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sábado, 8 de janeiro de 2011

Lagar de Azeite de Dornelas

Passei por Dornelas, localidade vizinha de Forninhos, onde há um lagar de azeite em funcionamento, embora não funcione com os métodos ancestrais, funciona, pode dizer-se, à moda antiga, onde se vê ao vivo, os caminhos que a azeitona segue até sair o azeite. Segundo me disse a sua proprietária, só não se modernizou ainda, porque os seus clientes habituais lhe pediram para o não fazer, o povo lá tem as suas razões que só ele entende. Eu não faço azeite, mas dizem-me as pessoas com quem tenho conversado, que a azeitona aqui rende mais, ou seja, em cada 100 kg de azeitona, é normal dar entre 15 e 20 litros de azeite, por vezes passa, mas nos modernos, o rendimento é inferior, e o azeite não sai tão saboroso, talvez pela pressa e pressão a que a azeitona é submetida nas máquinas modernas. As fotos não ficaram como eu gostaria, mas dá para ver as voltas que o azeite dá:
A azeitona entra no tanque onde é submetida a lavagem e segue para o moinho

Depois de moída, sai por um dispositivo que a espalha em camadas sobre as seiras
que são sobreposta umas às outras
São depois colocadas na prensa, que funciona com um sistema hidráulico
e vai espremendo a massa muito lentamente

O azeite saído desta massa escorre para os tanques que estão com, mais ou menos,
dois terço da capacidade com água quente onde o azeite fica a flutuar
Depois a massa passa pela centrifugadora para filtrar o azeite e daí sai para as vasilhas.
Só falta pagar a maquia, que é de 15% a 20% conforme os lagares.
Em breve iremos deixar de ver também estes lagares, e é pena, porque o azeite saído daqui, não tem comparação.

9 comentários:

  1. Louvo a coragem da proprietária do Lagar de Azeite de Dornelas, por o manter ainda a funcionar, mas também por não o ter modernizado, proporcionando pelos vistos aos seus clientes um azeite mais saboroso e a nós a possibilidade de ainda conhecer o seu sistema de funcionamento "à moda antiga".

    O termo popular “percebes tanto disto como de lagares de azeite”, tem toda a razão de ser, porque não é tarefa fácil para qualquer um, mas com esta breve descrição que o Sr. Eduardo nos faz, acho que todos (falo por mim) podemos aprender e entender melhor o funcionamento dos lagares de azeite. Em Forninhos também já existiram lagares de azeite, ainda antes da energia eléctrica ter chegado à aldeia, portanto, a azeitona era transformada em azeite sem qualquer recurso às máquinas. Aproveitavam apenas a energia hidríca, para fazerem funcionar todo o sistema. É de louvar a inteligência dos nossos antepassados, muitos nem sequer sabiam assinar o seu nome, no entanto, já possuíam princípios básicos de Física. Os lagares de azeite foram também, pois, um dos engenhos marcantes da história agrícola da nossa aldeia.

    Este lagar de Dornelas, pelo que entendi só não é totalmente tradicional porque é movido a electricidade, de resto o moinho ainda esmaga as azeitonas como antigamente e na prensagem da azeitona ainda são usadas as tradicionais seiras, certo?

    Também nunca percebi bem isso da maquia. É a paga pelo trabalho da moagem da azeitona, certo? Mas por aquilo que ouço, hoje há nos lagares a opção de pagar em €uros ou em azeite. Este modo de pagamento é um costume antigo usado pelos lagareiros, certo? Mas antigamente, como era? Os agricultores pagavam a maquia, deixando parte do azeite produzido para os donos lagareiros ou já havia quem pagasse a maquia com moeda?

    As minhas dúvidas são muitas, mas por ora fico por aqui...
    Desejo-vos um Domingo bem passado *.* Bjo

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  2. “ Sei tanto disto, como de lagares de azeite” é um termo popular muito usado, não nas nossas aldeias, mas sim, entre as pessoas que não conhecem e lhes faz confusão como é possível que, de um fruto tão amargo como é a azeitona (antes de ser curtida, que é como se faz o azeite) sai um liquido tão precioso e, ao contrário do vinho, está pronto para consumo logo após a saída do lagar.
    A sua feitoria, não é assim tão complicada como por vezes se imagina, dá, é, muito trabalho a apanhar.
    Respondendo ainda á Paula; o moinho antigamente era diferente, era movido a agua ou pela força dos bois, e a azeitona era pisada por duas mós gigantes que rolavam em volta de um eixo. Hoje é apenas uma máquina, mesmo neste lagar, onde entra a azeitona e sai a massa.
    Em Dornelas havia um moinho antigo no moirão, eu ainda me lembro dele, hoje não há lá qualquer vestígio.
    Em Forninhos estão umas ruínas junto á ponte da eira, que, creio, pertence actualmente á família Gonçalves, mas esse, creio que, não há ninguém vivo que se lembre de o ver funcionar.
    Quanto às maquias, esta prática também era usada pelos moleiros. Tiravam uma percentagem pelo seu trabalho. (ainda hoje se usa por aqui o termo “mudas de moleiro, mudas de ladrão”
    Actualmente no lagar de azeite, paga-se 80 cêntimos por cada litro que sai, ou a maquia já em cima mencionada.
    Um abraço para todos

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  3. Sr. Eduardo, bem-haja pela suas explicações.Se calhar eu nunca entendi muito bem esta forma de pagamento, porque nos dias de hoje até soa estranho que o azeite ainda sirva como moeda de troca.
    O lagar de azeite da Eira, em Forninhos, na altura pertença do Sr. José Baptista, foi desactivado em 1938, porque no dia 8 de Setembro desse ano, uma forte trovoada desabou sobre o concelho de Aguiar da Beira; os rios e ribeiros cresceram assustadoramente e este lagar, de que ainda há ruínas, desmoronou-se. Havia ali também uns moinhos de água que também se desmoronaram pela força da corrente. Pessoas como o meu tio António Carau ainda se lembram deste lagar, outros mais novos apenas se lembram de um outro, do Lagar do Sr. Luisinho, na Ribeira, do qual também ainda há ruínas.
    Desconheço se houve em Forninhos outros lagares de azeite, para além dos dois supra referidos.

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  4. Eram raras as aldeias da nossa Beira, que nao tinham lagares de azeite.
    Na minha aldeia natal tambem existiram pelo menos dois dq que existem as ruinas, ou melhor um deles existe como sitio de arrecadacoes e curral de gado.
    Eram os dois movidos por juntas de bois, e em meu tampo de crianca (anos 60) ja nao funcionavam!
    Pois existia um movido a electicidade numa aldeia proxima e onde o meu falecido pai trabalhou ate emigrar-mos para Africa.
    Fez-me o seu "post" no entanto recordar, umas "sopas" comidas num lagar desses ainda rudimentares, nos anos setenta em Figueiro da Granja.

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  5. Pois agora já existem lagares mais modernos que este, mas eu ainda opto por o lagar de Dornelas e Sezures porque o azeite é diferente dos lagares modernos. Estes lagares ainda trabalhão da mesma maneira, e é costume as pessoas levarem o bacalhau e batatas, assarem tudo e depois tudo bem regado de azeite, acompanhado com a nossa bela pinga, é um petisco delicioso.

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  6. Recordo ter feito uma visita de estudo, seguida de almoço, quando estudei em Fornos, a um lagar de azeite, se a memória não me falha, sito em Cortiçô. Tenho presentes algumas imagens e sabores, uma delas foi que provamos fatias de pão quente regado com azeite. O almoço foi o tradicional bacalhau à lagareiro.
    Nesses anos era normal haver nas escolas este género de “excursões”, aos fornos comunitários, lagares e moínhos e até aos fontanários, era uma forma de conhecermos o seu funcionamento. Quando andei na Primária (anos 70) recordo uma visita ao moínho da Carvalheira, que ainda funcionava. Hoje deste moínho apenas existem alguns vestígios, até as mós desapareceram. E tudo acabará por desaparecer se nada se fizer para preservar o pouco que ainda existe.

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  7. Nossa! que interessante!
    Nunca vi uma oliveira, por aqui não tem mesmo...é pena!
    Já azeite hummmmm! é bom demais...mas muito caro por aqui...se compramos o mais barato, tem muito de oleo de soja misturado...e o extra-virgem é para usar de gotinhas rsrsrsrs
    beijinhos
    Tina (MEU CANTINHO NA ROÇA)

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  8. Seu blog me apresenta a um mundo desconhecido para mim, mas absolutamente encantador. Tenho aprendido muito aqui ! Sucesso a você e obrigado.

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  9. Pois é como diz o ditado "MUDA-SE O TEMPO, MUDA-SE A VONTADE", na minha terra também ainda existem ambos os tipos de lagares, o azeite produzido pelo mais antigo é o que produz o azeite mais saboroso, mais puro, quanto o mais moderno é tudo mais rápidoe por isso o azeite embora seja bom, nota-se que o seu saber é ligeiramente diferente, sei disso porque tive que recorrer a ambos para assim poder fazer o meu azeite, quanto à maquia era a forma encontrada das pessoas que tinham azeitonas mas não tinham meios monetários para pagar o trabalho, no meu caso prefriro pagar, na minha zona è pago por lance o que corresponde a 500 Kg, o lance è a capacidade que o lagar faz de cada vez, dá muito trabalho mas compensa pelo prazer de o saborear.
    E com esta me fico "DE VERDE FOI O MEU NASCIMENTO, DE LUTO ME VESTI, MAS PARA DAR LUZ AO MUNDO MIL TORMENTOS PADECI"

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