No tempo em que o dinheiro não abundava, passava por Forninhos gente comerciante (deviam ser oleiros) que trocavam alguidares por milho, feijão, centeio...e estava pago. Como havia alguidares de vários tamanhos, as pessoas enchiam de cereal o alguidar que queriam levar...ou porque eles queriam ou porque as pessoas não tinham mais nada para pagar. Era uma economia muito de trocas directas, como já escrevi há tempos.
O interessante é que de tantas ocupações que houve nesta terra, não havia oleiros, embora em tempos muito remotos, possa ter havido uns fornos de cozedura de cerâmica: telha, panelas, tigelas, alguidares, cântaros e outros utensílios de uso doméstico, pois Forninhos já se chamou 'Fornos'. Na relação do primeiro censo da população do reino em 1527, no reinado de D. João III, Forninhos é intitulado 'lugar de fornos' e não creio que cozendo-se pão em todas as aldeias e quintas, o nosso topónimo se referi-se a fornos de cozedura de pão!
Mas, voltando ao alguidar, segundo um 'site' chamado Ciberdúvidas, é uma palavra de origem árabe, de al-guidar, e foi mais um legado que os mouros nos deixaram.
Não havia casa que não dispusesse de um. As suas utilidades eram inúmeras: nele se 'batia' a massa do pão-leve e amassava e deixava a massa levedar para fazer as filhoses, no alguidar lavava-se a loiça do dia a dia, um para lavar, outro para enxaguar, era para o alguidar que em Dezembro/Janeiro de cada ano se 'migava' o trigo que servia para ensopar o sangue do porco e fazer as morcelas, para o alguidar se cortavam as carnes durante a desmancha e se deixava as chouriças em vinha d' alhos, etc. e tal...
E quando por um descuido algum se partia, não se deitava fora, lá vinha o 'amola tesouras - conserta sombreiros - conserta alguidares', que com uma técnica própria colocava uns 'gatos' (um espécie de ganchos de arame/agrafos) que permitiam vedá-lo e dar-lhe mais uns tempos de 'vida'.
Quem ainda tem um alguidar de barro?
Que bela recorda~]ao e legal que havia quem os consertasse.Incrível! beijos, lindo fds! chica
ResponderEliminarNessa altura tudo se aproveitava, chica! A miséria, as necessidades da vida, a isso obrigavam.
EliminarBjs/bom fds.
Gostei muito deste post, Paula. Gosto de coisas feitas de barro, acho rústicas e estilosas... Tenho uma trabalhada que adquiri no Norte/Belém, fazendo conjunto c um cântaro...
ResponderEliminarBem interessantes as trocas c alimentos...
Um abraço grandão... Um dia desses volto em Portugal, tomara chegue logo... Rsss!
Do mundo rústico gosto de coisas feitas de barro, coisas de linho e cestaria.
EliminarDe barro, antigo, tenho um prato colectivo, que era onde as famílias humildes e numerosas punham azeite (às vezes misturado com água) e alho e aí todos molhavam as batatas, mas não me foi oferecido pela pessoa que me prometeu um, na sequência de um comentário que há anos aqui fiz n'O Forninhenses! Esse prato ficou no esquecimento!
Quanto às trocas com alimentos, hoje soa estranho, mas era assim no tempo da minha mãe/avós.
Bom domingo, Anete, e tudo de bom!
Paula, hoje usei uma foto de vcs/Forninhos no Vida & Plenitude, tá?! Obrigada mais uma vez...
EliminarBeijão
Na minha casa havia vários. Já era bem crescida quando apareceram os de plástico. Tinha-mos um grande para o banho. Começámos a crescer e o alguidar não crescia. Meu pai fez um maior cerrando um barril (chamávamos-lhe barrica)igual às que os navios levavam com a farinha para a pesca. Metade ficou para o nosso banho a outra metade para a minha mãe lavar a roupa. Até ao dia em que ele construiu um tanque grande de betão ao lado do poço.
ResponderEliminarTínhamos o alguidar da roupa, um alguidar para o sangue do porco, outro para as tripas e para a carne picada dos chouriços. Para a loiça, o meu pai comprou uma folha de zinco e fez um alguidar, já que cada vez que eu ou a minha irmã, lavávamos a loiça lá ia o alguidar para o lixo.
Tínhamos um pote de barro, onde minha mãe punha os rojões, e depois cobriam-se com a banha derretida. Ficavam assim conservados e duravam quase para o ano inteiro. Coziam-se umas batatas tiravam-se do pote uns rojões aqueciam-se e punham-se sobre as batatas. Não era preciso azeite, tinha a gordura da banha.
Um abraço e bom fim de semana
Olá Elvira, eu já sou da era da plastiquice e não me lembro lá em casa haver alguidares de barro, mas lembro dos de esmalte, alumínio e de zinco, para usos mais específicos.
EliminarDe barro, só das assadeiras e desses potes/panelas de barro onde ainda hoje a minha mãe conserva algumas chouriças que, para mim, têm melhor sabor que as congeladas!
Beijinhos, bom domingo!
Este tema traz uma certa nostalgia.
ResponderEliminarRezava uma velha quadra popular:
"Se o presunto está teso
E a faca não quer cortar
Faça-lhe ferrum-fum-fum
Nas bordas d´um alguidar".
Um arremedo antigo claro, mas a sabedoria popular ensina tanto de um punhado do nada...
Vidas antigas de miserias em que panelas de ferro haviam com falta de uma perna, quanto mais um testo. Era calçada com um bocado de madeira para ficar direita, mas quem pudesse, repito, pudesse ter um alguidar de barro era outra coisa para mais coisas.
Custa falar um pouco disto por recordar tempos passados e rostos de gente honrada do tamanho da sua soberba humildade.
Este texto tem muita força e faz, pelo menos a mim ao recuar no tempo, ver os tais rostos a quem pela altura das mataçoes dos porcos se levava por caridade uma partilha do que havia sido tratado no alguidar de barro.
Que vinham de fora gentes a negociar estas coisas, sempre ouvi contar, a troco de dinheiro, de quem o tinha ou haveres de forma diversa, como reza o texto.
Quem tivesse mais posses, comprava os vidrados aos louceiros e outros os simples de barro a troco de farrapos ou lenticao, aos farrapeiros de Coruche.
Havia muita estima pelos alguidares de barro, por necessidade na maioria das vezes e outras por estima e deste recordo um dia em casa do meu avo Francisco um se ter rachado aquando acomodava a carne das chouriças e tal teve de ser mudada para outro para nao se perder o proveito do porco e os gastos da vianda que o sustentaram.
Veio um senhor de Dornelas a quem chamavam "Velhito" e fez a cirurgia tal como reza o texto. Os ferros e uma massa que tanto podia ser de centeio, como de vidro, eles sabiam e nunca vertiam uma gota.
Tirando este, parece que houve outro para os lados de Esmolfe...
Depois veio o plastico, e pronto!
Adorei o texto.
Segundo disseram, os mais caros eram os vidrados e esses homens que os consertavam, usavam um furador, ferramenta que foi o antecessor do berbequim. Para reparar a loiça abriam uns furos onde depois encaixavam os gatos, unindo assim as rachas. Para não verter, metiam massa.
EliminarObrigada pela quadra, sobre o alguidar não consigo lembrar-me de mais nenhuma, mas lembro o conhecido pregão 'farrapos à loiça'. Assim diziam em voz alta os farrapeiros de Coruche que trocavam loiça por farrapos.
Boa noite Paula,
ResponderEliminarO alguidar um tema bem trazido ao vosso blogue.
A sua origem árabe e mais tarde o seu aperfeiçoamento sendo vidrado por dentro e posteriormente com desenhos artísticos muito bonitos.
Quem naqueles tempos bolorentos do Salazar que vivesse numa aldeia não tinha alguidares em casa para as mais variadas funções? Nomeadamente na cozinha e os maiores serviam também de tina para o banho;))!
Disto não tenho saudades, mas é bom que se saiba como era a vida nas aldeias do interior do nosso País. Não só Forninhos, mas muitas outras entre elas a minha, o alguidar fazia parte da família dos utensílios mais usados na cozinha.
Lembro-me perfeitamente dos amola tesouras que também faziam consertos de pratos e alguidares. Tudo era aproveitado até ao fim! Adorei o "post"!
Beijinhos e uma boa semana.
Ailime
(Neste momento não tenho nenhum alguidar, mas deu -me uma óptima ideia para comprar um pequenino para salada). Tem outro sabor;))!
É verdade, tem outro sabor, por isso em alguns restaurantes se esteja a ver salada temperada no alguidar, no entanto não é muito viável que hoje venhamos a ter alguidares grandes nas nossas casas, por inadequados em muitas tarefas. Um pequenino é o suficiente ;)) mesmo!
EliminarBeijinhos e...passe uma excelente semana.
Eu! Eu tenho um em barro vermelho comprado na feira de Viana, para preparar pão de ló. Sou ezpecialista em feiras , como deve saber, e,porisso, descubro achados. Este tem de ser forrado com papel adequado, antes de receber a massa e, no centro, coloca-se um artefacto em barro - a chami é.
ResponderEliminarBeijo e boa semana, Xico.
Desconhecia essa forma para pão de ló, afinal quer queiramos ou não, as de alumínio são mais práticas!
EliminarBeijo e boa semana para si, Nina.
Olá Paula, rico assunto, para mim, não fosse amante de antiguidades. Alguidares, cântaros, potes, tijelas, malgas, pratos e ate copos quer em barro tosco quer vidrados e até pintados. Sou sortudo, tenho muitas peças encaixotadas não só da nossa zona como do Alentejo-Corval. Também tenho algumas peças em "barro preto" a estas ganhei aberração por deixarem as mãos todas pretas. No meu jardim, em Forninhos, tenho potes e caçoilas, antigas, penso que se chamam assim, aquelas que vão ao forno de lenha para a chanfana. Resta dizer que fui presença no restauro de alguidares, tigelas, pratos e afins na Lameira junto ao armazém do Sr. Amaral, quer por amola tesouras como também por latoeiros.
ResponderEliminarParabéns pelo tema.
Obrigada Henrique. É caso para dizer que, no fim cada alguidar tem o seu fim.
EliminarUm abraço.
Ah, como tens lembrança de ver o restauro de alguidares na Lameira, lembras-te como era o furador, a ferramenta que fazia os furos?
EliminarTambém seria uma boa aquisição para o teu "museu" ;-)
Coisas pequenas ferrosas é difícil de conservar, mas tenho um prato e uma saladeira com gatos e uma suvela, quase igual ao furador.
EliminarRealmente é um texto que conta do antigo "modus vivendi", agora é plástico e descartável. Um abraço, Yayá.
ResponderEliminarÉ, os utensílios que duraram séculos, hoje, com o avanço rápido das tecnologias rapidamente se mudam e os modos de vida também.
EliminarAbraço.
Não tenho, mas adorava ter.
ResponderEliminarHavia vários tanto em casa dos meus avós maternos como nos paternos.
São verdadeiras relíquias!
Beijinhos.
Os antiguinhos são mesmo verdadeiras relíquias!
EliminarBeijinhos.
Paula,
ResponderEliminarMais um aprendizado adquirido aqui.
Primeira vez que leio sobre Alguidar.
Quanto a troca de alimentos, tive o prazer de presenciar, enquanto criança.
Aqui na NZ, isso ainda acontece. Não for falta do dinheiro, mas para compartilhar o que se tem em abundância.
Estava com saudade das histórias de Forninhos.
Beijos
Olá Lucinha! Gostei de a ver por este 'sítio' :-))
EliminarCompartilhar o que se tem em abundância também se pratica hoje em Forninhos, mas nada que se compare com aquele tempo de pouco dinheiro!
Um grande beijo e uma boa noite...
Olá, Paula.
ResponderEliminarTempos em que a necessidade obrigava a valorizar tudo, desde objectos a pessoas e até mesmo memórias. Nada se desperdiçava e aí, arrisco eu, estaria o segredo de uma felicidade hoje desconhecida e perseguida por tantos, sem o saberem.
Claro que lembro-me dos alguidares em casa de minha avó, que, como aqui foi citado, também servia para os banhos, numa altura em que a água canalizada era utopia em tantas terras. Outra que era mais valorizada: a água, hoje desperdiçada por nossos filhos que nunca viram um alguidar e julgam que estas histórias pertencem a um mundo da fantasia ou ao início dos séculos - kkkkkkkkk
Muito boa sua postagem.
bj amg
É verdade Carmen, sobre os utensílios domésticos e agrícolas antigos escrevi eu há uns anos isto: "...enquanto ainda existem ninguém lhes dá valor, vêem-se nas feiras de artesanato e exposições e sorte a dos que nascem "agora" e ainda os conhecem! Daqui a uns tempos dizem-nos os que nascem, que são invenções nossas, lendas, coisa de velhos (nós)!".
EliminarBjo amigo e bem-haja pelo excelente comentário.
Não tenho...mas gostava de ter!
ResponderEliminarTenho caçoilos já com uns anos!!!
Bj