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quarta-feira, 29 de junho de 2016

Toponímia

Já muitas vezes pensei que o critério adoptado para se encontrar os nomes das ruas de Forninhos foi um bocado superficial já que se limitaram a dar nomes aos próprios lugares ou bairros (rua do Outeiro, rua do Ribeiro, rua bairro da Eira, rua lage da Barroca...) e tenho pena não terem colocado em Forninhos placas toponímicas com nomes de pessoas que deram algum contributo para o progresso da nossa terra, quando em 2008 Aguiar da Beira decidiu dotar todas as ruas e praças de todo o concelho de topónimos e números de polícia.
Dizem-nos que agora não é fácil mudar os acrílicos e dar novos nomes às ruas vai implicar com o funcionamento de entidades como é o caso dos Correios e até com a vida dos residentes, pois teriam de proceder à alteração de moradas, etc. e tal...mas como nós n'O Forninhenses não abdicamos do rigor dos factos, deixamos duas imagens do "Largo da Fonte do Lugar" (que já não é) para provar que quando querem, até é fácil dar-mos novos nomes às ruas:


Largo Fonte do Lugar

depois... Largo dos Combatentes de Ultramar

Eu não tenho nada contra isto e, para mim, até é um exemplo a seguir, só que não consigo perceber porque cada vez que se toca no assunto "referenciar os nossos", inventam tantas desculpas.

sábado, 25 de junho de 2016

O alguidar de barro

No tempo em que o dinheiro não abundava, passava por Forninhos gente comerciante (deviam ser oleiros) que trocavam alguidares por milho, feijão, centeio...e estava pago. Como havia alguidares de vários tamanhos, as pessoas enchiam de cereal o alguidar que queriam levar...ou porque eles queriam ou porque as pessoas não tinham mais nada para pagar. Era uma economia muito de trocas directas, como já escrevi há tempos.
O interessante é que de tantas ocupações que houve nesta terra, não havia oleiros, embora em tempos muito remotos, possa ter havido uns fornos de cozedura de cerâmica: telha, panelas, tigelas, alguidares, cântaros e outros utensílios de uso doméstico, pois Forninhos já se chamou 'Fornos'. Na relação do primeiro censo da população do reino em 1527, no reinado de D. João III, Forninhos é intitulado  'lugar de fornos' e não creio que cozendo-se pão em todas as aldeias e quintas, o nosso topónimo se referi-se a fornos de cozedura de pão!
Mas, voltando ao alguidar, segundo um 'site' chamado Ciberdúvidas, é uma palavra de origem árabe, de al-guidar, e foi mais um legado que os mouros nos deixaram.
Não havia casa que não dispusesse de um. As suas utilidades eram inúmeras: nele se 'batia' a massa do pão-leve e amassava e deixava a massa levedar para fazer as filhoses, no alguidar lavava-se a loiça do dia a dia, um para lavar, outro para enxaguar, era para o alguidar que em Dezembro/Janeiro de cada ano se 'migava' o trigo que servia para ensopar o sangue do porco e fazer as morcelas, para o alguidar se cortavam as carnes durante a desmancha e se deixava as chouriças em vinha d' alhos, etc. e tal... 
E quando por um descuido algum se partia, não se deitava fora, lá vinha o 'amola tesouras - conserta sombreiros - conserta alguidares', que com uma técnica própria colocava uns 'gatos' (um espécie de ganchos de arame/agrafos) que permitiam vedá-lo e dar-lhe mais uns tempos de 'vida'.



Quem ainda tem um alguidar de barro?

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Ao redor de Forninhos...


Quando aqui publicamos os mestres pedreiros de Forninhos que construiram esta ermida, ficou o propósito de tal visitarmos. Valeu a pena o "cumprir" da promessa.
Linda, encaixada no seu mundo e estilo barroco nos lugares de Fonte Fria, quase colada com a faustosa Santa Eufémia, carregada de natureza com o cheiro a resina e giestas...e flores.
E mais longe, a serra da Estrela...


A gente assenta no remanso das mesas de granito que ali foram colocadas, vazias, mas cheias  de um bocadinho de orgulho dos nossos mestres depois da obra terminada. Quase parece que conversamos com eles nessa mesa antiga, em volta da Capela de S. Miguel que foi obra de gentes nossas e por tal um sentimento diferente. Faz parte!


No curto passeio, searas de centeio que ondulavam por debaixo de uma algazarra de andorinhas que o vento levava. Pensava que tal havia acabado, mas não.


Um homem com uma gadanha!


Ganhei o dia, gritei!
Quem vem da Matança para a Matela, tem uma curva apertada chamada das feitiçeiras, pela simples razão de os acidentes de outrora serem provocados pelas bebedeiras de quem vinha da feira de Fornos e o grito foi o vislumbrar alguém de no modo antigo, andar a ceifar.


Ficaram apavorados quando desci a ravina ao seu encontro e convenhamos que eu também no reluzir da gadanha afiada com que cortava as ervas, arma de ataque para mim, defesa para o Senhor José.
Nestas coisas, nada como nos apresentarmos. Boa tarde, sou dali e filho de tal...depois deixar correr o rosário, se conheci o seu pai, bom homem e bla, bla, mas com sentimento e sinceridade.


E ceifava no mesmo ritmo que recordo em garoto. A mesma mestria ancestral que a gente e os doutores não conseguem explicar. Eu, leigo, chamo apenas um dom.


O Ruben, o único nome autorizado. A mãe pensava ser jornalista e teve receio de aparecer tal como a outra senhora que fazia as bonecas, ou seja, com a própria erva, faziam como que uma cabeça de boneca, mas para guardar as sementes.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Saltar as fogueiras

Na nossa terra as fogueiras têm o sentido do defumar o ar e as casas e de purificar o corpo; têm de ter, pelo menos, rosmaninho e salpório ou salpor (também chamado de 'belaluz').


Perguntam-nos: 
- Tem salpório? (pois é já tão raro!).
- Sim tem; e tem São João também!


Tem de se calcar para durar mais tempo 







Deixa-se arder lentamente 
de maneira que faça bastante fumo


Há uns anos atrás eram tantas as fogueiras que era uma fumarada pegada, hoje não é assim, esta foi a primeira a ser feita. Vamos ver se ainda vão fazer alguma a São João e a São Pedro.

domingo, 5 de junho de 2016

Deitar o burro

"Em Junho, foice em punho"

Não sei porquê, não consigo passar nenhum mês de Junho sem me vir à lembrança que as ceifas se faziam em Junho, mês de muito calor. Já muita gente escreveu sobre o tema, incluindo eu própria, mas entendo que as particularidades de cada terra fazem a diferença, mesmo quando se escreve sobre a mesma coisa e eu há dias lembrei-me que para além das cantigas populares que o povo trabalhador cantava, havia em Forninhos a brincadeira do deitar o burroIsto é, havia um momento em que os ceifeiros quase chegavam ao fim dos regos que tinham começado, enquanto que outros ainda vinham a meio, então lá vinha a brincadeira:
-Ai que me corto! - Dizia um/uma.
- Aonde? - Alguém respondia.
- Na mão direita!
- Quem te cura?
- Maria Dura.
- Quem te ama?
- Maria Ana.
- Quem leva o burro?
- É fulano... (aqui mencionava-se o ceifeiro/a que ia mais atrasado e todos os ceifeiros imitavam o burro em voz alta: leva...leva...leva...).
E continuavam...
- Ai que me corto!
- Aonde?
- Na mão do calo.
- Quem leva o cavalo.
- F... 
E ainda:
- Ai que me corto!
- Aonde?
- Na mão q' arrenta.
- Quem leva a tormenta.
F...


(Informante: M.ª Augusta Guerra da Fonseca)