No dia 4 de Fevereiro de 1961, teve início a Guerra Colonial com o ataque em Luanda (Angola) a uma esquadra da PSP e a duas prisões. (Fonte :Wikipédia)
A Revolução dos Cravos em Portugal, a 25 de Abril de 1974, determinou o seu fim, mas até lá tantos jovens soldados pereceram e de que é necessário ir falando, para que não fiquem cobertos pela pátina do esquecimento. Forninhos, por exemplo, teve a infelicidade de perder 4 (quatro) jovens nessa Guerra.
O 1.º forninhense a falecer, foi o DANIEL ALMEIDA ESTEVES, com 22 anos de idade.
Apesar de eu também ter nascido em Forninhos, nem sempre consigo saber o suficiente sobre todos para Lhes prestar uma simples homenagem. Mais uma vez, resolvi pedir ajuda.
O Daniel nasceu em Forninhos no dia 4 de Janeiro de 1939, hoje teria 81 anos, sendo o quarto filho da tia Maria "Mineira".
A tia Mineira (como popularmente era conhecida) casou em segundas núpcias com o tio Adelino "Palaio" depois do 1.º marido, que foi mineiro, ter morrido; do 1.º casamento teve 3 filhos: o João, o Ramiro e a Albertina; do 2.º casamento nasceu o Daniel, que foi tropa e partiu para a Guerra, quando já era casado e pai duma menina com 3 (três) meses.
Sua mãe, no dia da sua partida, rogou virada para Nossa Senhora dos Verdes, de joelhos e mãos postas, que o seu querido filho voltasse com vida. (Fonte: Augusta Guerra).
Que tamanha dor a desta mãe, ao ver partir o seu filho para a Guerra, sem ter certeza de nada: nem da vida que o seu filho teria por lá, nem se voltaria a vê-lo ou abraçar, já que a morte podia espreitar no meio das matas de Angola.
E infelizmente não voltou com vida. O Daniel faleceu no dia 22 de Agosto de 1961.
Imagino (só imagino) a dor. A dor de um era a dor da comunidade.
No dia 17 de Julho de 2011, Forninhos homenageou todos os naturais que participaram na Guerra Colonial (espreite aqui) . Mas deviam recordá-Los ao longo do ano, pelo menos, em dias especiais da nação: 25 de Abril, 10 de Junho, 5 de Outubro, 1 de Dezembro.
Adiante...
Nesse dia, eu estava lá e tive o prazer de conhecer e ouvir a viúva do Daniel, natural da vizinha aldeia da Matela, que me ralatou com lágrimas nos olhos que o marido só teve tempo de lhe escrever uma única carta e falou-me um pouco daquilo que sofreu, com uma menina de 3 meses, sozinha a trabalhar na resina.
Mas o seu jovem marido, que eu não conheci, também foi louvado, a título póstumo, por Despacho do General Comandante da Região Militar de Angola, de 03 de Janeiro de 1962,"porque tendo sido atacado por elementos inimigos, no itinerário Quimbumbe-Zala, a 12 quilómetros desta última localidade, em 22 de Agosto de 1961, pelas 17h00, bateu-se com a maior bravura e coragem, e mesmo despois de ferido mortalmente, continuou a encorajar e animar os seus camaradas na luta contra o inimigo".
Clique no Doc. para ler:
25 de Abril Sempre!
As portas que Abril abriu há 46 anos, foram a esperança, para todos, num mundo melhor. Temos de continuar a acreditar...🌈Tudo Vai Ficar Bem.
Um post cheio de sentimento. Muitos foram os jovens que na guerra colonial. Muitos outros não morreram mas vieram física ou psicologicamente destroçados. Muitos receberam louvores. Alguns a titulo póstumo como o Daniel. Como se um louvor aquietasse a dor do coração da mãe ou da esposa. Ou matasse a fome ao filho.
ResponderEliminarEnfim coisas da guerra que os ódios humanos criaram.
E Jesus disse "Amai-vos uns aos outros"
Abraço e bom domingo.
Elvira, os louvores apenas serviam para lhes aliviar a consciência, se é que tinha consciência quem impôs esta Guerra!
EliminarE o número de mortos, de orfãos e de traumatizados, só não são maiores porque algumas dezenas de milhares de jovens se furtaram a participar na guerra colonial, emigrando clandestinamente ou exilando-se no estrangeiro.
Abraço.
Bom domingo.
Mais um extraordinário momento descritivo das nossas gentes, no modo pesaroso como partiam e embarcavam numa guerra que nada lhes dizia...
ResponderEliminarEram obrigados a ir (maldito Salazar), quem apenas conhecia a relha de um arado, com uma espingarda na mão, que iam ali fazer?
Este, o Daniel, foi um de muitos tantos mortos pela suas sujas mãos, seu filho de uma grande...dôr!
Afinal o que ganhou, ódios e mal-dizeres. Este filho da terra, ainda teve louvores.
Acho que nunca se viu ao espelho até ao cair da cadeira ou veria no seu rosto, lágrimas de outros, talvez o desta mãe que pouco tempo de dar à luz, viu o marido partir e que teve por consolo, apenas uma carta, até o enterrar.
Uma mãe de mãos erguidas, ajoelhada, soltando a baba e ranho, numa despedida, prenúncio de não retorno, foi de dor.
É bom reavivar a memória, pois o outro lado da guerra, das famílias dos combatentes, ainda está por contar. A bibliografia existente quase não passa de testemunhos pessoais e sempre dos mesmos!
EliminarPara mim, ainda é a velha, mas sempre actual letra da canção de Adriano Correia de Oliveira..."Este parte, aquele parte e todos todos se vão..." sobre a emigração, mas que podia aplicar-se à Guerra Colonial, que fala das famílias que viram os seus jovens filhos partirem "em troca de órfãos e órfãs" "mães que não têm filhos, filhos que não têm pai".
Tem esta canção uma mensagem muito forte.
Sei que o meu pai, que combateu na Guiné, ouvia muito Adriano Correia de Oliveira.
Quando ouvia a "Menina dos olhos tristes" às vezes pensava que poderia vir do outro lado do mar numa caixa de pinho.
Foi triste, muito triste, para as famílias forninhenses este período da Guerra.
Bom domingo, Paula!
ResponderEliminarUm relato e uma homenagem de grande significado, bonitas suas palavras.
As guerras não deveriam existir, penso eu. Também coisas como a quarentena, pra quê a existência do tal vírus?! Sou pequena pra entender tantas ocorrências.
Meu abraço e o desejo de que tenha uma boa semana...
Esta é outra guerra. Este terrorista é invisível. Mas vamos vencê-lo, Anete.
EliminarCom muito pesar vejo notícias de maus tratos, em Espanha, a quem trabalha em Hospitais e no comércio, como se essas pessoas fossem criminosos, só porque estão mais expostas ao novo coronavírus! Não entendo estes crimes de ódio.
Também ainda hoje há quem olhe para os ex-combatentes como criminosos, quando o crime que comenteram foi o de serem fieis à bandeira portuguesa! Também não entendo, quando esta geração contribuiu com o melhor da sua juventude e alguns, caso do Daniel, com a própria vida.
Abraço, boa semana.
Boa Noite
ResponderEliminarBelo post .
Adorei .
Boa semana
Saúde para todos
Cuidem - se .
E cuidem os vossos velhinhos .
Abraço
MG
Obrigada.
EliminarÉ um post sobre Vidas muito difíceis...muito tristes.
Depois do 25 de Abril começou outra era para todos: crianças, jovens e velhinhos, ainda assim existe pouco Abril dentro de Forninhos. Sempre senti isso.
Um abraço.
Uma pesquisa muito interessante.
ResponderEliminarUm abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Pode nada dizer a nível nacional, mas é a nossa história e é isso que me importa.
EliminarFica, assim, aqui mais um contributo nosso blog para memória dos que partiram e das famílias que ficaram.
Boa semana.
Abraço.
Uma guerra que destruiu muito coração... uma história como tantas que poderíamos escutar... uma liberdade anunciada e a vontade em ACREDITAR!
ResponderEliminar🌈 VAI FICAR TUDO BEM 👏👏👏👏👏
E ao escutar percebemos que a ferida ainda está viva para quem perdeu um dos seus nessa Guerra que foi uma autêntica tragédia humana.
EliminarBoa semana com todos os cuidados por causa do vírus...
Não conhecia a história!
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
As nossas aldeias estão cheias de pessoas com memórias destas, só que poucos falam delas por ainda lhes custar exprimir as mágoas e as misérias daquela desgraçada guerra.
EliminarBoa semana.
Boa tarde Paula,
ResponderEliminarEu era muito pequenina quando começou a guerra colonial, mas foi um assunto que sempre me emocionou e ainda hoje ao ler o seu artigo, as lágrimas afloraram aos meus olhos.
O primeiro soldado da minha terra que faleceu, logo ao fim de quinze dias de ter chegado, era irmão de uma vizinha minha e isso marcou-me muito, porque ouvi o filho do sr. dos Ctt, a dar-lhe a notícia.
Graças a Deus, que me recorde faleceu só mais um civil e houve alguns feridos.
Estes bravos soldados, assim como o vosso Daniel, não podem ser esquecidos e todas as homenagens que lhes sejam feitas, mesmo a título póstumo, são inteiramente merecidas.
O 25 de Abril livrou-nos deste flagelo!
Abril, sempre!
Beijinhos e fiquemos bem.
Ailime
A Ailime é uma pessoa muito sensível e, na minha opinião, era importante haver mais e mais sensibilidade para estas questões que nos ligam e nos dizem respeito.
EliminarHomenagear os combatentes do Ultramar é um dever de memória e é assunto que merece que todos nós pensemos como lembrar os nossos conterrâneos...
Eu volta e meio faço-o aqui no Blog, mas tenho a noção do quão reduzido é este meu "memorial".
O Daniel não teve a sorte que outros tiveram, de regressar vivo. Tendo em conta este louvor e não tirando mérito ao monumento, até merecia o nome numa rua de Forninhos. É preciso dar louvor a quem infelizmente tombou em nome duma Guerra mal explicada, melhor, que só a ganância explica.
Beijinhos.
Abril Sempre!