprado pelo famoso aveirense José Estevão, que ainda hoje se ergue na entrada norte daquela praia.
Eça de Queiroz, que considerava a Costa Nova "um dos mais deliciosos pontos do globo", chegou a ser aqui recebido por Luís Magalhães, filho de José Estêvão. Numa carta a Oliveira Martins, datada de 1884 refere este palheiro. 

Palheiro na Costa Nova

Acredito que Manuel de Moura Marinho era meu 6.º avô,  pai do meu 5.º avô Francisco de Assis Marinho de Moura.

Fonte:http://sites.ecclesia.pt/cv/tres-casas-brasonadas-a-venda-em-zonas-historicas-da-cidade/
http://ww3.aeje.pt/avcultur/HJCO/Aderav/Pg003020.htm

No dia 21 de Novembro de 1873,  Dulce do Carmo, com 18 anos casa em Forninhos com José Dias de Andrade, de 28 anos, pedreiro de profissão, filho de Inocêncio Dias Maria Coelho, ambos de Forninhos (que vieram a ser os meus tetravós).

Casamento Dulce do Carmo, em1873

Desse casamento nasceram quatro filhos:

- Maximiano, nasceu a 06-11-1879, mas faleceu com 5 anos (23-04-1885)

- Emília de Andrade (minha bisavó), nasceu a 04-07-1882 e casou em 31-03-1902 com António Coelho de Albuquerque (meu bisavó), eram terceiros primos e tiveram 6 filhos:

- José dos Santos "Carau" Nasc: 15-11-1903
- Maria Andrade Coelho (minha avó Coelha) - Nas: 22-03-1907
- Arminda Albuquerque - Nasc: 26-12-1909
- Armando de Albuquerque - Nasc: 20-03-1913
- Álvaro de Albuquerque
- Abel de Albuquerque

Casamento: Emilia Andrade/António Coelho

Emilia de Andrade faleceu com 87 anos, no dia 23-05-1969

Arminda e Maria "Coelha", filhas da Emília

Zé Carau e 3 filhos: Arminda, António e Aida

Da direita para a esquerda Armando, filhos e esposa

filhos de Arminda, Armando e Maria, em 1966

- Abel Dias Sobral, nascido a 23-07-1874, casou com Ermelinda Cardoso no dia 10-01-1897 e tiveram 9 ? filhos:

- Maria - Nasc: 20-08-1897 (faleceu com 4 meses, em 08-01-1898)
- Maria Ascensão Sobral -Nasc: 15-01-1899
- António Sobral -Nasc: 05-05-1901
- Hermínia Sobral - Nasc. 21-09-1903
- Maria da Glória -Nasc: 01-09-1906 (faleceu com 1 anos, em 18-09-1907)
- Adélia - Nasc: 07-08-1908 (faleceu com 11 meses, em 25-09-1909)
- Adélia Dias Sobral, 2ª do nome - Nasc: 26-08-1910
- Manuel Sobral, mais conhecido por ti Pirolas.
- José Sobral (ainda está vivo)

Abel Dias do Sobral faleceu em 4 (ou 14 ou 24)de Maio de 1945

Casamento de Abel Dias Sobral e Ermelinda 

Nota 1: Este ramo recebeu o sobrenome "Dias Sobral" - dizem - por influência do professor Coelho, de Dornelas.
Nota 2: Ermelinda Cardoso faleceu a 21-06-1926 e Abel Dias Sobral casou segunda vez no dia 04-09-1932 com Adelaide Saraiva, de Forninhos, que faleceu em 27-02-1968.
Nota 3: Não esquecer que desde o princípio da nacionalidade e até à 1.ª República fora apenas a igreja a fazer o registo dos baptizados, casamentos e óbitos e pode haver alguns erros.

- Maria da Conceição, mas conhecida apenas por Maria, nasceu a 12-03-1877 e casou a 13-03-1899 com Augusto de Figueiredo da Moradia, Antas.

Casamento de Maria da Conceição

 Tiveram 2 filhas: 

-Felisbela Figueiredo, nasceu a 25 de Dezembro de 1899
-Aida, emigrou para o Brasil


Felisbela, filha de Maria da Conceição

Enviuvou e voltou a casar em Fornos de Algodres; do 2.º casamento teve 2 filhos, naturais de Fornos de Algodres:
- Manuel
- Alberto

José Dias faleceu em 29-04-1889.
Dulce do Carmo faleceu em 04-09-1948
-/-
A família "Albuquerque Coelho" ou "Andrade Coelho" é mais humilde e o que vos deixo são só umas pontas:

José Coelho de Albuquerque, era filho de pai incógnito e de Maria de Albuquerque, solteira; casou com Carolina de Andrade, da Matela, Antas, filha de António Ferreira, da Matela, Antas e de Isabel de Andrade, de Forninhos e  tiveram 9  ou mais filhos:

-Felismina (1872)
- António Coelho de Albuquerque (1874)  - meu bisavô- que casou com Emília de Andrade, filha de Dulce do Carmo e José Dias Andrade, faleceu no dia 01-11-1955, tinha 81 anos;
- Manuel (nasc: 26-11-1878; baptz: 25-12-1878; falecimento: 10-07-1883 , tinha 4 anos);
- José Coelho de Albuquerque (nasc: 17-04-1880), casou com Encarnação de Jesus em 15-09-1907 e faleceu nos Moinhos no dia 04-10-1952;
- Francisco (08-03-1882);
- Manuel Coelho de Albuquerque (1883) segundo do nome, casou com Maria Cardoso a 26-08-1906 e tinham já um filho Manuel - o ti Manel (Guinário), nascido a 01-02-1905; e de Artur Coelho, nascido a 07-05-1907 (era o pai do ti Raul); casou em Moreira com Madalena Iria e era lá conhecido por o Guinário. O tio Artur faleceu em Fornos de Algodres no dia 19-08-1968.
- Maria (bapt: 08-12-1886);
- Ascenção de Andrade Coelho, faleceu com 25 anos, era casada com Teotónio Fernandes
- Eduardo Coelho de Albuquerque, casou com Maria Máxima Fernandes
- Não sei se houve outros filhos, a partir do nome dos pais da Maria Albuquerque (Manuel Esteves da Fonseca e Maria Fernandes) podemos completar esta listagem e chegar também aos nossos 7.ºs avós.
- Manuel Esteves da Fonseca era filho de José Esteves e Eufémia da Fonseca (ambos de Forninhos)
- Maria Fernandes era filha de Manuel Fernandes e Maria Pinto (ambos de Forninhos).

José Coelho de Albuquerque, morreu com 70 anos, a 04/05/1908. Ficamos a desconhecer qual a origem do seu pai.

Caros tios/as e primos/as: Esta minha pesquisa permitiu apenas deixar-vos alguns dados genealógicos da familia da avó Emília e avô Coelho, o carpinteiro que fazia caixões, cuja importância vai para além das meras curiosidades e vaidades. 

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Francisco Mehr, o soldado desconhecido


Em Abril passado abordei a Grande Guerra e a participação de um soldado forninhense, Floriano Cardoso, nesse conflito armado.
Existem dados de outro registo no projecto da Primeira Guerra Mundial, embora o cartão esteja datado de 6 de Maio de 1919 e o conflito terminou em Novembro de 1918, porém o tratado de Versalhes foi assinado em Julho de 1919 e os documentos podem ser distintos: um de embarque e outro de retorno, sendo assim e pensando nestas datas, acreditamos ser um cartão de alistamento de mais um forninhense: Francisco Mehr, de 29 anos; não existem dados sobre o dia e mês de nascimento, mas no campo 5 podemos ler que o local de nascimento é Forninhos, Guarda, Portugal. E, na pergunta sobre se ele é estrangeiro ele responde "No", mas depois risca e escreve estrangeiro (talvez tenha saído de Portugal muito jovem). No intem 9 ele declara a mãe como dependente (talvez quisesse se livrar de ser alistado) e podemos ver no 11 que ele não tinha experiência militar e no item 12 ele solicita suporte da sua mãe. 
Note-se ainda a informação do canto inferior esquerdo "if person e of African descent torn off his corner" /"Se a pessoa é de ascendência africana, corte esse canto" (isto seria para não se misturar com o cartões dos brancos?).



Contributo de Aurélio Fernandes.