Forninhos era uma terra rica, que se vivia bem? Hoje respondo: acho que não, caso contrário não tinha havido tanta emigração e nem tanta migração para outras zonas do país. Mas cresci convencida que havia terras piores, com mais percentagem de famílias pobres e bem menos famílias a viverem bastante bem.
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A 'Casa' |
É hoje conhecida como "Casa das Camélias" (da Beira), embora a gente antiga continue a chamar-lhe a "Casa do Sr. Amaral". Sobre esta casa há que dizer, pelo menos, que muita gente da terra e ranchos de "gente de fora" * para esta casa trabalhou, sempre com ordenados baixinhos, como era norma nessa época. Parte do trabalho também era pago em géneros, um pouco do produto agrícola em causa, cereal/ou/farinha, azeite, etc..., mas era uma casa que dava trabalho: na limpeza dos pinhais, nas vindimas, na azeitona, nas sementeiras, em geral. Havia sempre trabalhadores de Forninhos a trabalhar para o Sr. Amaral. Ah! tinha pastagens, rebanhos e vendia queijos de ovelha e dava a cultivar, de renda, algumas das suas terras.
A pessoa do Sr. Amaral era, segundo dizem, simpática, conversadora, culta, educada. Imagino que fosse um homem muito moderno para a altura.
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O 'Armazém' |
O "Armazém" foi já construído pelo Sr. Octacílio Amaral no Séc. XX, com a finalidade de armazenar o vinho, em grande pipas e em grandes tulhas, o cereal. No interior deste "Armazém" havia grandes lagares onde os trabalhadores pisavam o vinho. Era assim, mas parece que já não é.
Em Forninhos, o Sr. Amaral era o único patrão que tocava uma corneta para iniciar os trabalhos e na hora do jantar (hoje almoço) tocava novamente a corneta para um familiar do seu trabalhador ir buscar ao "Armazém" água pé. Principal razão: a água pé por ser um vinho mais fraco, menos alcoólico, podia beber-se em maior quantidade e era o que geralmente os trabalhadores consumiam no trabalho do dia a dia e também às refeições.
* A expressão "gente de fora" emprega-se quando alguém mete trabalhadores assalariados por um dia ou mais. Podem até ser da terra, mas visto não serem de casa, chamam-se "gente de fora".