Exterior da Igreja Paroquial - anos 60 (??) |
Há uns anos publiquei esta foto aqui. Liguei-a com a construção da igreja da minha aldeia, mas como não teve a leitura que merecia, novamente trago aos leitores o assunto.
Uns 2 meses antes tinha publicado um post que intitulei "Cemitério Antigo". E o que é que o cemitério tem a ver com a nova igreja? Perguntam vocês.
É que os enterramentos eram feitos dentro e fora da igreja.
E será que a antiga igreja podia ter estado ao lado da igreja nova?
Eu acredito que sim, porque em documento de 1734 que já publiquei em Fevereiro de 2012 e que volto a publicar, lê-se: "He cousa pouca não convem estar ali igreija pode ir a Ornelas, ou a Matança - Dandose algua cousa pello currãres, mas não a Ornelas por serem Abbas anexas a Pena Verde". Perante esta visão/informação, colocava-se à data um problema: construir uma igreja maior. O que foi feito em 1797, ou seja, 63 anos depois, embora há quem afirme que a construção igreja de Forninhos "deve remontar a 1731" já que no cimo do portal está gravada a data de 1731 (?).
Documento de 1734 - Visitas Pastorais |
Mas e o cemitério?
Dizem-nos que o cemitério antigo ficava no adro, do lado que dá acesso à sacristia, entenda-se do lado direito da igreja actual. Portanto, seria ali o local da antiga matriz de Forninhos? É capaz.
O que deve ter acontecido, se é que se decidiu construir de raíz um templo maior, foi reaproveitar o cemitério já existente dentro e fora da igreja e, sendo assim, é quase certo que a igreja foi construída do lado esquerdo. Mas a minha opinião vale o que vale.
A seguir à construção do novo templo de 1797, em 1834, veio uma lei liberal que proibiu os enterramentos dentro das localidades. Esta lei levou 56 anos para ser aplicada, porque em certas aldeias, inclusive Forninhos, se recusavam a enterrar os mortos no "meio do mato", alegando o perigo de rezar menos pelos mortos, facilmente esquecidos em lugar ermo. No caso da nossa aldeia só o foi nos anos 40 do Séc. XX, no tempo do Sr. Pe. Albano. O cemitério foi então criado no local onde hoje está, mas sem que todos os corpos fossem trasladados.
De histórico há a assinalar:
1- Em 20 de Junho de 1758 (data respeitante à resposta do padre cura ao inquérito paroquial) refere-nos o Baltazar Dias que a paroquial "está próxima do povo" e dotada de um "altar-mor e dois colaterais". Esta Igreja era a antiga.
2- Segundo a História da Igreja em Portugal, aquel igreja foi reedificada, com obra concluída em 1797; a 2 de Dezembro desse ano era concedida licença para a respectiva bênção, tendo os moradores de pagar, por essa mesma licença, entre o S. João de 1797 e igual dia de 1798, 5.600 réis de selo da bênção. A igreja foi reedificada "tanto de paredes como de armação... e da mesma sorte a capela mor com a sua tribuna nova, asseada e com toda a decência".
3- "Durante as obras de reedificação, os fregueses serviram-se da velha capela-mor, que ficava ao lado da igreja nova, na qual não cabia a quarta parte do povo da freguesia".
4 - Já depois da construção do cemitério, anos 40, foi subido o corpo da igreja e recolocados os sinos, anos 50. Conta-se que nesta altura foi trazida para Igreja a imagem de S. Pedro de Verona que pertenceu ao templo de S. Pedro. Mas essa imagem depois foi levada para o Seminário de S. José de Fornos de Algodres e encontra-se hoje no Seminário Maior de Viseu.
5- O cemitério de Forninhos foi aumentado em 2012 e construída dentro uma capela. Uma ampliação necessária, mas até hoje eu ainda não entendi a finalidade, nem a necessidade dessa capela.
Paulamiga
ResponderEliminarO que eu aprendo quando visito este blogue! As estórias da História eram as preferidas do meu falecido compadre José Hermano Saraiva. Tenho de voltar mais vezes aqui para aprender. Um dia em que não aprenda não é dia nem é nada... rrrsss
Qjs & abç ao Xico
Uma excelente achega histórica que dá que pensar, face à profusão de momentos datados séculos atrás sobre a evolução da nossa aldeia.
ResponderEliminarLendo atentamente o texto e relendo publicações que já fizeste e aqui referes, incontestável que as primeiras obras de reedificação da pequena capela-mor para a actual igreja matriz, teve a sua conclusão em 1797.
A data de 1731 que figura por cima do arco do porta, poderá significar algum momento digno de registo para com a sua padroeira Sta. Marinha, "nossa" já por alturas do século XV. Certo é que 3 anos depois (1734), as autoridades eclesiásticas face à exiguidade do local de culto, não verem "conveniência" em o mesmo ser utilizado e recomendam aos "fregueses" (paroquianos) que vão ouvir a pregação a outras paróquias.
Aqui sim, acho que os forninhenses se uniram perante tão grande afronta e partindo daquela pequena capela (teoria pessoal) fizeram obra que levou mais de sessenta anos, mas que orgulhosamente viram ser concedida a licença e benção. Mas já pagaram aqueles milhares de réis, de selo!
Decorridos mais de dois séculos, nos anos 40 e 50 do século passado, foi a igreja matriz subida em altura e juntamente com outras remodelações, vieram os sinos da nossa terra.
Por esta altura foi construído o cemitério em sintonia com as recomendações legais vigentes na altura.
Para trás ficava o velhinho cemitério do adro da igreja, o mesmo onde o meu avô paterno foi sepultado há mais de 70 anos. Dizem que o "avanço" da construção/ampliação da igreja, assenta em boa parte sobre o que foi esse espaço.
Tantos dos quais descendemos ainda ali repousam desde séculos atrás, mas esquecidos, ignorados, desprezados...
Acreditem, nem uma única placa que os evoque!
Tanto aqui se tem falado no povo de S. Pedro e da capela que lá existia. O que fui ouvindo é que das suas ruínas veio para Forninhos muita e boa pedra, uns dizem para a igreja, outros dizem que foi aplicada na construção do cemitério, o mesmo que foi ampliado há pouco tempo. Tem uma capelinha no interior, segundo dizem "doada", só não sei se por respeito aos mortos se por favor aos vivos.
Bom fim de semana.
Boa noite Paula, muito bem escrito este artigo e muito bem colocado o assunto que refere!
ResponderEliminarDeixo-lhe os meus Parabéns pela forma como continua a defender acerrimamente e com mestria a História de Forninhos!
Há muitos pormenores que desconhecia, por exemplo, sobre o enterramento dos mortos e que em relação à minha aldeia estou a fazer algumas deduções!
Beijinhos e obrigada!
Desejo-lhe um restinho de bom domingo e uma excelente semana.
Ailime
Grata pelas suas palavras. A história se não fôr preservada cai no esquecimento e é tão bom partilhar todos estes conhecimentos e fotografias de outro tempo!
EliminarNo caso, os nossos antepassados não só tiveram de construir uma igreja maior, como tiveram de transferir o cemitério para fora da aldeia. Talvez na sua aldeia tal tenha acontecido também, pelo menos, com o cemitério.
Essa lei levantou muita polémica no século XIX, levou muitos anos a ser aplicada, mas quase todas as aldeias acabaram por transferir o seu cemitério para o "meio do mato".
Na minha aldeia só tenho pena que NUNCA se tenham lembrado de colocar uma simples placa a indicar a localização do antigo cemitério! E é claro que o esquecimento leva à destruição e perda.
Beijinhos e tenha semana excelente tb.
Boa noite Paula,
EliminarNa minha igreja (que ainda existe), mas "mutilada", foi-lhe subtraída uma capela que dava para o adro e que estava sempre fechada, onde me diziam em criança estarem corpos sepultados!
Daí a minha dedução!
Já tenho alguma idade e lembro-me sempre do cemitério numa das colinas da terra, avistando-se de de quase toda a aldeia, toda ela sobre colinas um pouco acima do nível do Rio Tejo!
Um beijinho e obrigada.
Ailime
Boa noite Ailime.
EliminarAinda bem que esta página a levou a essa dedução.
Se diziam nessa capela estarem corpos sepultados, de certeza que as orações ainda eram mais sentidas, imagino (só imagino) o que foi para as gentes de outros tempos ter de enterrar os mortos em lugar ermo e por eles rezar menos!
Hoje os cemitérios ficam longe das igrejas, é certo, mas melhor situados...em especial o da sua terra!
Beijos**
Aqui aprende-se a história de Portugal de uma maneira simples e bonita ,contada por gente que se interessa pela terra onde nasceu.
ResponderEliminarNão me canso de dizer.Este blog é maravilhoso.
Parabéns Paula e Xico.
Beijinhos e boa semana.
É muito lisonjeiro o seu comentário, Natália.
EliminarMuito pouca gente de Forninhos participa, e é pena porque muitooos nos lêem, mas como costumo dizer: "cada um é como cada qual".
Aqui há história e o mais importante é a satisfação de gostar deste simples blog.
Beijinhos.
Mais um muito interessante e historico artigo, que deixa varias perguntas, e tambem constacta umas quantas realidades!
ResponderEliminarBem hajam e um abraco de amizade.
Alguns é que não gostam dessas quantas realidades aprofundadas aqui no blog, mas...paciência...este é só mais um artigo histórico que achei bem publicar porque para compreender o presente é preciso primeiro conhecer o passado. A 9 de Novembro de 2009 este blog começou assim.
EliminarUm abraço de amizade tb.
Histórias que merecem ficar na História.
ResponderEliminarBeijinhos
...na História que chamo de nova história: porque é uma história que não fica presa somente ao passado, ela estuda, questiona, o que pode ser relevante para a sociedade.
EliminarBeijinhos.
Paula, que maravilhosa história nos trouxe! Muitas vidas foram transformadas em torno desta igreja! bjs e boa semaninha,
ResponderEliminarOlá Anne.
EliminarQuando fiz este post pensei nisso, que mal nascemos logo por lá passamos, primeiro ao colo da mãe ou da madrinha; depois pelo próprio pé.
Pensei também na sua grandeza e no quanto erradamente achamos que as das cidades é que são grandes por lá caber mais gente!
Beijos. Boa semaninha tb.
Fascina-me a facilidade e o entusiasmo com que abordam temas pertinentes como este...e que fazem parte da história do local!
ResponderEliminarUm dia...passarei por aí!
Tudo de bom!!!
É isso. A receita é entusiasmo...gosto...paciência.
EliminarVá então um dia conhecer Forninhos e visite a Igreja Matriz. Mesmo de noite é bonita de ver, pois a luz artificial ainda mais destaca a sua frontaria.
Bom dia. ainda bem que existe pessoas como a senhora, que contribuiu para manter um passado com a historia viva para que a mesma não seja esquecida, é ter a consciência da importância cultural para o futuro.
ResponderEliminarAG
http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/
Obrigada. Por acaso sou daquelas pessoas que penso que um dia iremos precisar do que actualmente deitamos fora hoje, tanto a nível material como cultural.
EliminarMas Forninhos parece não saber aproveitar as oportunidades...na minha terra desperdiça-se e estraga-se muita coisa!
Um abraço meu.
BELA página de História !!!Adorei !
ResponderEliminarUm grande abraço
Bem-haja. Sinto-me cada vez mais em dívida com os meus visitantes, mas especialmente consigo Idanhense.
ResponderEliminarRetribuo o abraço.
Encontrei um documento em que meu bisavô (Adelino Esteves) fez uma doação a esta Igreja e para alguns familiares depois que ele já tinha vindo ao Brasil.
ResponderEliminarEle nasceu em 1884.
Alguns da família dizem que esta doação ajudou a construir ou reformar um altar da Igreja.
Sim, os mais novos desconhece, mas foi com o dinheiro enviado pelo seu bisavô (Adelino Esteves) que se fez o "vale" sobre o cofre colocado no altar onde se guardam as hóstias (isto é, o Corpo de Cristo). Fazer um Sacrário era uma grande despesa e graças ao seu bisavô é possível ainda hoje admiraramos esssa bela obra, o Sacrário e talha dourada de bom acabamento.
EliminarPode enviar para o meu email (aluap_a@hotmail.com) esse documento para aqui publicar e homenagear o seu bisavô?
Obrigada e um abraço forninhense,
Paula Albuquerque