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quinta-feira, 26 de abril de 2012

História Antiga: O NOSSO PÃO

Desde tempos imemoráveis que o centeio é semeado nas nossas terras. Exemplo disso é o que se colhe nas Inquirições de D. Afonso III (1258). Para se saber quais as terras que andavam indevidamente na posse do clero e da nobreza, o Rei ordenou Inquirições e encontramos o resultado de suas diligências:
De Penna Verde. F. Domicini juratus et interrogatus, dixit quod Penna Verde est toto foraria Regis de jugata et Fornos et Dornelas et Casalia de Moreyras et Monasterium et Finis Moreira et Queiriz que sunt aldeole de Penna Verde.
Interrogatus de foris regis dixit quod dabant de jugata: de tritico unam taligam et tres taligas de centeo

O principal informador dos Inquiridores da Coroa foi um tal F. Dominici que disse darem de jugada uma taleiga de trigo e três de centeio os homens de Fornos, de Dornelas, Casais de Moreiras, Mosteiro, Fim de Moreira e Queiriz que eram aldeias de Penaverde. 


Há mais de cinquenta anos, ainda os terrenos da nossa aldeia eram todos cultivados. Qualquer terra que não desse milho ou batata, era semeada de centeio "o nosso pão".
Os cereais (centeio, trigo e milho) eram primordiais na alimentação humana e na alimentação dos animais. No Outono procedia-se à sementeira do centeio e nos finais de Junho, lá pelo S. João, S. Pedro, iniciavam-se as ceifas. Para as ceifas eram chamados ranchos de gente e no dia marcado as pessoas apareciam munidas de seitoura e chapéu de palha. Era um trabalho árduo, debaixo do sol escaldante, que durava todo o dia e às vezes não se terminava. Nas refeições da ceifa não faltava o nosso pão, queijo, presunto, chouriça e as nossas azeitonas. Comia-se ao jantar migas de alho, batatas com bacalhau, feijão com carne da salgadeira, arroz doce e filhoses. Para acautelar a sede, não se podia esquecer o garrafão do vinho e o regador para a água.  A cair da noite, no regresso à povoação, com as seitouras ao ombro o povo trabalhador cantava as nossas cantigas:

Ó senhora nossa ama
Ponha a candeia na sala
Venha ver a sua gente
Que vem da sua segada


Feitas as ceifas, atados os molhos das espigas, seguia-se o trabalho da acarreja e transportava-se em carros de bois para as lages. Nas lages malhava-se o cereal com os manguais. Mais tarde surgiram as malhadeiras, que muito facilitaram esta tarefa da separação do cereal e da palha. 



Também começaram a surgir os motores de rega a petróleo, que vieram revolucionar as regas e os picanços foram desaparecendo do quotidiano forninhense.


Recolhido o centeio, este era metido nas arcas a fim de cumprir os compromissos pré-estabelecidos como o pagamento ao Senhorio pelo arrendamento das suas terras e pagamento ao barbeiro, mas a maior quantidade era moído, escolhendo-se a melhor semente para futura germinação.
A seguir às malhas do centeio logo vinha a colheita do milho e as escanadas. Hoje ainda se cultiva algum milho em Forninhos, mas já não é moído para o fabrico do pão. 


A moagem do milho e do centeio era concretizada nos moínhos de água da nossa terra. O moínho da Carvalheira moeu muito cereal dos forninhenses. Hoje desse moínho só restam restos de um rodízio e parte das paredes.


Obtida a farinha, era peneirada para o nosso pão e o farelo era para as viandas dos porcos de ceva. A cozedura dos pães era feito nos fornos da aldeia. além dos fornos comunitários "Forno Grande" e "Forno do Lugar", havia ainda mais fornos de propriedade particular: o da tia Purificação, o da tia Esperança, o da tia Isménia, o do tio Luís da Coelha e o do Sr. Amaral. Ao terminar esta parte recordo um frase que no passado o nosso povo dizia: "Haja Saúde e Coza o Forno e o Pão que seja nosso".


Fornos e Forninhos também é nome de terra. O topónimo Forninhos, não é vulgar na toponímia portuguesa, que saiba, é único no país. De onde virá o topónimo Forninhos?
Há quem não tenha dúvidas: "Esta povoação já se chamou Fornilhos e tal como Dornelas pertenceu ao extinto concelho de Penaverde".
Mais um exemplo:
"A origem do topónimo pode também ter origem no vocábulo fornilhos (há uma localidade do concelho de Moura com este nome), designação por que são conhecidos os pequenos fornos utilizados pelo povo.".
Na sua origem, o nome Forninhos relaciona-se sempre e de certeza absoluta com "fornos" e algo que diz respeito aos fornos. O que não está muito claro é se de pão, cal ou telha.

Acrescentamos ainda as seguintes explicações:
(1)Nas inquirições de D. Afonso III (1258), Fornos do texto é Forninhos.
(2)Fornos/Forninhos desde sempre esteve incluído no Termo e Vila e Concelho de Penaverde e foi agrupado no concelho de Algôdres entre 6 de Novembro de 1836 e 12 de Junho de 1837 e a partir daqui passa a fazer parte do concelho de Aguiar da Beira e Comarca de Trancoso. Há fontes que dizem que quando o concelho de Penaverde foi extinto, passou para o concelho de Trancoso, o que não é verdade. O antigo Termo de Penaverde, com excepção da freguesia de Queiriz, e bem assim o resto do concelho de Aguiar da Beira, só estiveram incluídos no concelho de Trancoso entre 1896 e 1898.
(3) Jugada, Imposto pago por cada jugo ou junta de bois, que recaia principalmente sobre os Peões.

Fotos: "malhas" e "escanada", cortesia da família Carau; "malhadeira", cortesia da Luísa e Victor Cavaca, "picanço", cortesia da família Guerrilha; "Moínho da Carvalheira", cortesia do Contribuidor serip413; "Forno", cortesia do Contribuidor J SEGURO. Bem-hajam pela Contribuição.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

ABRIL DE 1974 E O PAÍS DE HOJE

Era uma vez um país
Onde entre o mar e a guerra
Vivia o mais infeliz
Dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
Vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

Um povo que era levado 
para Angola nos porões 
um povo que era tratado 
como a arma dos patrões 
um povo que era obrigado 
a matar por suas mãos 
sem saber que um bom soldado 
nunca fere os seus irmãos.
Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.
Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era liberdade.
Quem o fez era soldado
Homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.


 Foi essa força viril
de antes quebrar que torcer
quem em 25 de Abril
fez Portugal renascer.
E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis...

Do Poema "AS PORTAS QUE ABRIL ABRIU" de Ary dos Santos.

O 25 de Abril que ficou na história como a Revolução dos Cravos - o cravo  simbolizou a Revolução sem sangue - marcou o final da ditadura e abriu as portas à Democracia e à Cidadania. Hoje podemos escolher quem queremos que nos governe ou represente, hoje qualquer um pode eleger e ser eleito, hoje todos podemos manifestar a nossa indignação relativamente aos políticos que nos governam, mas nem sempre foi assim. 

Em Portugal comemora-se depois de amanhã o
DIA DA LIBERDADE 

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Património: Altares e Santos

A Igreja de Forninhos foi reedificada, com obra concluída em 1797, pois a 2 de Dezembro desse ano era concedida licença para a bênção. Entre 1988 e 1990 foram os altares (douramentos) retocados. Uma obra onde os emigrantes nos Estados Unidos da América contribuíram e …não foi pouco.


O contributo está espelhado num "quadro" que, ao tempo, foi pendurado numa parede exterior da Igreja. Acontece que, a chuva, gelo e a neve “rasgou” o escrito, daí ter sido necessário recuperá-lo, pois era importante tê-lo ali…na Igreja (digo eu). Para informação, foi feito um escrito novo, encaixilhado e foi pendurado numa parede interior do lado que dá passagem para o baptistério. Quando ali foi pendurado, a meu ver, não o foi para ser admirado (caso contrário, não tinham escolhido um sítio tão escondido), mas somente para o proteger. Mas…o quadro "miraculosamente" desapareceu e ninguém mais o viu. 

-Aonde está o quadro alusivo aos emigrantes dos EUA que contribuíram com beneficiações?

- O mínimo que o nosso povo podia fazer para agradecer, não é ter o Quadro com a menção a esse contributo afixado num sítio visível de todos? Por acaso acho que ficava bem pendurado junto ao púlpito, do lado da porta que dá passagem aos homens, por cima da pia da água benta. 


Vamos também aproveitar para passar o olhar pelos altares e santos da nossa Igreja:


O altar mor, onde está o Sacrário e por cima deste, no topo, 
a "Nossa Padroeira" Virgem Santa Marinha.


Nas partes laterais, do lado esquerdo, o Santo António e 


 quem olha de frente o altar, 
o Sagrado Coração de Jesus e a Santa Teresinha.


Aqui destacamos o altar do lado direito e no qual se venera a Nossa Senhora de Fátima. Este altar, bem como os outros, beneficiaram de pintura no ano de 2009. O dinheiro é pouco e não dá para tudo, ainda mais «quando se é pobre e mal agradecido». 

Fotos: Altares e Santos, de Agosto de 2011.

sábado, 14 de abril de 2012

Memórias de 1959 - Inauguração da Luz Eléctrica

A inauguração da luz eléctrica foi uma data de um facto muito importante e fundamental para o desenvolvimento da nossa terra, na época e no futuro (hoje) e custa-me muito ver que a data e o facto não interessou nada para a história de Forninhos, enquanto freguesia.


Por ocasião da inauguração da luz eléctrica, creio que em 19 de Julho de 1959, veio a Forninhos o Governador Civil, coisa que naquela altura era algo digno de nota...e os forninhenses não fizeram a coisa por menos e receberam “com toda a pompa e circunstância” o Sr. Governador e outros ilustres. É disso amostra esta fotografia, tirada ao tempo no Jardim da Casa da Sra. D. Olímpia (Casa do Sr. Amaral).
Nesse ano de 1959, as mudanças e alterações na nossa terra foram gigantescas, diria. Inaugurou-se ainda em Forninhos o edifício da escola primária e em 1959 também a Capela de Nossa Senhora dos Verdes foi restaurada, com decorações de talha e pintura. À época houve ainda o roubo dos anjos Serafins, que a nossa gente apelidou de “Serafinzinhos” (dois castiçais) e que muito incomodou os naturais de Forninhos.

Nota: Nos Valagotes, localidade pertencente à freguesia de Forninhos, a luz eléctrica foi inaugurada apenas no ano de 1982.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Páscoa em Forninhos

Na Quinta-Feira Santa era o lava-pés (o Sr. Padre lavava os pés a doze homens - sinal da humildade); na Sexta-Feira Santa os sinos calavam-se, só voltavam a badalar no Sábado às 10 horas e cantavam todos a Aleluia; no Domingo de Páscoa era a Procissão da Ressurreição de Jesus Cristo, com colchas nas janelas e nas sacadas e pelas ruas tapetes  com flores e rosmaninhos. Já não é assim, mas neste Dia de Páscoa de 2012 ainda se prepararam os tapetes de flores à porta da Igreja para a Procissão passar:


A Primavera brindou-nos com um dia bonito, 
o sol brilhou e perto das 10 horas


as pessoas começaram a chegar à Igreja 
para assistir à missa



O início da Procissão de Cristo Ressuscitado, 


este ano aconteceu depois da Celebração da missa


que foi Celebrada pelo Sr. Frei Eliseu


Percorreu as ruas que ligam a Paróquia







e voltou ao ponto de partida, a Igreja



O Carlitos (filho da tia Graça e tio Carlos "melias")
para acompanhar a Procissão tocou os sinos, sem parar


De tarde foi a visita pascal /tirar o folar

Resta-nos agradecer ao Sr. Frei Eliseu o facto de nos ter dado a honra da sua presença, a todos os presentes e aos que recolheram algumas das fotografias que agora ilustram este dia de Páscoa (J. Seguro e Raquel Jorge). 

segunda-feira, 9 de abril de 2012

No Forno Grande: bolos de azeite

Na aldeia de Forninhos, tal como noutras localidades da nossa Beira é costume na época da Páscoa as mulheres fazerem os bolos de azeite, assim, para que todos possam ver ou simplesmente recordar escolhi estas imagens:

Nestes dias as nossas ruas ganham vida
também se fazem bolas 
de azeite e carne
O forno é aquecido pelos homens
com conhecimento de experiência feito

A receita é simples, leva fermento, farinha, ovos, sal e azeite 
O nosso azeite é de muito boa qualidade
 e os ovos também são caseiros,
 pois a cor da gema é melhor, mas
para mim, o segredo está na massa e maneira como é amassado.

domingo, 1 de abril de 2012

Semana Santa e Páscoa

A Semana Santa começa com a entrada de Jesus em Jerusalém no Domingo de Ramos (01 de Abril) e termina de hoje a oito dias, no Domingo de Páscoa (08 de Abril).  Domingo de Páscoa que é o dia Santo mais importante do Cristianismo, está marcada para as 10H00 a missa em Forninhos e a Visita Pascal começa às 14H30.


À Visita Pascal chamavam também “tirar o folar”, expressão comum a todas as terras que costumavam presentear o seu pároco com presentes (da mesa escolhiam ovos, queijo, bolo de azeite, trigo e outras coisas mais). Hoje recolhem um envelope com €uros dentro. Para notificarem toda a freguesia que a visita começou e acabou era/é costume tocar uma entrada.
A festa pascal de alguns forninhenses culmina com a Feira e Romaria de Santa Eufémia na Matança, Segunda-Feira de Páscoa, que este ano é no dia 09 de Abril.
Para todos os forninhenses, amigos bloguistas e amigos de Forninhos, desejo uma Páscoa com tudo o que de Bom tem. 

Apelo ao leitor:
Outro costume era ainda no Sábado Santo ou Sábado de Aleluia para anunciar a Nossa Senhora a Ressurreição de seu Filho tocar uma entrada nos sinos e todos cantavam a Aleluia. Quem souber como era, deixo-nos aqui em comentário esse contributo. Agradecemos todos.

Uma SantaFeliz Páscoa 2012