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domingo, 30 de novembro de 2014

Os filhos do Centro

Em termos históricos, em Portugal, os primeiros centros sociais apareceram no final dos anos 30 do século XX. 
No início dos anos 50, nascem os "Centros de Assistência Paroquial", por influência de D. António Ferreira Gomes, antigo Bispo do Porto, que existem hoje como "Centros Sociais Paroquiais", dado que são organizações pertencentes à igreja católica, de acordo com o modelo de Estatutos em vigor. 
Juridicamente, o Centro Social Paroquial está equiparado às IPSS, mas tem estatutos próprios aprovados pelo bispo diocesano e são consideramos um serviço da paróquia.



Já na natureza nada se cria, nada se muda...tudo se transforma! E aqui temos à entrada um candelabro...ecológico, claro está!
Que se faça luz, então, na mente dos actuais responsáveis do Centro Social Paroquial de Forninhos, porque vou falar do aproveitamento social consentido por parte dos membros sociais, da assistente social e utilizadores, fazendo apenas leitura das fotos que seguem:



Celebrou o Centro de Forninhos, no dia 26.10.2014, a VIDA, sendo os utentes incentivados pela Sra. Mariana Vaz a retomar esta "tradição", isto é, a festejar os anos no Centro no último domingo de cada mês. Recomeçou em Outubro e ficou marcado o de Novembro. Acontecerá, presumo, hoje, domingo, dia 30.11.2014. Tudo muito bem. A ideia é boa. Boa mesmo. 


Mas...como é useiro e vezeiro, quando há festa ou é domingo, o Centro recebe familiares, amigos e conhecidos de todas as idades, quando a sua actividade principal é o apoio à 3.ª idade.





Eu não acho bem, não só porque vejo ali jovens utilizadores que não necessitam da "caridade" do Centro, mas também porque vejo ali pessoas que bem conheço a aproveitarem-se de apoios financeiros que esta Instituição recebe destinados para a resolução dos problemas dos mais carenciados.
Este tipo de ajuntamento que já vi acontecer anualmente na Festa do Espírito Santo, por exemplo, quanto a mim é "só para inglês ver". Sempre senti que o Centro de Forninhos limita-se a ver a pessoa como um número, ou seja, para receber verba inscreve residentes e não residentes e sei lá mais que tipo de utilizador...
Aceita inscrições para almoços de não-inscritos!
O problema da desertificação/ou/despovoamento e, consequentemente, o encerramento por falta de utentes, não pode servir de desculpa para isto. Que saibamos o Centro Social e Paroquial de Forninhos é uma organização sem fins lucrativos e que tem o dever de fazer uma leitura e análise da realidade concreta em que se insere.
A intervenção desta Instituição não pode reduzir-se à mera "comezaina"; a sua intervenção tem de ser mais alargada e dar resposta a necessidades diagnosticadas, a casos sinalizados. Não é, depois da MORTE, vir dar "assistencialismo" à família enlutada, como li no outro dia...!


Para este 'post' seleccionei um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen:

Porque
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Este "tu" claro são todos os leitores que, por natureza, acreditam nos valores da verdade, liberdade e solidariedade.
Os "outros", são os que ficam calados.

Nota: as fotos são do evento divulgado no facebook "do Centro".

domingo, 9 de novembro de 2014

Há 5 anos este blog começou assim

Há quem diga que para compreender o presente é preciso primeiro conhecer o passado. Ciente desta premissa, o objectivo deste blog é dar a conhecer a todos os forninhenses (naturais, residentes, não residentes, aos que sentem Forninhos no coração, que sentem esta aldeia como sua, todos no geral) esta aldeia da beira, desde a publicação de fotos antigas que relatem a aldeia de Forninhos de antigamente, documentos antigos e também dar destaque ao nosso património, desde:

Arqueológico e Religioso: Castro, Pontes, Igreja, Capela, Cruzeiros, Alminhas
Arquitectónico: Casas, ex-escola primária (por exemplo)
Social e Lazer: Associação, Junta de Freguesia, Centro Social e Paroquial, Cemitério, Campo de Futebol
Turístico: Turismo Rural, Miradouro, Moínhos, Ruas emblemáticas
Humano: Irmandade
Lendas, Mitos e Tradições: por exemplo, Lenda da Moura Encantada e outros mitos e tradições
Gastronomia
Ditados, Modos e Modismos etc e tal ...

No fundo é tentar através deste cantinho no mundo virtual, conhecer melhor as nossas raízes, a nossa cultura, as nossas referências, de modo a que fique registado para que as futuras gerações de forninhenses possam conhecer o passado, a história da sua terra - Forninhos.
Este é o post original, que achei por bem nada alterar.
Publicamos no dia 9 de Novembro de 2009, uma fotografia do ano de 1976, em que os andores da procissão da N.S. dos Verdes eram carregados aos ombros pelas pessoas e não pelos tractores, como é hábito hoje.
Publica-se mais duas.



Agora...
Já este ano escrevi aqui que quando chegar o dia em que não temos nada para dar...o blog acaba. Chegou esse dia.
Penso ter seguido o caminho a que me propus, embora alguns ainda hoje me acusem de divisionismo e coisa e tal...mas decerto para a maioria, desde o início o blog dos forninhenses retratou um só povo!
Hoje somos um só povo?
Não. Nada disso.
Mas através do percurso todo do blog dos forninhenses sabemos bem (o melhor possível) quem somos e de onde vimos.
Gostei de mostrar o que fui conseguindo, mas não foi fácil manter "vivo" por 5 anos o blog dos forninhenses, porque o meu grupo, o grupo social com que me identifico, "anteontem" apoiou-me, mas "ontem" nem por isso e "hoje" muito menos. Mas o ser humano é mesmo assim, ao longo dos milénios foi percebendo que tão importante como combater inimigos foi sempre melhor juntar-se aos que o não eram, mesmo que esses nunca chegassem a ser amigos! 
Mas não se alarmem "esses" que não vou escrever nem um décimo do que estou a pensar nesta noite de Sábado para Domingo, mas o vosso comportamento, atitudes e reacções fez-me perceber que para vós escrever no blog dos forninhenses é uma "chatice" e que mais vale só ler. Portanto, a partir de agora, se faz favor: não leiam, não abram, porque também já é uma "chatice" escrever para vós...
Com isto, caros bloguistas, não quero dizer que o blog dos forninhenses "morreu", apenas quero dizer que só vou voltar a publicar se por algo tal se justificar. 
E, como sigo muitos blogues, vou continuar a ler e a comentar os que mais gosto. Faço questão de demonstrar o meu apreço por todos os bloguistas, continuando a escrever nos blogues.  Onde me tratarem bem é que eu me sinto bem.
Fica muito mais por dizer, mas fico por aqui hoje.
Despeço-me aproveitando já para desejar um Feliz S. Martinho aqueles que apoiaram o blog dos forninhenses, que quiseram ver este projecto crescer de dia para dia, a todos esses um muito BEM-HAJA.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A azeitona já está preta

A azeitona já está preta/já se pode armar aos tordos/Diz-me lá, ó cara linda/como vamos de amores novos. Esta canção popular não fica por aqui, mas basta para anunciar que em Forninhos a azeitona já está madura, pelo menos, para curtir!



No mês passado escrevi sobre a sementeira do pão. Hoje, sobre o azeite. Mas nada que se compare, enquanto quase todas as famílias semeavam pão, poucas eram as que supriam as suas necessidades em azeite.
Ter oliveiras, ter azeite, significava se uma família era pobre, remediada, abastada ou mesmo rica, ou seja, para essa classificação contava o número de oliveiras, se eram colhidas pelos próprios com ou sem ajuda de familiares e amigos, ou se a colheita era simplesmente efectuada como trabalho assalariado.
Mas lembro que muitas famílias por não terem oliveiras suas, saíam ao rebusco. A tradição do rebusco, era uma das mais bonitas da nossa terra, sobretudo por parte daqueles que deixavam ficar parte do pouco que tinham, pois na época (anos 40, 50...por aí) não seriam muitos aqueles a quem sobrava alguma coisa.
Porque para compreender o presente é preciso primeiro conhecer o passado, não resisto em destacar aqui as palavras de alguns bloguistas, contribuidores, visitantes, conterrâneos. Alguns, hoje, não vão achar bem, mas tem de ser:
«Os meus pais não tinham oliveiras, no entanto, todos os anos faziam um bocadinho de azeite, não era muito, mas faziam, e para isso, eu contribuía; quanto eu e outras crianças vínhamos da escola ou aos domingos antes de ir para a missa, pegávamos num cestinho e lá íamos ao rebusco da azeitona, era catada no meio das ervas e quando se via algumas esquecidas em cima da oliveira, subíamos, e com uma varita deitava-se abaixo, tendo atenção onde caía para depois se ir apanhar.».
«Quando eu era criança, os meus pais cultivavam terrenos que não eram deles, pois só depois dos meus avós falecerem é que ficamos com terrenos nossos. Nos terrenos que não eram nossos só se cultivava a terra, as azeitonas e as uvas eram para o proprietário apanhar, mas depois de ele fazer a apanha lá íamos nós com os cestitos de vime para o rebusco, mais para a azeitona para fazermos o azeite e para curtir, era pouca, mas um bocadinho aqui, outro ali, se fazia um bocadinho de azeite e curtíamos umas azeitonas num pote de barro.».
«Depois tínhamos direito às batatas, mas com pouco azeite. Às vezes punha-se a panela das batatas em cima da mesa. No meio da mesma encontrava-se um prato onde o azeite flutuava no cimo da água. Tínhamos direito de pegar nas rodelas das batatas e de as molhar no azeite mas só de um lado, para poupar o azeite.».
«Sou do tempo em que todos comíamos as batatas de uma bacia, era assim que se chamava a uma travessa de barro de forma arredondada, para poupar o azeite!».
Da importância da colheita da azeitona e do fabrico de azeite falam também os dois lagares de azeite que chegou a haver em Forninhos que, em dois ou três meses por ano, muito duros e de trabalhos esforçados, alguns homens trabalhavam...
«Em forninhos no passado, existiram dois lagares de azeite, movidos por força da água dos ribeiros, um pertencente ao Sr. José Baptista, outro ao Sr. Luísinho Abrantes.
O pertencente ao Sr. José Baptista não o conheci a funcionar, pois uma cheia tenebrosa o destruiu, mas o do Sr. Luísinho Abrantes conheci-o muito bem a trabalhar em pleno. Forninhos produzia azeitona abundante e por isso o lagar laborava bastante tempo. Abria normalmente próximo do Natal, alguns, os mais necessitados, já se valiam do azeite novo para fritar as filhós e temperar as couves, batatas e bacalhau da Ceia da Consoada.
Depois da azeitona apanhada, vinham os ensacadores ensacá-la para ser transportada para o lagar. Nas sacas, lembro-me, punha-se um sinal para não haver misturas com sacas de outros no transporte para o lagar.».
«Eu só me lembro do Lagar do Sr. Luísinho, onde passei algumas noites sentado à lareira a ver as pedras das mós a esmagar a azeitona, o enchimento das ceiras com a massa da azeitona e a comer batatas, cebolas e bacalhau assados, regados com muito azeite quente tirado das pias. Quando íamos a pé, passávamos o ribeiro por um pontão de madeira muito escorregadio, que existia ao lado do lagar; outras vezes íamos no carro de bois juntamente com a azeitona e quando o ribeiro levava muita água, a travessia era difícil e perigosa, pois não havia qualquer ponte.».
«O Lagar de Azeite do Sr. Luísinho Abrantes, fez com que a minha mente recuasse cerca de 7 décadas, lembrando-me da travessia do ribeiro, que eu ainda rapazinho, o lavrador do Sr. Luísinho me autorizava a viajar sobre as sacas da azeitona e que um dia, já ao escurecer, houve grande dificuldade para atravessar o ribeiro, porque tinha havido uma trovoada e o nível da água subiu mais do que se esperava. As batatas à lagareiro, além das cebolas, babalhau e azeite, tinham a ajuda dos garrafões de 5 litros. Nesta época o Lagar do Sr. Luísinho era o mais moderno entre os quatro da nossa área: o lagar do Dr. Varela de Dornelas; o lagar da Matela Velha e o lagar do Sr. José Maria de Almeida em Sezures, este era movido por bois. Quanto ao lagar do Sr. José Baptista, salvo erro, no meu tempo já não funcionava.».
É, consta que esse lagar, foi desactivado em 1938, porque no dia 8 de Setembro desse ano, uma forte trovoada desabou sobre o nosso concelho; os rios e ribeiros cresceram assustadoramente e o lagar do Sr. José Baptista desmoronou-se.
Na minha terra natal, ainda todos os anos quase todas as famílias fecham as portas para  ir apanhar a azeitona, para consumo privado, mas hoje levam-na para um qualquer lagar das redondezas e bem vistas as coisas Forninhos é que perdeu/perde. 

sábado, 1 de novembro de 2014

O cão do Zé Vaz

Quem nao se lembra ainda hoje em Forninhos, do vociferar das mulheres para os seus homens:  "andaste na moina, andaste na borga, és pior que o cão do Zé Vaz".


Num modo de linguajar caseiro, eis a história simples destas palavras julgativas de menosprezo por comportamentos "vadios", embora de sã libertinagem.
O cão, porventura mais delgadito que o da foto e segundo me disse quem o recorda, tinha pelo amarelo escuro. O seu dono não vivia mal e muitos ainda dele se recordam. Feitor do homem com mais posses na aldeia, quatro filhos. Uma freira, um padre, um juiz e um marceneiro.
Mas, relato a estória ouvida. 
Havia uma mulher na vizinha aldeia da Quinta da Ponte que vendia sobretudo na Feira Nova, utensílios de madeira para utilizacão na vida doméstica do dia a dia, gamelas e banquitas, tendo por tal a alcunha de "Gamelas".  
Vinda a pé ou  montada na  burrita, subia em direccão à feira, tendo de passar por Forninhos e o "raio" do cão, esperto e curioso, começou a seguir os passos da feirante, nas quartas-feiras, de quinze em quinze dias. Dias de feira em que ele se "escapava", o malandro. Tal mistério foi descoberto, aquando os vendedores e compradores da feira que iam da terra  o notaram como companheiro por debaixo das mesas de madeira improvisadas,  a abocanhar os restos de ossos e marrã frita.
Um cão com dono, armado em vagabundo aventureiro, mas fino. Chegava a casa satisfeito, pudera!
E segundo consta, enquanto deu para tal, "lá navegava" atrás da tia Gamelas. Um senhor "feirante", sem nunca se perder e voltando sempre a casa!
Embora real, podia dar um bom filme de amor entre um cão e uma senhora que ganhava a vida nas feiras, mas vendo bem tal foi! Permanece na memória e por tal, quando ainda hoje os homens vão a esta feira  no argumento de comprar, na simples mira de petiscar e no regresso tardio, embora complacente, ouvem a ladainha do por onde andaste tanto tempo e a sentença habitual "Não tens vergonha nenhuma a cirandar por aí, és pior que o cão do Zé Vaz"!.