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terça-feira, 4 de novembro de 2014

A azeitona já está preta

A azeitona já está preta/já se pode armar aos tordos/Diz-me lá, ó cara linda/como vamos de amores novos. Esta canção popular não fica por aqui, mas basta para anunciar que em Forninhos a azeitona já está madura, pelo menos, para curtir!



No mês passado escrevi sobre a sementeira do pão. Hoje, sobre o azeite. Mas nada que se compare, enquanto quase todas as famílias semeavam pão, poucas eram as que supriam as suas necessidades em azeite.
Ter oliveiras, ter azeite, significava se uma família era pobre, remediada, abastada ou mesmo rica, ou seja, para essa classificação contava o número de oliveiras, se eram colhidas pelos próprios com ou sem ajuda de familiares e amigos, ou se a colheita era simplesmente efectuada como trabalho assalariado.
Mas lembro que muitas famílias por não terem oliveiras suas, saíam ao rebusco. A tradição do rebusco, era uma das mais bonitas da nossa terra, sobretudo por parte daqueles que deixavam ficar parte do pouco que tinham, pois na época (anos 40, 50...por aí) não seriam muitos aqueles a quem sobrava alguma coisa.
Porque para compreender o presente é preciso primeiro conhecer o passado, não resisto em destacar aqui as palavras de alguns bloguistas, contribuidores, visitantes, conterrâneos. Alguns, hoje, não vão achar bem, mas tem de ser:
«Os meus pais não tinham oliveiras, no entanto, todos os anos faziam um bocadinho de azeite, não era muito, mas faziam, e para isso, eu contribuía; quanto eu e outras crianças vínhamos da escola ou aos domingos antes de ir para a missa, pegávamos num cestinho e lá íamos ao rebusco da azeitona, era catada no meio das ervas e quando se via algumas esquecidas em cima da oliveira, subíamos, e com uma varita deitava-se abaixo, tendo atenção onde caía para depois se ir apanhar.».
«Quando eu era criança, os meus pais cultivavam terrenos que não eram deles, pois só depois dos meus avós falecerem é que ficamos com terrenos nossos. Nos terrenos que não eram nossos só se cultivava a terra, as azeitonas e as uvas eram para o proprietário apanhar, mas depois de ele fazer a apanha lá íamos nós com os cestitos de vime para o rebusco, mais para a azeitona para fazermos o azeite e para curtir, era pouca, mas um bocadinho aqui, outro ali, se fazia um bocadinho de azeite e curtíamos umas azeitonas num pote de barro.».
«Depois tínhamos direito às batatas, mas com pouco azeite. Às vezes punha-se a panela das batatas em cima da mesa. No meio da mesma encontrava-se um prato onde o azeite flutuava no cimo da água. Tínhamos direito de pegar nas rodelas das batatas e de as molhar no azeite mas só de um lado, para poupar o azeite.».
«Sou do tempo em que todos comíamos as batatas de uma bacia, era assim que se chamava a uma travessa de barro de forma arredondada, para poupar o azeite!».
Da importância da colheita da azeitona e do fabrico de azeite falam também os dois lagares de azeite que chegou a haver em Forninhos que, em dois ou três meses por ano, muito duros e de trabalhos esforçados, alguns homens trabalhavam...
«Em forninhos no passado, existiram dois lagares de azeite, movidos por força da água dos ribeiros, um pertencente ao Sr. José Baptista, outro ao Sr. Luísinho Abrantes.
O pertencente ao Sr. José Baptista não o conheci a funcionar, pois uma cheia tenebrosa o destruiu, mas o do Sr. Luísinho Abrantes conheci-o muito bem a trabalhar em pleno. Forninhos produzia azeitona abundante e por isso o lagar laborava bastante tempo. Abria normalmente próximo do Natal, alguns, os mais necessitados, já se valiam do azeite novo para fritar as filhós e temperar as couves, batatas e bacalhau da Ceia da Consoada.
Depois da azeitona apanhada, vinham os ensacadores ensacá-la para ser transportada para o lagar. Nas sacas, lembro-me, punha-se um sinal para não haver misturas com sacas de outros no transporte para o lagar.».
«Eu só me lembro do Lagar do Sr. Luísinho, onde passei algumas noites sentado à lareira a ver as pedras das mós a esmagar a azeitona, o enchimento das ceiras com a massa da azeitona e a comer batatas, cebolas e bacalhau assados, regados com muito azeite quente tirado das pias. Quando íamos a pé, passávamos o ribeiro por um pontão de madeira muito escorregadio, que existia ao lado do lagar; outras vezes íamos no carro de bois juntamente com a azeitona e quando o ribeiro levava muita água, a travessia era difícil e perigosa, pois não havia qualquer ponte.».
«O Lagar de Azeite do Sr. Luísinho Abrantes, fez com que a minha mente recuasse cerca de 7 décadas, lembrando-me da travessia do ribeiro, que eu ainda rapazinho, o lavrador do Sr. Luísinho me autorizava a viajar sobre as sacas da azeitona e que um dia, já ao escurecer, houve grande dificuldade para atravessar o ribeiro, porque tinha havido uma trovoada e o nível da água subiu mais do que se esperava. As batatas à lagareiro, além das cebolas, babalhau e azeite, tinham a ajuda dos garrafões de 5 litros. Nesta época o Lagar do Sr. Luísinho era o mais moderno entre os quatro da nossa área: o lagar do Dr. Varela de Dornelas; o lagar da Matela Velha e o lagar do Sr. José Maria de Almeida em Sezures, este era movido por bois. Quanto ao lagar do Sr. José Baptista, salvo erro, no meu tempo já não funcionava.».
É, consta que esse lagar, foi desactivado em 1938, porque no dia 8 de Setembro desse ano, uma forte trovoada desabou sobre o nosso concelho; os rios e ribeiros cresceram assustadoramente e o lagar do Sr. José Baptista desmoronou-se.
Na minha terra natal, ainda todos os anos quase todas as famílias fecham as portas para  ir apanhar a azeitona, para consumo privado, mas hoje levam-na para um qualquer lagar das redondezas e bem vistas as coisas Forninhos é que perdeu/perde. 

24 comentários:

  1. Paula, você trouxe um texto com muita coisa que aprecio, como a azeitona preta e o bacalhau... A foto tá linda...
    Imagino como deve ser joia a colheita da azeitona e também o preparo do azeite!...
    Abraços p vc e o Xico...

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    1. Obrigada Anete.
      A colheita da azeitona, para mim, é uma boa candidata a "trabalho agrícola mais ruinzinho de fazer...".
      Claro que, no lagar de azeite, o bacalhau assado ajuda, mas mesmo assim...
      Um abraço meu.

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    2. Oi Paula, é bom ver a sua resposta aqui...
      Gostaria que participasse da Ciranda de Livros/o4/3a feira... Ficarei alegre em saber mais do seu gosto pela leitura... Obrigada!
      Bom fim de semana! Beijinhos...

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  2. Adorei ler e ver tanta coisa ta história das vidas de vocês. Gostei da parte das batatas com pouco azeite pra poupar. E todos cresceram, eram outros os tempos! Belas histórias!Adorei ver e ler e ainda mais que aqui ,meu marido é de família de plantadores de olivas na Itália! bjs, chica

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    1. Todos cresceram... homens e mulheres que ainda hoje são vivos, portanto, não foi na antiguidade, foi no nosso tempo.
      Mas os jovens, se bem calha dizem que tal era impossível, só que era mesmo assim: para poupar o azeite, nas refeições usava-se um grande prato ou bacia, onde punham azeite (às vezes misturado com água) e alho e aí molhavam as batatas. Outras vezes comiam batatas só com azeitonas.
      Bjs**

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  3. Olá,
    que maravilha poder participar desta colheita. Será que não estão precisando de ajuda para colher azeitonas ai em Forninhos, quero me candidatar para saborear o azeite com batatas.
    Muito interessante teu relato, um bonito gesto compartilhar o que sobrou na plantação. Vejo que meus bisavós trouxeram de Portugal esse gesto, pois no final da colheita aqui de arroz e outras também abrem as porteiras para os vizinhos colherem, pois fica muita coisa perdida.
    Tenho o desejo de plantar oliveiras, muito interessante esse plantio.
    Bjos adorei viajar em suas ricas lembranças.

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    1. Então venha, até porque a azeitona já está preta.
      Sabe, Anajá, hoje que tanta azeitona fica no chão de Forninhos, porque ninguém a apanha, até custa a acreditar que dantes havia falta de azeitona/azeite. E, se calhar a acrescer ao regime político em que viviam, foi a falta de alimento que “obrigou” muitos bisavós portugueses a optar pela emigração.
      Beijos e tudo de bom!

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  4. Gosto muito de falar com os antigos e estes ficam admirados como a Paula sabe tanta coisa "deles" e por tal vao acrescentando mais um bocadinho.
    Ainda ha pouco falei via telefone com uma octogenaria de Forninhos, cantarolando esta cancao tao antiga da "azeitona ja esta preta...", ao qual logo complementou com parte do refrao "e mentira, e mentira sim senhor, eu nunca pedi um beijo, quem mo deu foi meu amor".
    E mais...
    " Essas modas sao antigas, entao toma la esta"

    " Azeitona miudinha
    Tambem vai para o lagar
    E como a moca bonita
    Que todos lhe vao falar".

    Dizem que comecou a ser escolhida para curtir, mas que cai muita, parece que por causa do bicho ou a mosca. Os mais velhos nao gostam muita daquela grande, a cordoesa, mas perguntando a qualidade daquela miudinha que nos regala, a resposta e que e da antiga. Sem marca registada!
    Ja cheira a elas, sem duvida, o tempo arrefeceu e cairam na serra os primeiros flocos de neve, apetecendo castanhas e cavacas a arder na lareira.
    Tambem ja cheira aos momentos que se pronunciavam anos atras, em que quem tinha oliveiras em maior quantidade, tinha de nas tabernas ou casas particulares, "arranjar pessoal" para a faina, se bem que tal ainda acontece de maneira mais moderna e com outras cantorias.
    As pessoas iam andar ao dia, recebendo no fim da safra e de estomago aconchegado, o justo pagamento acordado. Disputados sim, os Varejadores, habeis de pernas, fortes de bracos, destemidos e sem medo das alturas. Guerreiros reconhecidos (recordo alguns...), que ostentavam as suas varas preparadas para esta arte, passadas pelo fogo, fossem elas de marmeleiro, salgueiro ou carvalho. Cada qual delas para a sua funcao, mais maneirinha para o interior da folhagem, mais dobravel para as pontas dos ramos e mais altas e esguias para nao deixar na cruta mais elevada, um bago sequer de azeitona. Disto nao gostava quem iria depois ao rebusco, esta gente era profissional que com ela por norma levava a mulher e filhos mais velhos, para nada ficar no chao. Tinham brio no que faziam e por isso tao requisitados. Eram Varejadores!
    Trepavam ligeiros de varas na mao e serrote pendurado no cinto, para em simultaneo varejarem e comecarem a fazer a limpeza de pernadas dispensaveis, "arralar" como diziam, equivalendo tal a uma poda antecipada.
    E as varas vergastavam virilamente cada ramo verde destas oliveiras outrora imponentes e a azeitona caia a pique como caganitas de cabra, curada de prisao de ventre.
    Enquanto as mulheres cantarolavam " a azeitona ja esta preta...".
    Por tanto disto, andam de maos dadas a azeitona e a fortuna, as vezes muitas, as vezes nenhuma!

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    1. As pessoas com mais idade que nós, gostam muito de contar como era a vida no seu tempo...só que poucos forninhenses os querem ouvir, daí ficarem admirados quando lhes peço para me contarem como foi...
      Eu (e tu também) apenas tentamos "agarrar as pontas", para ver se algo não se perde, mas a história e estórias contadas por quem as viveu, valem mais do que contadas por quem as ouve/ouviu.
      Tenho noção que um dia, daqui a algum tempo, quando os nossos progenitores faltarem, nós pelo menos sabemos um pouco do que foi a sua vida, a vida difícil dos nossos avós, bisavós...
      Obrigada pelo teu comentário sempre bom!

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  5. Vida dura de antanho, Penso que para lá voltaremos, mas sem o mesmo espírito.

    Adorei o relato.

    O pouco que vi da apanha da azeitona, foi quando leccionei em Hombres. Ali não havia lagar...só em São Pedro d'Alva.

    Beijinhos.

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    1. Mona Lisa, apesar das dificuldades, hoje há outro modos de sobrevivência, bem mais fáceis!
      Positivo...negativo?!
      Acho que ninguém sabe responder!
      Mas é quase certo que não vai ser sempre assim!!!
      Beijinhos.

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  6. Adorei ler este post, Paula! Com todos estes testemunhos, de como se comiam as batatas molhando-as no azeite apenas de um lado para o poupar. E que pena que já não exista qualquer lagar de azeite em Forninhos...
    Adoro azeitonas! E gostei muito de ler o comentário do Xico sobre os varejadores, que muito acrescentou.
    xx

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    1. Pena, pois!
      Eu já não sou do tempo, em que havia lagares em Forninhos, mas fico admirada como em muitas aldeias até havia mais do que um, pois se a cultura, produção e colheita de azeitona, comparando com o que havia há 50 ou 60 anos, era bem menor do que é hoje!
      Presentemente, em Forninhos, qualquer família tem mais azeitona/azeite - creio que não estou a exagerar - do que ao tempo tinham os grandes proprietários olivícolas.
      Também sou uma das que adora azeitonas!

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  7. Impressionante este texto sobre uma das duras tarefas da nossa terra. É um dos trabalhos mais duros, não só pelas voltas que a coitada da azeitona dá, como pelo tempo frio e agreste em que tudo acontece.
    Nunca tive contacto real com a feitura do azeite. Mas sei que enquanto o azeite se fazia, noite dentro, belas "tainas" se faziam ao mesmo tempo no lagar. Isto acontecia na casa de meus avós que tinham lagar que era realmente procurado pelas aldeias vizinhas. ( Assim como o alambique para fazer aguardente.)
    Belo trabalho queridos amigos
    Abraços para si, Paula
    e para o Xico :)

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    1. Por tudo isso digo que é uma boa candidata a "trabalho agrícola mais ruinzinho de fazer...".
      A feitura do azeite, acho que não é assim tão complicada como por vezes se imagina, mas eu "percebo tanto disto, como lagares de azeite"; apanhar a azeitona é que dá mesmo muito trabalho!
      Por falar em aguardente, repare que ao contrário das uvas/vinho, deste fruto tão amargo, que é a azeitona antes de ser curtida, que é como se faz o azeite, sai esse líquido dourado pronto a consumir logo após a saída do lagar!
      Obrigada pela sua visita, pela sua troca de saberes e viveres.
      Abr./Paula.

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  8. Confesso e sem parcimónia alguma que me senti seduzido por este texto, não obstante já abordado anteriormente o tema.
    Seduz a riqueza dos depoimentos da garotada, agora em idade adulta e como reza a historia: "verde foi meu nascimento e de luto me vesti, para dar a luz ao mundo, mil tormentos padeci". E deram essa luz, alguns filhos e netos, outros
    carinhos e partilha.
    Curiosamente a "coisa" mais colorida era ir ao Rebusco!
    Assim mandava a tradição para a criançada, desde os cachos, avelãs, nozes, castanhas e claro a azeitona.Íamos sem vergonha ao rebusco, aos restos que aquando achados por entre silvados, barrocas e ervas, nos sentíamos mais atentos que os que andavam a ganhar o dia. Muitos e infelizmente é verdade, por necessitarem do "pingo de azeite". Vergonha seria roubar e estes actos sempre foram religiosamente respeitados pelos proprietarios que diga-se em abono da verdade, em Forninhos não tinham hectares de exploração sendo que por tal quem tinha um pouco, tal era muito para quem nada tinha.
    Fosse como fosse, pelo menos no Natal, o "tal" pingo não faltaria na mesa, viesse ele da oliveira, do rebusco ou do generoso coração das pessoas.
    Afinal a genuina segurança social não instituida oficialmente, mas nada e criada no coração das nossas gentes.
    Gente que por entre fragas e de roçadoira na mão, cortavam silvas para ver nascer o centeio e depois correndo para o final do ano, ainda conservavam forças para de vara de vareja na mão, saltitarem de pernada em pernada.
    Agora tudo corre para o mecânico modo de varejar, até os olivais estão ajardinados e mais simples de apanhar a azeitona. Fica a saudade, mas vale e bem, a realidade!
    Infelizmente este ano não se prevê grande produção, em quantidade e qualidade.
    No meu comentário anterior referi que as pessoas andavam preocupadas por a azeitona esta a cair por causa da mosca, segundo me haviam dito e hoje nas notícias televisivas da tarde, aparece esta ªdesgraça". Os olivais estavam atacados pela mosca da azeitona, provocando quebras enorme de produção e qualidade, com o azeite mais ácido.
    A maldita "Gafa", assim se chama a doença e por tal as colheitas antecipadas para salvar o possível...
    Mas nem tudo é mau, imaginem uma lagarada em noites frias, batatas, bacalhau e um bom tinto escorrendo ao sabor da conversa de varejadores autênticos que mediam a robustez das suas varas...

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    1. Mais uma vez fiquei maravilhada com este teu comentário, de como eram solidarias as pessoas das nossas aldeias, pois partilhavam o pouco que tinham, de coração aberto.
      Mas os tempos mudaram e, mesmo nas aldeias, desconfiamos muito mais, pois quem pede, muitas vezes não o faz desinteressadamente... o que leva a desacreditarmos no individual e passarmos esta responsabilidade para as instituições, mas também parece que as instituições "dão uma febra a quem lhes dá um porco"!!!
      Agora, dessa doença nada sabia, pelo que fui "obrigada" a ir à net ler sobre...
      Sabia que a apanha depende do grau de maturação da azeitona e do factor tempo, mas de facto quando ocorre uma praga assim, as colheitas têm de ser antecipadas para salvar o possível!
      Mas nem tudo é mau, como dizes...não só pela lagarada e vinho do melhor, mas também pela fogueira que na hora do almoço com as brasas e a grelha a pedir os assados (umas febras de porco acompanhadas com pão e mesmo uma chouriça). Acho que na apanha, o almoço ao ar livre, ultrapassa o frio.

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  9. Boa noite Paula, um texto muito rico que me trouxe muitas e boas recordações!
    Na minha aldeia quase toda a gente tinha uma ou duas oliveiras que bem carregadas iam dando para os gastos! Juntando o tal rebusco que aos grandes não fazia diferença;))!
    Uma pequena parte para colocar na talha para ir comendo durante o ano e a outra para o tão nosso apreciado azeite!
    O meu avô (que fazia de tudo um pouco) era lagareiro e o meu maior regalo era ir com a minha avó, (isto já lá vão imensooooooos anos) levar-lhe o almoço e subíamos uma escada de ferro onde almoçávamos, salvo erro, na casa das máquinas! Até sinto ainda todos os aromas que emanavam daquele lugar mágico!
    Para não falar das torradas de pão de milho feitas nas brasas e besuntadas com azeite ali mal acabado de fazer! Eu tive uns avós maternos fantásticos! Se não fossem eles...Graças a Deus que ainda tenho pais, mas os meus avós foram, para época fenomenais!
    Por isso gosto de vos ler, porque é como reviver todo um passado que, embora distante, mas que guardo com muita saudade no meu coração.
    Beijinhos e desculpem amigos de Forninhos por mais uma vez ter-me deixado arrastar para a minha aldeia!
    Ailime

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    1. Olá, Ailime, comovi-me.
      Muito agradecemos as suas recordações. Continue a falar da sua bela aldeia, teremos muito gosto em que dê tão belos contributos.
      Beijinhos.

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  10. Conheço esta tradição de 'rebuscar' o que tinha ficado meio esquecido.

    Um Portugal esquecido e transformado.

    Uma narração que me trouxe saudades.

    Obrigado!

    Beijinhos

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    1. É isso mesmo Pérola.
      As tradições que publico neste blog juntamente com os testemunhos de vidas passadas (no caso), servem para fazer a história da minha terra e também servem para melhor conhecermos o que foi o nosso passado, um Portugal esquecido e transformado, como disse.
      Beijinhos e 1 bom fs.

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  11. O azeite... o vinho... devem ter proporcionado excelentes momentos de convívio entre as populações...aproximando-as!!!
    Relativamente ao azeite...nunca visitei o lagar...mas até que gostaria!!!
    Bj amigo

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    1. Eu a primeira visita a um lagar de azeite que tive e me lembro, foi quando estudei em Fornos de Algodres (anos 80), se a memória não me falha, ao "Lagar do Cadoiço".
      Foi uma visita de estudo, seguida de almoço. Tenho presentes algumas imagens e sabores, uma delas foi que provamos fatias de pão quente regado com azeite. O almoço foi o tradicional bacalhau à lagareiro.
      Nesses anos era normal haver nas escolas este género de “excursões” aos lagares, moínhos, fornos comunitários, etc., era uma forma de conhecermos o seu funcionamento.
      Creio que o "Lagar do Cadoiço" que fica na povoação do Cadoiço, concelho de Fornos ainda funciona. Se por lá passar um dia comprove e prove o azeite ;-)
      Bj amigo tb.

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  12. A minha azeitona preta...

    Azeitona madurinha
    Nos ramos fazendo enfeite
    Vais deixar de ser pretinha
    No lagar feita em azeite.

    Mas na rama a baloiçar
    Não te tornes descuidada
    Porque podes ir findar
    No bico da passarada.

    Resistes ao Inverno frio
    E ao rigor dos temporais,
    Não queiras perder o pio,
    Escorraça esses pardais.

    Dentro em breve o lavrador
    Te prenderá em seus braços
    E vais seguir com fervor
    O caminho dos seus passos.

    No lagar vais ser moída
    Com a arte portuguesa,
    Transformada em bebida
    Para o bem da nossa mesa.

    Vais sofrer outra faceta
    Nesta tua caminhada
    Deixarás de ser preta
    Para vires a ser dourada.

    Num trabalho complexo
    Feito em ti com deleite
    Mudas de nome e de sexo
    E passarás a ser azeite.


    (poema de Rama Lyon)
    Bem haja.

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