Havia medos das autoridades que quase meio século atrás cirandavam por Forninhos e aldeias circunvizinhas, imponentes nas suas fardas. Tais tinham por personagens (como muita gente ainda se lembra), a GNR e os Guarda Rios. Em comum, as multas a torto e a direito.
A doutrina, o cercear a liberdade, sendo que os primeiros levavam os tostões aos cofres do estado novo pelos animais que vagueavam pelas ruas (sempre assim fora), os segundos por tomar como assassinos a miudagem que ia pescar ao rio e ribeiras, proibidos de pensar que tinham filhos da mesma idade...
(ribeira de Cabreira)
A garotada da minha idade, tinha as suas obrigações, a escola, ajuda nos campos e pastar os rebanhos e mal feito fora, pescar no rio Dão ou nas ribeiras e ribeiros. Tal mereciam, convenhamos.
A tal Guarda não nos metia medo, eram coisas de adultos, dos nossos pais, mas aquele homem de verde descolorido, o guarda rios, esse sim...
Andava por ali de bicicleta até onde podia e binóculos. Arma poderosa!
E o poder!
Era o senhor Herculano da Matela, pessoa de respeito pela farda e convenhamos bom homem.
Tinha eu, tal como os da nossa tribo, por arma um pequena vara de amieiro e um fio de cozer a roupa e um anzol, sendo que o isco a gente apanhava desde minhocas até gafanhotos.
Um dia fui pescado por ele, estava por detrás do arvoredo, fugi e fingi que não vi, mas ficou sempre aquela angustia e ansiedade.
O tempo foi passando e pensei que a coisa fora esquecida, até...
Vinha da missa e ao passar pela casa do senhor Alfredinho sitio do Lugar, ele amigo do meu pai e com o mesmo nome que até se chamavam de Xará, compadres, la estava ele, com os seus oculinhos, ditando que eu tinha de ser castigado.
Fugi, claro.
Mais tarde vim a saber que as coisas ficaram arrumadas na taberna do senhor Antoninho Bernardo, entre uns doces secos e uns tintos.
Antes do jantar e depois da missa.
A partir desse momento, passei a pescar na ribeira de Cabreira...