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domingo, 17 de julho de 2022

Pergaminhos da Fé

Santa Margarida de Antioquia ou Nossa Senhora da Conceição?

imagem da Igreja de Forninhos

Santa Margarida é celebrada a 20 de Julho e na Igreja Ortodoxa é venerada como Marina de Antioquia, três dias antes, a 17 de Julho. 
O seu nome e lenda confundem-se com Santa Marinha, festejada a 18 de Julho e patrona de uma grande quantidade de paróquias da Arquidiocese de Braga e também de Forninhos como padroeira desde sempre. 
Já Nossa Senhora da Conceição é comemorada a 8 de Dezembro e a imagem tem elementos representativos que em nada se assemelham à imagem da igreja paroquial de Forninhos.
O povo diz que a imagem é de Nossa Senhora da Conceição e os autores da monografia de Forninhos observaram ser da santa mártir Margarida de Antioquia. Na minha meninice, não me lembro ver esta imagem em qualquer altar, mas as mãos são talvez a chave para este enigma, pois as mártires habitualmente seguram um livro numa mão e na outra mão a palma do martírio.

imagem retirada da net

Santa Margarida na arte litúrgica da igreja pisa o dragão que a engoliu e também costuma carregar a cruz que irritou o estômago do dragão que a expeliu ainda viva...

imagem retirada da net

Será que o povo não tem um pouco de razão? 
Estamos na presença de uma imagem de Nossa Senhora e não duma virgem-mártir?!
A imagem pode não ser a da Senhora da Conceição, mas pode ser a da pequena Nossa Senhora do Rosário, que o arrolamento de 1911 refere ficar no altar dedicado à mesma Senhora e apenas lhe falta o terço nas mãos; mais tarde, se calhar depois do fenómeno "Fátima", como mudaram o nome e imagens dos altares, as novas gerações confundindo a sua identidade, chamaram-lhe Senhora da Conceição.
Com documentação ou sem ela, gosto de acreditar nas coisas que fazem sentido. 

sábado, 9 de julho de 2022

Aquilino Ribeiro (a malha)

"Manhã cedo, mal o sol, bravio que nem enxame de abelhas alvoriçado, pulava detrás dos montes, goela forte bradava do alto pináculo da meda: à eira-aaa-aa-a!
Aquilo ouvia-se em grande raio pelo povo e suas abas, como sinos de Toledo.
E logo de cada canto rompiam os malhadores, lépidos e pontuais como quem acode a um toque de guerra.
Calça branca de estopa, para gargantilha um lenço de mulher, esfraldado sobre os ombros por mor de paraganas, sol e moscas, irmãos danados a ferrar, a grenha das pomas a espirrar dos bofes da camisa, uns após outros, enchiam os caminhos dormentes que levam às eiras.
Todos descalços - que nem carne de Ferrabrás aturava pés descalços de sol a sol, na trabuzana - apenas se ouviam suas vozes marulhar àsperas na corrente remansosa da madrugada.
(...)
De chapelão de grande sombra, saiote vermelho e colete de atacadores, mulheres ajeitavam as cuanhas e estendiam mantas a toda a roda para caçar o grão respingueiro.
Outras preparavam a eirada com desatar os molhos e espalhar em carreiras, tendo o cuidado de deixar as espigas bem ao léu, para que se embebedassem de sol - o sol que as criara e agora ajudava os manguais a enxotar o grão para fora dos seus casulos.
E tão breve a palha aquecia, se punham em fila os malhadores.
Era um buzinado de guerra.
À porfia, de olhos no chão moventes em que o sol, já alto, se espojava num delíquio de luz e de fogo, apertavam uns com os outros.
Com luzinhas presas a cada aresta de palha, a eira breve se tornava um caldeirão de cobre a ferver.
Por isso mesmo a manobra requeria olho fino e mão lesta.
Já os olhos, em sua fixidez para a mobilidade, desvairavam.
Mas os braços obedeciam pela ordenança mesmo do vaivém.
E sempre avante!...
O grão lá ia largando, era ver as zagalotadas que acompanhavam o erguer dos pirtigos na palha delida.
Conho, tinha que saltar, para ir ao crivo das cirandeiras, às arcas, à azenha, e volver do forno o pãozinho que, com tanto apego, se pede ao Senhor no padre-nosso."





O que vemos nestas fotografias antigas de Forninhos, já são sinais de mudança, porque numa época anterior, as malhas eram feitas tal qual Aquilino Ribeiro descreve in Terras do Demo, 1.ª parte, II.

P.S. - As fotos postadas, como da grande maioria, são originais!



E antes que Julho finde toca a malhar "quem malha em Agosto, malha com desgosto".