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domingo, 30 de julho de 2023

Caninhas

Os gladíolos também chamados de palmas, na nossa terra são conhecidos popularmente por "caninhas"Existem numa grande variedade de cores e são muito utilizadas em arranjos florais ou em vasos, pois são lindas, vistosas e têm longa duração.

(gladíolos, foto da net)

A seguir hão-de vir "as caninhas de São José". Acho que lhe puseram este nome, porque quer as imagens, quer as pagelas que representam o santo, geralmente mostram uma açucena florida na mão.
Também fazem lindos arranjos e exalam um perfume acentuado. 

(açucenas, foto da net)

Mas há mais caninhas na nossa terra

foto da net
De cor laranja-avermelhadas, normalmente são misturadas com outras flores. 

terça-feira, 18 de julho de 2023

Santa Marinha

Hoje dia 18 de Julho, é um dia muito especial para a nossa paróquia, é o dia de homenagear a nossa Padroeira,

Santa Marinha

Tocam os sinos da Torre da Igreja...
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.


Missa Solene às 10h00...


Parabéns à nossa Irmandade e a quem se encarregou de enfeitar a igreja e o andor

Na nossa aldeia que Santa Marinha a proteja, vai passando a procissão...

sábado, 8 de julho de 2023

Mil abóboras no telhado

Agora que chegamos aos mil posts sinto que "é a altura de tirar as abóboras do campo e pô-las com a barriga ao léu...em cima do telhado", como fez Aquilino Ribeiro, in "Abóboras no Telhado" (1955).
Com uma dedicatória impressa a Jaime Cortesão que assim começa: "Dê-me licença, querido amigo, que lhe ofereça esta carrada de abóboras. Dou o que tenho. Faça de conta que lhe ofereço...o quê? os pomos de oiro das Hespérides...".


Com o Subtítulo "Polémica e Crítica" Aquilino analisa peripécias da carreira, ajusta contas com quem lhe plagiou textos, com quem escreveu isto ou aquilo por ter lido bem, por ter lido mal as suas obras ou até sem as ler! 
As abóboras eram, portanto, de espécie metafórica.
Faz balanços com humor e com lucidez. Escrever...Para quê? Para quem? Escrever para quê numa terra que lê apenas as contas que traça o merceeiro?
A princípio os editores sentenciavam:
- "O senhor não tem público" (p. 28)
- "Os livros de Aquilino não se vendem" (p. 41)
No entanto o seu primeiro romance/novela, "Via Sinuosa" (1918), vendeu duas edições em poucos meses, fenómeno que o escritor atenua: "Nesse tempo imperava o gosto da leitura. O futebol não esvaziara os cascos do honesto cidadão nem tão-pouco as suas algibeiras" (pp 45-46). 
Mais adiante avança esta afirmação provocatória: "Dentro de vinte anos não há mais literatura em Portugal. Não digo que não continuem a aparecer livros interessantes, mesmo superiores, mas de génese esporádica, mais ou menos eventual, como outrora os Lusíadas e as Peregrinações (p. 293). 
Depois explica: "Hoje tudo é febril, tumultuário, dinâmico e muscular. Nas belas-letras tudo é remanso, pausa, meditação" (p. 296). 
E conclui: "A leitura que supõe umas horas de ócio, e sobretudo concentração de consciência, não tem atmosfera propícia. A rádio, a gazeta, o cinema satisfazem as restantes e normais necessidades de bestunto" (p. 297). 
Passaram mais de sessenta anos após a publicação de "Abóboras no Telhado" (polémica e crítica) e o diagnóstico de Aquilino continua válido, as cabeças esvaziam-se cada vez mais e surgiram outros modos de vida, outros modos de leitura, pelo que acrescentámos à sua lista, a TV e o Facebook.

Fontes: 

sábado, 1 de julho de 2023

Passaportes

O Arquivo Distrital da Guarda disponibilizou há tempos alguns livros dos passaportes de alguns dos anos dos séculos XIX e XX (todos os passaportes concedidos e prazos ficavam registados em livro próprio). Mesmo com a dificuldade em decifrar a caligrafia do escrivão que os redigiu, desafio os forninhenses a "passearem" por lá e eventualmente poderão encontrar um antepassado... 
Deixo o que encontrei à primeira olhadela:

03-09-1906 - Matheus d' Almeida, de 27 anos, solteiro, jornaleiro, natural de Forninhos, filho de pai incógnito e de Maria dos Anjos, residente em Sezures
Destino: Rio de Janeiro

Matheus D' Almeida

Destino: Rio de Janeiro

10-03-1913 - José Augusto, de 24 anos, casado, jornaleiro, filho de pai incógnito e Cândida Gomes, sabe ler e escrever e reside em Forninhos
Destino: Nova Yorque

10-03-1913 - Francisco Vicente, de 22 anos, casado, jornaleiro, filho de José Vicente e Maria Fernandes, não sabe ler nem escrever e reside em Forninhos
Destino: Nova Yorque

José Augusto e Francisco Vicente

A amostra, bem sei, não dá uma ideia clara da quantidade concedida, mas como o Arquivo Distrital de Viseu disponibilizou alguns pedidos de passaportes de pessoas da nossa terra (não tem disponíveis online os livros), conseguimos por Viseu perceber que entre os anos de 1875 e 1913 mais ou menos (para mais que para menos) uma dúzia de pessoas, pediu passaporte para se ausentar do país e que era obrigatório haver alguém que "abonasse" a viagem (uma espécie de fiador); em cada documento consta a identificação do requerente, a filiação, o estado civil, a naturalidade, a idade, a profissão, a residência, as condições perante o serviço militar, a apresentação do registo criminal emitido pela comarca, o lugar do destino da viagem e quem acompanhava a pessoa (se fosse o caso) e também consta as várias características particulares de cada um, como altura, a cor dos olhos e do cabelo, nariz, barba e sinais.

Requereram passaporte:

19-02-1875 - Miguel Ferreira de Melo, de 31 anos, solteiro.
Destino: Rio de Janeiro

19-02-1875 -  António Ferreira de Melo, de 40 anos, proprietário
Destino: Rio de Janeiro

11-07-1881 - João Fernandes, de 34 anos, solteiro, jornaleiro, filho de António Fernandes
Destino: Rio de Janeiro

05-05-1887 - José Diogo, de 22 anos, solteiro, cultivador
Destino: Império do Brasil

09-11-1887 - António da Fonseca, de 37 anos, casado, jornaleiro, natural de Forninhos e residente na Matela
Destino: Rio de Janeiro

25-02-1909 - António Diogo, de 44 anos, casado, agricultor, filho de António Diogo e Maria Christina
Destino: Rio de Janeiro 
reside em Sezures atestou o pároco de Sezures António Gonçalves Nunes
Foi baptizado em casa em perigo de vida

Passagem de António Diogo

10-10-1910 - Jeremias Ferreira, de 25 anos, solteiro, trabalhador, filho de Miquelina Ribeiro
Destino: Rio de Janeiro
reside em Demercilo há mais de 4 anos como criado de servir (atestou o pároco Alfredo Augusto de Almeida Paes)

06-05-1911 - Casimiro Diogo, de 30 anos, casado, agricultor, filho de António Diogo e Piedade de Andrade
Destino: Santos
Residente na Ínsua

Casimiro Diogo

06-05-1911 - Diamantino Pires, de 29 anos, casado, agricultor, filho de Luís Urbano e Ana Pires
Destino: Santos
Residente na Ínsua

24-01-1913 - Mateus de Almeidafilho de Maria dos Anjos, agora com 34 anos, casado, agricultor, volta a pedir passaporte com destino ao Rio de Janeiro - Já não reside em Sezures, mas na Ínsua

18-02-1913 - António Monteiro, de 21 anos, casado, agricultor, filho de Manuel Monteiro e Maria Augusta
Destino: América do Norte
Residente na Ínsua

18-02-1913 - Francisco Melo, de 24 anos, solteiro, agricultor, filho de José Caetano e Maria Amália
Destino: América do Norte  
Residente na Ínsua

Francisco Melo

Fatos relevantes sobre o Francisco Melo:
1- Ficou livre do recrutamento para o serviço militar e depois  veio a participar na I Grande Guerra através do Exército Americano vide aqui. 
2- o registo criminal diz que foi condenado a quatro meses de prisão pelo crime de ofensas corporais em José Tavares, solteiro, filho de Maria Jose Pedra, de Forninhos.



18-02-1913 - António de Almeida, de 32 anos, casado, agricultor, filho de Francisco de Almeida e Ana dos Anjos
Destino: América do Norte
Residente na Ínsua

António de Almeida

18-02-1913 - Justino da Fonseca, de 41 anos, natural da Quinta dos Valagotes, Forninhos, casado, agricultor, filho de António da Fonseca e Ana de Jesus
Residente na Ínsua
Destino: América do Norte

Curiosamente, nestes passaportes todos eram homens e a maior parte residiam na Ínsua, concelho de Penalva do Castelo, conforme atestou Alexandre Almeida Lopes, o Regedor da freguesia da Ínsua. Acho que era uma forma de conseguirem o passaporte através de Viseu, pois era a unidade administrativa mais próxima de Forninhos (Distrito da Guarda). O destino da viagem para a maior parte era o Brasil. 

Viagens de Antigamente!

Mas pelos vistos, as dificuldades que muitos tiveram para sair do país, foram quase insignificantes comparadas com os trabalhos por que passavam os que tinham que viajar para além dos limites do concelho.
Do que consegui perceber, qualquer pessoa que pretendesse viajar para fora da sua comarca tinha que ter um passaporte para transitar, por motivos relacionados com o serviço militar ou razões de trabalho (para o Alentejo, por exemplo, no tempo das ceifas ou ir ao Porto comprar matérias primas, como fazendas); por cada localidade onde passasse (parasse/pernoitasse), a autoridade local tinha que visar o passaporte, confirmando e registando os dados que nele constavam; caso o viajante não apresentasse passaporte era-lhe aplicada uma multa que seria elevada para aquele tempo.
Quando o meu pai foi tropa, 1966/1967, há pouco mais de cinquenta anos, era o Regedor Antoninho Bernardo (conhecido também por Toninho do Aníbal) quem lhe carimbava e rubricava o "passaporte de fim de semana". Era uma forma de controlar os soldados.
Os tempos mudaram e as pessoas hoje circulam livremente, mas ainda temos de pagar as portagens!!