Houve um dia em que tivemos um terreno para de tal fazer um campo de futebol...
Éramos muitos os pequenotes que jogávamos à bola no Largo da Lameira. os mesmos que na altura do recreio na escola se desafiavam num Lameira contra o Lugar e que por norma, acabava à bulha.
Coitada da professora para nos manter em sentido na lição, pior as reguadas de castigo, sempre nos mesmos. Afinal os coitados éramos nós.
Aqueles que já haviam ido às sortes para a tropa, eram homens e apenas eles podiam jogar pela nossa terra na outras circundantes, volta e meia num domingo, pois os jogos não tinham calendário, era mais para acertar desaforos nem que fosse por uma palavra mal dada na terra vizinha ou roubar a namorada de outrem no arraial e ficava o desaforo.
Os outros mais velhos, gajos que iam para o ultramar, não gostavam de ser gozados por receberem os jogos da bola no adro da Senhora dos Verdes com ciprestes pelo meio.
Mas era o que havia, sendo que pelas redondezas, a coisa pouco era diferente.
E a gente, os putos, fomos crescendo com o correr dos anos, mas de uma forma rápida, por vezes dura, por termos a notícia de que um da nossa equipa, havia morrido na guerra; era verdade.
Até que chegou um dia de Abril (já lá vão quarenta e tais anos).
Tal como os gajos do ultramar, também havíamos ido às sortes e os apurados ficavam à espera do que viria a seguir.
Era domingo, recordo como se hoje fosse.
Antes e durante tempos, a gente vinha falando num modo de arremedeio para não sermos gozados por nao ter onde jogar e, naquele dia, depois da missa, olhamos uns para os outros e dissemos: É hoje!
Certo é que uma cambada de gajos novos, entraram nos domínios do sr. Amaral e verdade seja dita, depois de nos ouvir, cedeu o terreno do Picão para o nosso campo da bola.
Houve a correria da aldeia para festejar e foguetes pelo ar, mandados pelo tio Zé Carau.
E nada mais até agora...
Sabem, eu que participei nesta demanda, lamento sinceramente os devaneios de quem não teve e jamais terá, a capacidade do sentir de uma aldeia e tal reconhecer.
Sinto-me filho desta terra, mas jamais de um deus menor que a entrega ao ostracismo.
Um campo vazio do muito que poderia ter.
Boa tarde, belo texto que revela saudade do bom tempo que afinal não era, ainda bem que os tempos mudaram, deixaram de existir os gajos que iam para o ultramar.
ResponderEliminarBom fim de semana,
AG
Antes de mais, boa noite.
EliminarTem razão o caro amigo, a gente tem saudades do tempo, do tal bom tempo que diz.
Aqui tivemos o nosso Abril, modesto mas arrojado, nao fosse o dono do terreno compadre de Santos Costa, ministro da defesa de Salazar.
Mais tarde o povo acomodou-se.
Ainda hoje me perguntam porque levanto estas coisas...
Levantas estas coisas porque ainda tens esperança que Forninhos deixe de ser uma terra com pouco Abril dentro.
EliminarJá aqui se falou da guerra e da emigração, mas nunca vamos poder postar este título:
"Forninhos - Uma terra com muito Abril".
Uma cambada de gajos novos iniciaram a caminhada para a democracia, mas os gajos novos que tomaram poder já no no séc. XXI são contra Abril.
Apito final...
ResponderEliminarPorventura a minha última cronica, passados mais de oito anos.
Não foi por acaso que trouxe um sonho decadente de um campo que podia ter florido, os nossos sonhos de liberdade e acima de tudo a esperança.
Caramba, lutamos tanto ao longo de estes anos todos, irmanados no início em mostrar que somos gente honrada e capaz e os fracos nos atacavam pelas costas.
Será pecado demonstrar as verdades de mentiras e por tal dar o nome às coisas?
A vós compete ajuizar, por aqui fizemos uma coisa, de modo modesto mas carinhoso, levar a nossa linda terra aos limites do que poderia ter e não deixar morrer a sua história que é rica .
Se o blog precisar de mim, direi presente, afinal o primeiro comentário foi meu, mas e desculpem a pergunta?
Podia aqui publicar os nomes de tantas gentes, afinal todos em registos e perguntar a cada qual: porquê?
Quem ama algo, nem que seja uma miragem, vai até ao fim e, o por outra vez, porventura até um dia.
Uma coisa eu sei, a Paula não desiste e porventura outra vez, eu ande por aqui perto a ouvir qualquer coisita...
Sabes que a minha vida profissional não me anda a dar folgas e tenho pouco tempo livre para o blog, mas como escrever é uma paixão, continuarei a fazê-lo até porque tenho em mãos uma novo assunto, a meu ver, importante para a história de Forninhos.
EliminarEu sou mais racional e os artigos de história são os meus preferidos, mas os teus artigos são verdadeira literatura e não acredito neste "Apito Final". Forninhos bem se podia orgulhar de ter escritores como tu. Não é qualquer terra que tem pessoas assim de tanto sentimento.
Este texto é belíssimo, cheio de alma.
Os fracos, Xico :
EliminarOs fracos não fazem nada...
Têm tempo, andam sózinhos nas curvas da vida...
Andam cabisbaixos de faca no bolso...
A vencer o tempo com raiva e frustação...
Têm sede de vingança. Não sabem mudar o seu rumo...
O rumo da História...
Os fracos têm vergonha..têm máscara...são cobardes!!
Dizem nada , fazem-se de silêncio , de anonimato.
Os fracos destroem-se , destruíndo, ou , não raras
vezes, roubando, maltratando a sua própria calçada.
Eu sou empreendedor gosto de gente empreendedora !!
Eu não paro...gosto de geste que não para...
Não somos obrigados a ser perfeitos...
O erro está no nosso caminho...
Mas ...fazer é sempre melhor que ser fraco e cobarde.
Abril não foi para todos...
Que o Xico continuo a Ser ABRIL...
Abraço
AMG
RESILIÊNCIA...
EliminarBem-hajam Paula e António.
Penso que as vossas palavras traduzem o âmago da palavra supra.
Chega um tempo em que tendo um objectivo, se depara com coisas malévolas e tu lutas, expões milhares de razões, credíveis, mas que transformam a bel-prazer.
Numa coisa inócua...
Pequenina, na verdadeira dimensão de mentes que até os mais nauseabundos vermes se esquivam em confrontar.
Ao longo destes mais de oito anos, foram construindo uma moreia de estrume para ali construírem o futuro.
Que produza em abundância...
Memórias maravilhosas.
ResponderEliminarBeijinhos
Umas mais felizes, outras mais sofridas...
EliminarMas faz parte se quisermos continuar "abrigados" nas nossas gentes.
Beijinho
Há tempos foi divulgada a notícia de que a Junta de Freguesia de Forninhos adquiriu a particulares dois terrenos, pelo valor de € 22.500,00 para fazer um complexo desportivo!!
ResponderEliminarDesconheço a Acta da Assembleia de Freguesia (apenas ouvi falar nesse valor e vi o "boneco").
A ser verdade, esta concretização virá a ser o maior projecto desportivo de que eu tenho memória, pois não possuo quaisquer recordações da "Batalha do Picão".
Mas é urgente questionar isto, por quem participa nas Assembleias de Freguesia (oposição inclusive), pois há um campo de futebol ao abandono.
O terreno do Picão não custou € 22.500,00, mas custou dissabores, amargos de boca, suor...e tudo isto foi esquecido, está a ser esquecido!
O futuro é consequência do presente que advém do passado, quem não tiver orgulho do passado, então não espere que alguém vindouro se orgulhe dele(a)!
COMO OS VIVOS POUCO ABUNDAM E O CEMITÉRIO À MÃO ...
EliminarNada como comprar terrenos e que venha a diversão!
"No cemitério da aldeia,
Onde o silêncio campeia,
Vi um drama que vou contar.
Era dia de finados,
E os mortos, muito animados,
Lá andavam a dançar.
Tudo!! estava forrado de preto,
No centro , havia um coreto,
Feito dos ossos da testa.
Os esqueletos, ai que beleza !
Tocavam a Portuguesa
Para darem início à festa.
Que festa tão deslumbrante!!
Feita de luz tão brilhante!!
Que, ainda hoje, me não esquece,
E ,com as tábuas dos caixões,
Faziam de violões
Que serviam de quermesse.
Mas, neste momento, houve molho !
Entra um esqueleto zarolho
E disse sem receio algum,
Eu, noutros tempos fui polícia
E todo cheio de carícia
Partiu os ossos a um.
Eu já via piar mochos,
via esqueletos coxos,
E marrecos a gritar !!
Meu coração estava em chama,
Quando acordei estava na cama,
E verifiquei que estava a sonhar".
Vamos aguardar os próximos episódios e as ACTAS.
Como pode um espaço com tanto significado para tantas gerações ser deixado ao abandono?
EliminarNão deveria ser, mas em Forninhos é assim, não apenas com o campo do Picão que poderia ser transformado em algo de útil e significativo para a comunidade, mas também é assim igual com outros edifícios deixados ao abandono, caso das escolas primárias, da casa paroquial...
Só o cemitério não está ao abandono. Um poema muito engraçado :-)
Os amigos Paula e Xico são pessoas que amam de coração Forninhos. Vejo em cada texto que escrevem e também senti quando os conheci pessoalmente. Vcs falam, queridos, com a alma transbordante de alegria e bons desejos, às vezes, clamores pela terrinha amada!
ResponderEliminarUm bom texto!...
O meu abraço
Sabe, amiga Anete:
Eliminar"Só sabe o que vai convento quem está lá dentro".
Que amamos Forninhos, sim!
Mas e deixe que lhe diga, acho que ganhamos mais inimigos do que conquistamos amigos.
Mostramos a malvadez de uns e a falta de coragem de outros,mas que aqui vêm ler, isso sim.
Então que tenham essa coragem de dar a cara e escrever, nem que seja da memória dos seus.
Por mim, vou ficar sentado a aguardar.
Talvez com um bolinho d bacalhau, e o cheirinho do azeite beirão.
Beijos e abraços.
Um excelente e nostálgico texto de que gostei bastante de ler.
ResponderEliminarUm abraço e bom Domingo.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Obrigada.
EliminarA partir de agora vou ter tempo disponível e saborear escritas e temas que gosto.
Aceite um abraço!
Memórias que o coração registou e jamais esquecerá.
ResponderEliminarNaqueles tempos era-se feliz com tão pouco e tudo era pretexto para se fazer festa.
Pena não ter tido continuação....
Nunca é tarde.
Beijinhos e boa semana.
Ailime
A minha amiga Ailime.
EliminarPego na primeira frase e registo o nosso encontro co a Anete, o marido e eu e a Paula. O não esquecer...
Jamais eu também, vou esquecer este Blog nem deixar a Paula lutar sozinha, mas preciso de um tempo para mim, pesquisar outros temas, mas acima de tudo, ouvir o contar das coisas no seu próprio local e de gentes ainda vivas.
E entrar no mundo madrasto que envolvem coisas...
Beijinho grande!
Que lindo te ler ! Boas memórias de um tempo em que crianças podiam jogar e ter um campinho...Promessas não cumpridas, fazem tuuuuuuuuuuuudo modificar!Pena! abração,chica
ResponderEliminarTempos lindos, Chica, desbravar o mundo com alegria, abrir a janela dos sonhos e neles mergulhar, os nossos de criança que mais tarde viriam a ser desviados com promessas...
ResponderEliminarQue pena!
Tal como cantava a Senhora Dona Amália:
"LÁGRIMA
Cheia de penas, cheia de penas me deito
E com mais penas, com mais penas me levanto
No meu peito, já me ficou no meu peito
Este jeito, o jeito de te querer tanto".
Abraço, amiga.