"...ó rapaziada, pela vossa rica saúde, olhem que rica choiriça fresquinha, até parece que o porco ainda está a mexer...". Assim se arrematava com o desafio final: "Quem dá mais?".
No próximo dia 23 é Domingo Magro e pelo 5.º ano volta-se a realizar em Forninhos esta tradição que dizem secular.
Em tempos idos, embora não tão distantes por ainda perdurarem na memória de muitos, a seguir à missa dominical, no adro da igreja e em cima do muro, o sacristão ou um mordomo do Santíssimo "arrematavam" as oferendas do povo que desta forma reconhecia e agradecia a sorte e favor de alguma abundância, sem terem sido atingidos pela maligna e isso queriam partilhar com os outros.
Era desta forma que se leiloavam enchidos do fumeiro e carne da arca salgadeira; cada produto, por si ou em conjunto, citado pelo leiloeiro, chamava-se lance. E um atrás de outro, repetiam-se os lances...bom sinal!
No próximo Domingo, não será muito diferente. As oferendas dadas com carinho, manterão a tradição e, no final, o trabalho fica para a grelha e panelas de ferro. E o estômago que se cuide...
Afinal é dia de festa!
Hmmmmmmmmmm...Imagino o quanto será bom por aí!! Legal isso! Boa festa! bjs, chica
ResponderEliminarUma festa boa e saborosa, Xico! Todo mundo vai participar com bastante alegria e entusiasmo!!
ResponderEliminarAbraço e Boa Semana......................
O título deste post é: ARREMATAÇÃO DE CARNES E ENCHIDOS, mas até podia ser apenas ARREMATAÇÕES que qualquer forninhense (mais antigo) sabia que esta tradição respeita ao leilão de enchidos do caniço e carne da salgadeira a favor do Santíssimo.
ResponderEliminarPois é, o tempo passa tão rapidamente e quase o Entrudo está à porta. Com muita pena minha, não vou desfrutar do bom e daquilo que tanto gosto, farinheiras e chouriças.
Espero que as condições meteorológicas ajudem, porque aí sim, vão ter festa rija e tudo correrá bem para os “festeiros”, mas melhor para a nossa Irmandade.
Este é o tipo de tradição que nunca se deve perder. Imagino a festa que vai ser...Oxalá o tempo ajude a essa Arrematação de Carnes e Enchidos.
ResponderEliminarRealmente temos enchidos muito bons de Norte a Sul do país, esperemos que a sabedoria de fazê-los passe sempre de geração em geração.
xx
Que delicia.Belas choiriças e que boa que fica a comida nas panelas de ferro com carne da salgadeira.
ResponderEliminarQuando me junto com a familia na minha terra ainda fazemos uns belos cozidos nessas panelas.
É muito bom ver que há tradições que não se perdem e o nosso país é tão rico em tradições.
Beijinhos e um bom dia.
A foto é autêntica e real na sua simplicidade e não pensem que é na cozinha ou pátio de alguém, é na casa de todos: Largo da lameira, local onde no próximo domingo, todos, da freguesia ou de fora se irão junta, sendo que por aqui, à distância,já se vai sentindo o crescer da água na boca, entre lamentos de pena de não estar e desejos de continuação.
ResponderEliminarÉ bom sentir renascer e preservar estes acontecimentos que surgiram nos primórdios dos tempo, independentemente de credos e/ou tradições, mas cada qual à sua maneira, sendo que e pensando bem, são ofertas de agradecimento, e partilha.
Quem tem ou a custo, nem que para tal dê um rombo na despensa ou compre, de alma e coração entrega aos irmãos da Irmandade a oferenda, sendo que muitas vezes, quando vem o lance, são os próprios a arrematar o que era seu, para além de deixarem o contributo financeiro a favor do Santíssimo, deixarem mais uns enchidos e carnes para para a panela, pois a mesa está posta e os garrafões acomodados por debaixo desta, ansiosos por fazer saltar a rolha.
As mulheres, com olhar mais perspicaz, seguem atentamente a qualidade dos enchidos enquanto os "brutos" dos homens já imaginam as cabeças de porco, rabos e pés a sair da panela.
E o leiloeiro, já meio cansado lá vai gritando: QUEM DÁ MAIS?
E a festa que começou antes de ter começado, ainda se irá arrastar depois de ter acabado.
Bom para a malta do "calote", assim chamados por nada oferecerem, a não ser o estômago sôfrego e treinado para a "comezaina" e que com o povo se misturam.
Paciência, é quase Carnaval e já ninguém leva a mal.
E no fim o famoso : "bom, bom", "gosto, gosto", "adoro, adoro"!
Querem melhor?!
Para quem nunca comeu essas chouriças, de fabrico particular, não faz ideia do que isso é. Os supermercados estão cheios desses produtos, fazendo o seu marketing baseados na "feira de enchidos", mas em nada se assemelham a esses de Forninhos e de outros lugares onde ainda não se perderam essas "receitas" . Resta-nos desejar bom apetite aos felizardos que lá estarão.
ResponderEliminarAbraço,
Manuel Tomaz.
Sr. Manuel Tomaz, o meu amigo tem toda a razão, mesmo fazendo ideia, não há como provar.
ResponderEliminarAndo com uma gana enorme de lá ir, mas sendo que ainda fica longe, o pior é voltar para Lisboa no dia seguinte.
É que "elas não matam, mas moem...".
Grande abraço.
Aqui, cabe um aparte.
ResponderEliminarNa aldeia de Forninhos dantes quase toda a gente matava o seu porco e então uma das peças, cabeça (ou só metade), chispes, rabo, chouriças ou farinheiras, era para oferta. Muitas vezes era arrematada pelos próprios que a ofereciam, fazendo assim o seu ofertório; já aqueles que não matavam arrematavam sem pensar na oferta, mas no seu consumo.
Em Forninhos reeditou-se esta tradição, mas ATENÇÃO não é bem como era dantes, porque já muito pouca gente mata um porco, por isso a quantidade de chouriças, farinheiras ou carne caseira é bem menor, muitos enchidos são comprados nos talhos da região, acho eu! Mas claro que esta tradição continua a ser importante para a Irmandade e para a população, que passa um domingo diferente.
Olá Paula,
EliminarCompreendo bem a sua explicação. O mais importante é manter a tradição, o que, digamos, vai sendo cada vez mais difícil devido à desertificação. É necessário muita força de vontade, o que é de louvar!
O meu abraço,
Manuel Tomaz
Pois é.
EliminarJá lá vão os anos, Sr. Tomaz, em que cada casa de família das aldeias tinha, pelo menos, um porco para matar, mas com o despovoamento das aldeias, com o envelhecimento das populações, com as dietas médicas que apontam a carne de porco e os enchidos, como "inimigos", hoje em dia, as matações são mais escassas e deixaram de fazer parte dos afazeres comuns dos dias frios de Inverno.
Eu ainda me lembro (e se calhar na sua aldeia também faziam igual), quando alguém tinha um porco grande e gordo, gostava de o deitar fora, de o deixar sair para a rua, para mostrar que tinham um porco valente e quando o matavam, logo a seguir à matação começavam a tratar do próximo.
Um abraço.
Claro que aqui cabem todos os "àpartes", não fora esta abertura uma imagem de marca deste Blog, na sua singularidade coerente e genuína.
ResponderEliminarOs porcos já não se matam e guardam para consumo à moda tradicional por imposições legais, que submissas hipotecaram tradições e costumes.
Mantém-se o orgulho na coragem de um ou outro clandestino "fora-da-lei" que ainda vai acanando o sangue para as morcelas e a carne a escorrer para as chouriças dos boches, da carne, farinheiras, e os presuntos e lombos guardados em azeite. E...
Aceito que houvesse quem não encarasse estas arrematações como um partilhar de oferendas, contrariamente à maioria, mas (se estiver enganado, desculpem) por interesse próprio.
Não era o pobre (sem aspas) que tal fazia, pois já por altura das matações, Forninhos sempre teve solidariedade em partilhar com todos. Eram, penso eu, os gananciosos que na altura dos leilões ao Santíssimo,se aproveitavam do baixo preço, quase oferta, para mais encherem a arca de casa.
O pobre e honrado, até se envergonhava de aparecer, quanto mais "cantar" um lance...
Claro que a Paula tem razão em chamar a atenção aos tempos actuais, em que quase nada reflecte o que era; falo por mim que por vezes me embalo nesta crença nostálgica, esperançado por estas mostras, de que o passado continuará aqui, agora e no futuro.
Sonhar não tem fronteiras!
Acho que todos nós vamos no embalo, daí que nos esquecemos, por vezes, que os modos de vida mudaram muito.
ResponderEliminarPor altura das matações, havia um hábito, um gesto que consistia em levar aos lares mais chegados, vizinhos, familiares e amigos, um prato com uma morcela, febra, costeleta…para que todos provassem. Mas nos dias de Domingo Magro e Gordo havia também um hábito, um gesto, que consistia em levar aos lares pobres mais próximos (daqueles que não matavam) uma malga de papas de ralão com carne e também feijão com um bocado de carne e chouriça de boches. Era uma acção muito bonita nessa altura de mais miséria, sobretudo da parte daqueles que também pouco tinham.
Hoje, apesar da crise, isso já não é necessário e ainda bem, diga-se. Há muito desemprego nas nossas terras, mas qualquer pessoa pode licitar e deixar uns enchidos na grelha e carnes na panela.
Sim, noutros tempos havia o hábito de partilhar e dava-se não apenas por caridade, mas pelo sentimento de bem-fazer.
EliminarDe facto tempos idos e diferentes do presente, no qual no dia das arrematações todos, os mais e os menos abonados, "abancam" em volta das mesas no largo da Lameira em salutar e guloso convívio, enquanto se vai arrematando mais um lance e se viram mais enchidos nas brasas.
Ai de quem não participa, pois a língua do povo quando quer é matreira
Quem não participa e não contribui, logo é motivo de conversa e do "maldito" comentário:
- Tás a ver, olha aquele que come come, mas chegar-se à frente, tá quieto; forrêta que deve ter os bolsos cozidos!
Olá Xico!!
ResponderEliminarAs tradições que aqui encontro em relação aos forninhenses é uma coisa que me encanta!! O domingo promete.
Abraços,
Sandra
O sabor das linguiças feitas e defumadas ao forno de tijolos são mais apreciáveis que as industrializadas, mas por aqui existem boas fábricas de embutidos. Muito interessante a postagem. Um abraço, Yayá.
ResponderEliminarBom dia
ResponderEliminarEste será mais um ano em que se fazem as arrematações de carnes e esperemos que continuem.
E, como o Xico diz aquelas chouriças na brasa, até fazem crecer água na boca, não é verdade?
As arrematações de carnes na nossa terra já são uma velha tradição, em tempos eram feitas á saída da missa e em cima do muro, ali e com uma peça de carne ou couriça, lá iam proclamando " Quém dá mais....
Bem gostava de lá estar este ano.
Abraço
Uma vez não são vezes!
ResponderEliminarimpossível resistir.
beijo
Boa noite Xico e Paula, pois até senti sabor e o aroma;)) desses enchidos grelhados na brasa! A maior das delicias de que ainda tenho memoria da minha infância!
ResponderEliminarE essa tradição é bem de recordar e continuar a celebrar!
Bom apetite!
Beijinhos, Ailime
Oi Xico e Paula,
ResponderEliminarfiquei aqui só imaginando a comilança... essa grelha e as panelas de ferro dizem tudo: Comida da boa! E ainda mais, se representa uma tradição, embora não tão igual como era no passado, mais igual na alegria de fazer e preservar, eu adoro esses festejos.
Beijos!!!!
Um obrigada a quem hoje me ligou a pressionar para ir.
ResponderEliminarEstava inclinado mesmo contra o tempo, até ia com gosto, mas infelizmente e à última da hora, é de todo impossível.
Fica para a próximo e guardem umas fotos.