À festa em honra do S. Pedro de Verona, em Carapito, ia gente das povoações das redondezas. Esta festa, bem como outras, são férteis em histórias por quase sempre terminarem em porrada ou tragédia.
Nos dias seguintes, o assunto dominava as conversas nas ruas e tabernas e ainda se inventavam uns versos sobre tais desgraças que os povos relevavam nas suas cantorias.
Chegaram até hoje os versos que recordam a tragédia da morte duma rapariga de Moreira chamada Zulmira, faz hoje 70 anos, num acidente de automóvel:
I
A 29 de Abril de 1950
Foi um dia de amargura
Foi um dia de tormenta!
II
Joaquim Franco alfaiate
resolveu dar um passeio
Com a família e os amigos
Levava o carro cheio
III
Na freguesia de Carapito
Onde se festejava o S. Pedro
A filha do Sr. Frederico
Encontrou a morte cedo
IV
Chora o pai, chora a mãe
Chora a família inteira
Chora quem não lhe pertence
Na povoação de Moreira!
Continua...
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Em Maio não se sabe já de que ano... outro acidente mais antigo aconteceu, um acidente de cavalo. O transporte de tração animal é o mais antigo meio de transporte usado pelo ser humano (existem provas de cavalos domesticados há cerca de 5600 anos).
Então foi assim: noite escura saíu de Forninhos a cavalo o "Pousadas" depois duma forte discussão como ti Gonçalves na venda do Sr. Zé Bernardo. Pela manhã, foi encontrado morto no Lugar do Longo Velho.
Quando a filha do "Pousadas" soube, acusou o ti Gonçalves de ter morto o seu pai, mas António Gonçalves (filho) para defesa do seu, deixou-nos uns versos bem antigos sobre a trágica morte desse homem das Pousadas, aldeia para os lados de Vila Cova/Castelo de Penalva.
Alguns já se perderam, mas ainda dá para perceber que este acidente meteu justiça, autópsia e tudo!
I
No dia ...de Maio algo aconteceu
No Lugar do Longo Velho
Um homem muito velho
Caiu do cavalo e morreu
II
A gente da Quinta da Ponte
Veio toda em fileira
A que lá chegou primeiro
Foi a Augusta Fogueteira
II
Também chegou o Cu-Queimado
A apertar o coração
Quem matou este coitado
Tem 100 anos de prisão
IV
Mandaram vir a justiça
Por uma carta fechada
A justiça já não vem
A justiça está comprada
V
Assim que veio a justiça
Para o juíz foi falar
Veja bem Sr. juíz
Onde o vieram deitar
VI
Cale-se minha senhora
Senão mando-a já calar
Eu tenho aqui aparelhos
para isso examinar.
Quem conhecer outros versos, fruto da inspiração popular, partilhe connosco. Agradecemos todos. Há quem diga que em vez do cavalo seria uma égua e finalize:
Adeus António Pousadas
Tua égua companhia
A égua foi encontrada
Nos lameiros da Moradia
Agora também há tragédias, crimes e injustiças várias quase iguais, mas sem poesia.
Contributo do meu pai "Samuel Cavaca".