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domingo, 25 de fevereiro de 2024

In Illo Tempore

Pela segunda vez estou a usar este título, hoje com uma bela descrição de Aquilino Ribeiro  in Aldeia - Terra, Gente e Bichos (págs. 65, 67, 71), onde fala do tempo de Páscoa.


"Nesse ledo clima de outrora, e até ainda durante a guerra, por toda a Quadragésima, as aldeias ouviam reboar as matracas a chamar os fiéis para a Via-Sacra. A um sinal tão áspero como estranho cada um montava o seu corcel fogoso e ala, fantasia. Como é que Deus se deixava matar por meia dúzia de safardanas?!(...).
Nesses dias de treva as janelas das casas, em observância com a pragmática, fechavam as portadas. o comércio aderia. O Senhor Pereira pesava o bacalhau em voz baixa, com gestos comedidos, e os caixeiros que tinham gravata preta punham-na. E como não, se à noite, no afogo das cerimónias quaresmais, se encontravam com as meninas e ia morrer um Deus?! Os altares estavam velados com crepes e lençarias pintadas, pois não seria decoroso que a jucunda graça da Senhora dos Remédios, o manto garrido do S. João, a estola sarapintada de estrelas de Santa Catarina continuassem a alegrar os olhos e a perfumar o mundo na hora lacrimosa. (...)
Abril quase no termo, antecipava-se em seu advento o sol estival. As rolas, o cuco e a poupa cantavam e recantavam no coruto dos pinheiros. De quando em quando o marantéu lançava sobre a natureza amodorrada o seu gorgeio vibrante, amarelo como ele, como o sol, como o fogo, como as flores mais plebeias dos prados. Os gaios pinchavam nas casticeiras, que se recobriam de rebentos primaveris, penugem verde-amarela, breve e imponderável como uma musselina, e tratavam com aqueles o provável despique:

- Viste o abade?
- Lá o vi, lá o vi.
- Com'ia vestido?
- Ia com'a mi.
- Comeste-lhe os figos?
- Pois comi, comi!

(...) Domingo de Páscoa, manhã alta, perpassava ao cabo da rua braçada rúbida de camélias. Uma, a mais vermelha, ia o Juiz da igreja entalá-la na cruz de prata de guizeiras entre a aspa e o braço do justiçado. E, assim, guarnecida, o senhor padre dava a beijar às famílias ajoelhadas Cristo e a Primavera:
- Aleluia! Aleluia!
(...)

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Arrematação 2024

A nossa Santa Marinha é uma santa bem esquecida dentro da Igreja Católica, talvez por ser portuguesa(?) ou então por ser demasiado lendária a sua história e por tal se duvidar da sua existência. Mas nós, forninhenses, temos muito orgulho na  nossa padroeira e a sua festa religiosa realiza-se sempre no dia 18 de Julho; presentemente a festa pagã realiza-se no domingo gordo, pela realização da arrematação de carnes e enchidos. 
Este ano é já amanhã, dia 11 de Fevereiro.


Obrigada aos mordomos da Irmandade, extensivos às suas famílias e a todos os envolvidos na  organização para proporcionar à nossa comunidade mais um momento de convívio e partilha.
Uma forma diferente de viver o Carnaval.