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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

2.ª Festa do pastor e do queijo no Mosteiro


Faltam poucos dias, é já no próximo domingo!


Não haverá televisões, nem música pimba que arrebanham multidões, nem telemóveis frenéticos a ligar para os concursos, apenas as gentes dos arredores, genuínas e que ainda gostam de sentir o cheiro das "suas" ovelhas, recordando tempos em que os seus antepassados e ainda alguns deles para aqui chegavam com os rebanhos, uns a vender, outros a comprar. 
Serão elas as rainhas no lugar da tão antiga Feira Nova,  em que mostrarão mais uma vez a sua genuína raça. 


Tudo sob o olhar atento e vigilante dos pastor e do seu cão.
Contam também com a protecção divina para que tudo corra a preceito, como sempre foi apanágio destas gentes rudes apenas nas mãos calejadas, mas de uma alma forte como o granito em que foram talhados.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Erva-Relógio

O nome científico é: Erodium Moschatum

A erva-relógio é o nome popular dado em Portugal para esta plantinha de cor verde, mas que com o tempo vai tornar-se em castanho escuro. As crianças de Forninhos usavam-na como relógio, separando as várias pontas, fáceis de despegar, que rodavam lentamente como um ponteiro de relógio. 
Quem nunca brincou com a erva-relógio?
Da família das Geraciáneas, esta planta anual (por vezes bianual) cresce à beira dos caminhos e terrenos incultos, mas também nos terrenos cultivados e floresce entre o mês de Fevereiro e Abril.
Há umas horas atrás enquanto caminhava vi esta planta à beira de um caminho e florida, para mim, foi um espanto! As fotos que tirei não ficaram boas porque o tempo aqui está cinzento e chuvoso, pelo que agradeço a imagem que me apraz partilhar ao seu autor.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

O GUARDA RIOS

Havia medos das autoridades que quase meio século atrás cirandavam por Forninhos e aldeias circunvizinhas, imponentes nas suas fardas. Tais tinham por personagens (como muita gente ainda se lembra), a GNR e os Guarda Rios. Em comum, as multas a torto e a direito.
A doutrina, o cercear a liberdade, sendo que os primeiros levavam os tostões aos cofres do estado novo pelos animais que vagueavam pelas ruas (sempre assim fora), os segundos por tomar como  assassinos a miudagem que ia pescar ao rio e ribeiras, proibidos de pensar que tinham filhos da mesma idade...

(ribeira de Cabreira)

A  garotada da minha idade, tinha as suas obrigações, a escola, ajuda nos campos e pastar os rebanhos e mal feito fora, pescar no rio Dão ou nas ribeiras e ribeiros. Tal mereciam, convenhamos.
A tal Guarda não nos metia medo, eram coisas de adultos, dos nossos pais, mas aquele homem de verde descolorido, o guarda rios, esse sim...
Andava por ali de bicicleta até onde podia e binóculos. Arma poderosa!
E o poder! 
Era o senhor Herculano da Matela, pessoa de respeito pela farda e convenhamos bom homem. 
Tinha eu, tal como os da nossa tribo, por arma um pequena vara de amieiro e um fio de cozer a roupa e um anzol, sendo que o isco a gente apanhava desde minhocas até gafanhotos.
Um dia fui pescado por ele, estava por detrás do arvoredo, fugi e fingi que não vi, mas ficou sempre aquela angustia e ansiedade.
O tempo foi passando e pensei que a coisa fora esquecida, até...
Vinha da missa e ao passar pela casa do senhor Alfredinho sitio do Lugar, ele amigo do meu pai e com o mesmo nome que até se chamavam de Xará, compadres, la estava ele, com os seus oculinhos, ditando que eu tinha de ser castigado.
Fugi, claro.
Mais tarde vim a saber que as coisas ficaram arrumadas na taberna do senhor Antoninho Bernardo, entre uns doces secos e uns tintos.
Antes do jantar e depois da missa.
A partir desse momento, passei a pescar na ribeira de Cabreira...  

domingo, 15 de fevereiro de 2015

O Seringador faz 150 anos!


O tema de hoje tem a ver com a sabedoria popular  - um tema que já tratei no começo d' O Forninhenses aqui e que agora volto a deixar, pois O SERINGADOR faz agora 150 anos: 1865-2015! Chegou a ser o almanaque mais vendido no Centro e Norte de Portugal, por comerciantes da terra, logo, o mais usado pelos nossos antepassados. Por ele sabiam as fases da lua, o nome do santo de cada dia, os mercados e feiras de cada vila, bem como todas as datas associadas a eventos de utilidade pública e por ele também sabiam o estado do tempo para o ano inteiro, quando plantar, quando podar, etc...
Com base neste almanaque e com a ajuda da sabedoria do nosso povo, deixo aqui os conselhos a nível da meteorologia e dos trabalhos agrícolas para este mês de FEVEREIRO:
Bom tempo. Tempo húmido. Tempo frio.
Apanham-se as canas e vimes para fazer cestos. Fazem-se as podas e lá para o fim do mês iniciam-se as enxertias. Enxerta-se além das videiras, as macieiras, pereiras e outras árvores semelhantes. Surriba-se a terra para plantar vinhas e pomares. Semeiam-se todos os canteiros: cebolo, couves, repolhos, brócolos, alfaces, cenouras, espinafres,  etc...
Semeia-se gipsófilas, sécias, mangericos, cravos, etc...
Plantam-se os morangos ou os morangueiros...
As terras de cultura devem-se estrumar e lavrar, devendo na altura que irão receber as sementeiras ser revolvidas novamente.
Depois de um período muito frio, é altura de aricar o centeio que havia sido semeado em Outubro
Rifão popular do mês de Fevereiro:
"A neve que em Fevereiro cai nas serras, poupa um carro de estrume às terras."

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

NETOS DE UM DEUS MENOR

Uma papoila crescia, crescia,
Grito vermelho
Num campo qualquer.
Como ela somos livres,
Somos livres de crescer.


Parecem bandos de pardais a solta
Os putos, os putos
São como índios capitães, da malta
Os putos, os putos
Mas quando a noite cai
Vai se a revolta
Sentam ao colo do pai 
E a ternura que volta

                                      
   Atirei o pau ao gato, to, to,
Mas o gato, to, to,
Nao morreu, reu, reu
Dona Chica, ca, ca
Admirou se, se
Do berro, do berro que o gato deu
Miau!!!  


Poderia assim ser...
Cantarolar alegre das criancas em pleno seculo XXI, ano de 2015 em Forninhos.
O que aparenta ser um lagar de vinho comunitário e a céu aberto, tem o nome de futuro parque infantil de uma aldeia milenária de Forninhos, quase talhada na rocha em homenagem porventura a mouros ou romanos, pois aqui nem escola primária, nem crianças.
Porventura em Agosto, uma ou outra virá, mas aqui neste local sórdido, sem flores, plantas e árvores, olhando em volta as ruínas decadentes de galinheiros de outrora, fica a revolta!

La vai o tempo em que Forninhos era um jardim...

Fotos de Santos Lopes.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

O vestido da comunhão

Quando vi esta fotografia recuei no tempo... 


(...)
Se o tempo é longe ou perto
Em que isso se passou
Não sei dizer ao certo
Que nem sei o que sou
Sei só que me hoje agrada
Rever essa visão.
(...)
Fernando Pessoa


A catequese ou a doutrina, como preparação para a comunhão, a primeira confissão, quando ainda éramos todos inocentes e confessávamos ao padre os pecados, o receio de tocar a hóstia com os dentes, os versos, o vestido, a grinalda ou coroa da qual pendia o véu e a bolsinha com o pequeno terço dentro!
Traz também esta foto à memória os pechisbeque que ficavam tão bem nos pulsos, orelhas e pescoço. 
Mas falemos do vestido da comunhão. Provavelmente veio do estrangeiro e porventura já tinha sido usado pela irmã mais velha, pois naquele tempo, há mais de quarenta anos, só os habitantes da aldeia que tinham familiares em Lisboa, Coimbra ou no estrangeiro, tinham este tipo de vestido, que depois o emprestavam a fim de poder servir às irmãs mais velhas, às primas e outras crianças. Mas o que a Aurora (*) se lembra é que o vestido tinha-o a mãe e os acessórios foi a tia Prazeres da Moradia (mulher do Zé Clementina) quem lhos emprestou.

(*) A Aurora é a criança da foto!

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Do cântaro à torneira

Hoje trago um extracto (que reproduzo) do Livro do Pe. Luís Ferreira de Lemos, de Penaverde. O autor terminou esse livro em 1966 e descreve como eram os instrumentos domésticos da sua terra e do seu tempo, assim:
«À arca do bragal sucedeu a mala de coiro ou de folha de Flandres, quando não o volumoso e mais cómodo guarda-fatos, com espelho ao alto, de ver o corpo inteiro e o ajuste dos sapatos.
Também na cozinha, ao antigo "cambeleiro" - um tronco de carvalho ou castanho, de galhos compridos e hirtos, onde se penduravam as panelas de barro ou de ferro - sucederam os pregos ou cabides que seguram os tachos de alumínio ou de esmalte, alinhados nas prateleiras. O cântaro de barro ou de lata é que tem o mesmo lugar no fundo da cantareira, enquanto não fôr substituído pela torneira de água encanada. É lá que vai cada um buscar a água para se lavar de manhã, na bacia comum, que isto de lavatório ou quarto de banho é luxo de fidalgos, em casas grandes. Banho? Salvo raras excepções, só os garotos ou rapazes, nos açudes dos ribeiros, passado o S. João, mais por desporto ou para pescar, que por exigência intrínseca de higiene. Por banho entende o escalda-pés a quem estiver engripado, ou aqueles minutos de águas sulfúricas contra o reumatismo. (...)».
Em 1966, nessa terra (na minha e nas outras) ainda não havia água canalizada em casa. Isso mesmo diz-nos o autor «O cântaro de barro ou de lata é que tem o mesmo lugar no fundo da cantareira, enquanto não fôr substituído pela torneira de água encanada». A cantareira tira o seu nome ao cântaro, sendo o móvel onde são colocados esses cântaros de barro ou de lata.

cantareira

Cantareira
Por cima, levava loiças, em baixo havia um espaço de arrumações e, no meio, à altura das mãos da dona de casa, lá estava a larga e espaçosa prateleira a albergar os cântaros.
Quando a água começou a entrar pelas casas dentro, lá se foram as cantareiras e as idas à fonte e tudo se resumiu a uma torneira...isto, na cozinha. 
Ainda é possível observar que «É lá que vai cada um buscar a água para se lavar de manhã, na bacia comum, que isto de lavatório ou quarto de banho é luxo de fidalgos, em casas grandes». Isto, diz o autor. Mas penso que a coisa pode estar um tanto romanceada, porque os lavatórios não eram só luxo de fidalgos, em casas grandes. Os lavatório era uma peça que havia em muitas casas. Pelo menos, em Forninhos!

lavatório
Lavatório
Este está completo, tem o jarro para a água limpa, a bacia e o balde que recolhia a água da bacia, depois de utilizada na higiene das pessoas. Tem ainda a saboneteira que era outro acessório deste conjunto.
A esta peça espantosa de antanho sucedeu-lhe a casa de banho equipada com três torneiras (lavatório, bidé e chuveiro/torneira da banheira) e ainda o autoclismo.